Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 57
Experiências


Notas iniciais do capítulo

Tenho duas novidades! A primeira é que hoje de madrugada eu já escrevi o final dessa história. Vamos até o capítulo 63. A outra novidade, é que eu já me adiantei também, e comecei a escrever outra fic pra quem já tiver interesse. Vou postar o Prólogo na próxima semana.



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"Demonstrei bondade, perdão, piedade, e tudo por sua causa. Foi tudo por você."

Naquela mesma noite tive um sonho com o Brandon.

O lugar é o mesmo: branco com azul cor do céu. Sinto como se estivesse entre as nuvens, o ar é fresco e tem um cheirinho de flores do campo. Somos só nós dois. Um de frente pro outro. Ele está sorrindo, segurando minha mão de maneira que me sinto única e protegida.

— Estou feliz por ter conseguido. – ele disse calmamente. Os cabelos castanho lisinhos se movimentam com a brisa. — Você confiou em mim, confiou em você e confiou que merecia uma segunda chance. Você e o Jesse estão juntos por um proposito. Acho que você já sabe qual é.

— Sei? – perguntei confusa, arqueando uma das sobrancelhas.

— Claro que sabe, Hayley. Você melhor que ninguém sabe que é merecedora de uma segunda chance. Que pode sim amar de novo mesmo ainda me amando. Mas são amores tão diferentes. Eu sei que você sente que sim. Não é igual, nunca poderá ser e jamais será. Você encontrou seu propósito, uma razão para tentar ser melhor: o Jesse é a sua motivação agora. O que te fazer querer ir mais além, fazer faculdade, ter uma família, pensar e se preocupar com o futuro. Só ele pode estar com você agora fisicamente, diferente de mim. Segurando sua mão, tocando seu rosto, te protegendo com um abraço, secando suas lágrimas e dando motivos reais para te fazer sorrir Mas não se esqueça, nem por um minuto, que eu também estou com você mesmo aqui. Estou com você em pensamento, estou dentro do seu coração. Eu vou te proteger sempre que for necessário, serei o apoio que você não pode ver quando se sentir sozinha e desamparada, estarei sempre por perto para te mostrar a direção. Eu nunca vou te deixar. Eu não consigo! Eu não posso! Pois ainda te amo muito.

Chorar, pra mim, tornou-se algo natural. Algo que eu já não posso mais conter facilmente.

— Por favor. – o abracei em prantos, sentindo seu cheirinho amadeirado na roupa branca. — Diga que ainda vamos nos encontrar mesmo em sonho. Eu estou feliz. Muito feliz! Quase não consigo suportar tanta alegria dentro do peito. Mas me entristeço só de pensar que não te verei nunca mais. Que você não será mais uma parte de mim. Porque eu ainda te amo. E quero que você acredite nisso...

— E eu acredito em você. – ele beijou o alto da minha cabeça. Me senti muito boba por estar chorando, mas diferente de mim, Brandon sorria como um anjo. Que é exatamente o que ele é agora. Eu acredito! — Nosso amor foi verdadeiro demais para se perder tão facilmente.

— Foi não, ainda é. – consegui sorrir ao me afastar nos braços dele para poder olha-lo. — Eu só consegui me permitir ser feliz com outro, porque sei, que aqui, onde você estar, você estar bem, está feliz, está seguro e sempre que quiser pode dar um jeitinho de me encontrar.

— Nem sempre. – ele sorriu de lado. Os olhos âmbar surpreendente parecidos com o do Jesse. — Mas eu me esforço pra isso.

Pensei se deveria ou não beija-lo. Na boca. Ou seria como trair o Jesse mesmo beijando um espirito? Como se lesse meus pensamentos, o Brandon sorriu ainda mais, tocando meu rosto, se inclinou e deu um beijo na minha testa e quando eu abri os olhos tudo aquilo tinha sumido.

Se sonhar era o que eu precisar para estar com ele mesmo que fosse por alguns minutinhos, eu gostaria de sonhar todos os dias pelo resto da minha vida.

Após levantar me dei conta de que hoje era um dia muito especial para os meus pais. Ele completavam 25 anos de casados. Fui até o centro, queria comprar alguma coisa pra eles. Algo simples, já que eu não tenho muito dinheiro, mas algo especial. Enquanto passava de loja em loja, aproveitei para ligar para o Jesse e contar quais eram os planos para aquele dia. Papai e mamãe iria fazer um churrasco no quintal dos fundos.

— Eu queria muito estar aí com vocês. – ele disse ao telefone. — Mas não se preocupe, de alguma forma eu estarei. E tem também a última surpresinha que eu preparei pra você.

Comprei uma garrafa de vinho, sei que meu pai adora vinhos antigos de ótima qualidade, gastei todo o meu dinheiro com isso, mas sei que valeria a pena para a coleção dele. E também, eles poderiam comemorar juntos com o vinho. E comprei um cartão, e escrevi algo simples e bonito.

Ao passar pelo restaurante que eu Jesse jantamos duas noite antes, tive uma brilhante ideia, entrei e fiz uma reserva para os meus pais. Claro que a conta ficaria pro meu pai pagar.

A reação dele com o presente foi exatamente como eu esperava, o papai me deu um abração, e a mamãe ficou mais contente com o cartão com as minhas palavras. O resto do pessoal já estava lá fora no jardim, o Oliver ajudando meu pai na churrasqueira, a Amy ao lado observando enquanto conversavam e tia Jenna colocando a mesa. Além do churrasco, teríamos um almoço para comemorar.

— Pai, se eu fosse você, hoje à noite, levaria a mamãe pra jantar fora. – comentei com ele quando nos vi sozinhos. Ele já estava tentando abrir o vinho que lhe dei. — E comprava flores para ela.

— Você acha mesmo filha? – ele me olhou intrigado. Fiz que sim com a cabeça e sorri para ele. Adorando termos nos tornado tão próximos desde a nossa última conversa no meu aniversário, quando ele me deu a pulseira de família que ainda está no meu pulso.

— Acho. Eu já até fiz a reserva.

Pra minha surpresa, ele beijou a minha testa, e saiu, praticamente saltitante para fazer o convite a minha mãe que certamente choraria de emoção. Ela é muito sentimental e romântica. Nem iria acreditar.

O céu está azul, as nuvens branquinhas dançam em volta do sol reluzente. Me junto ao meu irmão e minha cunhada que é a minha melhor amiga antes de mais nada. O papai já tomou conta da churrasqueira outra vez, sorrindo atoa, acho que imaginando as cenas do jantar para aquela noite. Mamãe deve estar lá dentro de casa, escolhendo seus melhores pratos para o almoço no jardim enquanto suspira apaixonada. Tia Jenna sumiu por um momento, mas já está de volta, com Alexander. Eu não imaginava que eles eram tão íntimos e próximos.

Só falta mesmo o Jesse.

O almoço não será servido enquanto minha irmã, Elisabeth, não chegar com a família. Eles já estão atrasados. Eu nem sabia que eles iam vir. E fico me perguntando onde eles vão dormir já que nossa casa está praticamente superlotada.

— Hayley – mamãe grita da porta dos fundos. — Chegou uma entrega pra você, querida.

Corri até dentro de casa e me deparei com a entrega sobre a mesa.

A caixinha preta com um laço dourado não era tão grande, estava mais pra média. Abri com todo o cuidado para não rasgar. Dentro tinha um perfume. Um frasco rechonchudo, meio quadrado. A fragrância era de jasmim. Um toque delicado, misterioso e sedutor.

Mais um presente do Jesse. Com outro bilhetinho.

Você é a melhor coisa que já me aconteceu. Você é linda, inteligente, sempre ri das coisas toscas que eu digo e você tem o terrível hábito de me enlouquece de todas as maneiras possíveis. A verdade é que você é tudo que eu sempre achei que queria e mais. Nos últimos dias, só consigo pensar no nosso futuro e como ele vai ser. Conto os segundos para estar ao seu lado e já não consigo mais imaginar minha vida sem que você faça parte dela. Quero dormir pensando em você e sabendo que estará ao meu lado. Quero acordar pensando na possibilidade que te verei outra vez.

Eu te amo, Hayley Henckel.

P.S: Gosto do seu cheirinho. Eu sempre gostei. Mas não resisti quando senti esse cheiro de flores na loja, instantaneamente pensei em você. Quero que use seu novo perfume exclusivamente pra mim.

E eu usaria, quantas vezes ele quisesse. Abri o frasco, e mesmo não tendo o Jesse ao meu lado naquele momento, borrifei o meu novo perfume em cada lado do meu pescoço. Foi só guardar o frasco outra vez dentro da caixa que senti alguém me abraçando por trás.

— Eu sabia que esse cheirinho iria combinar perfeitamente com você, meu amor. – ele beijou meu pescoço. Acho que eu estava alucinando.

Virei-me de frente pra ele. Curiosa.

— O que está fazendo aqui? Você não voltaria só amanhã?

— Esse era o combinado, mas os planos mudaram. Porque? Não gostou de me ver aqui? – ele estava sorrindo. — Eu não poderia perder esse dia tão especial para os seus pais. Sabia que você precisaria de mim. E também, ensaiamos ontem o suficiente, os meninos não aguentavam mais e achamos melhor dar um tempo.

Fiquei tão contente com a sua aparição que saltei em seus braços, ele me segurou, e nos beijamos.

Elisabeth chegou com o marido e filhos alguns minutos depois. Meus sobrinhos foram os primeiros a virem correndo em minha direção – eles me adoram mesmo que eu nunca tenha feito nada de especial pra eles – e me abraçaram forte. Depois olharam de um jeito estranho para o Jesse, mesmo após também terem o cumprimentado. Afinal, o Jesse brincou com eles na última vez em que estivemos todos aqui.

— Titia, ele agora é seu namorado? – Lucy perguntou. Ela é mais velha que o Peter. E deve entender mais dessas coisas.

— É sim, Lucy. Você gostou? Você gosta dele? – me abaixei pra ficar mais ou menos do tamanho dela. Eu adoro o cabelo loirinho quase branco daquela pirralha. — O Jesse agora também é seu tio.

Ela deve ter estranhado, mas só de pensar na possibilidade em ter mais um tio, ela abriu um largo sorriso pegando a mão dele.

— Vem tio Jesse! Vamos brincar. – eles correram pelo gramado, com o Jesse logo atrás tão animado quanto eles.

Fiquei de longe observando, como da última vez, imaginando quando teríamos nossos filhos e seriamos uma família feliz. Brincando com os nosso filhos no jardim da nossa casa. O Jesse, por sinal, leva muito jeito pra crianças. Ele é paciente, tolerante e bem mais divertido que eu.

— Oi, Hayley. – minha irmã apareceu repentinamente ao meu lado dando um meio sorriso. É claro que eu não esqueço da última vez em que brigamos feio, até o Oliver se meteu no meio. Tudo por eu ter sido tão grosseira com a mamãe por ter se metido nas minhas coisas.

— Oi, Beth. – retribuí o sorriso. — Olha, sobre a última vez em que nos vimos, queria me desculpar pela briga...

— Já passou, irmã. - ela ainda sorria. O que me fez acreditar nela. — Nós duas erramos aquele dia. Estávamos nervosas e fizemos bobagem. Eu, até mais que você, admito. Também queria me desculpar. Mas por favor, vamos tentar não tocar no assunto. Pelo menos não hoje.

Entendi. Demos um rápido abraço uma na outra. É, eu já detestei muito a minha irmã. Até mais do que ela poderia merecer. A detestei porque julguei mal seus comportamentos. Mas eu também nunca fui uma pessoa boa todo o tempo. Já joguei muito a culpa sobre ela por nem sempre ter sido alguém que desse tanto orgulho aos meus pais. Agora sim, posso dizer que estou me esforçando pra isso. Eu nunca cheguei a conversar com ela porque exatamente ela agiu daquela maneira com os nossos pais. Com certeza ela deve ter seus próprios motivos, e mesmo que eu não saiba quais são exatamente, já está na hora de superar essa história. Afinal, somos irmãs. Somos uma família.

Durante o almoço de comemoração, do lado de fora, perto da churrasqueira, notei que Beth e Oliver também estavam tentando se dar bem. Mesmo que da última vez meu irmão tenha ameaçado acabar com ela caso ela encostasse novamente o dedo em mim. Mas ele também mudou, tenho que admitir, prefiro muito mais que as coisas sejam assim.

O Jesse está ao meu lado conversando animadamente com o meu irmão, a Amy parece que se deu bem com a minha irmã, o papai sai da mesa algumas vezes para pegar mais carne na churrasqueira, Joseph (marido da Beth) está falando com a minha mãe sobre as últimas novidades das crianças, Lucy e Peter estão fazendo gracinha com a comida e se divertem muito, tia Jenna e Alexander parecem não ter olhos ou ouvidos para mais nada além um do outro.

Isso é muito estranho, e até um pouco assustador.

Naquele momento, enquanto observo a minha família, percebo que são momentos como esse que me fazem perceber o quanto fui tola desvalorizando momentos como esse junto das pessoas amadas, preferindo estar com meus colegas, bebendo, curtindo, em festas, até mesmo fumando, ou fazendo coisas erradas.

E hoje percebo o quanto eu perdi, mas que agora, mais que nunca, tento ao máximo recuperar o tempo perdido sendo o melhor que posso ser para a minha família, dentro de casa, como filha, irmã e amiga.

O céu já está escuro, acabamos de terminar a arrumar o quintal, retirando todas as coisas, recolhendo o lixo, lavando a louça e as guardando em seus devidos lugares. É um trabalho em conjunto, que acabou terminando muito mais rápido. O Jesse ainda está lá fora tentando distrair as crianças com brincadeiras para eles não atrapalharem nas coisas de “adultos.” Mamãe e papai estão lá em cima, já se arrumando para o jantar daquela noite.

— Filha, obrigada por tudo! – papai cochichou no meu ouvido antes de sair com a mamãe pela porta principal.

Os dois escolheram trajes elegantes para a ocasião. Meu pai todo de social, apesar de não ter mais aquele corpinho sarado de tempos atrás e nem a mesma disposição ou a aparência. Porém, mamãe está linda, com um vestido vinho e sandálias altas que a deixam jovial.

Todos desejaram sorte.

— Agora que eles já foram – Elisabeth tomou a palavra interrompendo o barulho da televisão. — quero que digam a eles, assim que chegarem, que eu, Joseph e as crianças nos hospedamos em um hotel no centro. E que amanhã cedinho voltaremos para tomar o café da manhã.

— Não! Nada disso. Quando sua mãe souber vai querer te matar e nos matar. – tia Jenna disse. — Fiquem com o quarto de hospedes. Se tem alguma pessoas intrusa aqui, essa pessoa sou eu. – ela não falava sério, o que fez todos rirem. — Eu já tenho outros planos.

Sobre tais planos ela não deu nenhum detalhe a mais.

— Ufa, finalmente juntos. – disse ao Jesse no silencio do meu quarto. Nós dois já deitamos na minha cama um de frente pro outro. — As crianças te cansaram muito?

— Não muito. Eu gosto deles! – ele sorriu me dando um rápido beijinho na bochecha. — Por falar nisso... Você já pensou em qual nome dará aos nossos dois filhos?

— Hum. Parece cedo pra pensar nisso. – soltei um riso. — Mas já que você tocou no assunto... Se for menina, que tal Anabel? E se for um menininho, podemos chama-lo de Kevin.

— Gostei dos nomes. Na verdade, tudo que vem de você é maravilhoso. – ele sorriu, com a boca já na minha.

Como estávamos sozinhos não tinha nada demais em abusar um pouquinho. Me inclinei sobre ele, beijando-o calorosamente passando a mão em seus cabelos, enquanto ele acariciava minhas pernas expostas.

Cada toque era um arrepio, um tremor que eu sentia por todo o corpo, uma vontade absurda de ir mais além.

— Vamos parar com isso... – ele se afastou, ofegante. — Eu não vou conseguir parar. Eu não quero parar!

— Então não pare. – insisti provocante, mordendo seus lábios inferiores. — Continue. Vamos continuar.

— Não Hayley... – ele me beijava, porém muito relutante. Acho que eu estava abusando um pouquinho. — Não podemos...

Ele venceu. Tentei me segurar ao máximo para não avançar. E me sentei na cama, sentindo meu corpo todo queimando em todos os lugares onde ele me acarinhou, meus lábios também estava latejantes.

— Desculpe. Não vou fazer de novo. – sorri pra ele que ainda estava deitado. Passei a mão em seu rosto.

— Não, tudo bem. Gosto das suas provocações. Mas vamos esperar pelo momento certo, ta?

Assenti, abaixando-me para lhe dar um selinho.

Eu mal podaiaesperar para esse momento “certo” chegar, estava muito certa do que queria. Não queria desperdiçar nenhum segundo ao lado do Jesse. É ele que eu amo, ao lado dele me sinto segura. E por ele ser tão conservador com essas coisas, só faz com que eu goste ainda mais dele.

— Como foi a sua primeira vez com o Brandon? Digo, como foi que as coisas aconteceram, como foi depois, o que vocês disseram, o que você sentiu? – ele sentou, deixando as costas ereta. Parecia razoavelmente desconfortável ao tocar no assunto. Mas poderia muito bem entender como ele se sentia, o porquê das perguntas, a curiosidade dessa experiência que ele ainda não havia tido. — Você sabe, eu não sei como é.

Ao contrário do que eu imaginava, não me senti nada desconfortável ao contar pra ele como havia sido com o Brandon. Pelo contrário, não deixei nenhum detalhe de fora. Não os que ele precisava saber. E também não deixei de responder as suas perguntas. Se aquilo o faria se sentir bem depois, não custava nada passar minhas experiências pra ele – mesmo que tenha sido com outro. Mas não outro qualquer. O Jesse, melhor que ninguém, sabia o quanto o Brandon ainda significava pra mim. Ele é compreensível e em momento algum tenta ser melhor ou igual. Apenas ele mesmo.


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Notas finais do capítulo

Vamos lá, aproveitem que estamos chegando ao final, estamos muito mais perto da despedida, e eu só queria que você deixassem um "comentáriozinho" ♥



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