Sentiments D'anubis escrita por GiGihh


Capítulo 9
Apenas boa noite


Notas iniciais do capítulo

Gente!!! Quanto tempo, não?
Desculpem a demora; minha vida virou de cabeça para baixo, mas cheguei aqui com o último cap desta fic...
Bom, boa leitura amores:



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ANÚBIS

O sol nascia e isso significava alguma coisa. Agarrei a cintura da loira e abri um portal. Era um cemitério abandonado; o mato crescia alto, mas o local era tão antigo que já existiam grandes árvores quebrando as lápides.

Sadie saiu dos meus braços e olhou ao redor; vi o brilho em seus olhos antes do sorriso maroto chegar aos lábios. Sadie correu para o meio das árvores e eu disparei atrás dela. Pique-esconde; era uma sensação diferente e agradável brincar com ela... No meio da corrida, alcancei minha garota, enlaçando sua cintura e a virando para mim, sem dar tempo para me dizer um não, beijei-a de novo. Um beijo ardente e sem pausas e que conseguiu me fazer esquecer de pensar.

—Como isso pode ser errado, quando parece tão certo? – perguntei um pouco ofegante, mas sem soltar a menina.

—Você é o deus, você devia ter as respostas. – ela retrucou tão ofegante quanto eu; Sadie dependia do meu apoio para continuar em pé.

—Agora eu sou um deus pra você? – perguntei um pouco irritado por horas antes.

—Meu deus. Só meu. – Ergui seu corpo do chão, trazendo-a delicadamente a minha altura para mais um beijo calmo e carinhoso.

—E Walt? – perguntei sentindo algo pesar em meu peito; ela me olhou com uma mistura de sentimentos que eu não soube identificar.

—O que tem ele?

—O que sente por ele? – eu a coloquei no chão.

—Tenho sentimentos fortes por ele. – o peso aumentou e me senti inquieto, perdido, só.

—Você gosta dele. – eu disse com dor.

—Anúbis... – seus dedos me acariciaram o rosto e os lábios – Entenda a diferença: eu gosto do Walt. – sua mão desceu até meu peito sobre meu coração errante – Mas eu amo você. – Sadie se afastou de mim, saiu dos meus braços e olhou nos meus olhos procurando alguma reação minha. – Você consegue ver a diferença?

—Consigo.

[...]

As horas voam toda vez em que você se diverte com quem ama e sempre tem uma luz que estraga o momento. Eu sabia que o momento tinha chegado: rompia a manhã em NY. Eu não tinha mais minutos para ela, para nós. Sadie pareceu notar tudo isso apenas com olhar; entrelaçou seus dedos aos meus e assentiu de leve em um movimento quase não visto por mim. Abri o portal.

Saímos na sacada do quarto dela. Ainda garoava e o dia parecia que seria chuvoso; o sol não apareceria hoje, mas isso não queria dizer que ele não estava lá. Sadie entrou no quarto em passos lentos e olhava para tudo como se fosse a primeira vez em que entrasse ali ou talvez fosse apenas a lembrança de como a nossa noite havia começado. Observei cada passo dado, cada olhar vago e o calor diminuindo do seu corpo. Ela voltou a virar para minha direção... E esboçou um sorriso.

Dei os mesmos passos lentos que ela havia dado e estendi à rosa vermelha; era a mesma rosa que horas atrás havia sido deixada nas ruínas vazias de uma fortaleza qualquer. Sadie voltou a pegar a flor em um movimento delicado e devagar. Ela parecia aproveitar cada segundo a sua maneira como eu também fazia da minha.

—Isso é um adeus? – ela perguntou com a voz baixa e levantou a rosa levemente.

—É só um "boa noite" –  respondi acariciando sua bochecha, enquanto ela fechava os olhos apreciando o meu gesto.

—Não quero dizer "boa noite". – suas palavras tão sinceras e dolorosas me atingiram como facas lançadas pelo melhor especialista.

—Eu também não quero. – garanti a ela mantendo a voz firme, sendo que no mais fundo eu sentia a vontade de chorar – Vai ser difícil voltar até você. É tão difícil te deixar.

—Não vai ser uma vez que você entenda que eu estive aí o tempo todo – sua mão sobre meu peito, onde pulsava meu coração errante e suas palavras fortes me deram esperança - Assim como você sempre esteve aqui. – a mão que segurava à rosa foi para o próprio peito. Abracei-a bem forte pela cintura enquanto respirava o cheiro leve de seus cabelos.

—Eu nunca vou te deixar, sempre vou estar bem ai. – prometi; minha voz soou trêmula quando minha mão repousou sobre a sua, sobre seu peito, ainda mantendo a rosa firme entre os dedos. Seus olhos se encheram de lágrimas; havia tristeza ali, mas a alegria também brincava em seus olhos azuis. Eu tinha plena consciência de que os meus olhos estavam da mesma forma. Devagar, aproveitando e fazendo valer cada segundo, enxuguei uma única lágrima que escapou por seu rosto e a puxei para um beijo; o último encontro de lábios.

Envolvente, profundo e regido pela paixão, nossas línguas dançavam ao som de nossos corações uma última vez enquanto choviam lágrimas em nossos rostos. O carinho explícito em cada gesto e o amor em cada toque... Sem a conhecida malícia, levantei Sadie do chão e suas pernas se fecharam ao redor do meu quadril. Completamente consciente de que uma dor me fechava o peito, caminhei até sua cama. Deitei-me sobre o colchão e deixei Sadie confortável ao meu lado, meu peito servindo de travesseiro já que aquele não era muito confortável. Sadie chorava em minha camiseta me deixando mal por não poder consolá-la; apenas afagava seus cabelos.

—Hei! – ela levantou me olhando de forma acusatória - Como foi que eu cheguei ao meu quarto?

—Eu abri um portal, Sadie. Nós passamos juntos...

—Não! Eu tenho certeza de que dormi no sofá com as crianças. – seu rosto ainda estava manchado pelas lágrimas, mas seus olhos me acusavam me cobravam a verdade.

—As crianças estão nos quartos; eu trouxe você pra cá. Não consegui te deixar lá no sofá. – ela sorriu enquanto eu limpava suas lágrimas – Você precisa dormir. Eu tirei uma noite inteira do seu sono.

—Eu não quero. – o gemido me partiu o coração. Ela voltou a deitar e eu a acariciar os fios loiros que paravam em seus ombros. – Fala qualquer coisa.

—Como?

—Fala alguma coisa; se eu tenho mesmo que dormir, sua voz me acalma. – não consegui deixar de sorrir, mesmo ela não vendo meu gesto.

—Eu posso te falar dos sonhos, posso te falar dos meus medos, do meu desejo, do meu amor. Eu posso te contar sobre como meu coração voava sem direção, voando só por voar, sonhando em chegar até você, te encontrar. Se eu não te amasse, ainda seria feito de escuridão e vagaria pelo vazio; você me deu amor quando eu só conhecia a dor, me deu esperança em um mundo de desespero. Eu sou muito grato a você por isso. – sua respiração estava normalizada, suave, serena, os olhos fechados, mas mesmo assim continuei meu desabafo, mesmo assim sentia suas lágrimas – Queria que se lembrasse sobre como as estrelas nos uniram, nas horas lindas que passamos juntos e, eu juro Sadie, nossa história não termina agora, não hoje.

Senti-me ser rasgado de dentro para fora no instante em que levantei. Trinquei os dentes sentindo minhas forças se esvaindo. Eu não podia ficar ali, não era um lugar de morte, mesmo eu achando que os deuses estavam matando a nossa felicidade; isso não contava. Mas eu sabia que não era só isso, me doía deixá-la, sempre iria me partir o coração e isso conseguia superar a dor de estar onde eu não deveria. Ignorei isso por mais alguns segundos; ajoelhei-me ao lado do seu corpo tranquilo já entregue ao sono. A rosa repousando entre seus seios, sua mão segurando-a, prendendo-a a ela, a uma lembrança... Sadie não poderia se lembrar dessa noite.

Selei meus lábios uma última vez em sua testa; um beijo indicando carinho e proteção... Mas que também apagou suas lembranças daquela noite. A única noite em que eu ainda me agarraria com todas as forças durante a eternidade.

Meu peito explodiu em dor: um fogo que me queimava sem piedade alguma. Meus pulmões buscavam desesperadamente por ar, e, mesmo sendo um deus e não precisando respirar, parecia errado aquela falta de fôlego. Dilui-me nas sombras, mas não saí do quarto, mesmo assim a dor diminuiu consideravelmente. Vi minha pequena loira se mexer levemente, mas seu rosto não parecia mais calmo; ela me parecia triste, assustada até. Sadie apertava a rosa contra o peito com mais força... Carter entrou no quarto. Pensei em sair dali, mas não tive chance.

—Sadie? – ele sacudiu seu ombro; um ofego escapou dos lábios da menina – Vamos Sadie, acorde. Acorde! – o irmão estava ajoelhado sobre o colchão assustado com a reação da irmã ao possível "pesadelo"; uma lágrima escorreu por seu rosto de porcelana – Sadie...

Ela abriu os olhos marejados, tristes, mas confusos. Sentou-se e abraçou o irmão, Carter apertou o abraço carinhosamente, mesmo estando surpreso com a reação da menina.

—Eu o perdi... – Sadie chorou; uma faca pareceu me cortou a garganta, ela não lembrava nada, mas sentia que faltava alguma coisa.

—Não, Sadie. – Carter a consolava – Você não vai perder mais ninguém, ok? Foi só um sonho ruim. – eles ficaram em silêncio por um longo período – Onde conseguiu essa rosa?

Sadie olhou para os dedos que insistiam em segurar a flor vermelha. Vi a confusão passar em seus olhos e me senti ainda pior por ter que tirar suas memórias.

—Não sei.

—Bem, vou dizer aos iniciados que você não está bem. Durma um pouco mais. – Carter saiu do quarto. Sadie girou a rosa entre os dedos e a deixou sobre o criado mudo a seu lado; voltou a deitar olhando para o teto, ela pousou a mão sobre o coração.

—Estrelas... - ela murmurou – Você e eu... Eu prometo... – e adormeceu.

Eu não podia mais ficar lá. Tive que deixá-la, então decidi reviver a noite. Passei em cada lugar em estivemos e pude ver claramente cada uma de nossas ações; a montanha gelada, as ruínas esquecidas, a rocha na praia e o cemitério... Alguém me chamava, algum deus necessitava da minha presença e no fundo torci para que não fosse Osíris.

—Meu querido, estou tão emocionada! – era Nut. Senti os braços da deusa me envolverem e, por um instante, estranhei seu toque esperando encontrar o calor de Sadie. – Foi tudo tão lindo.

—Finalmente entendi o que sentia esse tempo todo. – a deusa tinha os olhos aquosos, mas um sorriso triste e emocionado estampado no rosto. – Mas não consigo me lembrar de esquecê-la.

—Porque você não deve se esquecer dela, meu bem. – ela afagou meu rosto com ternura – Não deve abrir mão do que sente; isso é algo pessoal e que ninguém pode tirar de você. Os deuses podem te proibir de visitá-la, mas nunca vão poder proibir você de amá-la.

Palavras não foram mais necessárias. Nut me acolheu e, como eu fazia com Sadie, ela me acalmou e afagou meus cabelos. Não vou bancar o deus machista como Set e Hórus: chorei por ela, chorei por deixá-la, chorei por raiva daquela maldita ordem... Mas eu ainda tinha deveres. Recompus-me e me despedi da deusa... Eu voltaria para o salão do julgamento.

Assim que cheguei, a penumbra me envolveu e o frio me chegou à pele. Tão, Tão diferente do calor de sua pele.

—Anúbis – a voz era autoritária, firme. Osíris vinha em minha direção e, não consegui me sentir desconfortável como hoje mais cedo, apenas me senti angustiado por estar vendo o pai e não a filha.

—Sim, senhor? – respondi cordialmente como sempre fazia.

—Por onde andou? – eu sentia o peso de seus olhos sobre mim, como se ele pudesse saber o que eu aprontei ou das regras que quebrei; pensei em como Sadie reagiria, e tentei me enquadrar nisso: ao invés de me preocupar, disse naturalmente e sem me preocupar.

—Andei passando por alguns lugares abandonados pelo mundo. – aquilo estava longe de ser uma mentira.

—E minha filha?

—Como? – a pergunta me pegou de surpresa, desprevenido. Como Sadie foi para nessa conversa?

—Minha filha, Anúbis. O que sente por Sadie? – seus olhos brilhavam com tristeza como se ele soubesse minha resposta, soubesse da decisão do Conselho e fosse difícil abrir mão da filha.

—Tenho sentimentos fortes por ela. – a resposta talvez tenha chocado um pouco o deus a minha frente.

—Fortes? – ele ergueu uma sobrancelha.

Eu sorri.

—Muito fortes.

Julius/Osíris suspirou e me pareceu, mais uma vez, o quanto era difícil para um pai entregar a felicidade da filha nas mãos de outro; consegui sentir o peso sobre os ombros dele, o que ele deveria fazer. Sadie era sua filha e ele quase não teve tempo para ela, para vê-la crescer, vê-la feliz. Ou seguir a decisão dos deuses e separar nós dois.

—Talvez eu tenha uma solução para o problema com os deuses, como você já bem sabe. – ele me olhou de forma acusatória, mas tinha um sorriso de canto no rosto. – Mas preciso te perguntar algo: você realmente a ama?

Fiquei em silêncio pensando em dar a resposta mais sincera possível.

Peguei a menina no colo e comecei a andar lentamente até seu quarto. Sadie encostava seu rosto em meu peito, no lugar onde meu coração batia. Ela respirou fundo e pareceu se aconchegar em meus braços. Senti-me tão contente que esqueci a dor que sentia...

O vento cantou mais uma vez e a menina estremeceu; puxei Sadie para meus braços, trazendo-a para meu colo e para o pouco calor que meu corpo oferecia...

—Não tenho medo de você. – sua voz voltou a soar baixa e isso causou um breve arrepio em mim...

Sadie estava ofegante; sua respiração quente batia em meu rosto me envolvendo naquele calor. Minhas mãos seguravam seu corpo frágil e leve; uma mão na região da coxa desnuda e a outra mão pouco acima da cintura, nas costas cobertas pelo tecido fino da regata. Inconsciente, arfei quando me dei conta daquelas mãozinhas ao redor do meu pescoço, segurando firmemente...

— Não importa o que diga ou o que faça, eu não consigo ter medo de você.

Como em seu aniversario, selei nossos lábios por segundos maravilhosos. Um fogo mágico ardia dentro dela e apenas dela; ela era a única que poderia derreter o gelo da minha “alma”, dos meus sentimentos. Apenas aquele toque do fogo tão ardente fez dois corações dispararem; o meu, muito mais rápido do que deveria...

— Nunca vou deixar de ser chata perto de você. Nunca. Pode se acostumar com isso.

Minhas mãos amparavam suas costas e sua cintura, quando, mais uma vez, estávamos muito próximos. A mão que segurava à rosa estava descansada em seu peito e a outra pendia ao lado do corpo.

—Não se cansa de me segurar? – sua voz soou levemente ofegante.

—Ficaria surpresa se eu dissesse que não?

...Doeu mais do que consigo descrever ouvi-la dizer que me odeia. Não consegui ficar lá, não suportaria mais olhá-la de forma alguma...

—Por que se importa comigo? Eu não sou nada pra você!

—Porque você significa tudo.

Eu senti um calor se apoderar do meu corpo quando suas mãos subiram ao meu pescoço e me puxaram para mais perto de si. Seus lábios massageavam os meus enquanto aquele gosto de baunilha me preenchia. Senti Sadie fraquejar e amparei seu corpo ainda sem parar o beijo.

— Não vai me perder. – sua voz, suas palavras... Foi à primeira vez em milhares de anos que eu senti esperança.

Eu tinha sim uma resposta sincera o suficiente.

—Amo sua filha, senhor. Não há nada que faça esse sentimento acabar.

Ele sorriu de lado.

—Então, nesse caso, quero falar com você sobre o caminho dos deuses... – caminhando lado a lado com o pai dela, me senti mais perto do dia em que a teria de volta.

Essa foi à história não contada, esses foram meus sentimentos escondidos até de mim mesmo, foi à lembrança que tirei de Sadie. Essa história, a história de nós dois, ficará guardada para toda a eternidade nas paredes de um coração frio; uma história que eu não sou capaz de explicar, cores que eu não posso mudar, sentimentos que não vou deixar de sentir.

Encontrei uma brecha na lei dos deuses, consegui impor minha vontade e assim a minha justiça foi feita.

Vocês já sabem como a história termina, mas agora sabem do que foi escondido de muitos. Entendi finalmente como lutar por ela, e mesmo ainda tendo dúvidas sobre o nosso futuro juntos eu tinha uma certeza:

—Não vou desistir dela. Nunca!


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Notas finais do capítulo

A fic acabou =(((((
Foi maravilhoso cada comentário que vocês mandaram e eu lamento toda a minha demora. Amei escrever esta fic e espero que tenha agradado vocês.
Bjss =D