Eu nunca pensei que veria Tom chorar. E de fato não o vi, só pensei mesmo. Até mesmo meus olhos continham lágrimas, que eu não ousava derramar.

Não pude deixar de olhar de forma acusadora para Daiana, que balbuciava mil desculpas, dizendo que Al a atacara e ela não tivera escolha. De certa forma, eu sabia que ela tinha razão, mas Al também era minha amiga. Eu não queria minhas amigas se matando por mim (ainda bem que eu sou modesta).

-Tudo bem, Tudo bem! Já entendemos que você sente muito, Daiana! Mas Al realmente... “Bateu as botas”? – Fiz aspas com os dedos.

Tom assentiu com os olhos fixos em Daiana, me fazendo tomar a precaução de me por mais perto dela, caso ele decidisse atacá-la.

- Vamos com calma... – é eu não fazia a mínima ideia do que fazer, mas Daiana tinha razão, eu devia isso a ela e não seria fácil protegê-la de 5 caçadores que desejavam matá-la. – Que tal se você nos disser exatamente como você ma...

Nesse momento, alguém abriu a porta abruptamente, me salvando de tentar fazer com que todos não matassem Daiana. Seja lá quem for eu amo essa pessoa!

- Tem mais um aqui! – Disse alarmado, apontando freneticamente para o lado oposto do corredor – Temos alguns feridos e precisamos de refor...

Ele não conclui a frase, nem poderia tê-lo feito enquanto era arremessado contra a parede. Esse vampiro era de longe o mais rápido que eu já havia visto. Não consegui distinguir sua fisionomia, pois onde ele passava só se via um borrão sangrento.

Descemos todos para a sala/cozinha.

O local estava um caos. Ninguém sabia o que fazer. Limitavam-se a socorrer os feridos e atacar o ar, para serem derrubados logo após. Ele havia pegado todos de surpresa e eu tinha certeza de que ele não era o tipo de vampiro que parava para conversar.

Eu estava alarmada. Precisava de um plano rápido, pois eu sabia que seríamos dizimados numa incrível velocidade se não agíssemos logo. Senti algo segurando meu braço. Lancei meu olhar mortal que mais pareceu desesperado para Daiana.

- Me solte! – disse-me ela – Eu posso cuidar disso!

Por que não? Eu não tinha ideia melhor, e num ato de desespero, a soltei o mais rapidamente que podia antes que pudesse me arrepender de uma ideia tão insana.

Ao ver-se livre, Daiana começou a se mover numa velocidade incrível (o que não me surpreendeu já que ela tinha experiência em correr, considerando o longo histórico de valentonas que a perseguiram na escola), porém ainda era menor comparada ao vampiro.

Ela encontrou o que precisava: um machado de lenhador (personalizado com desenhos da Hello Kit) e um treco doido que eu não sei o que é.

Ela não conseguiria sozinha. Eu sabia disso, mas não esperava a pancada que receberia a seguir. Fui atingida na cabeça, de forma a ficar totalmente sem ação a não ser focar na dor que sentia. Senti que alguém me tirava do chão e logo descobri que era o monstro. É claro, eles ainda me queriam viva. Vi toda a ação sem conseguir me mover, sentindo-me tão inútil quanto a princesa do Super Mário ou a Dafne do Scooby-Doo, sendo capturada pelo monstro para alguém vir me salvar.

Tyna, que ainda estava em pé observando a cena pareceu se lembrar de como andar. Ela correu e pude ver que ela planejava ajudar Daiana, ou simplesmente aproveitar a ocasião como desculpa para matá-la (Eu torcia para que fosse a primeira opção), enquanto Tom e Édi corriam em minha direção (Ou na direção do monstro, já que ele praticamente me carregava), tirando punhais de seus casacos, que surpresa! (perceba minha ironia).

Agarrei-me ainda mais ao monstro para tentar deixá-lo mais lento, enquanto os dois se moviam com extrema habilidade, tentando cercar o monstro.

É claro que ele percebeu o que eles queriam fazer, mas me carregar enquanto eu tentava mantê-lo parado parecia irritar-lhe, de forma que uma pequena porção de sua atenção estava focada em mim. Eu realmente pensei que iria conseguir, mas minhas esperanças se foram quanto ele derrubou Tom, que tentou atacá-lo e foi lançado contra a parede.

Édi, percebendo que estava sozinho pareceu vacilar, mas manteve o ritmo tentando atingir o monstro, que por sua vez repelia seus ataques com extrema facilidade, enquanto eu ainda o irritava.

Tyna apareceu de sei-lá-onde, pulando na cabeça do monstro, que só não a repeliu imediatamente por ela o ter surpreendido (o fato de estar lidando comigo e com Édi ao mesmo tempo também ajudava). Daiana apareceu do nada, correndo em volta do monstro enquanto lhe deferia golpes nas pernas (Qualquer outro lugar que ela atacasse acabaria acertando em mim ou Tyna), enquanto o vampiro não sabia quem atacar.

Não sei como, mas consegui libertar-me dos braços do monstro, enquanto Tyna era lançada pelos ares como eu. É claro que, de todos os lugares que eu poderia ser lançada fui parar onde? Passei voando por cima do Édi que se abaixou a tempo (quanto cavalheirismo!) e fui esbarrar contra o fogão. Acho que não tinha nada em cima do fogão, mas tendo ou não doeu do mesmo jeito. Aquela coisa estava tentando me deixar com lesão cerebral!

Tudo o que vi antes de desmaiar foi a adaga na mão de Daiana contra o coração do monstro.