Faltava um dia para o Halloween. Iam anunciar o que seria após o almoço. Eu tinha quase certeza que, independentemente do que fosse, eu não participaria. Não era uma garota popular, tinha apenas um grande e único amigo, que, por ser um garoto, eu tinha quase certeza que não ia. Mas ainda assim eu estava curiosa para saber o que seria.

Eu estava sozinha na mesa da Corvinal pois não havia encontrado o Grim. Não estava com fome, comia apenas um pouco de purê de batata com arroz. As meninas da minha turma estavam sentadas por perto, mas agora era eu quem evitava elas. Não prestava atenção em nada ao meu redor, até que, de repente, todo o salão ficou em silêncio. Levantei a cabeça e vi a professora de Herbologia parada na frente da mesa dos professores.

– Bem, alunos, acho que vocês estavam bastante ansiosos para saber como seria a comemoração de Halloween deste ano. Bem, estou aqui para matar a curiosidade de vocês antes que ela mate-os. - ela deu uma pausa quando todos começaram a rir. Neste momento, Grim sentou-se do meu lado, fazendo um gesto para que eu continuasse prestando atenção na professora. - Bem, é com um imenso prazer que eu anuncio a vocês que a festa de Halloween deste ano será um baile de máscaras. - outra pausa quando o salão explodiu em comentários. Eu olhei para meu amigo, pedindo para que ele continuasse quieto. - Atenção, por favor! É um baile de máscaras, e não um baile a fantasia. As máscaras serão feitas por vocês. Obrigada pela atenção e bom almoço, se vocês conseguirem almoçar depois de receber um notícia como esta.

– Gostou da notícia? - Grim começou a comer uma coxa de frango, passando-a no meu purê.

– Indiferente. Não vou participar mesmo…

– E por que não?

– Primeiro: não quero ficar sozinha lá. Segundo: nunca fui em um baile antes. Terceiro: não tenho roupa.

– Primeiro: eu também vou. Segundo: quem se importa? Terceiro: a Madame Malkin tem uns vestidos prontos, pegue o catálogo e peça um vestido, ele chega amanhã. Por favor, vamos sim. Você merece se divertir um pouco.

– Não sei… Acho melhor não.

– Sem essa. Nós vamos e pronto. Vem, eu sei quem tem o catálogo.

Ele me arratou até uma garota do quinto ano da Lufa-Lufa. Tinham vários vestidos lindos. Escolhi um preto, na altura dos joelhos, de alças. Da cintura para baixo ele tinha rendas por cima do tecido. Era lindo. Ela pegou minhas medidas e disse que de até a hora do almoço ele chegaria. Mandei uma carta para o meu pai avisando que chegaria uma conta para ele pagar no meu nome e explicando o que era.

O resto do dia passou sem muitas coisas. Ninguém falava em outra coisa. Vi a Bia exibindo para as outras garotas da minha turma o vestido que ela havia trazido. Só o que vi era que era rosa bebê, não tava prestando atenção. Fiz as máscaras com o Grim durante a noite na Torre de Astronomia, sob a luz das estrelas.

O dia seguinte foi uma agitação. Os professores andavam de uma lado para o outro arrumando o salão. O almoço foi servido nas salas comunais porque não podíamos entrar no Salão Principal. Os alunos andavam de um lado para o outro, ansiosos. Os banheiros estavam sempre cheios, corujas voavam de um lado para o outro entregando roupas e acessórios. Fui com meu amigo para o nosso refúgio. Estava cansada e não queria ir ao baile, mas meu vestido já havia chegado.

O baile começou às 19h. Foi quando eu resolvi voltar para a Torre da Corvinal me arrumar. Queria ter o caminho livre para ir e vir. Tomei um banho e lavei meu cabelo. Coloquei o vestido, uma sapatilha preta e deixei meu cabelo solto. Coloquei minha máscara azul escuro com alguns detalhes pretos. Não queria ir. Mas não tinha outra opção.

– Você está linda! - Grim estava me esperando na sala comunal.

– Nem tanto. Mas vamos antes que eu desista.

O Salão Principal estava lotado. Casais dançavam, rodinhas de meninas davam risadas, outros conversam pelos cantos. Fazia quase uma hora que o baile começara e algumas pessoas ainda estavam chegando. Eu não queria entrar, mas Grim me arrastou. Algo me dizia para não dar mais nem um passo e voltar.

Passei quase o tempo todo sentada. As pessoas olhavam para nós dois e cochichavam. Os amigos do Grim foram chamá-lo duas vezes, mas ele recusou ambas. Quando perguntei o porquê, ele disse que havia me convidado para ir, não poderia me deixar sozinha. Fiquei contente com isto. Mas a sensação de que não deveria estar ali não me abandonava.

Por volta das 22h, resolvi ir embora. O baile iria acabar à meia-noite. Grim disse que ficaria mais um pouco. Tentei sair do castelo, mas estava frio. Estava com uma forte sensação de estar sendo seguida. Subi para a Torre de Astronomia. Havia aprendido a gostar desse lugar. Mais de uma vez pensei ter escutado passos atrás de mim, mas não vi ninguém quando olhei para trás.

Chegando lá, deitei-me no chão, olhando as estrelas. Me sentia tão sozinha no castelo, tão grande, tão cheio de pessoas. E apenas um garoto me dava atenção. Depois de dois meses isso ainda não havia mudado. E eu também vinha pensando muito na mulher do meu sonho. Estava tão perdida em pensamentos que só fui perceber que não estava sozinha quando ouvi uma risadinha.

– Quem está aí?

– Te encontrar sssssozinha não foi tão difícil… - havia uma mulher parada na entrada da torre. Ela falava de uma maneira estranha, arrastando o “s”. Usava um vestido longo e olhava diretamente para mim. Nunca havia visto-a antes.

– O que quer comigo?

– Eu quero você… - enquanto falava, ela ia se aproximando. Andava de um jeito estranho, como se estivesse deslizando.

– Quem é você? - eu estava ficando cada vez mais nervosa. Também ia andando para trás, mas não podia ir muito pois poderia cair.

– Posssso sssssentir ssssseu medo… Não importa quem ssssou… Vem pra mim, vem. - ao dizer isto, ela deu um salto, parando na minha frente. Seu vestido levantou e eu gritei ao ver que ela tinha o que parecia ser duas caudas de serpentes no lugar das pernas. Dei a volta nela, tentando ficar de costas para a porta. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo. Pensei que era só um sonho, mas o medo que eu sentia era real demais.

– Me deixe em paz! - gritei. Tentei correr para fora, mas ela havia trancado a porta. Eu tremia e não conseguia pegar minha varinha. Bati na porta e gritei mais ainda, tentando fazer com que alguém me escutasse. Ela ia se aproximando devagar dessa vez. Eu comecei a correr de um lado para o outro.

– Você não devia esssstar viva… Isssssso pode ser menoss doloroso ssse você deixar… Sssse entregue…

– Não! - consegui pegar minha varinha. Lancei um Expelliarmus nela, um Alorromora na porta e comecei a descer as escadas correndo. Encontrei o Grim no meio do caminho.

– O que aconteceu?

– Tem uma mulher muito estranha lá em cima! - eu estava ofegante. Puxei ele e continuei descendo. Não sabia o que tinha acontecido com ela e não queria colocar meu amigo em perigo.

Na base da Torre eu finalmente parei para respirar. Grim olhava para mim e parecia com medo. Tentei explicar para ele o que havia acontecido, mas eu não conseguia falar. Sentei-me no chão e comecei a chorar. Ele sentou ao meu lado e me abraçou, apesar de não estar entendendo nada. Levantei-me em um salto ao ouvir o arrastar das pernas da mulher.

– Pegue sua varinha! - falei, ficando ao lado dele. Ela apareceu na escada, parecendo nervosa. Seu vestido havia rasgado, dando para ver as pernas dela. Não sei como, mas parecia ondular, ora eu via pernas, ora eu via as serpentes.

– Não tente sssse esssconder, não tem como!

– O que é isto? Quem é você e o que quer com a minha amiga? Fique longe dela! - Grim começou a lançar feitiços desesperadamente. Me juntei a ele, lançando todas as azarações que conseguia lembrar. Depois de um tempo, ela explodiu em uma nuvem de pó.

– Bem que você disse que eu não era normal… - disse isso e desmaiei.