Número 32 - Porque Nunca É Tarde Para Descobrir escrita por AmanteSolitária


Capítulo 2
Capítulo 1 - sou ninguém


Notas iniciais do capítulo

agradecimento especial para Fabiana Sawyer minha 1a leitora,Ana Carolina Amin Molossi,Gi Vondergeist e Carol que comentaram a introdução e Bellinha que favoritou.
Próximo cap segunda dia 14/10.
espero que gostem. Avisando que está só começando.
Bjos



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Acordo atordoada, ofegante e gritando. De todas as vezes que sonhei isso, essa foi a mais nítida e completa. O sol passa pela minha janela batendo em meu rosto. Olho para o relógio. Estou atrasada.

Passo pela cozinha, tomo um copo de leite, coloco o uniforme, escovo os dentes e me olho no espelho. Encaro o reflexo dos meus olhos por alguns segundos. As pupilas. As pupilas brancas que tanto me perseguem, não sei porque só eu as vejo dessa cor, mas para mim elas são brancas como a neve.

Desço as escadas. Entro no carro e coloco os fones de ouvido.

-Bom dia pra você também.-Tiro um dos fones.

-Bom dia, mãe.- Coloco o fone novamente.

Enquanto ela me dá o sermão diário, eu aumento o volume e me perco em pensando em coisas que nunca vão acontecer. As vezes eu faço isso: crio mundo e situações que nunca vão existir.

***

Acho que não sou uma menina normal: Apesar das notas sempre na média eu nunca precisei estudar, só prestei atenção e quando estudava o mínimo gabaritava todas as provas; nunca fui péssima nos esportes, muito menos em línguas estrangeiras e sempre me dei bem no que fazia. Não estou dizendo que eu tenho uma mente genial, é só que por algum motivo eu nunca me dei realmente mal em alguma coisa.

Minto! Tem uma coisa que eu não consigo por mais que tente exageradamente: Ter um bom relacionamento com várias pessoas, me apegar demais. Só tem uma pessoa que eu sou realmente apegada e que parece me entender e me ajudar com o meu jeito, minhas bipolaridades, minha timidez e em tudo o que eu preciso: Pedro, meu melhor amigo. Ele só tem um defeito: não estuda comigo.

***

Desço do carro para mais um dia monótono e sem graça. Subo as estreitas escadas que dão tanto aperto para os alunos em dia de simulado e entro na sala 32. Um número muito presente na minha vida.

Não posso dizer que não tenho amigos, isso seria mentira; mas o único que eu sinto que posso confiar é Pedro. As vezes percebo ou outros falando de mim, mas tento ignorar para poder ter com quem conversar.

As aulas passam lentamente, porém acabam. Vou para casa devagar tentando aproveitar a paisagem cheia de casas e anúncios. Quando vou colocar a chave na porta sinto alguém atrás de mim. Olho para trás rapidamente. Não tem ninguém. Constantemente eu tenho a sensação de estar sendo vigiada, é estranho.

Assim que abro a porta, paro... Eu só posso estar sonhando!

-PEDRO! – Grito e pulo em seus braços. – Você? Aqui? No meio da semana? Você só pode estar querendo acabar com meu plano de estudos. Espera! Como entrou aqui?

-Calma baixinha, - Ele sorriu olhando nos meus olhos. – Eu não tenho aula essa semana, por isso vim aqui. E sei que vocês guardam a chave reserva atrás do vaso da varanda, foi assim que entrei.

-Tudo explicado. Já almoçou? – Perguntei segurando sua mão. Ele sorriu abertamente.

-Não, podemos pedir alguma coisa.

-Negativo, deixe que eu cozinhe.

-Certo.

-Certo? Você não vai dizer que eu não tenho idade pra mexer no fogão? Que com quinze anos eu posso colocar fogo na casa e podemos morrer incinerados?

-Não. O que você vai fazer pra nós, Mirra?

-Você está estranho. – Ele balançou a cabeça negativamente. – Ok. Pode ser carne moída com batata e cenoura? – Afirmou.

Enquanto preparava tudo na cozinha ele ficava me encarando e sorrindo.

-O que foi, P.? – Olhei para ele.

-To só tomando coragem. – Parei o que estava fazendo e o encarei.

-Pra que? –Ele abaixou o olhar.

- Pra nada. Esquece. – Percebi que essa era a hora de recuar. Voltei a cozinhar.

-Coloca a mesa pra mim?

-Mas não somos só nós dois, Mirra?

-Sim, mas você quer comer de pé?- Ele riu e foi colocar a mesa.

Depois que eu termino de fazer o almoço. Comemos e colocamos o papo em dia, como se não nos falássemos quase sempre. E lavamos a louça em seguida, fazendo uma guerra de água. Subimos para trocar de roupa. Coloco apenas uma camisa longa, afinal, é o Pedro.

Ele entra no meu quarto e fica me olhando por alguns segundos, depois começa a olhar cada detalhe do quarto como sempre faz. Ele para na foto que tenho sobre a escrivaninha: dois bebês recém-nascidos idênticos abraçados. Ele segura a foto na mão e olha para mim:

-Faz dez anos que eu te conheço e você nunca me falou dessa foto. Sempre que eu pergunto você muda de assunto.

-Ok. Sou eu e minha irmã gêmea, Esmeralda, ela morreu poucas horas depois que tiraram a foto e nem eu nem minha mãe gostamos de falar sobre o assunto.

-Certo, desculpa.

-Desculpado, só porque você é meu único e melhor amigo. – Bufei – Eu odeio aquela escola.

-Calma, tudo se ajeita com o tempo.

-Não preciso de mais tempo pra saber que ninguém lá me aceita. Eu posso ter meus defeitos, mas quem não tem?

-O seu único defeito é ser perfeita, e ninguém aceita perfeição. Você é bonita, inteligente, só um pouco grossa ás vezes, cheirosa, é boa em tudo que faz, canta bem, dança bem... Você é perfeita.

-Não sou. Ninguém é perfeito! – Olhei em seus olhos. Como ele não via minhas pupilas brancas?

-Então você é ninguém. –Sorriu e segurou minhas duas mãos.

-Eu não sei como viveria sem você pra me ajudar, sabia? – Ele sorriu abertamente e beijou minha testa. – E mudando de assunto... por quê o moreno preguiçoso não tem aula essa semana?- Ele mordeu os lábios e me encarou por alguns segundos. Depois andou até o outro lado do quarto e coçou a nuca. – Pedro, fala! Está me deixando nervosa.

- Na verdade, Mirra. Eu não vou voltar pra escola, não aqui.

-Como assim? – Fechei os olhos e esperei não ser muito ruim.

-Eu vou terminar o colegial na Austrália.


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Notas finais do capítulo

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