Hermione estava em seu dormitório, chorando desesperadamente. As lágrimas escorriam pelo seu rosto, lavando toda a marca de desonra que a marcava. Ela cobria o rosto com as mãos, e seu corpo era sacudido por leves soluços. O nó na garganta já estava ficando insuportável.

 Hermione desafroxou a gravata, numa tentativa inútil de aliviar um pouco a angústia que subia pelo seu peito e a dominava. Ela não consegueria por muito mais tempo. Sua consiência ameaçava sucumbir diante da magnitude da dor. Ah, a dor que nem se quisesse, poderia ser descrita.

A dor de ser traída.

Ela confiara nele. Confiara. Confiara seu amor, segredara-lhe os seus sentimentos, entregara-lhe o coração. E tudo o que aquele idiota fez foi jogar tudo isso fora enquanto, sem nenhum motivo aparente, resolvera se deitar com a amiga que há tanto tempo Hermione apoiara.  Isso era demais. Ela não era boa o suficiente? Ela não valia a pena? Se não era isso, o que era então?

O seu amado ainda tentara consertar as coisas. Foi atrás dela, pediu-lhe desculpas, disse que nunca mais iria fazer algo parecido. Mas Hermione descartou todos os pedidos de perdão, com uma frieza inexistente no olhar. Ela não aguentaria voltar a conviver com ele, não depois de saber o que fizera. A dor de uma traição não é superada facilmente, e nunca será esquecida totalmente. Ela não poderia simplesmente ignorar todos os pensamentos gritantes que martelavam em sua mente e voltar para os braços dele. Não podia.

Hermione chorou tanto, e com tal magnitude, que por alguns minutos ela achou que a água em seu corpo iria se esgotar. E então, chorou novamente. Tão forte quanto antes. Tão dolorido quanto antes. O seu coração não iria se consertar tão cedo, disso ela tinha certeza absoluta. As lágrimas desciam feito cascatas, encharcando seu uniforme sempre alinhado de Hogwarts. Toda a felicidade que Hermione juntara nesses últimos anos com seus amigos parecia estar sendo sugada à medida que as lágrimas saíam de seus olhos já inchados. Hermione então começou a chorar tão alto que teve de buscar um travesseiro para abafar os sons dos soluços que tomavam conta de seu corpo.

A garota queria gritar, gritar com todo o seu ser. Mas ela não fez isso, em parte porque não queria preocupar as pessoas que estavam no Salão Comunal com nada, em parte porque ela achava que não conseguiria reunir forças para tal ato. Por isso ela somente se deixou cair na cama, libertando todos os sentimentos e pensamentos ruins que a dominavam.

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Depois de chorar quase um rio e ter encharcado seu travesseiro, Hermione fungou, já bem mais recomposta. Os olhos dela ainda ardiam, mas sua vontade de chorar já havia sido controlada. A garota encarava o teto, sem vontade de fazer qualquer outra coisa além de ficar ali, deitada em sua cama, apenas se esforçando para não pensar. Lógico que não dera muito certo. Os pensamentos, que eram mais intuivios do que conscientes, invadiam a sua mente com uma rapidez que ela não poderia controlar nem em um milhão de anos. Todos esses pensamentos frisavam apenas um nome, que era repetido subconsientemente em suas lembranças encharcadas de dor. Um nome, que por muito tempo a fizera feliz, mas que agora era o único motivo de fazê-la chorar.

Draco Malfoy.

Sim, o sonserino. O loiro arrogante que odiava sangue-ruins. O mesmo sonserino, loiro e arrogante que há algum tempo mantia um caso às escondidas com Hermione. O mesmo sonserino, loiro e arrogante que traíra a grifinória e quebrara seu coração.

Não que Hermione não soubesse que Draco não era confiável. Ela sempre soube disso. Sempre. Mas, bem lá no fundo de seu peito, uma chama fraca de esperança dizia que Draco não era totalmente ruim, que Draco ainda tinha esperança, que Draco a amava. Ou pelo menos tinha um mínimo de consideração com a namorada. 

O som da palavra rebombeou na mente de Hermione por algum tempo. Namorada. Draco, no momento em que fizera o pedido de compromisso, não parecera se importar com o fato da garota ser uma nascida trouxa. Hermione, achando tudo muito bonito, obviamente aceitou, com a condição de manter tudo às escondidas, pelo menos por enquanto. Ela não estava pronta para encarar a expressão de puro choque e descrença dos seus amigos quando eles recebessem a notícia de seu namoro com o sonserino. Ainda não. Por isso, ela pediu que ele ainda não falasse nada para ninguém até que estivesse preparada para lidar com as consequencias. Ele pareceu entender.

Aparentemente, Draco já havia se cansado desse joguinho de ser de uma mulher só.

Hermione então resolveu se levantar, sôfrega e lentamente, e arrastar os pés até o banheiro, onde se trancou. Lá dentro, a garota pôde se encarar no imenso espelho que cobria a parede. Ela estava péssima, isso tinha de admitir. Os cabelos estavam bagunçados, os olhos vermelhos e inchados, o nariz estava ameaçando escorrer. O seu rosto estava marcado pelas lágrimas que ela deixara escapar. Hermione mordeu o lábio inferior. Ela não estava pronta para um confronto, mas se Draco pensava que ia deixá-la assim, ele estava muito enganado.

Hermione iria reagir. Hermione iria provar que tinha o seu valor.