Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 28
Festejar


Notas iniciais do capítulo

Jesse é um garoto maravilhoso. Às vezes ele implica com a Hayley, mas tudo tem uma razão, tudo tem um porque. Se nem tudo, quase tudo. É ano-novo. E pela primeira vez Jesse se permite fazer parte do "mundo" da Hayley sem protestar.



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"Quem diz que não quer amar mais ninguém, com certeza já amou alguém como nunca."

Todos já estão dormindo. Sou a única acordada.

Oliver tinha razão: Beth não contou nada do que aconteceu no meu quarto pra ninguém. Nem para os nossos pais e nem para o próprio marido, o Joseph. Por outro lado, durante o jantar, ela inventou uma desculpa qualquer de que precisava ir embora dali, da nossa casa, para passar o fim de ano com a família de Joseph do outro lado do país. Como já era de se esperar, mamãe não conseguiu conter o desapontamento com a notícia.

Não tive tempo para conversar com minha mãe. Agora, como nunca antes, eu queria me desculpar com ela. Eu não tinha o direito de trata-la com tanta ignorância daquela maneira. Não depois de tudo que ela já por fez por mim, suportou, aturou e se dedicou. Mesmo eu não sendo a filha exemplar daquelas que dão orgulho aos pais. Porém, não tive chance de me aproximar dela, nem mesmo depois do jantar. Sei que ela queria ficar com Beth enquanto ela estivesse em nossa casa. Aproveitar essas poucas ocasiões em que Beth vem pra casa nos ver.

Saio de fininho do quarto, é uma e meia da madrugada. Amy está dormindo no colchão com uma das mãos em volta do colar que Oliver lhe deu no natal. Preciso fazer alguma coisa ao invés de ficar parada. Dormi tanto pela tarde por causa da febre que agora já não me restara nada de sono. Saí pelas ruas vazias fechando meu sobretudo em volta do corpo e ajustando meu cachecol em volta do pescoço para me proteger do frio.

Sei que é perigoso sair pelas ruas durante a madrugada. Mas já estou tão habituada ao perigo que já não sinto medo. Posso lhe dar com os problemas que suspostamente possam surgir pelo caminho enquanto caminho sem rumo. O que não posso é lhe dar com a bagunça que está dentro da minha cabeça. Não consegui pensar em nada além da mudança repentina de Oliver. O que aconteceu com ele pra resultar em tudo isso? As respostas para tantas perguntas não parecem ter importância quando me lembro da maneira como ele me tratou depois de ter me defendido de Elisabeth. Além dos pequenos gestos de carinho durante o jantar mesmo diante de todos, até o beijo de boa noite antes de eu me recolher.

Oliver estaria sofrendo uma ameaça do meu pai? Não, não pode ser isso. Oliver teria passado por um momento delicado e ter aprendido com os próprios erros? É uma boa sugestão. Oliver teria finalmente sentido pena de mim e de todas as minhas tentativas de ser uma boa irmão pra ele? Quem sabe. Eu estou sempre tentando me mostrar passível diante dele. Talvez tenha percebido finalmente o quanto eu o admiro e queria tê-lo por perto. Ou então, Oliver estaria amando? As pessoas geralmente dizem que o amor é o único capaz de transformar uma pessoa. E eu acredito plenamente nisso, até porque, Brandon me transformou.

Ouço passos atrás de mim. Tenho receio de me virar de imediato e dar de cara com um assaltante ou um tarado. Talvez sejam coisas só da minha imaginação fértil. Ou, meus sentidos podem estar mesmo certos com toda essa preocupação.

— Oi. O que está fazendo aqui?

É o Jesse. Só poderia ser ele. Não sei se me irrito com essa perseguição ou se o abraço por ser ele e não uma pessoa qualquer.

— O que você está fazendo aqui? – dou ênfase.

— Eu estava tocando. Tocando gaita na janela do quarto quando te vi saindo de casa sozinha. Além da curiosidade, fiquei preocupado pensando no que você tinha em mente e o que estaria prestes a fazer.

— Então resolveu me seguir e verificar de perto?

— Exatamente. – sorrimos um para o outro ainda caminhando lado a lado. Jesse charmoso com as mãos dentro do bolso do casaco escuro.

— E porque estava tocando gaita as duas da madrugada?

Ele sorriu consigo mesmo, abaixando a cabeça para fitar os próprios pés que deixavam marcas de pegadas na neve.

— Não conseguia dormir. Senti saudade dos meus pais e queria poder senti-los por perto. Eu já te disse que quando toco a gaita é como se de alguma maneira pudesse me transportar pra perto deles?

— É. Você disse.

Disse quando encontrei a gaita dele no jardim do internato e fui entrega-la. Foi quando pela primeira vez eu soube o que um garoto como o Jesse, cheio de talentos e qualidades, estava fazendo ali em um internato para adolescentes problemáticos. Então soube que seus pais haviam falecido e ele morava com a avó que ficou velha e doente.

— Então, no que está pensando? – ele me olhou de canto, esperando por minha reação pela pergunta. — Você está calada.

— Eu briguei com a minha irmã. Definitivamente nos odiamos. E ela vai embora amanhã. Não suporta mais olhar pra mim. E nem eu pra ela. – dei uma pausa. — Eu e Oliver, acho que finalmente, vamos ser amigos. Não que não fossemos, afinal, somos irmãos de sangue. Mas é que, bom, nunca fomos bom um para o outro. E pela primeira vez, sinto que as coisas vão mudar entre nós. Coisa que eu sempre quis.

— Isso é ótimo, Hayley. – Jesse abre um largo sorriso. — Sempre fiquei imaginando como teria sido a minha vida se eu tivesse um irmão. Mais novo de preferencia. Iria protegê-lo, cuidar dele, ensina-lo coisas que eu gostaria que soubesse, ama-lo, compreende-lo, assegurar de que sempre estaria bem e mima-lo.

— Tenho certeza de que seria um ótimo irmão mais velho.

Chegamos até o centro sem trocar nenhuma palavra. Algumas boates, casa de festas noturnas, barzinho e pubs estavam abertos. Na verdade, ficam vinte e quatro horas abertos. Pensei em ir me distrair em qualquer um deles. Porém, Jesse me lançou um olhar repreendedor como se tivesse lido minha mente.

Recuei. Divertir-me agora parecia estar longe de cogitação.

— Vamos voltar para casa. Está tarde. – ele ordenou, puxando-me pela mão. Não havia nada que eu pudesse fazer. Quando Jesse fala assim comigo, tão mandão, sinto um nervoso por ele ser tão audacioso e ao mesmo tempo sinto proteção.

Definitivamente eu não poderia entrar em casa e forçar um sono que eu não tinha. Estou mais elétrica que o normal. Quero ficar acordada, aproveitar o momento e fazer qualquer coisa que me distraia.

— Já sei. Você não está nenhum pouco a fim de dormir. E quer ficar aqui, ou em qualquer outro lugar, passando o tempo até o sono chegar.

Eu ri. Jesse estava coberto de razão. Pra variar.

— Vem. Quero te mostrar umas coisas.

Entramos em seu quarto, na casa de Alexander, sem fazer barulho para não acorda-lo. Jesse trancou a porta. Sentei-me no pequeno sofá de frente pra cama perto da prateleira de livros. Jesse procurava por algo dentro do imenso guarda-roupa branco. Com uma caixa branca em mãos ele sentou na própria cama e abriu a tal caixa.

Ele vasculhava a caixa com delicadeza, como se guardasse ali uma espécie de tesouro. Observei de longe seus movimentos suaves. Até que ele me entregou o que parecia álbuns de fotos. Coisa que eu nem lembrava mais que existia depois do avanço da tecnologia.

— São fotos. Minhas e dos meus pais. – Jesse sorria como um garotinho. Peguei os álbuns e coloquei-os sobre o colo.

E pela primeira vez eu pude ver sua mãe e seu pai. Sua mãe, como eu já imaginara, era linda como um anjo. Cabelos dourados com cachos longos, corpo magro e um sorriso cativante. Seu pai, cabelos castanhos, um homem alto e magro, pele dourada, olhos verdes cintilantes.

— Como eles se chamavam? Seus pais.

— Emily e Dylan.

Continuei a folear os álbuns vendo as mesmas expressões de satisfação e alegria dos pais de Jesse. Pareciam felizes. Em todas as fotos, Jesse estava grudado aos pais. Os três tinham o mesmo sorriso, a mesma doçura e algo mágico que pareciam compartilhar sempre que estavam juntos. Jesse era uma criança muito bonita sempre com All Star sujos e os cabelos bem arrumados e a pele alva sem imperfeições. Hoje em dia, pouca coisa mudou nele. Além de ter ganhado um ar de mais maduro e uma masculinidade encantadora.

— Mamãe adorava tirar fotos. – ele se levantou, se posicionando atrás de mim. Com a boca bem próxima do meu pescoço para também poder olhar para as fotos. — Essa aqui – ele apontou, por cima dos meus ombros. Senti um tremor ao sentir sua respiração tão próxima. Não olhei pra fotos, pois fechara os olhos para poder senti-lo além do que eu gostaria. — foi no meu aniversário de sete anos.

Resisti à vontade intensa de puxar o Jesse pra cima de mim outra vez, como fizemos no meu quarto, e beija-lo até o amanhecer. Nada parecia mais importante além da vontade de tê-lo comigo, sentir seu corpo roçar sobre o meu, o tecido da sua roupa entre os meus dedos, seus lábios úmidos colados nos meus e seus olhos fixos dentro dos meus.

Pra minha infelicidade, ele voltou pra sua cama. Sentando-se perto da caixa outra vez. Abri meus olhos rapidamente para poder continuar olhando as fotos que ele tanto fizera questão. Jesse continuou a contar algumas histórias de alguns momentos retratados nas fotos. De alguma forma, me senti estranhamente importante após tantas revelações. Parecia injusto eu conhece-lo tão bem e ele pouca coisa sobre mim.

Só ainda não estava preparada para compartilhar com ele ou com ninguém. Um dia estaria. Ou não. Por enquanto é incerto.

Acabei deitando no sofá do quarto de Jesse ouvindo sua voz contar-me histórias da sua vida. Sentia o corpo cada vez mais cansado e as pálpebras pesadas. É o sono. Jesse estava tocando algo em sua gaita que eu não poderia reconhecer. Uma música calma e tranquila.

— Seu tio não acha ruim? Que você toque assim pela madrugada...

— Pelo contrário – ele sorriu. — Ele adora!

Após mais três minutos não vi mais nada além de uma densa escuridão. Dormi.

Acordei com o cheirinho de achocolatado quente entrar por minhas narinas. Ao contrário de quando fui dormir, acordei com uma manda de lã sobre mim. Só podia ter sido o Jesse. Levantei-me para sentar com a postura ereta. Ele estava a minha frente com uma caneca em mãos sorrindo como um príncipe. Lembrei-me que deveria estar péssima. Com os cabelos bagunçados e a roupa amarrotada.

— Não se preocupe – ele observou, quando levei as mãos aos cabelos para dar uma ajeitadinha básica. — Você está linda.

Sorri enrubescida. Entendi a mão para pedir um pouquinho de achocolatado para tirar o gosto ruim da boca.

— Dormiu bem? – ele perguntou com olhos serenos, estendendo-me a caneca quente. — Você dormiu tão repentinamente que não quis te incomodar. Pensei em te pegar nos braços e te colocar na minha cama. Mas, fiquei meio sem jeito.

— Obrigada mesmo assim. Eu dormi bem. – tomei um gole do chocolate. — Desculpe por ter dormido. Gostaria de ter ficado acordada para passar o tempo com você. Mas...

— Tudo bem, Hayley. De qualquer forma, foi bom te ter aqui por mais uma noite. É estranho, mas, eu gosto.

Estranho? Estranho por quê?

— Jesse? – ouvimos batidas na porta. Alexander. Jesse e eu trocamos um olhar preocupante. — Jesse, você está ai?

— Que horas são? – sussurro para Jesse antes que ele pudesse responder o tio de volta.

— Nove horas. – ele ergue as sobrancelhas, mas logo volta a abaixa-la. — Oi tio. O que você quer? Estou aqui.

— Não é nada. Eu achei que estivesse ouvindo coisas. Mas, deixa pra lá. O café tá pronto!

Ouvimos os passos de Alec se distanciar.

— Preciso ir. – levantei, entregando-lhe a caneca. — Se ele me ver aqui vai querer me matar!

— Tem certeza? Que já vai. – Jesse também se levantou. — Podemos explicar a ele... E você poderia ficar pra tomar o café da manhã.

— Nada disso. Ficou maluco? – balancei a cabeça. — Vou pra casa antes que sintam minha falta. Mais tarde a gente se ver. – vou até a janela, olho lá pra baixo. — Não se preocupe. Vou pular. Não é muito alto.

Antes que ele pudesse protestar, já estou no chão. Levanto-me depressa tirando a neve do rosto e corro até em casa.

Para o meu espanto, estão todos reunidos na sala de estar. Quando entro ninguém repara, menos mal. Pelo pouco que ouço e vejo, parece que, Elisabeth está de saída.

— Oi pessoal. – aproxime-me cuidadosamente. — O que está acontecendo aqui?

Todos param pra olhar pra mim.

— Onde você esteve? – Oliver foi o primeiro a quebrar o silencio ao vir até mim. Segurar minha mão e depositar um beijo da minha testa.

Por um momento havia esquecido que agora ele é um bom irmão.

— Acordei cedo – menti. — Fui dá uma volta.

Mamãe se aproxima de mim também, colocando-se ao lado de Oliver e me encarando com os olhinhos inchados. Ela chorou.

— Filha, estávamos esperando que você chegasse. – esperei ela prosseguir. Curiosa com a situação. — Eu e seu pai estamos de saída com a sua irmã. Decidimos passar o ano-novo na casa dela. Tudo bem pra você? Pensamos em chamar vocês – ela referia a mim e meu irmão. — então me lembrei que provavelmente vocês não iriam querer...

Ela está certa. Eu, pelo menos, não iria querer ir com Elisabeth. Quanto a Oliver, tenho quase certeza de que ele também não.

— Antes que você pergunte: deixamos a casa na responsabilidade de Alexander, tio de Jesse. Ele vai tomar conta de vocês. Não literalmente, já que vocês sempre souberam cuidar de vocês...

Estava começando a entender aquele drama todo.

— Tudo bem mãe – abri um sorriso, tocando seu braço. — Vamos ficar bem. Vamos cuidar da casa pra você. Pode ir tranquila.

— Eu sei que sim filha. Eu sei. – mamãe beijou minha testa em um gesto de carinho. Trocamos um meio sorriso. Sei que no fundo, ela estava muito preocupada em nos deixar. Com o coração partido, da mesma forma, como imagino que ela tenha ficado quando nos mandou para o internato.

Elisabeth se foi sem se despedir direito, apenas acenou, mantendo distancia. Tudo bem. Entendo que ela esteja receosa quanto a nós. Eu e Oliver. Beth se foi, levando mamãe e papai.

— Então é isso. – Oliver olha para nós dando de ombros: eu, Amy e Tyler. — A casa é nossa. Mas nem pensem em tornar isso aqui uma loucura. Entenderam bem? – ele falava como um adulto. — Nada mudou.

Sei exatamente o que ele estava tentando dizer.

— E você – ele apontou pra Tyler, assustando-nos. — Nada de tentar ir dormir com a minha irmã e ficar de gracinha pra cima dela. Estarei de olho em vocês. Mais respeito, por favor.

Oliver se foi sem mais palavras, deixando o clima tenso.

— Ele está brincando, eu sei. – Tyler riu, virando-se pra mim. — Mesmo assim. É melhor eu tomar cuidado. Temi que ele me engolisse com os olhos. Imaginem se eu extrapolar.

— E ai – Amy falou pela primeira vez desde que cheguei. — Vamos preparar o café da manhã? Estou com fome. Vocês, não?

Amy é boa como dona de casa. Ela me faz pensar se minha mãe era assim, como ela, quando mais jovem. Mamãe nunca foi de contar da sua adolescência. Sei muito pouco, quase nada. Amy prepara o café da manhã e sentamos os três a mesa.

É véspera de ano-novo. Estávamos os quatro dormindo nos colchões na sala de estar após passar a madrugada inteira assistindo filmes. O telefone de Tyler tocou de manhã acordando a todos, menos ao Oliver que dorme feito pedra. Nem se meche. Tyler levantou contrariado para atender seu telefone com mais privacidade na cozinha.

— Foi uma pena. O Jesse ter ido embora cedo noite passada. – Amy observa, passando os dedos nos cabelos pretos e lisos.

— Ele disse que ia ensaiar com a banda. – dei de ombros, levantando-me rapidamente. Ajustei a calça de moletom no corpo.

— Sabe Hayley – Amy continuou, chamando minha atenção. — tô cansada de esperar. Esperar que alguma coisa aconteça.

— Entre você e o Jesse? – olhei pra ela, com a sobrancelha arqueada. Ela assentiu, respondendo-me. — Então faça alguma coisa.

— É o que estou pensando em fazer. – ela disse timidamente, com a voz muito baixa. Vi Oliver se remexer sobre o seu colchão do outro lado da sala. Pensei na possibilidade dele estar nos ouvindo fingindo estar dormindo. Mas talvez fosse apenas impressão minha. Meu irmão tem o sono pesado. — Só preciso achar o momento certo.

Tyler voltou da cozinha com o telefone em mãos minutos depois. Ele parecia irritadíssimo. Perguntei o que houve. Ele demorou um tempo para me responder.

— Era o meu pai. – vi seus musculo se contraírem. — Ele quer que eu volte pra casa hoje. Ainda hoje. Agora mesmo. Para poder passar, pelo menos, o fim de ano com eles antes de voltar para o internato. Só não entendo por que. Eles nunca se importaram comigo e...

— Talvez isso tenha mudado. O final de ano sempre sensibiliza as pessoas. O natal tanto quanto o ano-novo deixa as pessoas mobilizadas.

— É, talvez seja isso. – ele não me olhava enquanto falava. Percebi que ele estava mesmo muito chateado. — Eu pensei em dizer não pra eles, mas no fundo, algo me disse que seria injusto da minha parte. Afinal, eles ainda são meus pais e mesmo que não sejam os melhores do mundo, acho que devo isso a eles. Pelo menos isso.

Tyler arrumou suas coisas, tentei ajuda-lo. Não conversamos mais, porque ele estava mesmo muito chateado. Não queria atrapalhar ou complicar mais ainda a situação. Sei o quanto ele estava gostando de ficar ali em casa, sei o quanto ele gostaria de poder ficar conosco. Comigo.

— Pronto. Terminamos. – deixamos as coisas de lado sobre a cama do quarto de hospedes. Tyler se aproximou de mim e me puxou para um abraço carinhoso. — Eu ia te falar uma coisa, Hayley. Mas não acho que esse seja o momento certo. Por isso, prefiro guardar para um momento mais apropriado. Prefiro esperar a estragar tudo. – ele beijou meus cabelos, passando a mão no meu rosto. — Eu gosto muito de você. Sinto muito que eu tenha que ir. Queria poder ficar e festejar o fim de ano com vocês. Mas... As circunstancias me impedem. Mesmo assim, quero que saiba que gostei de cada segundo que passei aqui em sua casa ao seu lado e ao lado de sua família. Eu gosto muito de você. E gostei muito de todos!

Beijamo-nos devagar. Tyler passando a mão lentamente por minhas costas. Dei um ultimo abraço nele. Então, ele se foi. Deixando para trás um dorzinha no meu coração. Por mais estranho que isso possa parecer.

Só preciso achar o momento certo, a frase de Amy ecoou em minha mente pelo resto do dia. A noite se aproximou e com ela o frio se intensificou. Na minha cidade, assim como em algumas outras, temos o habito de comemorar o final de ano pelas ruas. As casas ficam abertas a disposição de qualquer um. Cada uma delas oferece alguma coisa para essa data. Os jovens passam a maior parte do tempo juntos, conversando, bebendo e jogando conversa fora. É tudo muito simples e divertido.

Sempre gostei de passar os finais de semana ali onde eu cresci.

Vesti meu único casaco branco com legging preta e botas.

Quando desci até a sala, já pronta, encontrei Amy e Oliver rindo em um dos sofás. Amy estava toda arrumadinha, delicada e meiga como sempre, deitada em um dos sofás. Meu irmão, sempre bem vestido por mais simples que esteja, está sentado ao lado dela fazendo-lhe cocegas.

Amy se debate pedindo que ele pare enquanto ri alto. Oliver finge não escutar e continua a cutuca-la por todo o corpo. Eles parecem tão íntimos. É um pouco assustador, confesso. Ele é meu irmão e ela é minha melhor amiga. Não sei dizer, mas é estranho.

— Desculpe atrapalhar a brincadeira de vocês. – digo entre um sorriso e outro. — Mas estou pronta. Vamos?

Encontramo-nos com Jesse enfrente a casa do tio. Tive a impressão de que ele estava diferente de alguma forma. A maneira como ele me olhava, talvez. Já não era a mesma. Algo mudou.

— E o Tyler, não vem? – ele perguntou casualmente, enfiando as mãos no bolso do moletom.

— Não vem. Ele foi embora. – eu disse, mostrando-lhe meu melhor sorriso. Ele retribuiu.

Continuamos a andar com Amy e Oliver mais a frente. Amy, de dez em dez segundos olhava para trás, para nós, especificamente para Jesse e sorria.

— Querem uma bebida? – Oliver perguntou ao encontrarmos um grupo de amigos dele não muito longe de casa. Todos bebiam algo. Pelo cheiro, bebida alcoólica. Não poderia ser diferente.

Eu aceitei. Jesse não bebe. E pra minha surpresa, Amy aceitou também. Não sei se seria certo, ela não bebe, mas não disse nada.

Os amigos de Oliver são mais ou menos o mesmo tipo dos meus antes de conhecer a galera do internato. São todos meio malucos, simpáticos, esquisitos e bem humorados. Lembrando que Oliver, nunca antes, deixou que eu fizesse parte do grupo de amigos dele, por mais que eu tenha tentando incansavelmente. Agora tudo mudou.

Vinte minutos depois, Amy ria exageradamente alto. Entre os amigos de Oliver. Como se fosse uma velha amiga de infância de todos eles. É evidente que a bebida já está fazendo efeito sobre ela.

— O que você deu pra ela? – fui me questionar com Oliver, lhe puxando pelo braço. Ele me olhou assustado, sem entender.

— Eu? Eu nada. – ele olhou para Amy em um ponto não muito longe dali. Apoiada em dois garotos enquanto ria de alguma piadinha deles. — Fui encontrar com umas amigas e quando voltei ela estava... Assim.

— Isso não está certo! Olha só pra ela. – olhamos juntos. Amy percebeu e acenou de longe. Ela começou a vir em nossa direção, caindo pros lados, porém ainda sorridente. — Ela está bêbada. Vamos dá um jeito nisso antes que ela faça alguma besteira. É a primeira vez que ela bebe!

Lembrei que a minha primeira vez não foi muito diferente.

— Deixe de besteira, Hayley. – Oliver sorriu para Amy, passando os braços sobre o ombro dela. — Ela está ótima, não é Amy? – Amy assentiu, rindo atoa. — Vamos comemorar! É ano-novo!

Eles se afastaram deixando-me horrorizada. Oliver não pode tratar Amy como as tantas amiguinhas dele. Isso eu não posso admitir.

— Tá tudo bem? – Jesse perguntou, assustando-me. Eu estava distraída até ele chegar. Pensava numa maneira de tirar Amy dessa sem feri-la. — Aconteceu alguma coisa?

— É com a Amy. Acha que eu deva fazer alguma coisa? Ela está péssima! Olha só pra ela.

— Hum – ele olhou, procurando por ela. Ainda colada no Oliver, tropeçando nos próprios pés. — ela não está bem. Ela não é de beber. Mas não acho que deva fazer algo a respeito. Amy está em boas mãos. Oliver vai cuidar dela. Eles só estão... Felizes.

— Ah é? – consegui sorrir, virando-me para olhar bem para ele. — Tem certeza que você está bem? – coloquei a mão na testa dele, como se fosse medir sua temperatura corporal. — Você nunca fala assim. Porque você não vem ser feliz? Vamos beber! Dançar!

Jesse não protestou, mas também não disse que iria beber ou fazer o que eu tinha em mente. Puxei-o para perto da galera, eu só queria que por um momento, Jesse pudesse fazer parte do meu mundo.

Em uma das casas ligaram o som alto, tão alto que dava para ouvirmos do meio da rua, onde conversávamos em roda.

— Estou feliz, muito feliz – busquei pelas mãos de Jesse, que não saia do meu lado. Cochichei em seu ouvido. — que esteja aqui.

Jesse apertou minha mão de volta sem dizer nada. O que deu a entender que também estava feliz por estar ali. Mesmo que não fosse por minha causa. Ele ao menos ele estava satisfeito perto das coisas e das pessoas que eu gosto e são como eu ou fazem parte de mim.


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Notas finais do capítulo

Teremos algumas "surpresinhas" no próximo capítulo. Comentem! Me motivem!



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