Acordei e fiquei uns 15 minutos encarando o teto, pensando no que aconteceu ontem, nos meus sentimentos, no Tobias, na vida, no universo...

Eu e o Tobias já brigamos muitas vezes mas não assim, antes quando eu gritava com ele, batia nele, ele me segurava pelos braços dizia que me amava e me dava um beijo na testa, só.

Peguei meu celular e vi 25 ligações perdida dele, além das mensagens, eu não queria falar com ele. Não agora.

Me levantei, fui para a frente do espelho e me olhei. Eu parecia uma bruxa. Cabelo bagunçado, lápis borrado, roupa amassada, enfim... Me dirigi ao banheiro, liguei a ducha e enquanto esperava a banheira ligar, fui ligar o som.

‘’(…)Black bandana, sweet Louisiana

Robbin’ on a bank in the state of Indiana

She’s a runner, rebel and a stunner(…)’’

Entrei na banheira e fiquei lá cantando, observando a água adquirir um tom leve de azul, já que a tinta do meu cabelo estava começando a sair, geralmente eu retoco mas acho que vou deixar ele natural por um tempo.

Sai e me enrolei em uma toalha, me dirigi ao closet, coloquei uma blusa azul do Muse (~*u*)~, um shorts cinza, rasgado e meu bom e velho All Star azul jeans desbotado. Desci as escadas e me deparei com uma Kira completamente acabada e de ressaca. Pelos deuses, menina...

Bom, eu não posso dizer muito já que também acordei várias vezes assim.

– Bom dia, musa.

– Onde eu to? Caralho, o que eu fiz com meu corpo, Mika?- ela falou enquanto tentava andar mas, pelo visto, estava com dores. Nos dirigimos à cozinha e sentamos na mesa, enquanto Grace, que é a empregada do meu irmão e uma mãe para mim, colocava o café-da-manhã na mesa.

– Bom dia, minhas meninas. Vejo que aprontaram muito ontem.- ela perguntou enquanto depositava um beijo acolhedor e suave no topo de nossas cabeças.

– Eu não fiz nada, agora não se diz o mesmo de Kira, Gray...- falei rindo do estado dela. Ela me lançou um olhar que era um misto de raiva e desentendimento.

– Bom dia, Gray... Mika, você vai me levar para casa, né? Por favor, eu to acabada.

– Percebe-se, né more. Sim, eu vou te levar.

Comemos e fomos para a garagem. Quando saímos de casa, percebi o quanto estava quente, fiz um rabo de cavalo e coloquei meu Ray-Ban.

– Pera ae, você vai ficar ai enquanto eu frito nesse calor dos infernos?- Kira reclamou, ela estava com o vestido de manga comprida da noite passada, o longo e pesado cabelo caindo como um grosso edredom sobre as costas. Fechei o teto conversível e liguei o ar condicionado.- Melhor.

Ligamos o som e como Kira não é tãããão rockeira assim, ela colocou In Da Club do 50 Cent, esse música é muito foda. Abaixamos os vidros, aumentamos o som e cantamos e cantamos e cantamos como se o único problema das nossas vidas fosse acompanhar o vocalista sem errar.

Estacionei em frente a casa da Kira e descemos do carro. Entramos na casa dela e enquanto ele tomava banho no andar de cima, eu liguei o som e começou a tocar Candy Shop. Deuses. Comecei a dançar loucamente, jogando o cabelo de um lado para o outro e rebolando feito doida, no ritmo da música. Finalmente, decide me acalmar, liguei a TV e o Xbox, coloquei Call Of Duty e comecei a jogar.

– Ahá, então você nem me espera para jogar agora?- Kira perguntou pulando no meu lado e pegando um controle.- Anda, eu quero jogar!

– Afe ¬¬’, deixa eu terminar essa partida. Você que demorou para tomar banho.

– Hum, ta bom.

Depois que terminei uma partida muito boa devo dizer, nós duas começamos a jogar. Eu era o carinha da imagem de cima e ela o de baixo (entendedores entenderão ;*) e, óbvio, como toda digna partida, tinha que ter xingamentos no meio.

– Sua puta, vou te matar no jogo e na vida real.

– Vou acabar com você, dá licença.

Depois sem nem perceber algo saiu de mim, eu estava no modo ‘’Call Of Duty com o Tobias’’.

– Aprenda com o mestre, jovem recruta.- assim que eu disse isso meu sorriso de vitória desapareceu completamente, Tobias sempre dizia isso para mim quando jogávamos juntos. Lagrimas brotaram automáticas nos meu olhos, minha visão ficou turva e eu encarava a TV mas minha mente repassava cenas de nós dois jogando, dele fazendo cosquinhas em mim depois de ganhar. Fechei os olhos com força e senti minhas bochechas ficarem úmidas.

– Mika? Ta tudo bem?

Contei tudo o que tinha acontecido para Kira, coloquei minha mão na testa e apoiei meu cotovelo no joelho e fiquei lá chorando enquanto minha ‘’irmã’’ me consolava e me abraçava. Ela sempre me trouxe conforto mas nunca como Tobias, o abraço dele era único, quando eu chorava e ele me abraçava, a tristeza ia embora na mesma hora, ele nunca perguntava se eu estava bem, porque era obvio que não, ele apenas me abraçava ou deitava comigo na cama, fazendo carinho no meu cabelo até tudo passar.

Agora ele não estava mais ali do meu lado e eu me pergunto por quanto tempo vou suportar essa distância até simplesmente, explodir.