Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 24
Mudanças




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"Gosto de tudo que seja um pouco esquisito e diferente."

Acordo com mensagens seguidas que chegam ao meu celular ao mesmo tempo como se ele tivesse passado o tempo todo fora de área.

É dia 23 de dezembro. Dois dias para o natal.

Pego meu celular sobre a cabeceira da cama e ainda deitada dou olhadinha pra ver do que se tratam as tantas mensagens que acabaram de chegar. São ligações perdidas de Jesse. Teria acontecido algo com Amy?

— Mãe, foi você quem desligou o som do meu quarto? – perguntei a ela, descendo as escadas que davam para a sala de estar.

— Fui eu sim, filha. Você estava dormindo e... Achei que seria melhor se desligasse. Fiz mal?

— Não, mãe. Não fez.

Ela me seguiu até a cozinha, para me servir de café com leite, mesmo que eu não tenha pedido.

— Mãe, você viu se Amy chegou em casa ontem? Se ela estava bem, ou se parecia mais feliz que o normal.

— Ela chegou sim. Mas não reparei muito. – mamãe parecia indiferente ao que eu falava. — Por quê?

— Nada não.

Quando já ia me sentando a mesa Amy apareceu na cozinha com seu grande pijama cor de rosa e suas pantufas de bichinho.

— Bom dia tia Margaret – Amy beija o rosto da minha mãe. Elas parecem tão familiarizadas que sinto uma pontinha de ciúmes. — Oi Hayley.

Amy parece tão exausta. Ela se arrasta pelo chão. Até parece que passou a noite em claro na fara. Sua expressão não é das melhores.

— Vou fazer meus bolos. Tchau meninas. Se cuidem.

Ouço mamãe bater a porta antes de sair.

— O que foi Amy? – resolvo perguntar. Já que ela não fala nada e parece indiferente a noite passada. — Aconteceu alguma coisa? Você e o Jesse... Quero dizer, rolou algo? Qualquer coisa...

— Não. Não rolou nada. – então era isso. Por isso ela parecia tão aborrecida com a vida. Porque não havia rolada nada. — O Jesse foi maravilhoso durante toda a noite. Eu bem que tentei. Mas não consegui. Ele não se sente nenhum pouquinho atraído por mim. Eu não sei se o problema é comigo ou com ele. Certamente, o problema deve ser eu...

— Não é isso, Amy. Talvez o Jesse tenha achado que o momento não era dos melhores. E isso é um bom sinal. Significa que ele te respeita acima de tudo. – quem eu queria enganar afinal?

— Hayley, por favor, você não precisa...

— Bom dia meninas! – Oliver entrou na cozinha com os cabelos negros emaranhados. Porque ele estava sendo simpático? Seria só porque Amy estava ali? — Tem café? Eu preciso tomar alguma coisa.

Em meu quarto eu puder retornar as ligações de Jesse.

— O que você quer? – perguntei antes mesmo de dizer “Alô” ou qualquer outra palavra amigável.

— Você não está brava comigo, está? – ele perguntou. Senti que ele sorria. — Eu cuidei de Amy pra você, e a levei pra casa também.

— Mas não fez o que deveria ter feito. – disse imediatamente, me arrependo logo depois por ter pensando tão alto. — Esquece.

— Como disse? – continue calada. Queria muito que ele não tivesse entendido. — Tá. Eu sei que não vai repetir. Mas, eu, pelo menos posso te ver? Mais tarde. Porque você está chateada comigo ou algo do tipo, dá pra perceber na maneira como você está falando comigo.

— E porque isso realmente importa? Pra você. – confesso que estava sendo bem mais dura do que eu gostaria.

— Por quê? Porque eu gosto de você Hayley! Isso não está claro ainda? – seu tom de voz soou meio incrédulo.

Queria ter tido coragem de perguntar a ele de que maneira, exatamente, ele gosta de mim. Mas desliguei antes de perguntar.

Saí do banho já vestida e bem agasalhada. Quase cai pra trás quando me deparei com um certo alguém, de costas, mexendo nas minhas coisas. Dentro do meu quarto.

— Não mecha em nada! – gritei, fechando a porta do banheiro. Jesse virou-se pra mim assustado. — O que faz aqui? Aqui dentro.

— Sua mãe me deixou subir. – ele sorriu, mostrando indiferença. — Eu não poderia ficar sem saber o porquê de você está assim comigo.

Assim? Assim como? – perguntei, desviando os olhos. Não queria ter que olhar diretamente nos olhos dele. Algo me impedia.

— Você está fria. – ele deu dois passos a frente. — É por causa daquela nossa pequena discussão de ontem? Porque se for...

Sentei-me na cama para calçar meus tênis.

— Porque se for o que? Não muda em nada. Você é um chato e sabe me irritar quando quer. Acha que pode me controlar, tentar me decifrar, fala ou agir por mim. Mas não pode. Não pode! Entendeu? – dei ênfase nas ultimas frases. Para deixar bem claro.

— Não estou tentando... Não... Eu... Só queria... – Jesse parou por um momento. Parecia verdadeiramente perdido nos próprios pensamentos sem saber ao certo o que dizer. — Eu me preocupo com você caramba! – agora ele parecia bem mais irritado. Fiquei olhando pra ele atônita com sua reação. Acho que ele mesmo se assustou consigo mesmo. Afinal, Jesse não é de agir assim. Jesse é o oposto de mim.

Ele sentou ao meu lado.

— É que às vezes, penso, que seria mais fácil se você, pelo menos por um momento, me dissesse um pouco mais sobre você. Se ao menos tentasse me explicar porque age assim, o que aconteceu com você no passado, porque esconde tantos segredos. É como se tivesse tentando evitar as perguntas do mundo o tempo inteiro. Uma espécie de bloqueio...

— Jesse... Isso não é da sua conta. – foi tudo que consegui dizer, quase em um sussurro. Porque ele sempre tinha que agir assim? Como se tivesse que saber mais sobre mim todo o tempo. Qual a necessidade?

— Claro que é Hayley! – ele tocou meu rosto. Desenhando a maça do meu rosto com a ponta de seus polegares. Fazendo-me olhar diretamente, no fundo, dos olhos dele. — Quantas vezes vou ter que dizer que eu me preocu...

Eu o beijei. Porque era exatamente o que eu queria fazer. Mais que tudo que eu pudesse querer nesse momento, ainda mais que a minha paz outra vez, antes dele aparecer. A sensação dos seus lábios, correspondentes aos meus, era elétrica. Jesse apertava seus dedos em meu rosto, mas isso não era ruim, pelo contrário. Dessa forma, podia acreditar que ele me queria tanto quanto eu o queria por perto. Cada vez mais perto.

Uma batida na porta trancada do quarto fez com que nos afastássemos imediatamente. Senti-me como se tivesse sido jogada na parede. Mas afinal, quem poderia ser?

Entreolhamo-nos, surpresos.

— Hayley posso entrar? – Amy enfiou a cabeça pra dentro do cômodo. Com os olhinhos repletos de satisfação. Tudo porque Jesse estava ali, não comigo, mas ali, em casa. Perto ela. Enchendo-a, como sempre, de expectativas. Senti um nó na garganta. — Oliver teve uma ideia e pediu pra que eu viesse aqui chama-los para ver um filme. Ele comprou refrigerante, fez pipoca e tudo mais!

Tem certeza de que esse Oliver é meu irmão e não foi trocado?

Sentei-me no canto do sofá, Amy no meio, Oliver na outra ponta. Já o Jesse sentou na poltrona, onde papai costuma sentar. A poltrona está de frente ao sofá. Jesse parece tranquilamente bem. Oliver apagou todas as luzes e impediu a entrada de qualquer iluminação que viesse do lado de fora. Enquanto esperávamos o filme começar, olhei pro Jesse, e me perguntei no que exatamente ele estaria pensando.

No nosso beijo? Não. Eu estava querendo me enganar.

O filme começou. Foi escolhido por Amy e Oliver. Filme de terror.

O filme prendeu completamente a minha atenção. E por um longo momento conseguir tirar o beijo da minha cabeça. Algumas vezes, assustava-me com algumas cenas. Não mais que Amy. Que ia cada vez mais a fundo nos braços de Oliver que estava adorando aquela situação

É a primeira vez que eu e meu irmão assistimos filme juntos ou fazemos alguma coisa juntos por vontade própria. Ele nunca foi tão... Amigável. Pelo visto, Amy está se saindo uma amiga e tanto, em todos os sentidos. Oliver parece gostar mesmo dela. E isso é incrível. Já que ele nunca pareceu gostar nem de si mesmo.

Quando sem intensões, olhava para o Jesse a minha frente, ainda na poltrona; percebia que ele também estava olhando pra mim. De um jeito especial que só ele consegue fazer. Todas as vezes que nossos olhares se cruzaram, tentei evitar ao máximo olha-lo por muito tempo, para que nem Amy e nem Oliver percebesse que algo, mesmo que desconhecido até mesmo pra mim, estava rolando entre nós dois.

— Isso foi incrível. – Amy levantou dando pulinhos completamente exagerados. Assim que o filme terminou. — Poderíamos fazer mais vezes!

— Eu também acho. – Oliver concordou com ela. Eles trocaram um olhar tão cúmplice, que se eu não conhecesse ambos, diria que eles estavam tendo alguma coisa às escondidas.

O céu já estava escurecendo quando mamãe e papai chegaram ao mesmo tempo. Pergunto-me o que tanto papai faz fora de casa todos os dias já que ele não trabalha mais. É um aposentado acomodado. Já mamãe, eu entendo, porque agora ela parece tão mais feliz ganhando seu próprio dinheiro por pouco que seja.

— Eu preciso ir. – Jesse levantou-se, um tanto intimidado depois que meus pais chegaram. — Hayley, me leva até a porta?

— Claro...

— Jesse, jante conosco. – Oliver interrompeu-me, sorridente. Quem é aquele? Não é o meu irmão! — Depois você vai, cara.

— Exatamente. – mamãe também entrou na conversa. E eu fiquei ali, parada, atônita com a reação da minha família. — Fique. Jante conosco.

Sem precisar de muita insistência, Jesse ficou para o jantar.

Mamãe preparou algo rápido, pois papai não parava de se queixar de fome. Fiquei um tanto envergonhada com isso. Porque ele não levanta a bunda do sofá e prepara ele mesmo o que comer? Às vezes sinto que minha mãe é uma escrava desse casamento.

— Obrigado pelo jantar Sra. Collins. – Jesse levantou-se em tom de despedida. — Você cozinha maravilhosamente bem.

— Obrigada Jesse, querido. – mamãe sorria feito uma criança que acabara de ganhar um elogio. — Me chame apenas de Margaret.

Jesse assentiu timidamente.

— Obrigado pela recepção Sr. Collins. – Jesse virou-se para o meu pai. — Você é um homem de sorte! Tem uma linda família.

Papai sorriu satisfeito.

— Apareça mais vezes, Jesse. Para o jantar ou para o almoço. – Oliver surpreendeu a todos. Ele não parecia forçado nem nada. Estava simplesmente normal. Mas ainda assim não se parece com ele. Ou com o que estava acostumado a ser. — Você será sempre bem-vindo.

— O.K. – levantei o tom de voz, impaciente. — Chega. Vamos?

Eu me dirigia ao Jesse.

— Tchau, Amy. E boa noite a todos!

Jesse me acompanhou pelo pequeno corredor até a porta principal.

Saímos os dois. Fechei a porta atrás de mim. Em seguida, me virei para ele. Encarando-o. O frio lá fora me fazia estremecer. Mas não sabia dizer se era só o frio, ou por Jesse está tão perto de mim.

— Você é sempre assim? – ele perguntou, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. — Viu a reação de todos à mesa quando você foi tão rude? Até parece que sente vergonha da própria família.

Ele estava mesmo brigando comigo?

— Não quero brigar com você. Não agora. Então, por favor, tente ser legalzinho. Ou pelo menos se esforce. – forcei um sorriso nada amigável.

— E você acha que eu gosto de brigar com você? – ele elevou o tom de voz. Com o meu olhar repreendedor, logo baixou a bola. — Como eu posso tentar se legal sem nem você mesma se esforça pra isso?

Algo em sua voz era extremamente desafiador. Não gostei.

— Meu irmão... Acho que ele gostou de você. Ele geralmente não gosta de ninguém. Nem da própria família e nem de si mesmo. Mamãe não tirou os olhos de você durante todo o jantar. Já posso até imaginar o que ela estava pensando. Pensando na mesma coisa que meu pai, que te olhava cheio de orgulho. Os dois estavam quase... Babando em você.

Fiz uma careta.

— Só não gostei disso. – dei de ombros mostrando indiferença. Mas isso me incomodava verdadeiramente. Mas até do que eu gostaria. Afinal, que mal tem meus pais terem gostado do Jesse? Isso não é bom?

— Hayley – Jesse tocou meu rosto dando um passo em minha direção, diminuindo a distancia entre nós. Ele não deveria fazer isso comigo. Não ali. Fazer com que eu me sentisse tão... Perdida. — Você deveria valorizar mais a sua família. Você sabe o quanto eu gostaria de ter uma família? Como a sua ou como a de qualquer pessoa que tenha uma família. Diferente de mim. Que agora só tenho ao meu tio Alec.

Engoli em seco.

— Por favor, vai embora. – minha voz saiu vacilante, quase em um sussurro. Não deveria ter me mostrado tão fraca. — Boa noite, Jesse.

Pousei a mão sobre a maçaneta para poder abrir a porta. Relutando comigo mesmo em ficar ali com ele. Mas não deveria.

— Ei, volte aqui – ele tocou meu braço, fazendo-me virar. Seu toque era tão quente. — Hayley... Não faz isso comigo... Por favor.

Em seguida, aconteceu exatamente o que queríamos que tivesse acontecido. E nos beijamos pela segunda vez no dia. Dessa vez, ele quem me beijou de uma maneira suave, delicada e lentamente apaixonante.

Quando dei por mim, já estava dentro de casa. Com o coração ligeiramente acelerado. Batendo tão alto que pensei que pudesse me entregar. Deixei Jesse lá fora sem explicações e sem mais palavras.

Espero que ele tenha entendido. Entendido que isso não é certo.

— Estava bom lá fora? – trombei com Oliver nas escadas. Eu subia e ele descia. Cheio de sarcasmo.

— Idiota! – ignorei-o. Temendo que ele tivesse visto alguma coisa que pudesse me comprometer. — Quem é você? Você não é o meu irmão!

Oliver riu.

Acordei no outro dia com uma terrível barulheira que vinha do andar de baixo. Custei a dormir noite passada pensando em muitas coisas ao mesmo tempo. E agora, às nove e meia da manhã estava sendo acordada injustamente contra a minha própria vontade.

Levantei-me sentindo um pouco grogue ainda com muito sono. Antes que eu pudesse dá um passo a frente, fui arremessada, exatamente como uma bola, de volta pra cama. Duas criaturinhas pulavam em cima de mim.

Peter e Lucy. Filhos de Elisabeth, minha irmã mais velha.

— Crianças! Parem já com isso. – ouvi a voz de Beth vindo da porta do meu quarto. Ufa! — Deixem a tia Hayley em paz.

Peter e Lucy me deixaram em paz. Desapontados.

— Oi Hayley. – Beth sorriu, acenando de longe. E depois desapareceu. Faz quase dois anos que não a vejo.

Estão todos reunidos na sala. Exceto Oliver. Vejo Amy, do alto da escada, agindo naturalmente diante daquela bagunça. Como se ela realmente fizesse parte da família e fosse à irmã mais nova no meu lugar. Já eu me sentia completamente fora de contexto.

Beth veio passar o natal conosco. Pra surpresa de todos, ninguém esperava por isso. Com ela veio o marido, Joseph, um cara muito legal. Nem sei como ele atura a minha irmã. E os filhos, que já foram ao meu quarto, minutos atrás, e me atacaram com beijos e abraços.

Ainda não me acostumei com a ideia de ser tia aos dezessete anos, mas também não desgosto. Apesar de serem filhos da minha irmã, Peter e Lucy são crianças adoráveis.

Peter é o mais velho, tem sete anos. Lucy só tem quatro. Os dois são a cara um do outro. Cabelos lisos e castanhos. Olhos escuros e pele clara.

Os preparativos para a ceia de natal começaram logo cedo. Mamãe e Elisabeth tomaram conta da cozinha. E ai de quem chegasse perto para atrapalhar. Joseph e papai saíram para jogar bilhar. Amy se ofereceu para dá um jeitinho na casa e cuidar das crianças. Ela é incrível. Já eu permaneci no sofá, largada de frente a televisão, tentando ouvir alguma coisa que não fosse à conversa da minha mãe com a minha irmã e a interação de Amy com meus sobrinhos.

— Hayley, faz um favor pra mim? – Amy parecia desesperada. Sem saber ao certo se cuidava da casa pra minha mãe ou das crianças para a minha irmã. — Acorda o Oliver pra mim? Eu preciso da ajuda dele!

— Eu? Acordar o Oliver? – dei risada. — Eu não!

Amy revirou os olhos.

— Eu vou. Fique de olhos neles!

Peter e Lucy me olharam com os olhinhos arregalados como se eu fosse uma especie de bicho papão. Será que nem meus próprios sobrinhos gostam de mim?

São em momentos assim que me arrependo de ser tão... eu.

Um barulho veio da porta. Virei-me para ver quem seria, as crianças fizeram o mesmo. Era Oliver e Jesse. Juntos. Como dois grandes amigos.

— Ah, então você está aí Oliver – Amy descia as escadas. — Eu estava mesmo procurando por você. Para me ajudar com as crianças.

— Eu não! – Oliver disse, como se mamãe tivesse acabado de pedir a ele que lave a louça. Coisa que ele nunca fez. Talvez nem saiba como seja. — Eu não sei nem cuidar de mim.

Ele sumiu. Indo pra outro cômodo.

— Eu faço isso por você Amy. – Jesse abriu um sorriso, adentrando na sala de estar. Sentei-me curiosa com a cena. Vi que Amy praticamente se derreteu com a sugestão dele. — Vamos crianças! Vamos brincar lá fora.

Oi? Isso está mesmo acontecendo?

Fui atrás do Jesse e das crianças. Sentei-me nos degraus na frente de casa. De longe, observando a maneira como Jesse, tão graciosamente, brincava com as crianças correndo sobre a neve.

Aquela cena me parecia tão familiar. Tão comum e normal, mas ao mesmo tempo era tão surpreendente, encantador, a maneira como ele sorria, entretendo as crianças com gestos simples, fazendo-as rir jogando a cabeça pra trás, correr e pular cheias de energia e vontade.

Lembrei-me do dia, no parque, que brincamos com crianças desconhecidas de guerra de bolas de neve na praça do Anjo. Jesse é tão bom com crianças. É tão bom em tudo.

— Vem tia Hayley – Lucy apareceu na minha frente. Fiquei surpresa. Ela sorria tão bonitinha com os dentinhos pequenos. — Vamos brincar!

Peter sugeriu que brincássemos de pega-pega. Eu, como sempre, sou péssima na corrida. Mas consegui me divertir como se tivesse voltado a ser criança. Da janela do segundo andar, vi Oliver nos observando e isso me pareceu estranhamente assustador, mas não me incomodou.

Deitei-me sobre a neve, cansada. As crianças fizeram o mesmo, da mesma maneira. Ofegantes. Jesse também estava muito cansado.

— Sua mãe convidou a mim e tio Alec para a ceia de natal. Tudo bem pra você? – Jesse virou a cabeça para poder me olhar. Exatamente como fizemos a primeira vez que deitados no gramado no jardim do internato para conversamos. — Porque se não, podemos ficar em casa e...

— Tudo bem pra mim. – consegui sorrir, verdadeiramente feliz. — Seu tio Alec concordou em vir?

— Tive que convencê-lo. – Jesse soltou um risinho. — Confesso que não foi fácil. Mas valerá a pena.

— Tia Hayley? – Lucy, muito timidamente, toda infantil, rompeu nossa conversa chamando nossa atenção. — Jesse é seu... Namorado?

Namorado? Engasguei.

— Porque não vamos brincar de outra coisa? – Jesse sugeriu, tentando desviar o assunto em questão. — Que tal pique-esconde?

Deixe-os brincar sem a minha companhia dessa vez. Tive que entrar para beber um pouco de água. Oliver e Amy haviam sumido do meu campo de visão. Seja lá o que esteja acontecendo entre eles, me parece bom, nem ousei a perguntar nada a mamãe ou a Elisabeth, ainda muito ocupadas na cozinha.

— Agora é só esperar assar. – Beth se afastou, indo até a porta dos fundos. — Vou chamar as crianças para tomarem banho.

Mamãe só esperou que Beth saísse.

— Hayley?

— Hum?

— Você e o Jesse não estão namorando, estão? – Por Deus, o que eu fiz pra merecer? — Porque se estiverem, tudo bem pra mim. – ela deu de ombros. — Seu pai também gosta muito dele. E Oliver também. Não o conhecemos por completo, mas Jesse parece um bom menino. Está nos olhos dele. Ele me lembra de um pouco o Brandon. – ela me olhou nos olhos. — Sei que não deveria tocar no assunto, mas, Jesse parece fazer com que você se sinta o mais perto possível do Brandon. Mesmo que ele não saiba. Sei disso pela maneira como se olham. Jesse é como uma cura pra você. Ele faz com que você se lembre o quão boa pode ser... Ou se esforçar para...

— Mãe. Chega. Pelo amor de Deus.

— Hayley, não vai. Não agora! Espere. Desculpe... – dei uma ultima virada antes de partir. — Comprei algo pra você vestir essa noite. Noite de natal. Está no seu quarto. Espero que goste.

Porque todos da minha família estão agindo estranhamente diferente? Está tudo tão mudado. Oliver está agradável, mamãe tentando ser melhor a cada dia, Beth age como se nada nunca tivesse acontecido conosco e eu também me sinto muito mudada. Já papai é o mesmo. Sempre tão desagradável.

Mas afinal, em que ponto tudo começou a mudar?


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Notas finais do capítulo

E o que acham?



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