Wings, Um Anjo Em Minha Vida escrita por Nynna Days


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Amores, estou pedindo para que comentem. Sei que os leitores fantasmas estão por ai. Pelo menos um : ta bom ou ta uma bosta

Mais um capítulo, baby.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/421242/chapter/4

“Ai, que saudades.”, Caliel lamentou, olhando o sol nascendo mais uma vez e tocar o céu.

“Se acalme, Caliel.”, Adriel disse também olhando para o sol. “Logo estaremos e volta.”

Eu os encarei.

“E por que vocês não voltam?”

“Não vamos te deixar sozinha, Aliel.”, Caliel disse e se levantou batendo as suas asas. “E não estamos aqui para te vigiar, já dissemos.”

“Tudo bem”, eu disse suspirando. “Mas, querem saber? Acho que estou avançando.”, dei de ombros e vi um pequeno sorriso nos lábios dos dois anjos. “Sarah me levou para conhecer a sua família ontem”

Eu fiz uma pequena careta ao lembrar do jeito que Simon tratava a mãe. Mas, só de lembrar o modo com Sarah, mesmo assim, ainda tentava manter a paz em casa, era animador. Ela era uma menina especial, disso eu tinha certeza.

Adriel se levantou, tirando o resídio laranja do telhado de sua calça branca, mesmo que ela não estivesse muito suja. Suas asas batiam conforme ele tentava ver se estava limpo. Caliel continuava a admirar o nascer do sol. Os olhos azuis presos e as asas batendo, enquanto ela abraçava as pernas e suspirava. Novamente me perguntei se ela estava pensando na sua tentação.

“Amanhã tem o que?”, Adriel perguntou tirando-me dos meus pensamentos. E pareceu tirar Caliel dos dela também.

“Matemática, Biologia, Educação Física”, dei de ombros mais uma vez. Era um hábito humano que eu tinha pego rapidamente. “Ainda não gravei os horários.”

“Você vai arrasar com os humanos na educação física”, Adriel disse estendendo a mão para ajudar Caliel a se levantar. “Mas, seja discreta.”

Revirei os olhos.

“Eu sempre fui.”

“E Jason?”, Caliel perguntou voltando a prestar atenção a conversa. “Teve progresso com ele também”

“Em parte, sim”, eu disse me levantando. “Ele já é simpático, sem esforços. Mas aquela namorada dela”, pausei balançando a cabeça. “Sinto que ela vai me atrapalhar futuramente.”

“Eles tem que terminar.”, Adriel disse, sério. “Se ele trair essa namorada, não vão dar como missão cumprida. É traição. Pecado.”

Franzi meus lábios, aborrecida.

“Eu sei, Adriel.”, eu disse me movendo para a beirada e olhando as pessoas começando a acordar para o mundo. “Ás vezes, você me trata como se eu estivesse em minha primeira missão.”, ele corou com a bronca e Caliel abafou um riso. “Vou fazer Jason se apaixonar por Sarah, sem ter que encostar um dedo nela.”

“Isso é quase impossível, hoje em dia.”, Caliel admitiu, parecendo decepcionada. “Lembro-me perfeitamente de antigamente. Só bastava um olhar e pronto. Missão cumprida.”

Caliel tinha razão. As missões eram muito mais fáceis antigamente. Mas, era bem mais difícil manter o disfarce, já que naquela época, os anjos eram muito fáceis de identificar por serem bastante estudados. Hoje em dia, podemos realizar nossas missões livremente. Sem nos preocupar com algum humano nos reconhecer.

Só os que realmente sabem quem nós somos, são os padres. E isso, porque nós nos deixamos ser vistos. Caso contrário, ninguém saberia. Tínhamos uma regra bem simples a ser seguida: Não cair em tentação e não contar quem realmente somos, apenas em último caso. Se algum humano que não tinha a ver com a missão, descobrisse, éramos obrigados a mentir, mesmo que doesse.

Adriel estava assentindo, concordando com Caliel. Eu mesma assenti, não podia deixar de concordar que preferia a época antiga a de hoje em dia. Sem incestos, sem traições, os crimes eram resolvidos com uma punições no exato momento. Mas, ao mesmo tempo, eu não sentia falra. Pois, antigamente não existia homens tão bonitos ou com olhos tão brilhantes como hoje em dia.

Balancei a cabeça com força, tirando Jeremy de meus pensamentos. Ele não podia ficar fazendo isso comigo. Caliel e Adriel não viram a minha repentina mudança de humor. Estavam olhando mais além, talvez também pensando no passado. Adriel olhou para baixo, para os humanos e riu.

“Está na hora de irmos para a missa”, Caliel disse dando um salto e batendo as asas no alto. Seus cabelos loiros balançando com o vento. “Vamos, Adriel. Temos que trocar de roupa”

“Claro, claro”, Adriel disse também batendo as asas. “Até mais, Aliel”

“Até”

Esperei eles se afastarem o suficiente para sumir das minhas vistas e voltei a me sentar na beirada do telhado, abraçando as minhas pernas contra o meu peito. Eu tinha que me concentrar na minha missão e terminá-la o mais rápido possível. Caso contrário, eu sentia que haveria consequências. Eu só não sabia se estava pronta para enfrentá-las.

***************************

Na missa, era fácil ver que o padre Joseph estava desconcentrado. Hora ou outra seus olhos caiam em mim, Adriel e Caliel. Adriel soltou um riso ao meu lado, gracejando que o padre estava com medo de errar o ensinamentos de Deus em frente a testemunhas que estiveram. Eu fiz uma careta. Era óbvio que eu não estava presenta aos ensinamentos de Deus, ao vivo.

Caliel estava, Adriel não. Eu sempre me perguntei o porque de Caliel ainda não ter se tornado anja da guarda, ou por não ter asas brancas. Se fosse pela idade, ela era era bastante velha. Não aparentemente, mas de qualquer jeito, era. Ela tinha os olhos fixos na imagem de Jesus crucificado e suspirava. Talvez ela tivesse presente no dia e se lembrasse.

Ao final da missa, eu caminhei preocupada até onde o padre Klaus estava. Ele estava terminando de recolher a bíblia do altar e quando se virou, deu de cara com nós três. Caliel e eu estávamos sérias, mas Adriel tinha um olhar engraçado.

“O que houve, padre?”, eu perguntei.

“Oh, nada.”, ele deu um sorriso constrangido. “É só que eu nunca fiz uma missa sobre anjos na frente de anjos.”

“Eu disse”, Adriel sussurrou e Caliel o cotovelou.

“Não se preocupe, padre.”, eu disse ignorando o anjo. “Estamos aqui por um motivo e não para recriminá-lo. Além disso, tudo o que você disse sobre nós, está certo”, eu olhei para Caliel, buscando apoio.

Ela assentiu.

“Mas, se precisar de alguma ajuda, pode perguntar.”, eu disse e sorri. “Estamos aqui para ajudar a todos.”

“Sério?”, os olhos de Joseph se arregalaram. Ele olhou para Adriel e Caliel que assentiram. “Tenho tantas perguntas que vem me atormentando esses anos.”, ele lamentou.

Olhei no relógio e me afastei, deixando Caliel e Adriel conversando com o padre. Tinha que correr, senão ia chegar atrasada. Parando atrás da igreja, tirei a mochila das costas e abri as minhas asas. Voei por cima das nuvens, assim nenhum humanos curioso me veria. Pousei a uns metros longe da escola e recolhi minhas asas, pondo a mochila de volta nas costas.

Encontrei Sarah na porta da escola me esperando. Os braços cruzados, seguravam os livros. Os cabelos ruivos presos em um cabo de cavalo, mas sem deixar de aparecer os cachos. Como estava um pouco frio, ela estava com uma jaqueta jeans e calças escuras, mas ainda pude ver a blusa rosa por baixo. Ela sorriu assim que me viu e me olhou de cima a baixo, fazendo uma careta engraçada com a minha roupa.

“Não está com frio?”, ela perguntou.

“Não”, dei de ombros.

Olhei ao meu redor, para os alunos que entravam. Todos estavam, pelo menos, com um casaco ou calça. Não precisava dizer que eu não sentia frio. Meu corpo não tinha sido feito para SER humano, mas aparentar ser humano.

Por isso que Sarah e todos os que passavam olhavam estranho para a minha longa saia azul claro, meu salto Anabelle e minha camiseta branca. Eu apenas sorri, tirando um pouco do meu cabelo cacheado do rosto e entrando.

Não pude deixar de perceber o brilho dos olhos de Sarah. Ela estava realmente feliz em me ver. Eu também estava feliz em ver Sarah. Ela era uma boa menina. Na verdade, uma ótima menina e merecia ser feliz. Enquanto eu estava no telhado com Caliel e Adriel, comentei o fato de que Sarah e Jason haviam sido amigos de infância.

“Então está aí o motivo dessa missão”, Adriel disse. “Eles se desviaram do caminho”

Eu não pude deixar de concordar. Qualquer anjo que escutasse a história de Sarah e Jason saberia que eles estavam destinados a ficar juntos, mas alguma os tinha tirado do caminho. E essa coisa tinha nome: Laisa.

Eu olhei para Sarah, me lembrando do jeito como ela tinha falado sobre a infância dela com Jason. Ela tinha saudades daquele tempo. Só fiquei com a pulga atrás da orelha com o fato de Jason não ter mais falado com ela desde que começou a namorar Laisa. Quero dizer, Laisa era grudenta, mas não significava que Jason não pudesse ter amigas mulheres. Ou que não pudesse continuar com uma amizade de anos.

Pensei em perguntar a Sarah o motivo de Jason não ter mais falado com ela, mas resolvi ficar quieta. Afinal, isso era uma coisa que eu tinha que perguntar a ele.

As aulas passaram rapidamente, mas eu não prestava atenção nelas. Em meu caderno, fazia pequenas anotações sobre as matérias, mas em minha mente vinham e iam perguntas. Como eu faria Jason terminar com Laisa sem interferir? Como eu faria Jason enxergar que só seria feliz com Sarah? Como eu faria os dois ficarem juntos de fato? E, tinha uma última pergunta que não parava de soar em minha mente: Como eu faria Jeremy aceitar o relacionamento?

Quando se juntava casais, tinha um pequeno problema que, ás vezes era fácil de resolver. Quando o garoto ou a garota tem um melhor amigo, quem confia tudo e sempre pede conselhos, um melhor amigo de verdade, tem que ter a aceitação dele no relacionamento. E, pelo que Sarah me contou, obviamente, Jeremy não aceitava o fato de Jason ter qualquer tipo de envolvimento com Sarah.

“Você está silenciosa”, Sarah disse enquanto saíamos da última aula antes do intervalo. “Aconteceu alguma coisa?”

“Não, só estou pensativa”, eu disse sorrindo e abri o armário guardando os livros e colocando a roupa da educação física dentro da mochila. Fechei o armário e olhei para Sarah que tinha os olhos verdes estreitos. “O que foi?”

“Está pensando sobre aquilo que eu te contei ontem, não é?”, ela disse.

Pensei em mentir, não importasse a dor. Mas, quando olhei para Sarah, vi que não havia necessidade. Se ela havia me contado aquilo, queria dizer que ela confiava em mim. Olhei para o corredor vazio e ela fez o mesmo. Vendo que os armários ao nosso redor estavam vazios, eu me aproximei dela, para sussurrar:

“Por que você acha que Jeremy não gosta de você?”

Sarah pareceu surpresa com a minha pergunta. Para falar a verdade, até eu mesma estava surpresa com a minha pergunta. Mas se Jeremy queria me atrasar, eu tinha, pelo menos o direito de saber o porque, para tentar reverter a situação. A ruiva olhou para os lados novamente e entrelaçou o braço no meu, me puxando para o refeitório. Pensei que ela não iria responder, até que escutei a sua voz, baixa.

“Sinceramente, me pergunto isso todos os dias”, ela suspirou, com pesar. “Se, pelo menos ele e Laisa fossem amigos, eu entenderia, mas eles nem se olham. Mas...”, ela pausou, hesitando em continuar.

“Mas?”, eu a incentivei.

“Ás vezes, eu acho que é ciúmes”, ela disse olhando para frente. Empurramos a porta do refeitório, vendo que ele já estava cheio. “Eu te disse ontem que eu era meio que a melhor amiga de infância de Jason. Jeremy só se tornou realmente o melhor amigo quando Laisa chegou e eu me retirei da vida de Jay”

“Nossa”, foi tudo o que eu pude dizer.

Continuamos andando, enquanto a minha mente trabalhava como nunca. Essa seria uma missão difícil, até mesmo para mim. Tinham me escondido muitas histórias. Tinham muitas pontas soltas. Nós caminhamos calmamente até a fila e pegamos nosso almoço. Quero dizer, ela pegou o almoço dela. Eu peguei apenas uma maçã e um suco. Nem sabia se iria conseguir comer aquilo tudo.

“Você vai ficar doente desse jeito”, Sarah reclamou olhando para a minha bandeja. Então voltou os olhos para mim. “Você tem aquela doença?”

“Que doença?”, eu perguntei vendo o embaraço e a preocupação em sua voz.

“Ah, você sabe”, ela disse vagamente, voltando a olhar para frente. As bochechas tingidas em um tom de vermelho. “Bulimia, anorexia...”

“Ah”, eu disse surpresa, mas antes que realmente pudesse responder, Sarah me cortou.

“Não precisa me responder se não quiser”, ela disse com pressa. “Mas, se quiser a minha opinião, você tem um corpo ótimo”

“Eu não tenho nenhuma doença”, eu disse e sorri. “Apenas como pouco”

Nem se eu quisesse, podia ficar doente. Corpo humano, imunidade de anjo.

“Que bom.”, Sarah disse parecendo aliviada. Até suspirou. “Tive uma prima que teve bulimia. Quase morreu”

Nós fomos andando até a nossa mesa, até que Sarah parou. Seu rosto já claro, ficou totalmente pálido. Não entendi a sua mudança súbita de atitude, até que olhei para a nossa mesa. Acho que meu rosto também mudou de cor. Jason levantou os olhos para nós e acenou alegremente.

Jeremy estava de costas para nós, mas foi alertado da nossa aproximação com a atitude do amigo. Ele se virou lentamente e nos encarou por baixo dos cabelos negros. Meu coração deu uma parada brusca quando seus olhos focaram totalmente em mim. Me deixei soltar um suspiro e vi um meio sorriso crescendo por seu rosto, fazendo com que seus olhos brilhassem em destaque a pele incrivelmente pálida.

“O que fazemos?”, Sarah perguntou com um fio de voz.

“Eu esperava que você dissesse alguma coisa”, eu respondi sincera. Então olhei para os lados, sabendo que não tínhamos muita opção. Olhei para a ruiva. “Acho que vamos ter que nos sentar com eles”

“Mas, Laisa vai nos matar”, ela disse quase desesperada.

“Eu sei”, eu disse, mas continuamos andando até a mesa.

Jason continuou acenando, o que irritou Jeremy e o fez dar um tapa no braço do amigo. Eles se levantaram e como cavalheiros, puxaram as cadeiras para nós duas. Eu e Sarah trocamos olhares rápidos, mas eu não pude deixar de me arrepiar quando, sem querer o braço de Jeremy roçou no meu. Segurei um suspiro.

“Então, o que contam de novo?”, Jay perguntou virando a cadeira e pousando o queixo no encosto. Ele olhou para Sarah e para mim. Pousou em mim e eu sorri. Ele retribuiu. “Não está com frio?”

“Estou com calor.”, eu disse rapidamente, evitando o olhar de Jeremy, mesmo que sentisse seus olhos queimando em minha pele. Fazendo jus as minhas palavras, Sarah tirou a jaqueta e colocou na parte de trás da cadeira.

“Novamente não come”, Jeremy disse pegando a minha maçã intocada e dando uma mordida. Era como ver o próprio Adão tentado pela maçã. Sendo que ele era a minha tentação.

“Nem dá tempo”, Jason disse tomando a maçã da mão do amigo e devolvendo a minha bandeja. “Ela já não come e você ainda fica roubando a comida dela.”

Jeremy rolou os olhos e riu junto com o amigo. Eu e Sarah nos olhamos mais uma vez. Novamente, era como se estivéssemos em um terreno diferente do seu habitual. Então, ela deu de ombros e começou a rir. Percebi, antes de começar a rir, que Jeremy não tinha trocado uma palavra, sequer com Sarah.

“Então, é aqui que você estão se escondendo?”

Nosso riso foi cessado imediatamente ao escutarmos a voz de Laisa. Levantei os olhos para ela, Melissa e Jéssica que nos encaravam com uma pessoa com alguma doença contagiosa. Jeremy soltou um bufo e Jason pressionou os lábios juntos, sério. Mas, os olhos de Laisa estavam em Sarah. Discretamente, vi Jeremy empurrar a cadeira para trás, para o caso de ter que levantar, de repente.

“O que você quer, Laisa?”, Jason perguntou.

Laisa, sem tirar os olhos de Sarah, andou balançando os quadris até Jason e o beijou por um longo tempo. Escutei Jeremy rosnando ao meu lado e se afastando quando Melissa tentou fazer o mesmo com ele. Sarah apenas abaixou os olhos para a sua comida e passar o dedo pela borda do copo. Com um pouco de esforço, Jason se soltou e segurou Laisa pelos ombros, a afastando.

“Por que está fazendo isso?”, ele perguntou com os olhos verdes estreitos.

“Estou apenas tentando agradar ao meu namorado”, ela deu um sorriso cínico e olhou para Sarah com ironia. “Sabe, Susan, temos que cuidar do que é nosso, caso contrário, aparece alguma vadia e tentar tirar da gente”, ela deu outro sorriso.

“Sua vaca”, Jeremy sussurrou, mas baixo demais para que Laisa escutasse.

“Vamos, amor”, ela disse pegando a mão de Jay e tentando tirá-lo da mesa. Ele nem se mexeu. Ela começou a ficar com raiva. “Jason, nosso lugar não é aqui, com essas pessoas. Somos populares e ...”

“Eu sento onde bem quiser, Laisa”, Jason disse se livrando da mão dela. “E, por favor, me deixe em paz.”

Os olhos de Laisa se arregalaram e Jeremy soltou uma risada. Vi Sarah, mesmo que com os olhos baixos, com um pequeno sorriso. Melissa voltou para o lado da amiga quando viu que também não conseguiria nada. Ela segurou no braço de Laisa e começou a puxá-la para longe. Laisa resistiu o suficiente para dizer.

“Se você não se levantar agora, eu juro que você vai para a festa sozinho”, ela cruzou o braço, jogando os cabelos castanhos por cima dos ombros e dando um sorriso vitorioso.

Jason também sorriu.

“Não vou não”, ele se virou para Sarah que continuava de cabeça baixa. “Sarah Burke, você quer ir a festa comigo? Sei que não é nenhum baile, nem nada, mas...”

“Sim”, a ruiva respondeu sem pestanejar, levantando os olhos rapidamente.

Laisa saiu batendo os pés, com suas amigas logo atrás. Eu finalmente sorri e vi que Jeremy fazia a mesma coisa. Mas, Jason e Sarah nem, ao menos notaram que as três já haviam ido embora. Eles se olhavam com tanto sentimento, que eu até me senti envergonhada de ficar encarando.

“Promete que não irá me dar um bolo, dessa vez?”, Jason perguntou ainda com um sorriso nos lábios. Sarah corou antes de responder.

“Sim, claro”, ela engoliu seco, desviando o olhar por um segundo. “Naquela época, eu tive um bom motivo para não sair com você”

“Laisa”, eu, Jeremy e Jason dissemos ao mesmo tempo.

Jason e Sarah olhamos para mim e para Jeremy como se tivesse notado que ainda estávamos ali. Jeremy abriu a boca para me dizer alguma coisa, quando o sinal tocou. Nós nos levantamos e Jeremy fez uma careta para minha comida intocada. Jason parou na frente de Sarah, sorrindo.

“Te busco as sete”, ele disse e saiu.

“Vamos”, Jeremy disse para mim e eu assenti.

************************************

Eu tentava manter o ritmo mais humano possível, mesmo que quase não sentisse o efeito da corrida em mim. Me sentia desconfortável apenas por estar usando um curto short branco e uma camisa vermelha. Tinha prendido o cabelo em um rabo de cavalo, mas eu nem suava. Acelerei a corrida e parei um pouco atrás de Jeremy e Jason, que conversavam.

“Eu ainda não acredito que você chamou Sarah para ir na festa com você”, Jeremy balançou a cabeça. Eles estavam a poucos passos de mim, por isso mantive meu ritmo.

“Ainda não sei o que você tem contra ela”, Jason disse confuso.

“Ela não é do nosso mundo, Jay.”, Jeremy disse com a voz dura. Jason o encarou como se fosse louco. Até os meus olhos estavam arregalados. “Nunca foi. Desde pequena ela foi deslocada. Ela é um atraso na sua vida. A melhor época foi quando vocês nem se olhavam. Laisa pode ser uma vadia quando quer, mas graças a ela, você é quem é hoje”

De repente, Jason parou. Ele olhou para Jeremy de cima a baixo, que parou a uns dois passos a frente. Eu também freie e as pessoas atrás de mim, juntos. Jason deu um passo na direção do amigo, os punhos cerrados. Jeremy apenas o observou.

“Você não tem direito de dizer nada sobre, Sarah, escutou?”, Jason disse batendo com o dedo no peito de Jeremy, que arregalou os olhos azuis. “E a próxima vez que falar mal dela na minha frente, eu juro que não respondo por mim, Jeremy”

Jeremy levantou as mãos para o ar e eu dei um sorriso para Jason.

“Não está mais aqui quem falou.”, ele disse e os dois voltaram a correr. Pensei que o assunto havia encerrado, até que Jeremy acrescentou: “Sabe, acho que fiquei um pouco mexido, já que você não vai com Laisa. Não vou poder levar Melissa, vai ser estranho.”

Mantive meu ritmo atrás deles.

“Convide outra garota.”, Jason disse, mas seu rosto ainda estava sério. Ele ainda não tinha perdoado Jeremy. “Qualquer garota da escola morreria para você chamá-la para uma festa.”

“Eu não quero qualquer uma.”, ele disse de prontidão. Então, suspirou. Jason olhou para o amigo que tinha os olhos fixos no caminho. “Na verdade, acho que me cansei dessas meninas daqui. Queria alguma diferente”

“Por isso que você fica encarando Aliel?”, Jason perguntou com um meio sorriso. Jeremy desviou o olhar e não respondeu. “Ah, cara. Você acha mesmo que eu não ia notar?”

“Eu disse que queria alguma coisa diferente, mas nem tanto”, Jeremy disse e alguma coisa na boca do meu estômago se apertou. “A garota é quase uma santa. Só de olhar para ela, eu já me sinto culpado por estar pensando... coisas”

“Jeremy Read, quem te viu, quem te ver”, Jason disse e riu, dando um soco de brincadeira no braço dele. “Se eu não te conhecesse melhor, diria que está apaixonado.”

“Pela Aliel, não”

Ele abaixou os olhos e mesmo estando um pouco distante, jurava que tinha visto sua pele pálida tomar um tom de vermelho. Mas, eu estava mais concentrada em meu próprio coração que estava batendo rápido, e os pulmões que parecia não se encher de ar o suficiente. Se eu fosse humana, poderia culpar a corrida, mas como não era só podia pensar uma coisa: Alguma coisa muito errada estava acontecendo comigo.

“Ela é bonita, inteligente, engraçada, mesmo quando não percebe”, Jason disse enumerando as minhas qualidades. Me perguntei se eles sabiam que eu estava logo atrás dele, mas como nenhum deles olhou para trás, ficou óbvio que não sabiam.

“Eu sei.”, Jeremy disse quase que em um sussurro. “Mas, quando eu penso nela desse jeito, me sinto o cara mais sujo do mundo. Eu nunca me senti assim. É estranho demais.”

“E ela te olha de um jeito”, Jason abaixou a voz, pensativo e ignorando o que o amigo disse. “É como se ela te visse como uma tentação. Te quer, mas não pode te ter”

O uso da palavra tentação e o jeito como Jason acertou exatamente o que eu estava sentindo, quase me fez tropeçar, mas eu mantive o ritmo. Jeremy desacelerou um pouco e eu vi que estávamos quase que no final da corrida. Vendo isso também, Jason acrescentou:

“Eu sei que é difícil trocar o certo pelo duvidoso, mas ficar sempre na área de conforto nunca foi a sua praia.”, eles pararam primeiro e uma das meninas lhe entregaram algumas toalhas para eles secarem o suor. “Além disso, eu troquei a duvidosa pela certa e me arrependo até hoje.”, Jay pôs a mão no ombro de Jeremy e deu um sorriso triste. “Pense nisso”

Então saiu em direção ao vestiário masculino. Eu parei a uma distância segura, enquanto Jeremy secava os cabelos e se sentava na cadeira, com uma garrafa de água na mão. Só quando ele levantou os olhos, que me viu ali parada. Eu desviei os olhos, agradecendo quando outra menina me ofereceu uma toalha. Será que ele sabia que eu tinha escutado tudo? Comecei a andar em direção ao vestiário feminino, quando a sua voz me parou.

“Aliel”

Eu pensei em continuar andando e fingir que não o tinha escutado me chamar. Mas, se ele me encontrasse mais tarde iria me pergunta se eu não o tinha escutado. E eu teria que mentir. E iria doer. Por isso que, lentamente eu me virei e voltei até onde ele estava. Parei a sua frente e ele franziu o cenho, por causa do sol que foi em seu rosto.

“Sente-se”

Sua voz não tinha flexão de humor. Era tensa e rápida. Eu me sentei a uma distância segura dele e pus as mãos em minhas pernas. Jeremy pôs a toalha em volta do pescoço e suspirou. Então, levantou os olhos azuis para mim e deu um sorriso simpático. Eu arregalei meus olhos, assustada com o efeito que esse pequeno contato tinha comigo.

“Não precisa ter medo de mim”, ele disse, ainda sorrindo.

Eu sabia que não tinha que ter medo dele, mas de mim mesma.

Assenti.

“Então, já sabe se vai na minha festa?”, ele perguntou passando a toalha pela testa e pelos cabelos. Minhas unhas afundavam na minha toalha, e meus olhos estavam fixos nas minhas pernas. Dei de ombros e o escutei suspirando. “Se você for, eu posso te buscar em casa. Já que Sarah vai com Jay, e você é nova e não sabe o caminho...”

“Tudo bem”, eu dei um pequeno sorriso.

O silêncio queimou em meus ouvidos, mas eu escutei o leve som do tecido de sua camisa conforme ele se aproximava. Antes que eu percebesse, ele pegou meu queixo com a ponta dos dedos e levantou meu rosto para ele. Meus olhos ficaram grande demais, mas eu não conseguia desviar daquelas safiras.

“Você fica bem melhor quando está me olhando”, ele sussurrou e deu um meio sorriso. “Agora vou te perguntar mais uma vez”

Eu assenti com cuidado para não me aproximar de novo. Meu olhar foi para na sua boca, exato momento em que ele passou a língua pelos lábios, deixando seu percing exposto. Senti meu rosto se esquentando, mesmo que eu soubesse que não iria corar. Jeremy soltou um riso e deixou seus dentes perfeitamente brancos aparecerem. Tentei me concentrar nas suas palavras.

“Onde você mora?”, ele perguntou lentamente, segurando o riso.

“Em um quarto ao lado da igreja”, eu disse.

Minha voz saiu fraca e baixa, como se eu estivesse hipnotizada. E, para falar a verdade, eu realmente estava. Ele pareceu surpreso por um momento, então franziu os lábios por um segundo e levantou uma sobrancelha.

“Qual vai ser a sua fantasia?”

“Eu ainda não sei”, eu respondi mordendo o lábio. Jeremy observou cada movimento meu. “O que você acha?”

“Anjo”, ele respondeu prontamente. Eu congelei por um segundo e ele riu da minha reação. “Acho que você ficaria perfeita em uma fantasia de anjo.”, ele me soltou, mas não desviou os olhos dos meus. “Estarei de esperando para te fazer cair, anjinha.”, ele piscou e se levantou. “Te busco as sete”, ele sorriu e se afastou.

Tudo o que eu pude fazer foi observá-lo se afastar e me perguntar: O que tinha acontecido comigo, afinal?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!