Um Anjo (quase) Caído escrita por Gaby Molina


Capítulo 12
Cap 12 - Eu te odeio mas não te odeio mas te odeio


Notas iniciais do capítulo

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Heath

Eu conhecia Chad Campbell de algum lugar. E não era de uma festa de Rodd. Alguma coisa ali estava muito errada.

De onde diabos eu podia conhecer um mortal?

— Então você está dizendo... que Chad não é mortal? — Serena sussurrou para mim, erguendo uma sobrancelha. — É, ele é gato o bastante para ser um anjo, não acha?

— Argent, é sério.

— Tá, eu sei que é sério. Você está sendo paranoico.

— Está tentando me convencer ou convencer a si mesma?

— Você realmente tem que parar de falar isso.

— Chegamos! — Jill sorriu, animada, e estacionou o carro em frente a um casarão lotado de onde saía uma música agitada muito alta.

O sorriso de Jill acendia todo o lugar, e a animação dela me contagiou. Até Serena me arrastar para fora do carro.

Quando ela estava entrando na casa, eu a segurei.

— Só uma coisa — tirei a piranha do cabelo dela, que caiu em ondas louras perfeitas. — Muito melhor.

Serena sorriu, acanhada, e desviou o olhar.

— Serena? Você vem? — Chad abriu um sorriso convidativo.

— Só um minuto — ela se virou para mim. — Pronto para a sua primeira festa, Anjinho?

— Eu prometi a Damien que não ia ser preso.

— Então qual é a graça? — o tom dela me deixou na dúvida se era brincadeira ou não. Aquela garota ainda ia me enlouquecer, e não era de um jeito nada bom. — Vem — e me arrastou para dentro da casa.

Música. Luzes. Bebida. Conversas altas. E muita gente. Muita gente.

— Coisas que você pode fazer em uma festa — ela começou a listar com os dedos da mão, falando mais alto por conta do barulho. — Beber. Dançar. Conhecer gente nova. Arrumar uma garota.

— Não posso me envolver de verdade. Regras do Céu — lembrei.

— Oh, pequeno Seeler — ela abriu um grande sorriso provocador. — Por isso temos de ser arrasa-corações! Se envolver é para os fracos e idiotas!

Foi quando Chad apareceu atrás dela.

— Quer dançar? — ele sussurrou.

— Com uma condição — ela sussurrou alguma coisa no ouvido dele. Chad assentiu e saiu andando.

— O que você disse? — perguntei.

— Pedi uma música — disse ela no exato momento em que a música mudou. — Aí está! Preste atenção na letra e siga à risca.

Rule number one

Is that you gotta have fun

But, baby, when you're done

You gotta be the first to run.

Rule number two — ela cantarolou junto, me arrastando para a pista de dança. — Just don't get attached to somebody you could lose... So le-let me tell you.

This is how to be a heartbreaker

Boys, they like a little danger

We got him falling for a stranger, a player

Singing I lo-lo-love you...

Serena

— At least I think I do — ouvi a voz de Chad perto de meu ouvido.

Arrumei uma desculpa para sair dali. Tinha que ficar longe de Chad e sabia disso, então apenas comecei a usar Heath como uma desculpa para tudo.

— Aqui — entreguei-lhe um copo de cerveja. — Beba.

Heath ergueu uma sobrancelha. Não precisei dizer, ele sabia o que era.

— Se você não beber, eu vou beber tudo — ameacei.

— Eu odeio você — ele resmungou e tomou um gole. — Bleh, amargo.

Ele deixou o copo quase cheio no bar.

Ficamos sentados ali um tempo, até que o ritmo desacelerou.

Drew looks at me, I

Fake a smile so he won't see

That I want and I need

Everything that we should be...

— Heath, não é? — a tal Jill apareceu, sorrindo para Heath. — Quer dançar?

Jill Collins era uma daquelas garotas que nasceram para ser princesas da Disney. Ela se movia como uma bailarina nata, e sua voz era doce e... fofinha?

Uma daquelas garotas que não tem como odiar — o que não me dava nenhuma escolha, senão odiá-la.

— Claro — Heath abriu um sorriso bobo e a acompanhou até a pista de dança.

É, ele simplesmente me largou lá.

Eu o odiei por isso quando Chad apareceu, e olha que já fazia quase um dia que eu não odiava Heath (um recorde).

Certo, ele não sabia sobre a coisa toda do Chad. Mas... Dane-se! Ele tinha que estar aqui!

— Quer dançar? — Chad tentou de novo, ignorando o fato de que eu mentira para ele mais cedo.

— Na verdade, estou cansada. Já quero ir embora — coloquei uma mecha de meu cabelo atrás da orelha. — Vou falar com o Seeler.

* * *

— Oxford? Isso é incrível! — Heath abriu um grande sorriso. Ainda estava dançando com a Jill, que parecia plenamente interessada.

— Não é? — ela disse com sua voz bonitinha. Será que ela cantava? Eu esperava que não. Não suportaria isso. — Ainda não acredito que...

— Seeler — falei atrás dele. Minha voz soou bem mais aguda e mimada perto da de Jill, mas quem liga?

— Argent, você não pode simplesmente interromper a conversa das pessoas e...

— Eu quero ir para casa.

— Agora espera um pouco — ele revirou os olhos.

Ergui uma sobrancelha para ele e Jill. Bufei.

— Você não está falando sério!

— Posso te dar uma carona — sugeriu Chad, dando de ombros.

— Viu só? Problema resolvido — Heath sorriu.

Revirei os olhos. Eu sempre parecia a garotinha mimada perto de Heath. Era como se ele estivesse tentando compensar todas as 12 horas onde eu não o odiei.

— Que seja.

Isso estava prestes a acabar mal. Eu sentia a vozinha na minha cabeça falando.

Mas o orgulho era maior. O orgulho sempre era maior.

Afinal, quem precisava de Heath Seeler? Eu não.

Quando eu estava saindo dali, Heath me puxou. Teve que largar a Jill para fazer isso. Tadinho.

— Tente não morrer no caminho, ok? — ele abriu um sorriso brincalhão.

— Nem se incomode em pensar em mim — suspirei, saindo dali.

— Eu não consigo não pensar em você!

— Problema seu!

Acompanhei Chad até o carro.

— Tudo bem aí? — ele me fitou com aqueles olhos verdes lindos.

— Tudo, sim — tentei sorrir. Ele abriu a porta do passageiro e eu me sentei.

— Pareceu uma conversa bem intensa.

— Sabe aquela frase do John Green, "Se as pessoas fossem chuva, eu era a garoa e ela um furacão"? — fitei-o. Ele assentiu. Chad sempre entendia minhas referências literárias. Eu o odiava por gostar dele por isso. — Eu e o Seeler somos tipo isso. Só que nos alternamos entre quem é a garoa e quem é o furacão. Mas o nosso timing é bem ruim, então às vezes apenas nos tornamos dois furacões em choque.

— Você deveria por isso em uma música — Chad era uma das únicas pessoas que sabiam que eu escrevia.

— Só escrevo sobre pessoas com as quais me importo — retruquei. — Não quero falar sobre o Seeler.

— E por que não?

Havíamos chegado. Abri a porta do carro.

— Porque, com ele, eu estou errada às vezes. E eu gosto de estar certa o tempo todo.

— Foi bom revê-la — Chad sorriu. — Nos vemos por aí.

— Sabe onde me achar — brinquei e saí do carro.

Quando abri a porta da sala, Thomas pulou em mim.

— Não fale comigo, vai ganhar um respostão — avisei e bati o pé escada acima.

Tirei os sapatos e os joguei em algum canto do quarto. Foi só quando estava prestes a deitar na cama que percebi que Audrey estava jogada lá.

— Vou ganhar um respostão também? — ela sorriu.

— Depende das perguntas que fizer.

— O que Heath aprontou?

— Heath? O angelical Heath nunca apronta nada. Eu sou o pedaço de mau caminho aqui — resmunguei.

— Vamos lá, detalhes.

Sentei-me na cama de pernas cruzadas.

— Assim. Eu fui convidada para essa festa, e arrastei ele junto porque estava fazendo um favor a ele. Só que ele me largou sozinha com um cara que eu estava muito querendo evitar e foi se engraçar com uma menina lá.

— Piranha?

— Não. Essa é a pior parte. Ela parece ser legal.

— O pior tipo — Audrey concordou.

— E, argh, devo estar sendo uma mimadinha, mas... — fiz uma pausa. — Foda-se! Ele não tinha que ter me largado lá!

— E onde ele está agora?

— Na festa.

— Uma festa totalmente sem brilho porque você não está lá.

Sorri.

— Valeu, Drey. Bleh, que dia longo.

Heath

— Bom dia — parei no armário de Serena na segunda-feira.

— Sai daqui — ela resmungou.

Simples assim, estávamos de volta à estaca zero.

— Achei que já tivéssemos passado dessa fase.

— Parece que não.

Serena saiu andando. Eu a segui.

— Está brava porque eu não te levei para casa?

— Não, Seeler. Eu já sou bem crescidinha, está bem? — ela bufou. — Talvez não tanto quanto a Jill, afinal, ela foi aceita em Oxford, blá blá blá.

— Então isso aqui é sobre a Jill?

Ela me encarou com aqueles grandes olhos azuis.

— Não, ao inferno com a Jill! Isso é sobre você me largando sozinha com o Chad! Afinal, num dia você não me deixa nem atravessar a rua, e no outro eu já posso voltar para casa sozinha? Eu não entendo você!

Ela não me entendia?

— Você não estava sozinha — resmunguei. — Estava com o Chad.

— Então isso aqui é sobre o Chad?

— Nem vem! Você começou!

— E eu vou terminar! — ela saiu correndo para a primeira aula. Corria com suas botas de salto mais rápido do que eu correria descalço.

Bufei e observei ela se afastar. Fiquei algum tempo batendo a testa em um armário aleatório.

— Com licença, esse aí é o meu armário — ouvi uma voz levemente conhecida. Deparei-me com Audrey sorrindo um pouco.

— Ah, oi Audrey.

— A Serena explodiu com você, suponho?

Sorri.

— E quando é que ela não explode comigo?

— Ela melhorou depois que te conheceu, sabia? Aprendeu que o mundo não gira ao redor dela. Bem, exceto o seu mundo.

— Como é que é?

— Eu não quero me meter — ela ergueu os braços. — Mas Serena não lida muito bem com extremos.

— Que extremos?

— Os seus.

Fingi não saber do que Audrey estava falando, mas sabia.

Eu não conseguia achar um ponto médio quando se tratava de Serena. Ou eu era um cachorrinho adestrado, ou um completo babaca. Ou eu me interessava demais, ou não me interessava nem um pouco.

Mas não era minha culpa. Ela me passava esse sentimento, e me fazia viajar constantemente entre esses dois estados de espírito.

Eu queria ser apenas normal perto dela, mas não conseguia. E desde quando ela era normal perto de mim?

Afinal, qual era o normal de Serena? O mais próximo que cheguei dele foi na noite da praça e no shopping. Foi quando ela pareceu mais uma pessoa.

Mentira. Foi quando ela pareceu que não me odiava tanto assim.

Maldita Garota de Lata.

Serena

No terceiro período, recebi um bilhete:

Ainda está brava?

Não olhei para trás. Encontraria aquela carinha pidona de Heath que faria com que eu me sentisse mal.

Era assim. Ele não dava a mínima, e subitamente começava a se importar.

E por que era relevante? Ele só fazia isso porque era o maldito trabalho dele. Então qual era a diferença? Não éramos amigos. Ele não me devia nada.

Depois da escola, voltei de carro com Damien e Heath.

— Ainda não entendo você — resmunguei.

— Tá, tanto faz — Heath revirou os olhos.

— Agora você não se importa de novo?! Que merda você tem na cabeça?!

— Aparentemente, uma merda diferente da sua, porque eu não faço ideia de o que diabos você está falando!

— Você nunca faz! Porque você é burro, Heath Seeler! Burro, burro, burro! — gritei enquanto saía do carro. — Quer saber? Você nunca se importou, não é mesmo? Essa é a verdade!

Entrei em casa e bati a porta.

Heath

Dei um tapa no painel para extravasar minha raiva. Que ideia excelente.

— Eu odeio aquela menina! Odeio!

— Certo — Damien riu e ligou o carro. — O que você fez, mesmo? Ah, é. Trocou a Serena por uma ruiva bonitinha lá.

— Primeiro — coloquei, tentando baixar o tom de voz. — Bonitinha é o maior eufemismo do universo. Laços de cabelo são bonitinhos. Cachorrinhos são bonitinhos. Jill Collins era...

— Tá, pouco me importa. Continue.

— Segundo: a maldita da Serena não é minha namorada, eu não troquei ela por ninguém.

— Caro Heath, aqui vai uma explicação — ele parou de falar para buzinar um carro, sendo que a culpa foi dele. — Eu e você seguimos um modelo chamado Argecêntrico. Arge vem de Argent, e cêntrico de centro. Basicamente, a ideia que coloca Serena Argent no centro do univero. A Argent sobre a qual vos falo se acostumou com a ideia de que você vai estar sempre lá por ela. E a culpa disso é de quem? Sua. Você enfiou essa ideia na cabeça dela, e vem agindo assim há dias. Mas, subitamente, uma ruiva muito mais que bonitinha aparece, e o modelo Argecêntrico é jogado no esgoto sem aviso prévio. E então... Ah, caralho, quer saber a real?!

Eu nunca tinha ouvido Damien falar um palavrão minha vida toda.

— Hum?

— A real é que ela estava começando a achar que você estava fazendo algumas coisas por ela. E não pelo trabalho. E a sua atitude na festa provou que ela estava errada. É por isso que ela está puta. Pronto.

— Isso faz muito sentido, exceto pelo fato de que ela me odeia.

— Ah, ela te odeia agora. Mas não te odeia o tempo todo. Você precisa se resolver com aquela garota. Ela faz coisas estúpidas quando está brava com você.

— Tudo é sempre minha culpa agora?!

Não, espere. Uma ideia se formou em minha cabeça.

A real é que ela estava começando a achar que você estava fazendo algumas coisas por ela.

Meu Deus.

— Descobri por que ela está brava — anunciei.

— Ah, é?

Abri a porta do carro.

— Deus, ela é muito complicada!

— Então por que você está correndo atrás dela?

— Porque vale a pena.

Fiz exatamente isso: corri. Sem asas. Sem voar. Simplesmente corri. Queria ter mais tempo para refletir o que diabos eu estava fazendo, mas logo percebi que realmente não importava.

Porque ela não abriu a janela.


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