Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 60
Felicidade


Notas iniciais do capítulo

Só mais três capítulo para o final. Aproveitem.



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Já percebeu que estar bem rima com estar com alguém?

Namoros nem sempre são tão perfeitos. E aquela foi nossa primeira briga séria que resultou em uma noite inteira de choro.

Quando eu consegui finalmente alcançar o Jesse já na rua de casa, enfrente as nossas casas – ele que andava bem rápido – ignorou todos os meus chamados, como se eu não estivesse igual uma louca pedindo pra ele esperar por mim.

— Jesse, por favor. Me espera! Deixa eu explicar. – parei de frente pra ele encarando-o com coração batendo forte e tentando ao máximo segurar as lágrimas. Ele me olhava como se não eu não significasse nada.

— Explicar o quê, Hayley? – seu olhar era duro. Senti até um calafrio. Nossa primeira briga não precisava ser daquela forma. — Que você se esfregou com uma cara sem nem conhece-lo? E que ele quase chegou a ter com você o que nós tivemos naquela noite da tempestade?

Então ele estava com ciúmes de mim? Por mais que a ideia soasse um tanto fofinha, sinal de que ele me ama tanto quanto diz amar, eu não estava gostando nada daquela crise de ciúmes fora de momento.

— Jesse, você precisa entender. Quando eu fiquei com o Mark nós nem namorávamos! Faz tanto tempo que eu nem lembrava mais. Não foi importante. Não significou nada. Aquela noite eu tinha bebido, tanto eu quanto ele, estávamos curtindo e acabou... Rolando. Mas não foi nada demais, apenas uns beijinhos. Você sabe como eu era. Adorava uma festa, adorava meus colegas, adorava curtição, bebidas, ficar chapada, conhecer gente nova. Aproveitar! Mas eu mudei, Jesse. Eu mudei.

Ele suspirou fundo, quase acreditei que ele estava reavaliando tudo que eu dizia. Pois qualquer pessoa poderia ver que eu não era a mesma. Há um bom tempo não usava nenhum tipo de droga, não me envolvia com essa coisas, não bebia e nem fumava. Nem se quer tinha ido a festas, baladas ou a bares. E nem tinha mais contanto com meus conhecidos.

— Olha, não é fácil pra mim. Eu sempre deixei muito claro que eu detestava esse tipo de coisa que você gostava. E mesmo assim, algumas vezes, você fazia e eu achava que era só pra me provocar. Por favor, não vamos falar mais sobre isso. Não hoje. Eu vou entrar, vou ficar um tempo sozinho tentando absorver tudo que ouvi daquele garoto, vou refletir e depois eu vejo o que vou fazer. Ta bom? Eu preciso de um tempo. Eu amo você, gosto de você, adoro você. E tenho ciúmes de tudo que um dia tocou você, se aproveitou de você, beijou você, sentiu seu corpo só por... curtição. Sei que parece bobagem ou exagero, e eu me odeio por estar com tanto ciúmes. Não sei se posso conviver com isso! Não me faz bem.

Ele pegou a minha mão e beijou.

— Me dê um tempo. Um tempo é tudo que eu te peço.

Sem conseguir argumentar, pois ele sempre têm razão, eu simplesmente fiquei parada no lugar vendo-o se afastar. Ele entrou dentro da casa do tio e fechou a porta sem olhar pra trás. Naquele momento eu percebi que não havia nada que eu pudesse fazer além de esperar o tempo que ele precisava.

Voltei pra casa já chorando, me sentindo tão estupida por um dia ter sido a decepção de todos. Eu gostaria de poder apagar cada rastro do meu passado imundo. Passei na sala e todos me viram chorando. Ficaram assustados e fizeram mil e uma perguntas. Não respondi nenhuma, apenas subi para o meu quarto, queria ficar sozinha.

Só consegui me jogar sobre a cama e chorar apertando o travesseiro de encontro ao meu peito. Nunca pensei que um ciúmes atoa – ou nem tanto – pudesse doer tanto dentro de mim.

Naquele momento a Amy entrou de mansinho no quarto e fechou a porta. Acho que ela teve medo eu gritasse com ela ou a expulsasse dali. Eu realmente não queria conversar. Mas ela é minha amiga, além de me conhecer bem, ela entende dessas coisas e já deve ter imaginado que provavelmente eu briguei com o Jesse para estar naquele estado.

— Vou ficar aqui. – ela deitou ao meu lado passando a mão no meu cabelo e me olhando. — Até você estar preparada para conversar.

Chorei por alguns minutos a mais, sentindo o carinho dela, e o esforço de me fazer sentir melhor. Respirei fundo e resolvi que o melhor era dizer toda a verdade. E assim, contei tudo, desde o encontro com o Mark e os outros, suas revelações nada agradáveis e a discursão com o Jesse.

— E se ele quiser terminar comigo? Meu passado pode ser considerado pesado demais pra ele suportar. Talvez ele não queria conviver com esse peso dia após dia. Talvez ele realmente me ame, mas como ele mesmo disse, talvez prefira viver sem ter que sentir ciúmes, vergonha, receio do meu passado. Amy, eu não sei o que fazer.

— Chega desses “talvez”. Você não tem que ficar pensando nisso, Hayley. – ela apertou a minha mão. — Essa é só a primeira briguinha de vocês. Quando a gente ama, a gente precisa enfrentar as dificuldade e pode ter certeza, enquanto vocês estiverem juntos terão mais e mais brigas, sérias, bobas, sem motivos, mas terão e você precisa estar preparada para esperar, para suportar, tentar entender. Não duvide, nem por um momento que ele te ama. Porque ele te ama! É tão visível pela maneira como ele te olha como se não existisse nada mais precioso. Faça só o que ele te pediu: espere. Espere por um ou dois dias. Até quando você aguentar, e se até aí nada se resolver, vai lá você e faça do seu jeito.

Em meios as lágrimas sorri por tudo que ela me disse. Só a Amy mesmo pra me fazer sentir um pouquinho melhor. Beijei sua bochecha completamente agradecida por ter ela como amiga.

— Você nem vai acreditar. – ela quebrou o silêncio com um sorriso encantador. Não sei se pra me distrair ou porque tinha mesmo algo importante a dizer. — Olha só a aliança que seu irmão me deu.

Era linda, com um pedrinha brilhante.

— Oh, Amy. Que lindo! – tentei me sentar. Ela fez o mesmo ainda com a mão estendi pra eu ver de perto o anel. — Eu estive tanto tempo preocupada com meus problemas, que nem parei pra pensar em vocês.

A Amy estava tão empolgada com a joia que me contou exatamente como havia ganhado. Meu irmão chamou ela pra passar uma tarde inteira no parque de diversão da cidade vizinha. O atrativo daquele parque é justamente a roda-gigante, onde lá em cima, quando eles pararam no topo, ele abriu a caixinha e colocou a aliança no dedo dela.

Há um tempo atrás eu jamais imaginaria que meu irmão pudesse ser tão romântico, e ainda mais, que poderia seguir meus conselhos. Até agora parece inacreditável enxerga-lo dessa forma.

Sem nem jantar acabei caindo no sono. Esperei a manhã inteira pela aparição do Jesse disposto a concertar as coisas, ou por uma ligação, um torpedo ou recadinho no Facebook. Mas ao contrário do que eu esperava, não tive nenhuma notícias deles. Resolvi apelar para a minha tia que já não sai mais da casa de Alexander.

— Ele saiu hoje de manhã e até agora não voltou. – ela respondeu quando perguntei se ela tinha visto ele. — Vocês brigaram? Ele estava tão esquisito. Mal falou comigo. E ele não é assim.

Só acabei me sentindo mais culpada.

O resto do dia foi igual: nada de notícias do Jesse. As horas pareciam passar lentamente. Tentei me distrair, mas nada adiantou. Eu queria muito saber onde ele estava, com quem, e fazendo o que.

Já no final da tarde, cansada de esperar o Jesse me procurar para conversar sobre o que ele havia pensando, eu mesma resolvi agir. Liguei pra ele centenas de vezes, mandei mensagem e depois de esperar um bom tempo por uma respostas... Eu fui até a casa de Alexander que me recebeu todo educado, até me convidou pra entrar e tomar um chá, mas eu não queria nada daquilo, queria saber onde o Jesse estava. Alec disse que não saberia me dizer, já que o sobrinho não tinha entrado em detalhes.

O primeiro dia de espera foi horrível, pior do que eu e imaginava, no segundo eu pensei que ele teria o mínimo de consideração por mim, já que ainda somos namorados. Ou pelo menos é o que eu acho. Mas parece que pra ele tanto faz, quanto mais me torturar melhor, como uma espécie de castigo ou vingança. Por um momento cheguei a odiá-lo.

O terceiro dia era o dia em que justamente completávamos um mês de namoro. Que em números parece pouco, mas pra mim, parece muito mais que um ano. Como se eu já o conhecesse desde pequena. Era essa a sensação que eu tinha sempre que estava ao seu lado, como se o conhecesse de toda a vida. Mesmo que ela nem tenha começado direito, afinal, eu só tenho dezoito anos. E ele também.

O dia estava terminando e eu nem acreditava que o Jesse nem se quer lembrou do nosso dia de aniversário de namoro. E que ele não havia aparecido em casa – digo, na casa de Alexander – desde a nossa briga e nem disse pra onde foi e nem se quer mandou um torpedo com uma mensagem bonitinha dizendo o quanto ele me amava.

Chorei o dia inteiro. Me sentia dentro daqueles filmes de drama em que tudo dá errado. Nem queria sair de casa e já não tinha mais esperanças que o celular tocasse ou que ele batesse na minha porta.

— Ei, não fica assim. Não aguento mais te ver chorando! – a Amy era a única pessoa que eu suportava ouvir. — Ele pediu um tempo, não foi? Só não disse de quanto tempo precisava... Não desanima. Quer sair com a gente? O Oliver teve a ideia de ir até a pizzaria...

— Não. Quero ficar aqui. – disse friamente, secando as lágrimas. Cansada daquela tristeza, mas sem forças para me mover e mudar aquela situação. O que eu poderia fazer? Meu coração estava despedaço. Esse é o preço que a gente sofre por amar demais e se importar demais. — Obrigada mesmo assim. Vão lá vocês. Divirtam-se!

Mamãe tentou amorosamente trazer algo pra eu comer. Era como se eu estivesse fazendo greve de fome. Já o papai até tentou dar uns conselhos, assim como meu irmão, mas sinceramente, as vezes, homens não entendem nada disso. Recusei todas essas coisas, mas sempre agradecendo o esforço deles por mim.

— Filha! Tem visita pra você. – já estava começando a escurecer quando a mamãe gritou lá de baixo.

Quem poderia ser? Não estava nenhum pouco a fim de visitas.

— Manda subir! – gritei de volta torcendo pra que ela ouvisse. Não tinha forças para descer, nem para ver qualquer pessoa. Mas também não tive coragem de dizer isso na frente das pessoas.

Sentei-me, passei a mão no cabelo para dar um ajeitada, afinal, independentemente de quem fosse, merecia o meu esforço. E lá estava ele finalmente parado na minha porta. Segurando algum objeto. O Jesse se aproximou devagar, deu um beijinho na minha testa e sentou-se ao meu lado na cama. Não sei se chorava por querer mata-lo ou se chorava por ele finalmente estar ali.

Não era tarde demais para o nosso aniversário de namoro.

— Oi. Trouxe isso pra você. – ele sorriu de lado, me entregando o que tinha em mãos. Era um CD. — Estive fora esses dias, com os meninos da banda, e pensei em gravar algo especial pra te dar de presente.

Corri até meu aparelho de som, tentando disfarçar a curiosidade, coloquei o CD pra tocar e esperei.

Eram seis músicas. As quatro primeiras que fizeram parte da nossa história como uma trilha sonora durante os shows da banda do Jesse, mas que agora estavam em suas versões originais. E as duas últimas duas verdadeiras surpresas. As duas músicas que o Jesse compôs pra mim mesmo quando não éramos um casal, só que agora, na versão da banda, com a voz do Andrew e o resto da banda tocando.

1- Avenged Sevenfold, Seize The Day.

2- Green Day, 21 Guns.

3- Guns N’ Roses, November Rain.

4- Audioslave, Shadow On The Sun.

5- Snackers, Shelters.

6- Snackers, Love Song.

As quarto primeiras tudo bem, já ouvi milhares de vezes. Mas as duas últimas, mesmo na voz do Andrew e não da do Jesse, me fizeram chorar.

— Ah, a intensão não era de te fazer chorar, princesa. – Jesse se levantou, veio até mim, e me abraçou. — Gostou do seu presente? Afinal, como eu poderia ter esquecido que hoje fazemos um mês de namoro?

Abracei-o de volta feliz por ele estar ali.

— Obrigada. Eu gostei muito do presente! – um presente diferente e original. — Eu nem tive tempo de... Comprar algo pra você.

— Tudo bem. Basta a sua companhia. – ele segurou meu rosto, limpando minhas lágrimas com os polegares. — Vamos sair? Precisamos conversar, mas antes temos que comemorar esse um mês de namoro!

Minha felicidade rapidamente voltou, mas mesmo ao lado dele, eu não poderia esquecer que ainda tínhamos que conversar sobre o ultimo ocorrido. Fomos primeiro ao cinema e depois jantar no Mc Donald’s.

— Desculpe por ter sumido nos dois últimos dias. Eu precisa esfriar a cabeça sem ter que ficar olhando pela janela do quarto, vendo a sua casa e pensando em você todo o tempo. Mesmo longe, com os meninos da banda preparando o seu CD, não parei de pensar em você um só quer instante. Mesmo que o afastamento tenha sido pra esquecer, nem que fosse por um segundo, eu não consegui. – ele sorriu, segurando firme a minha mão.

Meus olhos estavam voltados toda a atenção para ele.

— Eu pensei muito, e, cheguei à conclusão que não posso mais ficar sem você. Nem que pra isso eu tenha que aceitar um dia quem você foi, o que você fez, com o que ou com quem se envolveu. Isso faz parte do seu passado e não dá pra simplesmente apagar por um capricho meu. Se eu te quero, eu preciso aprender a conviver com isso. Sei que nem sempre vai ser fácil, mas sei que seremos fortes o suficiente para vencer isso juntos. Eu te amo, e vou lutar por você, com você. O que importa agora é que estamos juntos e eu não vou deixar nada, nunca, separar a gente. Nenhuma briguinha boba, um cara insignificante, atitudes mal pensadas, erros que você certamente, hoje, se arrepende. Eu também nem sempre fui o melhor ou o mais certo. O que eu quero mesmo é ter você. Me desculpe se agi mal, falei bobagens, ou se não agi da maneira que você esperava. Me desculpe principalmente pela crise de ciúmes e por ter feito você duvidar do meu amor por você. Mas saiba, que nunca senti algo tão grandioso por alguém. Por você sou capaz de qualquer coisa!

Ele não precisou dizer mais nada, apenas, se inclinou para me beijar. E de repente senti que a nossa pequena crise de três dias atrás simplesmente foi apagada, mas nos deixou um aprendizado. E que tudo voltou a ficar bem outra vez.

No dia seguinte, a primeira coisa que eu fiz depois de tomar café da manhã, foi ir até o centro e comprar alguma coisinha para o Jesse. Eu queria mima-lo também, demostra através de um objeto o quanto eu gosto dele. Acabei comprando um pequeno mural para ele colocar no quarto e por todas as nossas fotos. Em casa, no silêncio do meu quarto, escrevi uma carta, mesmo não sendo boa escritora. A última carta que escrevi foi para o Brandon, anos atrás. Foi fácil, eu tinha a melhor inspiração do mundo. Para o Jesse não foi diferente. Acabei me empolgando tanto que escrevi duas folhas frente e verso. Tentando de alguma forma expressar tudo que sentia nesse um mês de namoro e um ano que nos conhecíamos.

Com tudo que ele vinha me dando nos últimos dias, me mimando de todas as formas possível, podia até montar um baú. Com essa ideia pedi que meu pai comprasse um pra mim. No mesmo dia ele chegou em casa com um baú, onde dentro, comecei a guardar os presentes que ganhei do Jesse, da mesma forma, que eu já tenho uma caixa com as coisas do Brandon. Eu tinha dois baús de tesouros. Que levaria comigo pra onde fosse independentemente do rumo dessa história. E que fosse a felicidade.


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Notas finais do capítulo

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