Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 39
Amigos


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo que explica muita coisa estranha que estava acontecendo entre Hayley, Jesse e Amy.



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"Eu queria não querer, mas sem querer eu quero.”

Bati com a cabeça no piso do corredor. Senti-me tonta, enjoada, prestes a desmaiar. De olhos fechados tentava me defender. Amy está sentada em cima do meu corpo ainda tentando me atacar.

— Para Amy! Para! – gritei desesperada sentindo-me cada vez mais fraca. — Você está me machucando!

— Vamos Hayley – ela me atiçava com uma voz cruel, quase maligna. Completamente irreconhecível. De onde Amy tirou tão força? — Revide. Bata em mim também! Vamos brigar.

Ela estava delirando, complemente fora de si. Eu jamais revidaria qualquer um dos seus golpes. No máximo só conseguia me defender. Tinha medo de machuca-la, pois eu sabia o quanto eu era forte. Ainda mais que ela, a vida, a minha antiga vida, me ensinou a ser forte o suficiente para revidar qualquer briga. Não com a minha melhor amiga.

— O que você está tentando fazer? – perguntei, voltando a abrir os olhos e encontrando os dela nos meus. . — Porque Amy? Porque está agindo dessa maneira? Você não é assim!

Amy ficou paralisada por um momento como se tivesse sido golpeada por minhas palavras. Ela olhou para o além, no final do corredor, como quem se lembrava de alguma coisa. Tive a esperança de que ela tivesse lembrando-se de quem era e costumava ser antes de ser tornar naquilo, um monstro. Então, repentinamente Amy começou a chorar, tombando para o lado, saindo de cima de mim.

— Eu pensei que – ela passava as mãos pelo cabelo em um gesto de desespero. Mesmo dolorida, tentei me sentar. Pousei minha mão sobre a perna dela. — se eu fosse mais parecida com você talvez, finalmente, o Jesse pudesse olhar pra mim. Gostar de mim!

Amy escondia o rosto molhada entre as mãos afundando a cabeça nas próprias pernas.

Agora sim, finalmente tudo parecida fazer sentido. Agora entendia o porquê do interesse dela em saber como eu e Jesse éramos quando estávamos juntos. Não porque ela realmente tivesse interesse naquilo. Afinal, ela sempre gostou dele. Amy queria saber de cada detalhe, porque queria se basear nas minhas palavras. E foi assim que ela resolveu mudar tanto a aparência, o comportamento, o modo de agir, até mesmo de falar ou caminhar. Todo o tempo ela estava tentando parecer mais comigo na esperança que o Jesse olhasse pra ela. Gostasse dela.

— Amy! Não! – ela se levantou rapidamente e saiu correndo para o final do corredor no sentido oposto da festa ainda chorando. — Volta aqui. Vamos conversar.

— Hayley? Você viu a Amy? – olhei para cima, era o meu irmão com ar de preocupado. Amy já havia sumido completamente. — Ei, o que aconteceu aqui? – ele ajoelhou-se ao meu lado, passando a mão por meus cabelos. — O que houve?

— Isso não importa agora. – olhei no fundo dos olhos dele, sentindo lágrimas nos meus próprios olhos. — Por favor, Oliver, vai atrás da Amy. Ela precisa de alguém. Ela precisa de você! Ela foi pra lá.

Apontei na direção correta. Oliver levantou-se imediatamente correndo para encontrar Amy. No estado em que ela se encontrava, eu não saberia dizer o que ela era capaz de fazer.

Levantei-me sentindo as pernas tremerem de fraqueza. De repente me sentia tão cansada, tão exausta, detonada. Tentei ganhar equilíbrio segurando na parede. Ouvi uma risadinha.

— Parece que finalmente alguém te deu a surra que você merecia e que eu não consegui te dar. – Alana. Perfeitamente bonita com os cabelos louros volumosos e uma maquiagem escura realçando seus olhos esverdeados.

— Sai daqui. Por favor. Hoje não. – olhei para ela suplicante. Senti o rosto de ferrugem na boca. Sangue.

Ela gargalhou se aproximando cada vez mais de mim com os saltos barulhentos. Por um momento pensei que ela iria me ajudar. Eu realmente não estava bem, aparentemente pior. Mas ela não me ajudou e com uma única mão me empurrou de leve me fazendo voltar direto para o chão como uma pena leve.

— Eu disse que faria da sua vida um inferno.

— Sai de perto dela agora! Ou eu não me respondo por mim. – ouvi a voz de Tyler desafiadora. Com o canto do olho vi Alana ir embora com o rabinho preso entre as pernas. — Você está bem meu amor?

— Oh Tyler – ele estava abaixado ao meu lado, dei-lhe um abraço afundando meu rosto na sua camiseta xadrez. — Eu sinto muito por estragar essa noite. A sua noite.

— Nada pra mim é mais importante do que você. – ele passou os braços por baixo do meu corpo e levantou-se facilmente comigo em seus braços. — Vamos sair daqui agora.

Tyler me colocou com cuidado sobre a minha cama depositando um beijo carinho na minha testa. Ele sentou-se ao meu lado e pegou minha mão para segura-la.

— Quer me contar o que aconteceu? – ele olhava para mim com um meio sorriso incrivelmente bonito.

— Não. – tentei retribuir o sorriso evitando o contato do seus olhos, virei a cabeça para o lado, para o lado da parede. — Desculpe.

— Tudo bem. Mas você está péssima. – com a outra mão ele acarinhou minha bochecha. Uma lagrima escorreu do meu olho, desejei que ele não me visse chorar. — Vou até a enfermaria buscar um kit de primeiros socorros para dar um jeito nesse seu machucado da boca.

Ele me deixou sozinha.

Queria mais que qualquer outra coisa ter forças suficientes para ir atrás da Amy, mesmo depois de tudo, só para saber se ela estava bem. Eu sei que mesmo que ela tenha me machucado feio, ela tinha seus motivos pra isso, e não era como se fosse ela ali em cima de mim tentando me agredir.

Ouvi uma batida na porta. Limpei com a ponta do dedo algumas poucas lágrimas que escorriam de meus olhos. Deve ser o Tyler.

— Posso entrar? – ele não esperou pela minha resposta. Ele deveria saber que eu não queria vê-lo nesse momento. A culpa é toda dele! — Seu irmão me disse que você não estava bem.

Jesse sentou na ponta da minha cama e sem permissão passou a mão nos meus cabelos e retirou-os do meu rosto. Ele percebeu que eu estava chorando e secou também minhas lágrimas sem dizer nada.

— O que aconteceu com você? Se meteu em outra briga?

— A culpa disso é toda sua!

Jesse me olha assustado, retirando suas mãos de cima de mim.

— Hayley, por favor, não seja injusta. Eu vim até aqui porque fiquei verdadeiramente preocupado com você. – sua voz era calma. Fez meu coração se aquietar. Não ajudaria em nada eu me exaltar com ele justamente agora. Não tinha forças suficientes pra isso. — Eu não consigo entender. Porque a culpa é minha? Como posso saber se você não me contar o que aconteceu com você?

— Esqueça. Não vamos falar sobre isso agora. – desviei meu olhar, sentindo novamente o gosto de sangue na boca. Fiz uma careta. Ainda Não tinha me visto no espelho. Mas sinto que preciso.

— Isso deve está doendo. – Jesse posicionou a ponta do dedo sobre meu lábio inferior. Era exatamente ali que eu sentia um corte. Voltei a olhar para ele surpresa com o gesto.

Ele inclinou-se sobre mim e posicionou exatamente ali um beijo, um selinho, rápido, doce e suave. Se isso é realmente possível, senti com se todas as dores do meu corpo tivessem sido sugadas. Lembrei-me do que mamãe me disse uma vez: “Jesse é como uma cura pra você.”.

— Eu preciso ir agora. – dessa vez ele beijou minha testa. Em seguida levantou-se. — A Alexa precisa de mim.

Engoli em seco. E eu preciso mais ainda de você. Tive vontade de dizer, mas não disse. Seria a pior burrada da noite.

— Se cuida. Fica bem. – e ele se foi, levando consigo o sorriso que um dia desejei poder ver por toda a vida.

Como se tivessem combinado, Tyler apareceu com o kit de primeiros socorros alguns segundos depois que Jesse saiu.

Ele cuidou de mim pelo resto da noite. Mesmo sabendo que a festa que Natalie organizou para ele e para Amy ainda rolava lá em baixo no salão de festas e todos continuavam a se divertir, dançar e beber.

— Que horas são? – perguntei, tentando sentar-me sobre a cama. Já me sentia bem melhor agora. Acabara de devorar um sanduíche e tomar um copo de suco que Tyler pegou pra mim no refeitório.

— Por incrível que pareça ainda é muito cedo. O tempo passou muito devagar. A festa começou cedo e eu nem sei quando vai acabar. Agora são exatamente meia noite e três.

Levantei-me da cama e no guarda-roupa procurei por algo. Tyler observou a tudo de longe sem fazer perguntas. Voltei para perto dele, sentando-me em seu colo, com um dos embrulhos que mamãe me trouxera na manhã do dia anterior.

— Feliz aniversário Tyler! – beijei-o devagar. Ainda sentia o corte na boca latejando. — E isso aqui é pra você.

Como uma criança curiosa ele rasgou o embrulho em questão de segundos, ficou boquiaberto quando viu a camiseta do seu time favorito.

Sem palavras, cheio de emoção, ele me agradeceu com um forte abraço que quase me tirou todo o ar do pulmão.

— Desculpa atrapalhar o casal – Natalie apareceu de surpresa no quarto. — Mas acabamos esquecendo o bolo de aniversário! – ela bateu a mão na testa sorrindo. — Vamos! Vamos comemorar!

E todos, exatamente todos, pararam para cantas os parabéns enquanto Natalie e Eric trasiam os bolos enormes em uma pequena mesa com rodinhas. Vi flashes de maquinas fotográficas por todos os lados enquanto Tyler e Amy – sim, Amy parecia novinha em folha. — eram o centro das atenções. Fiquei feliz pelos dois.

Acordei muito tarde aquele domingo com alguns momentos da continuação da festa ainda em mente. Por Tyler fiz o sacrífico de permanecer um pouco mais na festa mesmo depois do bolo. Como se nada tivesse acontecido nós dançamos e nos divertimos.

Escovava meus dentes procurando por meus chinelos quando vejo Amy entrar no quarto como um zumbi. Ela não dormiu no quarto. E só estava aparecendo agora, quase ao meio dia, com os olhos tão pequenos e vermelhos que davam medo.

— Precisamos conversar. – ela olha para mim com uma expressão muito séria. Volto ao pequeno banheiro lavo a boca e o rosto, volto para o quarto com uma toalha de rosto em mãos.

— Podemos deixar isso para depois. – tento sorrir, caminhando em sua direção. — Acho que você deveria tomar um banho, tirar essa roupa e descansar. Se quiser, posso te ajudar. Você não parece bem.

— Não Hayley, você não entende. – ela caiu sentada sobre a minha cama. Preocupada corri até ela sentando-me também ao seu lado tocando seu braço. — Se não conversarmos agora, não sei quando vou ter coragem de tocar nesse assunto outra vez. – Amy estava parecendo um panda com a maquiagem em volta dos olhos borrada. — Eu estou tão arrependida!

Inesperadamente ela me abraçou. Chorando. Não me importei de que ela manchasse minha blusa com a maquiagem escorrendo com as lágrimas. Esperei que ela estivesse bem o suficiente até conseguir falar sem soluçar. Enquanto isso acarinhava seus cabelos curtos.

— Me perdoe por ontem. – ela se afastou dos meus braços, finalmente conseguindo falar. Mas ainda com dificuldade. — Eu e Oliver conversamos e tive muito tempo para refletir sobre tudo que ele me disse depois que eu briguei com você. Seu irmão é maravilhoso! – ela sorriu pra mim. Sorri de volta em concordância. — Eu não deveria ter me comportado daquele jeito. Foi muito infantil da minha parte ter pensando que por um momento, se eu fosse mais parecida com você, o Jesse poderia gostar de mim como ele gostar de você. Mas eu estava enganada. Eu estava me enganando. Porque se algum dia ele tivesse que gostar de mim seria pelo o que eu sou e não pelo que finjo ser. E eu acabei descontando minhas frustrações todas em você. – nenhum momento enquanto ela desabafa Amy olha para mim. Fiquei aliviada quando ela finalmente me olhou. — Eu te machuquei, não foi? Eu fui um monstro com você. E eu sinto muito Hayley. Sinto muito! Você pode me perdoar?

Não tive tempo de responder, e deixei-a prosseguir.

— Passei a noite em claro, sozinha, lá fora. Pensando em tudo. E cheguei a uma conclusão – Amy suspirou fundo. — tudo bem pra mim, de verdade, se o Jesse gosta de você e não de mim. Você tinha razão quando me disse que às vezes é necessário gostar de quem gosta da gente. Acho que eu devia olhar melhor para os lados e enxergar o que antes eu não conseguia ver. – Amy limpou as ultimas lágrimas tirando seus coturnos. — Vou me dar uma nova chance dessa vez sendo quem eu sou de verdade e quem quiser que goste de mim assim. – mostrei meu total apoio a ela apertando firme sua mão sobre o meu colo. — Talvez eu nunca tenha gostado de verdade do Jesse tanto quanto eu demonstrava gostar. Talvez eu só gostasse de fantasiar exatamente como sempre foi em toda a minha vida. Mas não deve ser assim. Tem que ser real, tem que ser de verdade, tem que ser correspondido. Afinal, tem coisa mais linda que amar e ser correspondida? – eu sorri como resposta. — Mas, para recomeçar eu preciso que você me perdoe Hayley. Você é capaz de me perdoar? Eu não queria. Juro que não queria ter agido como uma louca.

E como quem lembra, ela começou a chorar desesperadamente outra vez. Senti meu coração fraquejar e a envolvi novamente com meu abraço.

— Tá tudo bem Amy. Tudo bem. Eu também não fui justa com você, mas agora as coisas serão diferentes. – passava a mão em seus cabelos negros e lisos. — Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui por você. Vou te ajudar no que for preciso. Você é minha melhor amiga! Sei que você encontrará alguém capaz de corresponder aos seus sentimentos e gostar de você pelo que é. – afastei-me, segurando firme seu rosto. — Olha pra mim – ela olhou. — Eu gosto de você do jeitinho que você é. Eu sempre gostei e te admirei e gostei cada vez mais de você por isso. Você sabe, eu já te disse, que se eu tivesse escolha seria exatamente como você.

Fiz ela voltar a sorrir.

— Agora vamos lá. Vamos mudar essa carinha. – levantei-me puxando-a comigo. — Você está horrível! – nós rimos juntas em direção ao banheiro. — Deixa eu te ajudar. Começando de agora.

Amy se livrou das roupas que não eram suas, dos objetos que apesar de deixa-la linda não tinha nada a ver com ela e entrou de baixo do chuveiro deixando a água morna limpa-la. Peguei um conjunto de roupas novas e limpas em suas gavetas, roupas que ela costumava a usar antes de querer ser como eu, e levei até ela. Amy se trocou. Tirou o excesso da maquiagem com um algodão e foi como se ela tivesse acabado de remover uma mascara. Aos poucos, enquanto ela se desfazia daquela camada grossa de um eu de mentira, eu conseguia pouco a pouco voltar a enxergá-la.

Dispus-me a ajuda-la com o cabelo curto molhado.

— Amanhã vou dar um jeito de pintar essa mecha vermelha estupidamente ridícula. – ela fez uma careta. Dei risada. Nós duas de frente para o espelho enquanto eu penteava seus cabelos como uma mãe faz com a filha pequena.

— Não! Não faça isso. Confesso que eu até que gostei dela.

— Sério? – ela virou-se de frente pra mim. — Você gostou?

— Eu gostei. Você não? Porque não fica com ela?

Ela voltou a se olhar no espelho.

— É. Você tem razão. – ela deu de ombros. — Vou ficar com ela. Confesso que também gostei. Mas tive medo de não ter nada a ver comigo já que agora sou eu de volta.

Fiz Amy deitar. Ela precisava tirar à tarde para dormir já que não tinha dormido a noite por ter passado a madrugada em claro tomando reflexões da própria vida e das futuras decisões.

— Quer um copo de leite? Vou busca-lo para você.

— Hum, sim. Por favor. – ela cobriu-se com um meio sorriso. Antes de sair fui até a janela para fecha-la. Deixar o quarto mais agradável. — Ei Hayley, é sério que eu sou... Sua melhor amiga?

— Minha primeira e única melhor amiga.

Almoço com Tyler, Nath e Eric.

— E ela esta bem? – Natalie pergunta ao final da nossa refeição. Dou meu ultimo gole na Coca-Cola. — Está dormindo?

Eu tentei contar a ela o máximo possível da conversa que eu e Amy tivemos no quarto antes dela dormir.

— Agora sim. Acho que posso dizer que está tudo bem e vai ser assim daqui pra frente. – sorrio satisfeita. — Vamos deixa-la dormindo pelo resto da tarde por enquanto. Quando ela sentir fome vai acordar.

Todos nós paramos de falar quando a presença ilustre de Jesse, sem Alexa, para ao lado da nossa mesa.

— Posso pegar sua namorada emprestada por alguns minutos? – Jesse pergunta ao Tyler como se eu não estivesse ali para tomar minhas próprias decisões. — Eu prometo que não vou rouba-la.

Não foi engraçado. Mas todos riem.

— Sem problemas, portanto que a devolva antes do final do dia.

Relutando comigo mesma, para não fazer feio diante de todos, vou atrás do Jesse até onde ele quer me levar para conversarmos.

Sala de artes.

— Porque aqui?

— Sente-se, por favor, Hayley.

Sento-me e ele se senta bem na minha frente.

— O que você quer?

— Não vou te beijar. Só quero conversar.

Jesse está me provocando. Meu ódio só aumenta.

— É sobre a Amy. Seu irmão me procurou para conversar e disse apenas que eu deveria ter procurar para falar sobre a Amy.

O que diabos meu irmão tem na cabeça?

— Acho que Oliver se enganou. – forcei um sorrisinho. — Você deveria conversar diretamente com ela e não comigo.

— Podemos resolver isso agora. Eu e você. É só você ter paciência comigo e contar desde o inicio tudo que eu preciso saber.

Amaldiçoei meu irmão por me fazer passar por isso.

— Tá. Vamos do começo. A grande verdade é que a Amy sempre foi apaixonada por você. Muito antes de nos conhecermos. Desde o primeiro momento que ela colocou os olhos em você e tentou saber de tudo sobre você. Parece loucura, eu sei. – vi um ponto de interrogação em sua expressão. Apenas ignorei. — Mas ela sempre gostou de você. Ou era nisso que ela acreditava. Mas você nunca pareceu perceber. Porque você é um idiota! – meio que gritei a ultima frase. — E ai nós nos envolvemos, mesmo eu sabendo de tudo. As coisas foram acontecendo e chegaram no ponto em que chegaram. Nós, eu e a Amy brigamos, nos desentendemos, nossa amizade quase foi por água abaixo por sua culpa! Exatamente. Sua culpa. Porque certamente as coisas teriam sido diferentes se você tivesse percebido desde o começo.

— Ei, espera aí. – ele fez um gesto com as mãos. Tentei controlar minha vontade louca de explodir tudo sobre ele. — Então era ela a garota misteriosa? – assenti, revirando os olhos. — É, realmente poderia ter sido diferente se você tivesse me dito a verdade todas as vezes em que eu pedi pra você.

— E trair minha própria amiga e contar os segredos que eram dela e não meus? Isso me parece muito justo. Claro! – estava sendo irônica. Agora sim, Jesse provou que é um babaca.

— Mas eu não tenho culpa. Eu não sabia... Como eu poderia perceber...? – ele abaixou a cabeça perdido. Mas por pouco tempo. Voltando-me a fuzilar com os olhos. — A culpa é toda sua Hayley! Você quem sabia de toda a verdade. E mesmo assim se deixou levar.

Soltei uma gargalhada incrédula.

— Tá querendo dizer o que?

— Que você traiu sua própria amiga! E agora está querendo colocar a culpa em mim. Mas agora pare, escute a si mesma. Você sabia de tudo e mesmo assim me beijou, mesmo assim deixou ser beijada. Permitiu que ficássemos juntos mesmo com a sua amiga na sua própria casa.

Não podia acreditar que ele estava usando tudo o que passamos juntos contra mim. Aquilo não poderia ser real. Não poderia estar acontecendo de fato. Talvez fosse só mais um pesadelo e eu precisava acordar. Precisava acordar de volta aos braços do Brandon.

Senti as lágrimas arderem em meus olhos. Lágrimas de ódio.

— O que eu poderia fazer se eu me apaixonei por você? – levantei, sentindo as lágrimas banharem meu rosto. Cada lágrima parecia uma chama de fogo queimando minha pele. — Eu não poderia simplesmente dizer a Amy: “Olha, sinto muito, mas ao invés te de ajudar, eu me apaixonei pelo garoto que você gosta.” Se coloque no meu lugar, Jesse. Eu não posso controlar o que sinto. Não posso controlar o que os outros sentem. Eu não conseguia ser justa com ela, porque não estava sendo justa comigo mesma. Todo o tempo eu ainda tentava me recuperar por ter pedido meu primeiro amor que se foi da noite para o dia. Você acha mesmo que eu não me senti mal por isso? Acha mesmo que eu não queria ter ajudado ao invés de ter me rendido aos seus encantos? Muitas vezes eu me odiei, me entristeci por lembrar que estava sendo injusta, eu estava sendo com todos inclusive comigo mesma. Você acha mesmo que foi fácil? Porque não foi! Não está sendo, não aqui diante de você, te falando essas coisas. Porque acha que eu venho tentado te evitar? Porque acha que eu prefiro te odiar ao invés de confessar que te amo? Porque assim é mais fácil pra eu seguir a diante.

Virei às costas sufocando minhas próprias lágrimas. Sentia meus lábios tremendo, minha garganta seca e minha cabeça latejando.

— Não é fácil pra mim também. – senti-o tocando meu ombro, virando-me lentamente de frente pra ele. Mas não conseguia olhar pra ele. Não estava preparada. — Eu sinto muito por tudo. Espero do fundo do meu coração que você e a Amy voltem a se entender. Eu também me sinto culpado. Eu deveria ter percebido. Mas desde que a gente se conheceu eu não conseguia pensar em outra coisa além de você. E mesmo com a Alexa tenho tentado não pensar o quanto eu gostaria que fosse você ali comigo e não ela. Não deixo de estar sendo injusto, um traidor, mentiroso. Tenho tentando sentir raiva, ódio, indiferença por você. Mas não consigo. E você sabe disso tão bem quanto eu. Porque cada vez que estou perto de você sinto como se só existíssemos nós dois – fecho meus olhos ao sentir seu toque quente em meu rosto. — e não consigo controlar essa vontade de te beijar, te abraçar, te tocar, te sentir pertinho de mim.

Dessa vez Jesse beijou meu rosto. Mesmo que tenha sido próximo o suficiente da minha boca para sentir o gosto dos seus lábios.

— Então porque não podemos ficar juntos? – também preciso toca-lo, senti-lo de alguma forma mesmo depois de ter renegado por tanto tempo, tempo suficiente para morrer de saudades a cada dia. — Por quê?

— Tem muita gente envolvida, Hayley. – delicadamente ele secou minhas lágrimas. Consegui sorrir, porque no fundo concordava com ele. Não era como se só existíssemos nós dois. Devemos sim nos importar com os outros que também fazem parte dessa história. — Não podemos simplesmente fugir, deixar tudo para trás e viver nossa história de amor. Você é capaz de compreender isso?

Olho dentro dos seus olhos sentindo-me completamente perdida e ao mesmo tempo como se tivesse uma base. Um chão firme onde eu poderia pisar sem temer. Assinto mostrando que compreendo sim.

Não culpo Jesse por estar com a Alexa. Nós nunca chegamos a ter nada concreto. Apesar de que levo tudo que vivemos muito a sério. Ele voltou com ela sim, mas não deixou de conversar comigo antes de tomar uma decisão. Ele me explicou porque deveria ser assim. Ele foi justo relatando a verdade. Nós conversamos, discutimos e chegamos a um acordo de que seria melhor assim.

O melhor nem sempre significa que é o mais fácil.

Tem também o Tyler, que agora é o meu namorado. Eu sempre admiti gostar dele. Eu gosto. Gosto mesmo de verdade. Mas não é como se eu o amasse. Também nunca cheguei a dizer isso a ele. Não mentiria com algo tão sério. Não estou com ele porque estou o usando para esquecer o Jesse. Eu não quero esquece-lo, só queria supera-lo. Tyler me faz bem, eu faço bem a ele. Não fazemos promessas um para o outro. O nosso namoro não é uma mentira.

Sobre a Amy acredito que já tenhamos resolvido essa questão. Ela mesma decidiu seguir enfrente sem olhar para trás. O que me deu a entender que o Jesse pra ela já era. Não literalmente. Mesmo que o que ela tenha sentido por ele não tenha sido tão grandioso como ela ou eu imaginava. Quando se trata de sentimentos não é fácil de uma hora pra outra se livrar de algo só porque queremos. Mas estarei ao lado dela e juntas conseguirem superar isso.

— Eu sei que você quer muito que isso aconteça – Jesse não tirava os olhos de mim. Olhos que percorriam toda extensão do meu rosto como se ele quisesse guardar consigo cada detalhe. — sei que deveríamos ficar juntos, mas algo nos impede. Esse “algo” é medo. Um medo que me faz ter duvidas de mim mesmo, me faz pensar que se um dia eu estiver ao seu lado eu possa te fazer sofrer. E só eu sei o quanto você sofre ainda hoje pela morte do Brandon. E eu tenho medo que isso volta a acontecer. Tenho medo de te magoar. E esse medo me impede de fazer o que eu realmente gostaria de fazer. Parece bobagem, eu sei. Eu não te culpo por estar tentando se manter afastada. Não te culpo por todas as vezes que nos encontramos você tenha vontade de me esfolar. Mas por favor – Jesse entrelaçou nossos dedos. — não fique longe de mim mais. Eu preciso de você por perto. Por mínimo que seja. Sei que é pedir demais, mas peço que volte a ser minha amiga. Que a gente possa conversar como nos velhos tempos, discutir, ou até mesmo brigar. Mas que depois sejamos capazes de fazer as pazes. Eu sinto tanta a sua falta!

Atirei-me em seus braços como quem não ter ao que se agarrar quando se está caindo numa infinidade de escuridão.

Alguém pigarreia.

— Jesse? Estava te procurando meu amor. – Alexa não parece abalada com o que acaba de presenciar. Pelo menos não estávamos nos beijando. — Atrapalho alguma coisa?

— Não. Na verdade não. – respondo antes mesmo do Jesse dizer alguma coisa. — Eu estava com uns problemas, e o Jesse que é um anjo, me encontrou aqui sozinha e resolveu ajudar. Mas já passou.

Limpei a cara de choro.

— E você já está bem? – ela está me olhando como quem procura resquícios de mentira. Mas posso disfarçar muito bem.

— Não muito. Mas vou ficar. – passo por ela em direção a saída, antes, dou uma rápida olhada para trás e troco um sorriso amigável com o Jesse. — Aproveitem o final do dia juntos. Eu vou ficar bem.


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