Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 48
Declaração


Notas iniciais do capítulo

Enfim, uma grande declaração que pode mudar o rumo de alguns personagens.



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"Eu realmente acredito que, embora o amor possa ferir, ele também seja capaz de curar."

Decidi que aquilo, aquela vergonha, aquele mal estar, o vômito, a forte dor de cabeça, a fraqueza e o desanimo do dia seguinte, não voltaria a acontecer tão cedo. Nunca mais eu não poderia garantir, já que na vida a gente não tem certeza de quase nada. Mas enquanto eu puder evitar, eu o farei. Foi muito bom ter meus amigos cuidando de mim, mas a vergonha que eu senti depois me fez pensar em qual atitude seria a mais sensata a tomar a seguir. E eu decidi que daria um tempo. Não fumaria tão cedo, nem beberia nada alcoólico e nem usaria qualquer tipo de droga. Afinal, eu não dependo de nenhuma dessas coisas para sobreviver. É mais um capricho meu do que uma necessidade.

A tarde de sexta-feira inteira foi o suficiente para recuperar as aulas que perdi na segunda-feira de manhã. E mais do que nunca, me senti pronta para as provas que viriam a seguir. Mesmo assim não poderia abusar da minha sorte e insisti pra que a Amy continuasse a me ajudar com a matéria. Especialmente na área de exatas.

O mês do abril chegou com tudo e poucas coisas haviam mudado, outras continuam sempre iguais, no mesmo lugar e da mesma maneira.

O Oliver andava mais distantes que o normal, até mais de quando ele era antes de ser um bom irmão. Ele ainda não queria saber de conversas comigo e quando eu tocava no assunto ele saia de perto de mim. Então decidi que o melhor seria não forçar a barra. Porque agora eu o tinha por perto, não queria que ele fugisse. Com a Amy ele também não estava falando direito, apenas o básico e o essencial.

A Amy ainda estava ficando com o Jake. Perto dele ela parecia perder completamente a vergonha e a noção. Já que sempre que eu os via estavam se agarrando. Ai deles se algum inspetor flagrasse aquela pouca vergonha. No mínimo tomaria uma suspensão os dois. Porque namorar, ficar e dá uns beijinhos é uma coisa... Agora aquilo, é uma loucura.

O Jesse ainda vivia atrás da Alexa que vez em outra sumia por horas e só aparecia um bom tempos depois chorando feito uma criança que cai do balanço. Quando nos encontrávamos ele não tocava muito no assunto, falava o básico, mas não entrava em detalhes. Conclui que aquilo era algo deles, entre eles. Eu só queria que algum dia ele pudesse viver tranquilamente outra vez sem se preocupar tanto e que ele parasse de faltar nos ensaios de banda. Com tudo isso até parece que ele perdeu um pouco do animo pra música e isso é muito preocupante.

Eu, me saí muito bem nas provas, mas não parei de estudar. Apesar de não chegar nem perto do jeito que a Amy encara os estudos ou o pessoalzinho que senta lá na frente. O meu namoro com o Tyler anda mais pra lá do que pra cá. Desde o nosso último desentendimentos – que vem acontecendo frequentemente – estamos mais distantes. Mas isso não me abala nenhum pouco. Às vezes acho que é melhor assim, até encontrarmos uma solução para isso. Se é que vamos encontrar. Porque na maior parte do tempo ele parece não entender que as vezes eu quero ser simplesmente melhor do que já sou. Ao contrário dele, que se encontra na zona de conforto desde que entrei nesse internato.

Dia oito é o aniversário do meu irmão. Ele completará vinte anos. Parece estranho, mas o Oliver é repetente, já que nem sempre ele foi esse garoto bonzinho. Lembrando que ele foi do tipo que não dá a mínima pra nada. E repetiu duas vezes. Agora somos da mesma série – último ano – apesar da diferença da idade.

Eu e a Amy estamos no quarto aquela tarde pensando de que maneira poderíamos comemorar o aniversário do Oliver. Mesmo que ele não tenha nem tocado no assunto nos últimos dias. Se é que ele lembra do dia em que faz aniversário.

— Eu não sei se ele vai gostar que eu faça parte disso – a Amy estava muito aborrecida. — ele não me quer por perto.

— Eu já disse pra você não levar essa fase dele tão a sério. Vai passar, exatamente como tudo passa nessa vida.

Eu não tinha tanta certeza disso. E pela expressão da Amy, nem ela.

— Eu pensei da gente fazer algo diferente lá fora no jardim. – continuei com o nosso planejamento. — Pra você e para o Tyler fizemos um festão. Pra mim prepararam uma surpresa... Para o Oliver poderia ser algo que tem mais a ver com ele.

Discutimos muito tempo sobre aquilo, acabamos não chegando em conclusão nenhuma. Dia oito era amanhã! E até o final dessa noite deveríamos pensar em algo concreto para providenciarmos tudo que fosse preciso.

A função da Nath foi providenciar as pizzas – meu irmão adora que eu sei - que não seria preciso muitas, já que comemoraríamos o aniversário do meu irmão entre poucas pessoas no jardim. Pedi pra Amy providenciar os refrigerantes e os sucos, nada de bebidas alcoólicas ou nada que não tivesse a nossa disposição.

Chamei o pessoal da banda e alguns amigos mais próximos do Oliver e pedi pra eles fingirem, até o anoitecer, que não sabiam de nada. Nem do aniversário e nem da pequena surpresa no jardim mais tarde.

— Você não vai me convidar é isso mesmo? – Tyler me parou no corredor, enquanto eu corria de um lado para o outro pra tudo dá certo e nada e ninguém estragar a surpresa.

— Tyler, não. Não é que eu não queira. É que não posso. É aniversário do meu irmão. Esqueceu que ele detesta você?

— Mas você convidou o Jesse, não convidou? – ele estava sendo sarcástico. Acho que estava ignorando todo o meu ponto de vista da presença dele não ser bem-vinda no aniversário do meu irmão que realmente não gosta e nunca gostou dele.

— Sim, claro que convidei. E todas da banda dele também. – digo, sem melodramas. Ele me olhou com indignação. — E por favor, sem esse ciuminho bobo. Já disse que isso não tem nada a ver com você.

E saí andando, deixando-o para trás.

— Você vai, não vai? – encontrei o Jesse na sala de música. Ao contrário das outras vezes ele não estava tocando nada. Parecia desolado, quando me sinto quando não consigo pintar. — Leve a Alexa também, vai ser bom pra elas descontrair um pouco.

— É, nós vamos. – ele sorriu antes de me olhar. E quando olhou, percebi na hora, que seus olhos estavam cheios de lagrimas que por alguma motivo ele não queria expor.

Mesmo sem dizer, eu sabia que o Jesse queria conversar, falar algo sobre o que estava acontecendo com ele. Mas nem sempre a gente sabe pedir colo quando mais precisa. E acho que era isso que estava acontecendo com ele. Ele precisava de mim. Mas não sabia como pedir.

Abracei-o.

— Hayley? – era o Andrew parado diante de nós como uma expressão de apavorado. Mas não por ver nós dois ali,abraçados, enquanto o resto do mundo girava. Era uma outra coisa. — Se eu fosse você vinha correndo comigo ver o que está acontecendo no pátio.

Saí andando depressa atrás do Andrew com o Jesse logo atrás segurando a minha mão e diminuindo a inquietação que tomava conta de mim. Algo estava errado. Mas não poderia ser.... Eu descuidei por alguns minutos só para ver como o Jesse estava e agora tudo poderia ir por água abaixo. O que será que aconteceu?

O céu já estava escuro. Havia uma pequena aglomeração que crescia pouco a pouco no pátio em volta de algo que eu não poderia identificar bem o que era. Com a ajuda do Jesse e do Andrew fui abrindo espaço entre as pessoas com o coração prestes a sair pela garganta.

Amy e Oliver.

— .... Você não entende! Você é uma tola! Uma estupida! – Oliver gritava muito alto com o rosto já vermelho tomado pela raiva. A Amy por outro lado parecia um ratinho, de tão pequena, diante do leão. Ela estava assustada olhando pra ele. — Nunca pensei que você, logo você, fosse capaz de se deixar levar por um qualquer. Um garoto que não tá nem ai pra você. Um garoto que só quer curtir um momento, se aproveitar de você. Como consegue ser tão ingênua?

A Amy não respondeu. Só engoliu em seco e vi seus olhos negros cintilando por causa das lágrimas que já começavam a se acumular ali.

Eu precisava fazer alguma coisa. De repente fiquei desesperada. O que diabos os dois pensam que estão fazendo? Estão todos olhando! Parece aquelas cenas de filmes em que os espectadores esperam pelo pior e é exatamente isso que vai acontecer se eu não fizer algo.

— Não faça nada. – O Jesse disse baixinho próximo ao meu rosto, me puxando de volta pra trás. — Deixe que eles se resolvam.

Ele só pode está de brincadeira. O Oliver vai acabar destruindo a Amy. Ele sabe ser frio e cruel como alguém que não sente nada. Disso ele entende bem: não sentir nada. Apenas indiferença. Mas ela, ele não sabe dela, ela é frágil, sensível e qualquer coisa a machuca facilmente.

Será que ele não percebe?

— Você é burra Amy! E cega! – agora o Oliver apontava o dedo na direção do rosto da Amy. E se ele batesse nela? Ai seria a minha vez de bater nele ou coisa pior. Vi de longe, do outro lado, o Tyler parecendo se divertir com aquela ceninha. — Não percebeu que quando eu me mantive afastado era justamente para que você percebesse que você estava agindo mal? Eu pensei em te falar. Te falar que aquilo não era certo. Aquele garoto não é o certo pra você. Mas se eu dissesse você poderia pensar que eu estava querendo estragar sua “felicidade” ou que eu estava com inveja de você. Mas não tem nada a ver com isso.

Oliver abaixou a cabeça por um instante e foi então que a Amy aproveitou para deixar as lagrimas escaparem dos olhos. Segundos depois, quando ele voltou a encara-la e viu que ela estava chorando, porque ele estava mesmo sendo cruel, vi que por um breve momento, uma fração de segundos, as lágrimas dela o pegaram de surpresa e ele pareceu sensibilizado. Pensei que ele ia parar com aquilo tudo naquele mesmo momento e abraça-la. Mas não aconteceu nada disso.

E ele voltou a sua postura de valentão outra vez.

Há quanto tempo ele estava a humilhando diante do internato inteiro?

— Era pra você ter percebido que eu te amo. – nesse momento todos ficaram boquiaberto. Eu muito mais. E a Amy foi como se tivesse levado um tiro. O Oliver também começou a chorar e eu nunca o vi chorar antes.

Todo tão bonitinho.

— No início – ele não tirava os olhos dela. – não era nada disso. Eu só me aproximei mesmo de você, porque você era a amiga mais próxima da minha irmã e ela sim estava precisando da minha ajuda. – do que ele estava falando? O que eu tenho a ver com isso? — Mas então, as coisas foram crescendo, e aos poucos eu percebi que você era uma garota única. Eu fui me apaixonando pouco a pouco pelo seu jeitinho meigo, todo delicado, tímido. Mesmo sabendo que você gostava de outro. Com vintes anos eu já vivi muito, fiquei com muitas garotas e tive diversas experiências. Cada uma diferente da outra. Mas o que eu sentia quando estava perto de você era algo que eu nunca tinha sentido antes. Eu queria cuidar de você, te proteger, te abraçar, te animar, te ver sorrindo. Queria que você visse o meu melhor lado e que você gostasse do que eu gostava. Por isso a mudança. Por isso eu mudei. Por isso hoje já não sou mais quem eu costumava ser. Tudo isso foi por você. Eu nunca tive a intensão de deixar quem eu era pra ser melhor por alguém. Achei que isso era uma bobagem, uma coisa que não existia e não tinha a mínima possibilidade. Mas foi só você aparecer para todos os meus conceitos mudaram. Eu não fazia tanta questão daquele minha vidinha mais ou menos, dos meus amigos, da zuera, das festas, das baladas, do isolamento, do meu mau humor ou a maneira como eu enxergava as coisas como se não fossem nada. Algo em você fez despertar dentro de mim uma coisa que eu nem sabia que existia e quando dei por mim já estava te amando cada vez mais e não pude suportar ter ver com outro garoto, um garoto qualquer, se fosse um melhorzinho, estaria tudo bem. Mas não está tudo bem. Eu estive todo o tempo ao seu lado fazendo você enxergar... E você simplesmente fingiu não perceber. Amy, você não sabe nada sobre ele. Só o que ele quer que você saiba. Mas eu sei. Sei de tudo e muito mais. Sei que ele jamais te faria feliz tanto quanto eu, sei que ele jamais te amaria como eu, sei que ele jamais estaria ao seu lado como eu estive mesmo sabendo que você gostava de outro e sei que ele jamais te faria sorrir como eu.

Ele tocou nela pela primeira vez de maneira delicada. Vi ela suspirar fundo e as lágrimas incontrolavelmente escorrendo ainda mais de seus olhos e Oliver olhando fixo pra ela como se ela fosse a coisa mais bonita que ele já viu na vida mesmo chorando.

— Eu queria muito que você tivesse sido inteligente suficiente para ter enxergado essas coisas antes quando elas estava bem na sua frente. Ou melhor, ao seu lado. – com o polegar ele acarinhava o rosto dela. — Que você tivesse percebido que era eu, mesmo não sendo o cara mais bacana do mundo, e não outro. Eu fui seu melhor amigo por muito tempo! Fiz por você coisas que eu nunca tinha feito nem por mim mesmo. Eu suportei tudo isso calado por muito tempo. Mas agora chega – ele deu um passo pra trás e vi a Amy se encolher quando ele tirou a mão do rosto dela. Até eu, mesmo distante, me senti mexida com aquilo. — É tarde demais.

Oliver se foi, abrindo espaço entre as pessoas ainda boquiabertas com o espetáculo, e sumiu. Deixando a Amy sozinha para trás, chorando tanto que chegava a solução sem folego. Isso realmente foi um gesto muito indelicado. Corri até ela, e antes que ela caísse de joelhos no chão, eu a abracei forte, passando minha mão em suas costas.

— O espetáculo acabou pessoal. – enquanto tentava amparar a minha amiga, ouvi a voz do Jesse e com o canto do olho vi ele e o Andrew afastando as pessoas que resmungavam nada satisfeitas por não poderem continuar vendo o espetáculo para saber o que aconteceu com a Amy depois de tudo. — Vão saindo, por favor. Deem espaço.

— Amy, fica calma. – sussurrei próximo ao ouvindo dela ouvindo os ruídos do choro dela. Amy estava com a cabeça enterrada no meu pescoço, molhando toda a minha blusa. O que não me importou nenhum pouco.

— Precisam de ajuda? – ouvi o Jesse se aproximar com o Andrew ainda ao lado muito calado. Parecia assustado. Mas quem não estaria? Não é sempre que um garoto – no caso meu irmão – se declara dessa maneira por uma garota diante de todo o internato. — Vai ficar tudo bem?

— Vai sim. Vai ficar tudo bem. – tentei sorrir. — Jesse, por favor, procura a Natalie pra mim e diz pra ela nos encontrar no quarto.

Sentei na minha cama com a Amy. Ainda sem dizer nada e chorando muito mais do que é possível, fiz ela deitar com a cabeça no meu colo enquanto eu fazia carinho na sua cabeça. Não pensei em nada melhor. Mas se a Nath chegasse logo...

— O Jesse me contou mais ou menos o que aconteceu. – ela surgiu finalmente. — Amy – ela se ajoelhou diante de nós. — vai ficar tudo bem.

Talvez nunca mais as coisas para ela ficassem tudo bem, a única coisa que poderíamos ela lhe garantir é que estaríamos sempre ali, até quando ela precisasse, mesmo que pra sempre.

— Você não quer nos contar o que exatamente aconteceu? Ou como aconteceu e quando tudo começou?

— Não. – ela disse chorosa. Quase não podíamos entender o que exatamente ela dizia. — Por favor, me deixem aqui sozinha. Por favor.

— Não. Eu vou ficar exatamente aqui. Com você. – eu disse seriamente, a Nath me devolveu um olhar que mostrava que ela também, não sairia dali se eu não saísse.

— Por favor meninas – ela levantou a cabeça do meu colo e se endireitou sentando sobre a cama. — Eu preciso absorver tudo isso.

Não parecia certo. Deveríamos ficar ali até quando ela se sentisse no mínimo melhor. Mas, por causa de sua insistência, acabamos nos dando por vencidas, e a deixamos chorando, com o coração apertado.

— E agora? E a surpresa? Ainda vai ter? – a Natalie me perguntou aflita, assim que fechamos porta do quarto. E foi então que me lembrei de tudo que havíamos preparados para aquela noite.

— Eu vou atrás do meu irmão.

Demorei muito tempo até encontra-lo. E lá estava ele sentado nas arquibancadas vazias do ginásio escuro, iluminado apenas pelo brilho da lua e do anoitecer. Oliver estava sozinho e solitário, parecia desolado.

— Como me encontrou aqui?

— Não foi fácil. – sorri sentando ao seu lado.

— Não quero falar sobre aquilo. – ele virou cabeça para o lado oposto.

— Não é só sobre aquilo que eu vim até aqui. Mas não sei se você se lembra, mas hoje é seu aniversário! – depois de tudo, ainda tentei forçar empolgação. Em vão, é claro. — Vinte aninhos! Parabéns!

— Quem se importa?

— Eu, a mamãe e o papai... Afinal, eles ligaram pra você?

— Sim, hoje mais cedo. Logo depois que eu acordei. Disseram que só não trouxeram presentes, porque não saberia dizer se eu ia gostar. E quiseram falar com você, mas ai eu disse que provavelmente você estava ocupada com suas amiguinhas bolando uma festinha surpresa pra mim.

— Como você soube?

— Eu sempre sei.

Silêncio.

— Sobre a tal festinha surpresa, ainda tá de pé, se você quiser.

— Acha mesmo que tenho clima pra isso? – ele voltou a me olhar com desdém. Vi que ele já não chorava como antes, mas ainda sim parecia muito triste, vazio e distante. E eu queria abraça-lo, pois podia entender exatamente como ele se sentia, mas tive medo de ser rejeitada.

Será que depois de todas as declarações ele deixaria de ser o novo irmão para voltar a ser como era antes? Porque isso eu não quero. Acabei me acostumando em ter esse irmão, preocupado e carinhoso e detesto só de pensar naquele antigo Oliver, mal humorado, calado e que fingia não ter uma família e sentimentos.

— Quer saber o que eu acho? – não era exatamente uma pergunta. Por isso não esperei pela respostas que certamente seria negativa. — Acho que não tem problema nenhum em se apaixonar e sentir que foi em vão e que parece tarde demais. Só que você não deveria ter dito todas aquelas coisas na frente de todo mundo e daquela maneira!

— Não era isso que você queria? Que eu fosse menos complicado e dissesse tudo que sentia? Você venceu, Hayley. Eu estava mesmo com ciúmes da Amy e mais que isso, eu a amava...

— E não ama mais?

— Não. Não quero mais amar.

— Você diz como se pudesse controlar seus próprios sentimentos.

— Não posso. Mas posso muito bem fingir que não sinto mais nada.

Parece fácil ouvindo-o falar assim. Sei que ele está blefando. Se bem que sim, eu não duvido que ele é realmente capaz de fingir muito bem que não sente nada. É só voltar um pouquinho no tempo e relembrar como ele era antes de encontrar a Amy e ter mudado por ela.

— Olha – levantei-me. Ele ergueu a cabeça na minha direção. — faça o que quiser, está bem? Só não deixe de ser esse irmão adorável que eu tanto aprendi a amar, ou o filho surpreendente que faz a mamãe chorar de tanta emoção ou o ótimo amigo em que você se tornou.

Já estava na saída do ginásio pronta para ir embora quando escuto Oliver me chamar pela última vez.

— Como ela está?

— Nada bem.

Meu irmão não parecia estar sofrendo. Quem não o conhece e o visse assim, diria que ele até parece muito bem. Só que na verdade eu o conheço o suficiente para saber que ele não está nada bem. Não está chorando, soluçando ou clamando a Deus para que a dor diminuía. Mas essa a maneira dele. Oliver é do tipo que prefere sofrer calado, sozinho e distante do resto do mundo. Eu posso compreende-lo muito bem.

— Vai ter a festinha ou não? – volto a encontrar a Nath que está com o Eric indo em direção a cantina. É hora do jantar.

— Não. Não vai ter.

— E agora? – ela arregala os olhos. — O que faremos como tudo que preparamos? E as pizzas que incomodei? Vão tudo para o lixo?

— Não. Vamos come-las. Não podemos simplesmente desperdiçar tudo que fizemos. Vamos comer sem nada em especial para comemorar.


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Notas finais do capítulo

E agora, será mesmo tarde demais para a Amy e o Oliver?



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