POV´s Narradora

Para Luke e Rachel não seria difícil achar eles. Os dois conheciam essa floresta como a palma de suas mãos. Anos de experiência aprendendo a se guiar. Mas eles tinham um problema.

Não era apenas eles que sabiam os esconderijos da floresta. Lee também sabia.

Ele corria agitado tentando a todo custo achar Percy e seus amigos.

O que tinha acontecido com Lee? Capturado por Rachel e Luke.

Ele só sabia que havia fugido e tinha que avisar Percy. Aquilo era uma armadilha. Todos morreriam. Rachel não queria levar Percy para uma ilha deserta. Ela queria se vingar. Cada passo tinha sido planejado. Tudo aconteceu como ela queria.

Lee estava preso em outra casa, não a mesma que Annabeth, lá só Rachel tinha acesso. Ele sabia quem era o espião. Ele sabia cada movimento dela desde a noite do baile. Ele sabia a ligação de Luke e Rachel.

Até o momento ele ainda estava em dúvida entre ajudar Percy ou Rachel.

Mas agora, depois de ver tudo isso, de ver o monstro que Rachel é. Ele não tinha mais dúvidas do que fazer.

***

Enquanto isso Percy, Nico, Thalia e Calipso ainda se infiltravam lentamente pela floresta.

– Procurando alguém? – Pergunta Rachel que estava parada um pouco longe da trilha.

Todos viram para ela.

– Ou algo? – Fala Luke do lado contrário dela.

Os dois tinham armar em mãos, prontas para matar.

– Não quero perder tempo. – Fala Rachel atirando rapidamente no pé de Calipso.

Um grito ecoa pela floresta.

– Calipso! – Fala Thalia aflita.

– Não se mexa, se não, será a próxima. – Avisa Luke.

– Vamos acabar com isso logo. – Fala Percy apontado a arma para Rachel. – Onde está Annie?

– Acha que eu tenho medo de você?

– Deveria ter.

– Haha. – Luke ri cinicamente. – Acabou a brincadeira.

Ele pula em Percy e tira a arma de sua mão, enquanto isso Rachel atira em Nico e Thalia, os dois caem no chão.

– Não! – Grita Percy.

– Eles não estão mortos, apenas feridos, por enquanto. – Fala Luke.

***

Percy é levado para casa onde Annabeth estava.

– Você vai ver sua amada mais uma vez. – Fala Rachel.

POV´s Percy

Eu não conseguia acreditar que estava com os pés e mãos amarrados sendo arrastado por Luke Castellan enquanto Calipso, Nico e Thalia estavam feridos no meio da floresta.

Sou levado para casa onde imaginei que Annie estivesse.

Rachel abre uma porta que imagino dar para o porão.

Descemos uma escada e chegamos.

O lugar era escuro e úmido.

Até que vejo em um canto do porão, deitada em um colchão está ela. A pessoa que eu sonhei durante todo esse tempo.

Annie estava muito magra, seus cabelos desarrumados, tinha muitas olheiras, machucados e hematomas estavam espalhados por seus braços e pernas, seus olhos cinza tinham preocupação e dor. Meu coração doí ao vê-la assim.

A última vez que a vi foi na praia, parecia a tanto tempo, desde então eu só pensava em como ela estaria.

Nossos olhos se encontram e posso ver um sorriso se espalhar por seus lábios. Seus olhos se enchem de vida.

– Percy! – Ela se levanta, mas Rachel que estava próxima chuta sua barriga e ela cai.

– Acha que vou deixar você chegar perto dele? Ele é meu! – Fala ela. – Luke pode ir embora, vai dar uma voltinha por aí.

– Mas...

– Nenhuma palavra.

Ele sai ainda confuso e tranca a porta.

– Bem, Percy querido, eu vou te soltar, mas sem movimentos bruscos, acho que não é tão burro quando a sua namoradinha, não vai se arriscar levar um tiro como ela.

– O que?!

– Isso mesmo, Annabeth levou um tiro, logo que chegou aqui.

– Foi só de raspão. – Explica ela olhando pro chão.

– Isso que dá querer ser a heroína.

Ela me solta e a primeira coisa que eu penso é pular nela e matá-la, mas eu não seria tão burro, eu tinha que saber o que ela queria.

– Para o colchão, com ela. – Fala Rachel pontando a arma para mim.

Sento-me ao lado de Annie e pego sua mão, ela estava nervosa, sabia que seria difícil sairmos vivos daqui.

– Bem, agora a louca aqui vai falar um pouco, talvez muito. – Diz Rachel.

“Eu nunca fui uma criança muito normal, eu adora fugir de casa, e eu sempre vinha para essa floresta, esse lugar me fazia tão bem, eu corria por aqui sem destino. Até que um belo dia conheci um garoto, dois anos mais velhos que eu, tinha 9 anos, ele morava nessa casa junto com mais três caras, eles pegaram o garoto para criar quando ainda era pequeno.”

“Eles eram meio que uma gangue, viviam de vingança. Foram roubados por um grande empresário. O objetivo deles era se vingar dele. Eu comecei a frequentar essa floresta. Adotei eles como meus segundos pais, já que meu pai de verdade não se importava comigo. Eles me ensinaram tudo que sabiam. Com 10 anos eu já tinha sede de vingança pelo tal empresário. Já sentia raiva dele.”

“Então eles morreram, os três, o empresário mandou matar. Tiveram piedade de mim e do garoto. No leito de morte eles fizeram nós dois prometermos que continuariam o que eles não terminaram, nós vingaríamos sua morte. Então disseram, o empresário tinha um filho, se atingíssemos o filho atingiríamos o empresário. E assim seria mais fácil, o filho era da nossa idade. Eu e o garoto prometemos que faríamos de tudo. O garoto era Luke Castellan, o empresário era Poseidon e o filho do empresário era Percy Jackson.”

Minha cabeça girava, eu estava perdido, não conseguia processar tudo o que ela havia dito.

Então ela continua.

“Percy, minha sede de vingança vai muito além de um simples amor adolescente. Eu nunca te amei. Eu te odeio. Eu fiz tudo isso para vingar as pessoas que realmente se importaram comigo. Luke não é o ex-namorado de Annabeth, ele é o meu namorado.”

“Annabeth entrou no jogo quando você pareceu se importar tanto com ela. Eu havia achado um jeito de atingi-lo. Separei os dois. Então comecei a namorar com você. Cada beijo eu só conseguia pensar que aquilo era necessário, cada noite que passamos juntos era um sofrimento. Mas eu estava fazendo de tudo para cumprir o juramento. Separei você e seu pai, e não foram apenas ligação, eu fiz tudo que eu podia para manter vocês longes um do outro.”

“Então Luke foi para São Francisco, sabíamos que vocês são aquele tipinho de casal que temos que vigiar, e eu não podia deixar Annabeth aparecer naquele momento. Ele conquistou o coraçãozinho dela, estava tudo certo, logo iria voltar, eu tinha Percy em minhas mãos, iriamos dar a cartada final.”

“Então ele foi idiota o suficiente para te trair. Daí as coisas desandaram. Eu tinha que fazer algo. Matá-la. Então causei o acidente. Mas tudo ficou pior ainda, todos morreram, menos você. Sua mamãezinha foi te buscar e no momento que viu Percy na escola eu sabia que você traria problemas. Você sabia que eu tinha separado vocês. Eu precisava que Percy confiasse em mim. Só torci para que a armação que fiz tivesse funcionado e que vocês se odiassem, mas os seus amigos os ajudaram.”

“Durante o tempo que fiquei sozinha aqui tive que arranjar aliados, Lee, Calipso e Piper. Eles faziam as crueldades em meu lugar. Lee era como se fosse o meu capacho, eu fingia que gostava dele e ele me ajudava. Calipso queria Percy, então era fácil, eu prometi que teria ele e ela me ajudou. E Piper, bem, fiz um favor a ela. Matei Reyna. Ela era apaixonada por Jason, sem Reyna no caminho ficaria tudo bem. E inclusive Piper é a espiã. Silena descobriu isso ela estava dividida em contar e não contar. Mas isso eu explico depois.”

“Então vocês estavam juntinhos, e eu tinha que separa-los. Eu fiz o Percy descobrir a armação que fiz para separa-los, então ele foi tirar satisfações comigo, eu simplesmente mandei Lee bater o carro nele. Seria sorte, se ele morresse ótimo, se não morresse eu ainda teria minha vingança. Então Annabeth me “desmascarou” no baile. Eu sabia que ela faria isso e não me preocupava. Seria uma desculpa para mim sumir. Durante esse tempo fiquei preparando tudo. Vocês todos estavam inclusos no meu plano de vingança. Mas era tudo uma distração, eu queria atingir Percy.”

“Sequestrei Annabeth porque sabia que isso mexeria com todo mundo. E alias ela não sabe de nada do que aconteceu. Então vou contar: Thalia sofreu um acidente e perdeu a memória, Nico levou uma surra, Silena e Beckendorf morreram em um incêndio, ela descobriu que Piper era minha espiã, então botei fogo em sua casa com ela e o namorado dentro. Fiz tudo para parecer que eu tinha alguma obsessão por Percy. E agora estamos aqui.”

Eu ainda não consegui absorver tudo.

Eu. Era. O. Alvo.

Ela me odiava. Meu pai havia roubado uns caras que eram tipo uns pais pra ela. Luke foi criado por eles. Tudo foi uma mentira. Ela só queria me matar.

Eu e Annie ouvimos toda a longa história quietos. Do meu lado ela tremia e eu sabia que ela já esperava pelo próximo passo. Nós dois morrermos.

Eu teria que pagar por algo que meu pai fez. Mas ela... ela não tinha motivos para morrer, assim como Thalia, Nico e também Calipso, ela pode ter se aliado a Rachel, mas estava aqui para ajudar. Silena e Beckendorf não mereciam ter morrido.

– Agora está na hora de pagar pelo que seu pai fez. A tão esperada vingança.

– Acho que não. – Fala uma voz atrás dela.

Lee estava parado no alto da escada. Ele estava completamente desarmado.

– Você é um monstro. A única pessoa aqui que merece morrer é você, além de mim que acreditei em seu papo furado.

– Acha que...

Ele pula em cima dela que esperneia. Eu e Annie nos levantamos, pego a arma dela que estava caída no chão.

Lee pega ela pelos cabelos e bota de frente para mim.

– Atire.

Olho para ela. Minha ex-namorada, que só queria me matar. Mas olho por seu lado agora. Uma garota que os pais não se importavam, que fugia para uma floresta, onde conheceu um garotos e três homens que se importaram com ela, eles queriam vingança. Um grande empresário manda matar eles. Ela fica sozinha com o garoto, que viria a ser seu namorado, e um juramento de se vingar. Ela faz de tudo para conseguir isso.

Olho em seus olhos suplicantes. Eram repletos de carinho e amor. Fraquejo, minhas mãos tremem. Eu não podia.

– Percy! – Olho para garota atrás de Lee. Ela sim merecia algum sentimento sincero.

Firmo a arma em minha mão e atiro. Um grito ecoa pelo pequeno porão.

Lee larga ela, que cai no chão envolta de uma poça de sangue se formava.

Guardo a arma no balso.

– Annie.

– Percy.

Pela primeira vez em meses posso senti-la em meus braços.

Ela sorria e isso já valia a pena.

– Aham, ainda tem Luke. – Fala Lee.

– Isso, além disso Nico, Thalia e Calipso estão feridos no começo da trilha.

Vamos todos para lá.

– Annabeth! – Thalia se levanta e corre para ela. – Eu pensei que você estava morta.

As duas choravam e se abraçavam.

– Eu estou bem. – Fala Annie. – E vocês?

– Não foi nada de mais - fala Nico também se levantando, ele e Thalia tinham levado tiros de raspão no braço.

– Desculpe, por tudo que fiz. – Fala Calipso sentada no chão, ela tinha levado um tiro no pé e estava com expressão de dor.

– Eu também errei, desculpe. – Fala Lee.

– Vocês não sabiam de todo o plano.

– Que plano? – Pergunta Thalia.

– Depois explicamos. – Fala Annabeth. – Agora você tem que ir para o hospital.

Chamamos ambulâncias e eles são levados para o hospital, no final não havia sido nada de grave.

Não tínhamos visto Luke e deixamos o corpo de Rachel no porão. Ela merecia apodrecer para sempre lá.

Enquanto íamos embora Lee nos contou que foi capturado. Naquele dia que eu fui na casa dele ele havia brigado com Luke, depois naquele mesmo dia ele o capturou. Ficou preso em outra casa, onde ele descobriu tudo sobre Rachel e Luke.

– Mas como você sabia todos os atalhos dessa floresta? – Pergunta Annie.

Ele que olhava pelo retrovisor desviou os olhos.

– Eu apenas sabia.

Lee não fala mais nada e também não perguntamos.

Vamos para o hospital e ficamos esperando eles.

Preferimos não acionar a polícia nem nada. Isso teria que ficar apenas entre nós. Lee e eu poderíamos ser presos, isso não seria nem um pouco legal.

Contamos tudo para Thalia, Nico e Calipso. Eles ficam chocados, nunca imaginaram que isso poderia ser tão maior que apenas uma obsessão adolescente.

Levamos Annabeth para casa e Atena fica muito feliz. Não contamos a história toda, como por exemplo a parte de Rachel querer se vingar de meu pai, ou a parte de eu ter matado Rachel.

Ela concorda em deixar isso apenas entre nós, com a condição de eu não me meter mais em confusões para não prejudicar Annabeth.

Mas ainda faltava uma coisa. Falar com meu pai. Agora eu tinha a consciência de que tudo aconteceu por um erro dele no passado. Mas eu não queria brigar. Agora que estava tudo tão bem. Todos cometem erros, mas eu tinha que tirar essa história a limpo.

Estaciono o carro na garagem e já passa da meia noite. O dia tinha sido tão longo, mas ao mesmo tempo havia passado tão rápido.

Eu estava tão feliz e tão triste ao esmo tempo. Silena e Beckendorf estavam mortos. Mas eu tinha Annie de volta.

E só agora começava a cair a ficha que eu tinha matado uma pessoa. Eu, Percy Jackson havia cometido um assassinato. Eu era um assassino. Eu tinha 17 anos e era um assassino.

Tudo bem, ela era pessoa mais abominável do planeta, mas ela não tinha culpa, desde pequena sempre teve esse ódio plantado pelas pessoas que ela amava.

Respiro fundo e saio do carro.

No fim do corredor havia uma luz acessa. A do escritório de Poseidon.

– Posso entrar? – Pergunto batendo na porta.

– Pode. – Responde ele.

Eu não teria como esconder, não podia contar a história pela metade, e meu estado dizia tudo: Eu havia entrado em alguma briga feia. Meus cabelos estavam bagunçados, minha camisa todo rasgada, minha calça também, meus braços tinham muitos arranhões e eu sentia que em algum lugar na minha testa tinha um corte feio que precisaria de alguns pontos.

– Percy?! – Pergunta ele logo que entro.

Ele estava sentado em sua mesa cercado de papéis.

Sento-me na cadeira a sua frente e penso que essa era a primeira vez que eu parava para descansar hoje.

– O que houve filho?

Respiro fundo novamente e começo.

Desde o começo, a história de Rachel, a minha separação de Annabeth, tudo o que aconteceu até hoje.

Devo ter realmente demorado muito.

Poseidon me olha chocado.

– Eu... eu não consigo acreditar que eu causei tudo isso.

– Não estou culpando-o, mas eu só queria saber... você roubou esses homens? Você mandou matar esses homens?

– Bem, se eu realmente os roubei foi indiretamente, alguma coisa relacionada a empresa. Não que tenha sido por querer. E se eu mandei matar eles? Eu nem sabia da existência deles até hoje.

Balanço a cabeça positivamente tentando absorver não apenas o que ele disse como também o que havia acontecido o dia todo.

– Desculpe filho. Eu não fazia ideia de que algo tão grande poderia acontecer por minha causa.

– Passou... pai. – Digo sorrindo.

Ele também sorri.

Ele levanta e me abraça, era realmente raro quando ele me abraçava.

– Eu te amo, meu filho.

– Eu também, pai.

Vou dormir ainda feliz. Esse poderia ter sido o dia mais tenso da minha vida, mas mesmo assim eu estava feliz.

Quando estou trocando de rouba sinto finalmente algo em meu bolso. A arma que usei para matar Rachel. Guardo ela no fundo de meu armário.