Conversa De Pai & Filho escrita por Kori Hime
Notas iniciais do capítulo
Papai Stilinski ♥
Era noite de lua cheia.
Stiles estava sentado na janela de seu quarto, observando o céu. Era clichê e meloso. Mas não havia muito o que se fazer naquela noite. De repente, um uivo alastrou-se por toda Beacon Hills. Ele sentiu um calafrio e enfiou as mãos dentro dos bolsos da jaqueta que vestia, enquanto seus pés se apoiavam no batente da janela. Sua atenção estava voltada para os sons da noite, então, quando a porta do quarto se abriu, o rapaz quase caiu da janela com o susto que levou.
– Pai! Que susto. – Stiles levava a mão peito. Seu coração estava acelerado. – Não bate mais na porta?
– Eu só queria dizer que estava indo para meu plantão. Vou passar a noite fora.
O xerife Stilinski já deixava o quarto, quando retornou. Ele parou, coçando o queixo enquanto tentava dizer alguma coisa. Stiles girou os olhos, ele já imaginava o que viria a seguir.
– Relaxa, pai. Eu vou ficar bem. Pode ir.
– Se quiser pode vir comigo – sugeriu, sabendo que era uma bobagem querer proteger um filho que corria para o perigo sempre que era chamado. – Vamos arquivar algumas pastas. Vai ser divertido. Eu deixo você dirigir a viatura.
– Isso funcionaria se eu estivesse com treze anos.
– Certo. – Ele caminhou até a porta novamente. – E se eu falar que pode ligar a sirene?
– Oba! – Stiles comemorou com um sorriso sarcástico. – Sério, pai. Pode ir. Eu vou ficar bem. Não se preocupe.
– Como eu não vou me preocupar com o meu único filho sozinho em casa, enquanto... enquanto...
– Enquanto tem um lobo bonitão aí fora querendo entrar dentro de casa?
– É, quase isso. – O pai de Stiles não estava ainda pronto para aquela conversa. Mas ela deveria acontecer mais cedo ou mais tarde. Então, queria que fosse o mais cedo possível. – Filho, eu não estou bravo com você.
– Isso me conforta. – Stiles sentou na cadeira e ligou o laptop. Ele não estava interessado em ter aquela conversa com o pai. Vinha se esquivando do momento desde a semana anterior, quando o pai entrou em seu quarto sem bater na porta e acabou pegando-o no flagra com Derek Hale.
– Eu não estou dizendo que você não pode receber a visita do seu... do seu.. amigo. Só quero que você compartilhe comigo o que quer que esteja sentindo. – O Sr. Stilinski sentia um peso sair de seus ombros.
A cena constrangedora se repetia na cabeça de Stiles. Ele estava sozinho em casa quando Derek chegou. Uma coisa levou à outra e, quando menos esperava, estavam no quarto, em cima da cama, sem camisa. E então o pai dele chegou. Derek tentou explicar, o xerife Stilinski bem queria ouvir uma explicação. Mas Stiles não deixou, expulsando Derek de sua casa. Desde então o silêncio era sua arma. Mas não daria certo se o pai continuasse fazendo aquelas perguntas e tentando ser legal.
– Acho que não vai querer saber as coisas que eu sinto.
– Pois achou errado. – Ele voltou para o centro do quarto, mais próximo de Stiles, que fingia se interessar por alguma página na web. – Sou seu pai, quero saber tudo o que você sente e quero ajudar. Me conta. O que está acontecendo?
– Na verdade, não está acontecendo nada. – Stiles largou-se na cadeira, desistindo de fingir que prestava atenção em algo no laptop. – Aquilo que você está pensando nem chegou a acontecer.
O xerife suspirou; não que fosse um alívio saber, mas ele estava contente porque o filho estava desabafando com ele.
– Então vocês não estão... – A palavra simplesmente não saía de sua boca.
– Namorando? Não, não estamos.
– Certo. Foi bom conversar com você, filho. Eu quero manter o diálogo. Lembre-se disso.
Ele estava mais uma vez de saída quando olhou para a cadeira em que o filho estava. Não costumava ver Stiles abatido daquele jeito. Era um pouco doloroso vê-lo daquele jeito. Mas o que poderia fazer para melhorar a situação? Claro que sabia muito bem o que deveria ser feito, só estava relutante para fazê-lo.
O xerife mais uma vez voltou para o centro do quarto e apertou os ombros do filho, numa massagem. Havia ensaiado aquela conversa durante toda a semana, só não contava com uma perda de memória no momento em que ia falar.
Então, improvisar parecia uma alternativa.
– Filho, eu não gosto de ver você assim. Por que não liga para o Scott? Vão ao cinema, ou a uma lanchonete... – Ele tentou escapar da conversa usando o velho truque do suborno. Mas Stiles recusou o dinheiro e a oferta.
– Não se preocupe comigo, eu estou bem – ele murchou, escorregando pela cadeira dramaticamente.
– Vamos, levanta daí. Vou levar você a um bar.
– Como é? – Stiles caiu da cadeira. – Vai me levar a um bar?
– Sim. Vista alguma coisa e vamos.
O xerife saiu do quarto, fechando a porta. Ele sacudiu a cabeça e desejou estar fazendo a coisa certa. Alguns minutos depois, Stiles apareceu na sala; vestia um casaco mais quente, já que fazia frio naquela noite.
– E a oferta de dirigir o carro com a sirene ligada ainda está de pé?
O xerife Stilinski jogou as chaves da viatura direto nas mãos do filho. Stiles comemorou. Incrível como a mudança simplesmente acontece, o humor foi de depressivo para exaltado em menos de cinco minutos.
– Vamos logo, antes que eu mude de ideia.
Eles entraram na viatura de polícia. Stiles era um bom motorista, isso o xerife teve que admitir. Também era um rapaz hiperativo e muito esperto, o que lhe causava incômodo, porque, além de se preocupar com a segurança da cidade, ainda tinha que ficar de olho onde o filho se metia com o melhor amigo lobisomem. No caso, ele se referia a Scott, mas, já que pensava no assunto, agora se recordava de todo o perigo a que Stiles se expunha gratuitamente na companhia de todo o bando.
Mas era um pouco tarde desistir da ideia do bar.
Já fazia algum tempo que ele não ia àquele bar. Era um dos lugares a que sua falecida esposa gostava de ir antes de eles se casarem. As lembranças ainda eram muito vivas em sua cabeça.
No bar, todos cumprimentavam o xerife Stilinski. Enquanto isso, Stiles sentou no banco, batucando as mãos no balcão. Ele pediu uma cerveja, com um sorriso animado, girando no banco para apreciar a agitação do local.
Não estava tão movimentado como outros lugares da cidade. O bar era um longo corredor com mesas de um lado da parede e do outro, o balcão. No final do corredor, uma jukebox era a atração principal. O rapaz levantou-se e foi até o aparelho, que tocava uma canção não muito conhecida por ele. Um casal estava dançando no canto e, quando a música acabou, eles voltaram para seus lugares.
Stiles analisou a lista de músicas; decidiu por uma que costumava ouvir em casa quando era pequeno. Era uma canção que sua mãe gostava de cantar sempre que estava na cozinha preparando o jantar.
Stand By Me iniciou-se e, quando Stiles cruzou o olhar com seu pai, ele não soube dizer se estava fazendo o certo colocar aquela música.
Ele voltou para o banco, encontrando a cerveja no balcão. Esticou a mão para pegar a garrafa, mas o xerife Stilinski foi mais rápido.
– Um refrigerante para o garoto – Pediu o pai, para a mulher do outro lado do balcão.
– Como assim um refrigerante? – Stiles olhou confuso para o pai.
– Você achou mesmo que eu fosse permitir que bebesse álcool?
– Sim – ele falava sério. – O que mais você pode pensar quando seu pai te leva a um bar? – Ele olhou desanimado para o refrigerante servido. Mas mesmo assim bebeu. – Eu podia ter ficado em casa.
– Achei que em outro lugar poderíamos conversar melhor. Você sabe, longe da zona de conforto.
– Tem esse nome exatamente por um motivo.
– Apenas me ouça.
– Tudo bem, mas eu poderia compreender melhor o que diz se me desse um pouco dessa sua cerveja. Parece tão boa. – Ele deu um sorriso, mas não iria conquistar o velho.
– Logo você irá para a faculdade. E eu me pego pensando o que será de mim sozinho em casa. – Ele riu baixinho. – Mas essa é uma fase importante para você.
– Viemos para cá falar da minha faculdade?
– Já escolheu qual?
– Na verdade, não. – Stiles agradeceu quando a música acabou e outra pessoa foi escolher a próxima, mais animada. Assim seu pai poderia ficar menos deprimido. – Quem sabe eu não fique aqui e aprenda o ofício da família? – Ele deu uns tapinhas nas costas do pai.
– Eu tenho muito orgulho de você. – O xerife Stilinski olhou para seu filho, e todo aquele discurso que ele havia preparado sumiu, restando apenas aquele sentimento de proteção e amor paternal. – Quero sua felicidade. Não importa onde ela esteja. Você é um bom filho.
– Obrigado, pai. – Stiles devorava os amendoins da cestinha. – Você também não é tão ruim assim.
– Agora, sobre aquele assunto...
– Que assunto – ele disse com a boca cheia de amendoins. – Da sirene? Eu prometo que não vou mais ligar para assustar os outros.
– Não, não é isso. Eu quero dizer o outro assunto.
O olhar constrangido do pai fez Stiles entender o que ele estava querendo dizer.
– Ah! Esse outro assunto. – O rapaz bebeu o refrigerante tão rápido que teve uma crise de tosse. – Esse outro assunto está resolvido, não se preocupe.
– Tem certeza? Você não parecia muito animado antes de sair de casa.
– Noite de lua cheia. Sabe como é. – Ele tentou ser o mais natural possível, utilizando as piadas para afastar o nervosismo. – Eu prefiro não me arriscar.
– Tudo bem. Eu não quero ser chato.
– É. Relaxa e toma sua cerveja pai. Nossa, que delícia esse refrigerante. – Stiles foi sarcástico.
– Olha. Já que estamos aqui, que tal fazer uma ronda? Podemos ver se está tudo bem no bairro industrial*. – O xerife terminou a cerveja, dando por finalizada sua cota de bebida naquela noite.
Stiles inquietou-se no banco. O apartamento de Derek era no bairro industrial. Será que seu pai sabia disso?
– Talvez. Se eu puder dirigir de novo. – Ele limpou os dentes com a língua, mas ainda havia alguns amendoins presos. Era melhor tirar de uma vez.
– Pensando melhor, que tal se eu deixar você lá? – O sr. Stilinski tirou a carteira do bolso e jogou no balcão o valor referente à sua conta. – Posso confiar que estará seguro lá?
Stiles nem acreditava no que estava ouvindo. Seu pai devia estar bêbado. Mas ele sabia que não estava. Então, deveria aproveitar a oportunidade.
– Eu já disse para não se preocupar. Tenho amigos com uma boa influência naquele bairro. Nada nem ninguém vai me machucar.
– Ótimo. Então, vamos. – Mais uma vez, o xerife jogou as chaves da viatura nas mãos de seu filho. Mas, mais do que isso, ele estava entregando a Stiles sua liberdade de escolha, e deixando claro que estaria sempre ao lado do rapaz. Só esperava que estivesse fazendo a coisa certa. Seja lá o que Stiles estivesse pensando em fazer com seu futuro.
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*O bairro industrial eu inventei, porque o apartamento do Derek parece mais um galpão. rs
Amo papai Stilinski ♥