Capítulo X
Passei a mão distraidamente entre as orelhas fofas do gatinho cinza, sem ligar muito para o fato de que ele arranhava ferozmente a franja do meu novo cachecol azul. Estava perdida em pensamentos. Mal podia acreditar que era o último dia do ano! Pensando bem, o que eu tinha feito de interessante aquele ano mesmo? Acho que se resumia a absolutamente nada. Tirando o fato de ter voltado a falar com Malfoy, se bem que isso não era uma coisa que eu julgasse agradável. Isso é uma grande mentira,uma voz disse dentro da minha cabeça, você agora vive se agarrando com ele.
–Foi ele quem me agarrou!- Eu disse para mim mesma.
Foi aí que a porta do quarto se abriu abruptamente fazendo com que o gato se assustasse, e cravasse as garras na pele do meu braço. Gritei de dor e o empurrei desleixadamente para fora do meu colo.
– E aí, Hermione!Falando sozinha? Acho que enlouqueceu de vez.
Gina mal entrou no meu quarto e se jogou em cima da cadeira giratória da escrivaninha.
– Será que você podia pelo menos bater na porta???- Reclamei enquanto avaliava os arranhões do meu braço.
–Ah, tanto faz. – Resmungou enquanto girava a cadeira.- Quais são seus planos para essa noite?
Gelei na mesma hora. Oh-oh, Gina ia aprontar outra vez?
–Por quê?!
– Bem, é véspera de Ano-Novo.
– E daí?
Ela parou de girar na cadeira e com um impulso, veio parar do lado da minha cama, me encarando furiosamente.
– E daí? Como assim “e daí”? Você não pode estar pensando em ficar em casa!
– Sim, eu posso. – Retruquei.- e dessa vez você não vai me convencer a sair. Ainda estou me recuperando da última festa que você me arrastou junto. – Estremeci ao lembrar de tudo o que tinha acontecido no Natal.
–Ah, qual é, Mione! – Fechei a cara para ela. – Então se não quer ir para a festa, ficamos lá em casa. Pelo menos alguém vai ficar feliz de te ver lá.
Ela frisou muito bem o “alguém” e eu entendi na hora o que ela insinuava. De novo a história do Rony, credo!Porém, eu amava a casa dos Weasley. Amava a atmosfera familiar, as confusões, as risadas. Tudo tão cheio de vida! Muito diferente do que era aqui. A proposta de Gina era tentadora, mas é claro que eu recusaria. Estava decidida.
– Não posso deixar minha mãe sozinha.
– Na verdade ela me disse agorinha mesmo que vai sair essa noite. – Ela disse distraída.
– O QUÊ?? COMO ASSIM?????? – Berrei incrédula. –JEAAAAAN!!!
Na mesma hora minha mãe apareceu na porta do meu quarto com uma cara brava, segurando o telefone perto da orelha.
– Sem escândalo, por favor, estou no telefone. – Ela reclamou.
Fiquei a encarando com a maior cara de idiota. Então era assim? Eu dava uma de boazinha e minha própria mãe me abandonaria na noite de ano novo? Gina soltou uma risadinha irritante ao meu lado e eu esperei enquanto minha mãe murmurava para a pessoa do outro lado da linha palavras desconexas, que eu não fiz questão de entender. Esperei impacientemente até ela desligar o telefone.
– O que foi, Hermione?
– Aonde você vai hoje a noite? – Perguntei irritada.
– Ah!- Ela sorriu. – Era só isso? Os Malfoy vão...
– AH NÃO! ESSA GENTE DE NOVO? – Joguei meus braços para o alto, inconformada, pensando em como já estava virando perseguição. – Não acredito que vai TRABALHAR numa festinha deles de novo!
– Você poderia por favor me deixar terminar?
– Terminar por quê? Já ouvi essa história antes.
– Eu não vou trabalhar, fui convidada. E não é uma “festinha”. Vão estar lá apenas os Malfoy e nós.
– “Nós” quem? – Levantei uma sobrancelha, desconfiada.
– Bem, Dra... Narcisa disse para você ir e... - Ela parou no meio da frase talvez por ver minha cara irritada. Aquela situação parecia um dejavù de muito mau gosto. – Você decide. Eu vou... assistir um pouco. – E saiu dali rapidinho, não sem antes lançar um olhar significativo para Gina.
Ah, qual é! Minha mãe e minha melhor amiga de complô contra mim???
Assim que ela fechou a porta eu caí de cara no meu travesseiro querendo berrar de raiva. Uma raiva que eu nem sabia de onde tinha saído. Por que de repente, em menos de uma semana, nossos caminhos – o meu e o de Malfoy - andavam se cruzando tanto? Passamos 3 lindos anos sem termos de trocar uma palavra um com o outro. Por que agora? Por que agora que estava tudo estável tudo isso está acontecendo? O universo quer me deixar louca? Eu estava ficando tão confusa com toda aquela porcaria!
De repente, sinto algo subindo na minha bunda.
– AAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!! – Berrei enquanto tentava me livrar do que quer que fosse.
E pela segunda vez naquele dia, o gato fincou suas garrinhas do mal em minha pele. Me sentei na cama totalmente descabelada, decidida a por aquele gato pra fora de casa, ou quem sabe, devolver para o remetente. E ele estava lá, sentado em cima do meu tapete felpudo. Avancei para pegá-lo, mas a criaturinha foi mais rápida e com um salto, se jogou para cima de Gina.
– Ponha esse monstrinho para fora daqui! – Ordenei para a ruiva, que olhava com os olhos brilhando para o tal gato.
– AI MEU DEUS! ESSA É A COISINHA MAIS FOFA DO UNIVERSO! – Ótimo, uma maníaca por gatos. – Desde quando você tem um gato?
– Desde que Malfoy me deu um no Natal. – Revirei os olhos.
– EU NÃO ACREDITO! O LOIRO TE DEU ESSA FOFURA???? QUE COISA MAIS ROMÂNTICA! – Gina gritava com uma voz irritantemente empolgada, abraçando o gato com força.
– Gina, menos por favor.
– Que tipo de cara faz isso hoje em dia? Fala sério, Hermione! Você precisa ir no jantar hoje à noite!!!! Né, coisinha linda?- Completou acariciando o gato.
Okay. Aquele gato estava afetando os neurônios da ruiva. Me levantei rapidamente e tirei o gato das mãos dela e gentilmente, tranquei o do lado de fora do quarto.
– Por que fez isso?
– A fofura dele está atrapalhando seu modo de pensar! – Justifiquei.
– Com gatinho ou sem gatinho, continuo dizendo que você deveria ir. – Insistiu cruzando os braços.
Gina era tão irritante às vezes. Por que ela não me deixava decidir isso sozinha? Seria complicado demais encontrá-lo outra vez depois do que aconteceu. Dança, boate, beijos, declarações e um gato. Eu não tinha conseguido pensar no que tudo aquilo significava, e o que tudo aquilo mudaria na minha... bem, relação com ele. Não como se tivéssemos alguma relação, não, não mesmo. É só... ah, você entende, não é? Mas eu queria ir. Por que só vendo ele outra vez eu teria alguma ideia do que estava acontecendo conosco. Tudo tão contraditório!
– Ah, eu não tenho certeza se eu devo...
Nesse exato momento meu celular tocou, avisando que eu havia recebido uma mensagem. A única pessoa que me mandava mensagens era Gina, e como ela estava ali comigo... Eu olhei de Gina para o meu celular, mas antes que eu me levantasse da cama, ela já havia pegado o aparelho. Me joguei em cima dela e lutei tentando tirar meu celular das mão dela, mas mais uma vez, a ruiva foi mais esperta, ela me empurrou com força me derrubando no chão, pulou por cima de mim e se trancou dentro do closet. Com o MEU celular. Merda!
– Uhhhhhh Hermione, olha só! Eu não acredito numa coisa dessas! – Sua voz saia abafada lá de dentro.
– GINA!- Gritei enquanto batia com os punhos na porta do closet. – SAIA DAÍ!
– O que será que eu respondo? – Ela parecia rir.
– DE QUEM É A MENSAGEM????
– “Claro, gostosão. Mal posso esperar.” – Ela disse pausadamente, e ao fundo eu podia ouvir o som do teclado do celular. Não. Ela não estava fazendo isso!
– GINA!- Bati meus punhos com mais força na porta, ficando realmente irritada – e preoucupada. ME DEVOLVE AGORA OU
Antes que eu terminasse minha ameaça, ela abriu a porta e entregou meu celular, rindo como uma criança trancada numa loja de doces.
– Toma, querida. Sem estresse! – E então foi caminhando até a porta do quarto. – Pode me agradecer mais tarde.
Olhei com raiva para ela e mais do que depressa, a ruiva afetada foi embora. Assim que ela saiu, corri meus dedos pela tela do celular, querendo ver de quem era a porcaria da mensagem, e do que se tratava. E quando eu vi...
– EU VOU MATAR VOCÊ!!!!!!!!!!!!! – E eu realmente esperava que Gina ainda estivesse dentro da casa para escutar isso.

* Número Desconhecido *
31/12/2013 15H52
“ Sobre o jantar de hoje à noite: Você vem? Estou convidando.
D.M.”