Réquiem escrita por Ghanima


Capítulo 6
Desolação




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Capítulo 6 - Desolação

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- Não gosto que os outros toquem em você. – ele fala para Ino que reza pra ter entendido errado a ação do homem.

- E quem você pensa que é pra gostar ou não de algo que diga respeito à Ino?

- Sou o noivo dela.

Hidan tenta ao máximo esconder o prazer que sente ao ouvir os corações daqueles jovens se quebrando.

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Curioso ver o efeito que poucas palavras podem causar. No momento em que as ditas foram emitidas, o mundo pareceu ter parado, pelo menos para o jovem casal de namorados, tomados de súbito por um desespero desconhecido e aterrorizante.

Os corpos tremiam e suavam, os olhos esbugalhados se umedeceram até o ponto em que enxergar se tornou quase impossível, as bocas ficaram secas, a respiração era rarefeita, os corações batiam contra o peito com uma intensidade tal que pareciam quererem sair do lugar, os músculos se enrijeceram, as cabeças giravam e doíam.

- Me diz que não é verdade. – a voz de Ino deixava claro que ela estava implorando. – “Não pode ser, não pode...”

A loira tombou ao chão, sendo amparada pelos braços trêmulos do namorado que estava no mesmo estado de nervos que ela. A cabeça loira ficou apoiada nos ombros do moreno que tinha um dos braços envoltos na cintura fina da jovem e a mão do outro braço segurava uma das mãos finas e trêmulas da Yamanaka. Os olhos azuis demonstravam pânico, os castanhos exibiam uma total e corrosiva incredulidade.

- Yamanaka-san, explique isso... – a voz de Shikamaru sai com dificuldade. – Pelo amor de Deus!

Aquela foi a primeira vez que se via a postura do Nara se alterar. Deixou de ser a preguiçosa e relapsa de costume para ficar séria e grave. Os olhos chocolate do rapaz encaravam os de Inoshi e os de Hidan, como se desafiassem os dois a seguir com aquela bobagem. Tinha que ser uma bobagem!

- Infelizmente, meus caros. – o loiro fecha os olhos por um minuto e sua respiração fica pesada. – O que Jashin-san disse é verdade, Ino está comprometida.

Derrota, pura e simples derrota.

- Não é, não é, não é... – Ino repetia esse mantra enquanto se abraçava mais com o namorado, visivelmente abalado com as palavras do pai da loira.

- “Isso está mais divertido do que eu pensava que seria.” – Hidan olhava um relógio de prata que acabara de tirar do seu bolso. – Bem, se vocês não se importam, eu vou indo. – o noivo de Ino andando até a porta, sem se preocupar com o estado dos que permaneciam naquela casa, que agora mais parecia um mausoléu. – Nos veremos em breve.

O som da porta se fechando é a última coisa que a loira ouve antes de se render à exaustão.

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It must have been love but it’s over now...
(Deve ter sido amor mas agora terminou)
Lay a whisper on my pillow

(Deixo um suspiro no meu travesseiro)
Leave the winter on the ground

(Deixo o inverno pra trás)
I wake up lonely, there’s air of silence

(Acordei sozinha, tudo estava quieto)
In the bedroom and all around

(Em meu quarto, e em toda a parte)

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Para seu eterno dissabor, aquela inconsciência piedosa não durou pelo tempo que ela desejaria que durasse e logo Ino se viu deitada em sua cama e já com as roupas de dormir. Para sua felicidade, a pessoa responsável por tomar conta dela era Deidara, que naquele momento dormia pesadamente em uma poltroninha branca.

Os cabelos loiros foram presos numa trança que caia por seu ombro direito e os olhos azuis estavam avermelhados e sem brilho. Tudo por causa da notícia catastrófica que recebera há pouco. Estava noiva de um homem que não conhecia e isso era horrível, ainda mais se somado a tal tragédia fosse o seu já terminado namoro com Shikamaru e a condição financeira ruim em que a família Yamanaka se encontrava.

Seu coração doía horrores em lembrar-se de que não poderia mais ter o Nara ao seu lado, que os beijos e carícias dele já não poderiam mais fazer parte de sua vida. Que inferno! O seu Paraíso, que significava estar com o moreno, fora roubado dela por aqueles que deveriam ajudar a mantê-lo. Seus pais. Seus olhos observam o céu escuro e sem lua que combinava bem com aquela noite triste.

Quando o céu deixou de ser interessante, ela fitou o primo que parecia tão derrotado quanto ela, e ao que parecia, Deidara fora a único que se opusera a qualquer que tenha sido a proposta feita pelo seu “noivo”. Uma onda de carinho se apossou do coração de Ino ao perceber o quanto aquele primo se importava com ela, lágrimas umedeceram aquelas safiras e escorreram pela marmórea pele.

Pele esta que estava gelada, um contraste marcante com o calor que o namorado sempre incitava em si. Ino sente o choro aumentar e a dor se tornar maior, o seu corpo treme e ela abraça os joelhos, procurando conforto em si mesma.

- Como isso pôde ficar assim?

Se render ao choro era a única coisa possível de se fazer.

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It must have been love but it’s over now
(Deve ter sido amor, mas agora acabou)
It must have been good but I lost it somehow
(Deve ter sido bom, mas de alguma forma eu o perdi)
It must have been love but it’s over now

(Deve ter sido amor, mas agora acabou)
From the moment we touched ‘til the time had run out

(Desde o momento que nos tocamos até nos separarmos.)

(Roxette – It Must Have Been Love)

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There was a time
(Houve um tempo)
When I could breath my life in you

(Quando eu podia sentir minha vida em você)
One by one

(Um por um)
Your pale fingers started to move

(Seus pálidos dedos começaram a se mover)
(...)

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Shikamaru chegou em casa e se escondeu na adega que seu pai tinha no porão, o ambiente era escuro e cheirava à madeira velha e álcool além de ser abafado e sufocante. O jovem deu graças pelos pais não estarem acordados naquela hora, seria um martírio responder ao interrogatório que os velhos fariam.

Mesmo acostumados com as saídas do filho, o casal Nara perceberia de imediato a aura que envolvia Shikamaru. O rosto estava pálido, os olhos avermelhados e cheios de mágoa, seus cabelos estavam desgrenhados e sua roupa, amassada.

O jovem estava sentado em um barril velho e uma garrafa repousava em sua mão esquerda enquanto a direita estava abria os primeiros botões de sua blusa verde-oliva. Gotículas de suor escorriam pelo corpo moreno, embora só pudessem ser vistas com a ajuda das luzes bruxuleantes do castiçal que o rapaz acendera quando entrou no lugar.

Seu coração doía e o vinho seria o remédio mais apropriado naquele momento. Seu cérebro privilegiado se recusava a trabalhar ou a conjurar alguma idéia que pudesse amenizar aquele pandemônio, mas nada disso acontecia. Sua racionalidade se escondera em um canto de sua mente que ele não poderia alcançar, mesmo se quisesse.

O cheiro da namorada ainda estava impregnado em suas roupas e ele aspirou fundo, querendo sentir o máximo que podia daquele perfume delirante. Quando o “noivo” foi embora, ele sentiu o corpo da loira colidir subitamente com o seu, e a percebeu inconsciente. Logo ele a levou ao quarto e teve uma imagem lhe veio à cabeça enquanto carregava aquele corpo conhecido:

Ela num vestido branco e ele levando-a naquele mesmo jeito até o quarto. O casamento deles.

Uma risada amarga e gutural sai daquela garganta seca e ferida.

- Sonha, Shikamaru.

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We've been slaves to this love
(Temos sido escravos desse amor)
From the moment we touched

(Desde o momento em que nos tocamos)
And keep begging for more

(E ficamos implorando por mais)
Of this resurrection

(Dessa ressurreição)

(H.I.M – Ressurection)

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Deep into a dying day
(Fundo dentro de um dia que morre)
I took a step outside

(Eu dou um passo para fora)
An innocent heart

(De um coração inocente)
Prepare to hate me fall when I may
(Prepare-se para me odiar, caia quando eu permitir)
This night will hurt you like

(Esta noite vai te machucar)
Never before

(como nunca aconteceu antes)

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Hidan saíra da MansãoYamanaka com um sorriso macabro no rosto branco e um brilho cruel nos olhos púrpuras. Dar pessoalmente a notícia do noivado para a loirinha foi uma das melhores coisas que se passaram nos últimos dias. Com certeza apenas pra ele, pois a essa altura, a garota estaria se debulhando em lágrimas, assim com o namoradinho dela.

Não demorou até que ele chegasse em sua carruagem e se visse sozinho nela, pois os seus assessores há muito tinham partido e apenas ele ficara como testemunha do desespero que se abateu sobre aquelas pobres almas. Não que ele realmente sentisse alguma pena, aquilo fora apenas um modo de falar, nada mais do que isso.

Acomodando-se dentro da carruagem, o homem pegou uma garrafa de vinho e uma taça que estavam apoiadas no banco da frente e logo o veículo começou a se mover, em um passo nem rápido nem lento, indo na velocidade apropriada para que a pele de Hidan pudesse se refrescar com o vento fresco que adentrava pelas janelas.

Ele abre a garrafa e deposita uma quantidade generosa do seu conteúdo dentro da taça azulada, que fazia com que o vinho dentro da mesma parecesse preto. Sua mão balança o objeto por um tempo e uma gargalhada sonora brota de sua garganta, sendo ouvida apenas por ele e pelo condutor da carruagem, sendo este mais um infeliz que incorrera no erro de negociar com a Morte.

- Um brinde ao sucesso. – ele fala pra si e finalmente sorve o vinho.

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Old loves they die hard
(Velhos amores custam a morrer)
Old lies they die harder

(Velhas mentiras custam mais ainda a morrer)

(Nightwish – Wish I Had An Angel)

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So you just sit there, stuck, afraid to risk reality
(Então você senta aí, imóvel, com medo de se arriscar na realidade)
Afraid to cause yourself more pain, to face insanity

(Com medo de se infligir mais dor, enfrentar a insanidade)
But nothing ventured, nothing gained

(Mas nada foi arriscado,nada foi ganho)
You see... your fear's your cage

(Você vê...seu medo é a sua jaula)
You beg for help but you're alone, stuck in a helpless rage

(Você implora por ajuda mas está sozinha, presa numa fúria desamparada)

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A curiosidade da loira tinha que ser saciada naquele momento e o único que se disporia a satisfazê-la estava a alguns passos de distância. Ino se levanta e anda até a cadeira, balançando suavemente os ombros do loiro que logo acorda.

- Nii-san, preciso conversar com você. – a jovem espera que o primo volte à consciência, o que para sua felicidade, não demora a acontecer.

- Precisa ser agora, un?

Só olhar fulminante da loira já era uma resposta bastante óbvia a tal pergunta.

- Sentemos na cama... – bocejo. – Porque você vai acabar desmaiando de novo.

A dupla vai até a cama e Ino se senta à guarda da mesma e Deidara se senta em frente à ela. O homem abre sua camisa salmão e tira suas botas e meias, apenas para ficar mais confortável antes de assumir o indesejável posto de entregador das famigeradas notícias.

- Pode começar, un. – ele não olha pra ela ao falar, mas prende seus olhos num ponto qualquer da parede.

- De onde veio essa dívida? – ela sabia que era esse o ponto certo de se começar.

- Vejamos... – comentário pra si feito com o intuito de organizar uma linha de pensamento. – De uns seis anos pra cá, as plantações de flores da família tiveram problemas sérios com pragas e não davam tanto lucro quanto antes, un.

- Isso eu sei. – a loira cruza os braços e se vai se acomodando mais na cama.

- Pois bem, isso obrigou o seu pai a pedir gastar o dinheiro do dote da sua mãe em produtos que exterminassem as pragas da plantação. – Deidara dá mais um bocejo e percebe a sobrancelha erguida da prima. – Você não sabia, un?Que a maior parte do dinheiro dos Yamanaka veio da família da sua mãe?

- Não fazia idéia.

- Mas vem e seu pai gastou muito desse dinheiro tentando solucionar esse problema. – ele tira do bolso da calça uma pequena garrafinha de prata e sorve o líquido. – Até deu certo mas foi uma faca de dois gume, sabe? As pragas se foram e parte da fertilidade do solo também.

Ele estende a garrafinha para a prima, que aceita e bebe muito do seu conteúdo. Conhaque. Ela devolve o objeto ao primo

- Depois que a situação melhorou um pouco... – mais um gole. - Seu pai cometeu um erro crasso, un.

- Qual? – Ino começa a sentir os efeitos daquela dose de álcool.

- Tomou gosto pelo jogo.

Os orbes azuis se arregalam, mas ninguém fala nada. Do lado de fora daquela porta, as vozes exaltadas do casal Yamanaka ressoavam pelo corredor e nenhum dos primos queria que aquela conversa se tornasse conhecida a alguém. Deidara sinaliza para que Ino fique deitada e se vire de costas para a porta, de forma que não se percebesse o estado consciente dela.

O próprio rapaz põe de volta a sua camisa, mas não se ocupa em abotoá-la. Ao invés disso, se concentra em tentar perceber a distância em que os tios se encontravam e pelo que parecia, estavam bem perto. Logo, ele vê a maçaneta branca girando e o rosto abatido da tia surgir.

- Como ela está? – sussurra a mulher, acreditando no sono da filha.

- Dormindo como um anjo, un. – ele dá um sorriso calmo apenas com a intenção de fazer a mãe de Ino evaporar daquele recinto o mais rápido possível.

- “Some daqui, mãe!” – o aborrecimento da jovem é tão grande que ela quase esquece de que estava “dormindo”.

O desejo dos primos é atendido rapidamente.

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Do as you are told and maybe then we'll let you out
(Faça o que te mandam e talvez a deixemos sair)
You might be dead and cold, you might be full of doubt

(Você pode estar morta e com frio, pode estar cheia de dúvidas)
Don't try to escape cuz you don't have nowhere to go

(Não tente escapar, pois você não tem lugar nenhum pra onde ir)
If nothing is your fate... there's no scenario
(Se nada é o seu destino...não há cenário)

(RA – Do You Call My Name)

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Kimi wa itsumo sou boku ga omou hodo
(Você sempre foi assim, desde que eu me lembro)
Dokoka e itte shimau
(Você estava indo pra algum lugar)
Mata boku wo nokoshi hitori de hashitte yukunde

(Mais uma vez me deixou pra trás e correu sozinha)
Mou todokanai mou todokanai

(Não posso mais te alcançar, não posso mais te alcançar)
Yatto kimi ni aeta no ni

(Mesmo já tendo te encontrado)
Gaman shiteta mono ga subete afurete

(Tudo que eu guardei dentro de mim transbordou)
Namida ni natte koboreta

(Tornou-se lágrimas e vazou)

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O Nara seguia em seu nobre ofício de tentar se embebedar, só que, para sua tristeza isso estava se provando mais difícil do que ele calculara. Talvez ele tivesse muita resistência ao álcool, coisa que ele não desejava nem um pouco naquele momento.

Ele já não estava mais sentado sobre um barril, mas deitado no chão, fitando o teto e afastando de si as duas garrafas de vinho que já tinha entornado naquela noite. Sua blusa verde-oliva estava suja e amarrotada, seus cabelos desamarrados e espalhados pelo chão empoeirado. Como se ele se importasse! Tudo que Shikamaru desejava era afogar na bebida e esquecer as últimas horas.

Bem, esquecer parte do que aconteceu já que os momentos na árvore foram sublimes. O jovem se senta e bebe mais um gole do vinho, aproveitando o sabor daquela bebida enquanto seus olhos se fechavam e sua mente divagava, mas sempre voltando para uma única coisa: Ino.

Sua amargura foi maior quando se lembrou dos momentos na cachoeira em que ela estava mais do que disposta a se entregar a ele. Tudo estava perfeito e ele, naquele surto de burrice, recusou. Shikamaru atira a garrafa longe, vendo-a se espatifar no chão e o som ferir os seus tímpanos.

- Você não me quer?

O que ele não daria pra voltar no tempo e responder a ela, não apenas com palavras mas também com ações e gestos. Só que ele preferira adiar o momento que, até aquela noite, pareceria certo. Ledo engano, ele perdeu a chance e agora se limitava a lamentar por isso.

- Eu te quero, problemática. – lágrimas escorrem dos olhos cerrados. – Demais, absurdamente.

As velas do castiçal vão se apagando e é na escuridão que ele adormece, não antes de gritar o que lhe passava no coração.

- Eu te amo, Ino!

Ele rezava para que ela o ouvisse.

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Reila...
(Reila...)
Ienakatta kono kotoba wo
(Essas palavras que eu não pude dizer)
Reila...

(Reila...)
Ima koko de kimi ni utau yo

(Eu canto-as pra você aqui e agora)
Reila...
(Reila...)
Dare yori mo kimi wo aishiteru

(Eu te amo mais do que qualquer um)
Reila...

(Reila...)
Aishiteiru. aishiteiru...

(Eu te amo, eu te amo...)

(Gazette – Reila)

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Can't you see he's the heartless
(Você não pode ver ele é desumano?)
Your pain is not love

(Sua dor não é amor)
He's taking it too far

(Ele esta levando isso além dos limites)
Don't you know it is wrong

(Você não sabe que isso está errado)

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Hidan não demorara a chegar ao hotel onde se hospedara em Konoha, com um sorriso tão estranho que causava asco em qualquer pessoa que o visse. Ele ignorou isso por já estar mais do que acostumado com esses sentimentos. Todos eram previsíveis e muito bem vindos para ele. Quanto maior o medo, maior o controle.

Ele estava em seu quarto, nu, sentado em uma poltrona enquanto verificava uns papéis deixados por Kakuzu na recepção. A sua direita estava uma mesinha e à sua frente, uma mesa de centro que acomodava os seus pés ainda úmidos do banho.

Gotinhas escorriam de seus cabelos para seus ombros e costas, fazendo com que a cobertura da poltrona ficasse molhada, mas e daí? Ele estava pagando e muito bem para usufruir daquele quarto da maneira que bem entendesse.

Aquela chuva viera completar o cenário trágico e prazeroso no qual ele se encontrava. Seus olhos arroxeados faiscavam com uma alegria cruel e ácida, daquelas que só se sente quando se infligiu um mal muito intenso a alguém. E essa era, de fato, a situação que se passava. Na mesinha de centro, um cigarro emitia uma fumaça sufocante e uma nova garrafa de vinho recém-aberta pedia pra ser bebida.

Coisa essa que não demorou a acontecer. O Jashin largou os papéis displicentemente no chão e tomou posse da garrafa, bebendo mais da metade do vinho, largou-a sobre a mesa e pegou o cigarro, tragando-o lentamente e sentindo a nicotina fazer efeito naquele corpo. Seus olhos se fecharam durante essa operação.

Ele tateia a mesinha em busca de um objeto muito particular, não demorando pra encontrá-lo. O colar que era idêntico ao que havia deixando com Ino há 9 anos atrás. Seus olhos analisam aquele conjunto de elementos prateados sem nenhum motivo específico.

- Juro que farei você se arrepender de ter feito o acordo comigo...- ele beija o colar. – Você vai ter desejado nunca ter trazido seus pais de volta.

Sem que ele soubesse, Ino já estava arrependida de ter aqueles pais, só que sem saber do contrato feito há tanto tempo.

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You can't see he's the heartless
(Você não vê que ele é desumano)
Your pain won't ever be love

(Sua dor jamais será amor)
It doesn't matter how hard you try

(Não importa o quanto você tente)
To you all is lost
(Pra você tudo está perdido)
He's the heartless

(Ele é desumano)

(H.I.M – The Heartless)

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Damned, looking into the sky
(Amaldiçoada, olhando para o céu)
I can feel this rain

(Posso sentir essa chuva)
right now it's falling on me

(Agora mesmo ela cai sobre mim)
Fly, I just want to fly

(Voar, eu só quero voar)
Life is all mine
(a vida é toda minha)

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Se a sua dor já estava grande antes, agora estava imensamente maior! Deidara levara um tempo considerável para pô-la a par dos motivos por trás daquele súbito e mal fadado noivado e logo percebeu que devia se retirar. Ele deu uma última olhada em Ino, que estava virada para a janela, olhando o cair da chuva.

Quando a porta se fechou, a loira caiu de joelhos no chão de não pôde mais conter as lágrimas que já permeavam seus olhos desde o começo da conversa com o primo. Deitou-se naquele chão frio e não se sentia forte pra sair de lá. Seu corpo estava mais pesado do que jamais estivera

As lágrimas eram tantas que formaram uma poça perto do rosto desolado e encharcavam o chão. Os cabelos da jovem estavam jogados envolta dela. Sua cabeça rodava e respirar havia se tornando uma tarefa deveras estafante. Sua mente estava um turbilhão que sempre pensavam em Shikamaru.

Estaria ele no mesmo estado que ela? O que teria acontecido com ele depois que ela desmaiou em seus braços. A Yamanaka nunca desejara tanto poder ver aquele corpo preguiçoso estendido no chão, fitar aqueles olhos castanhos sonolentos ou simplesmente ouvir o “problemática” que ele várias vezes dispensava para chamá-la.

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And now the beat inside of me
(E agora a batida dentro de mim)
is a sort of a cold breeze and I've

(É um tipo de brisa gelada)
never any feeling inside

(E eu nunca tive qualquer sentimento)
around me…

(À minha volta...)

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A chuva aperta do lado de fora e os vidros da sacada acabam por se tornar o único som a ser ouvido dentro daquele quarto. Pois o pranto da jovem era intenso, mas silencioso e solitário; a última coisa que ela queria naquele momento era dar de cara com os seus pais. Os seus algozes, as pessoas de quem ela mais sentia raiva naquela hora.

Ino se levanta com dificuldade e abre a porta da sacada, sentindo o vento frio e molhado agredir sua pele. Ela vai andando até a beirada e fecha os olhos, sentindo as gotas frias colidirem contra o seu corpo como milhares de agulhas afiadas. E ela rezava para que aquelas “agulhas” lhe roubassem a vida e a livrassem daquele tormento.

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I bring my body

(Eu trago meu corpo)
carry it into another world

(E o carrego em um outro mundo)
I know I live…

(Eu sei que eu vivo...)
but like a stone I'm falling down
(mas como uma pedra estou caindo)
(Lacuna Coil – Falling)

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Continua


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