Fico olhando dos livros para o bilhete e vice-versa. Ele realmente me conhecia bem. Eu queria realmente ir até seu quarto. Espera! Seu quarto? Mas então ele era como Peeta? Minha cabeça estava doendo com tanta informação e lacunas de informação. Mas quando voltei a mim mesma eu estava em frente à porta de Gale.

Fico uns segundos a encarar a porta do seu quarto. Por fim me resolvo a bater.

– Entre – Ele grita lá de dentro.

Eu entro mas não o vejo em lado nenhum. Mas ele me mandou entrar… então, onde ele está? Antes que chame por ele, Gale aparece vindo do que eu achava ser o banheiro apenas com uma toalha enrolada na cintura. Eu fico constrangida e também ele um pouco quando me vê.

– Oh, eu não sabia que era você. – Ele se desculpa.

Eu me lembro de tudo desde que saí de casa para a universidade. Me aproximo dele e lhe atinjo com um soco no rosto. Ele fica desconcertado, mas eu continuo tentando -lhe bater.

– MENTIROSO! – Grito.

– Kat, pára! – Ele tenta demover-me – Eu não sou mentiroso!

– Ah não? – Questiono irónica – Toda nossa amizade foi uma mentira! Você se fez passar por meu amigo para chegar a meu pai! Não se faça de inocente!

– O quê? – Ele me larga e se afasta – Kat eu nem sabia quem era seu pai até o dia que eles pegaram você. Nem sabíamos que ele tinha uma filha antes desse dia!

– Não sabiam? – Fraquejo.

– Não, eu juro. Aliás eu não colocava aqui os pés à muito, muito tempo. Eu só voltei quando me disseram que capturaram o filho de Snow. Não sabia que era você.

– Eu não acredito! – Digo e começo a sair do quarto mas ele me segura o braço, não com força suficiente para me machucar.

– Katniss olha para mim. Eu não trabalho mais aqui. Eu segui com minha mãe para longe de tudo isto. Eu não queria fazer parte disso. Mas quando te conheci nós nem sabíamos da existência de um filho de Snow. Como eu disse, só descobrimos no dia que te capturaram a ti e à Johanna.

– Johanna? – Eu questiono mas então me lembro que ela estava comigo na altura do rapto. – Oh meu Deus! Onde ela está? Ela está bem?

– Ela está ótima. – Ele esclarece. – Um pouco ressentida por não a terem reconhecido mas bem. O pai dela já veio buscar ela.

– Ressesntida? O pai dela esteve aqui? – Minha cabeça parecia andar à roda. Quanto mais parecia descobrir, mais segredos pareciam aparecer – Juro que se me disser que ela é como vocês…

– Não… - fala rapidamente – Não desse jeito. Seu pai é o Mayor dessa cidade e nosso cliente.

– Chega! Para mim chega! – Explodo.

Ele tenta me segurar de novo mas eu corro porta fora em direção ao meu novo quarto. Eu não sei mais no que acreditar. Como posso saber em quem confiar? Impossível saber. Me sento na cama me lamentando pelos últimos dias. Em apenas alguns dias minha vida havia ido pelo cano. Não que eu tivesse uma vida excelente mas era minha vida. Podia ser um patinho feio, uma renegada, mas pelo menos sabia meu lugar, quem eu era. Agora não tenho tanta certeza disso. Uma coisa ao menos essa situação toda me permitiu. Consegui a mudança que eu tanto queria. Não era de visual, não, era mais que isso. Já não sou a garota ingénua. Não. Pelo contrário, eu agora era movida a vingança. Com esse pensamento, tomei um duche e me vesti. Sim, acho que essas roupas servirão seu propósito. Saí do quarto sorrateiramente mas parecendo à vontade para ninguém desconfiar de algo. Não encontrei ninguém no percurso.

Cheguei à garagem e me decidi por uma moto preta. Era com certeza o meio mais rápido. Abri a garagem e arranquei sem olhar para trás. Quando cheguei ao centro da cidade, parei em frente a um cibercafé. Me sentei em frente a um computador e pesquisei o que eu queria. Soltei um sorrisinho quando encontrei. Montei rapidamente a moto e arranquei, agora com um destino a seguir. Em pouco mais de dez minutos me vi em frente a um enorme portão da mansão. Me aproximei e um guarda logo se prostrou na minha frente.

– Pois não? – Ele falou rude – A senhorita devia dar meia volta. Aqui não é lugar para garotinhas.

– Oh eu sei, mas tenho a certeza que o seu patrão ficará surpreso em me ver. – sorrio.

– Veremos. – Ele fala enquanto alcança um rádio transmissor. – Qual seu nome?

– Diga que Katniss Everdeen está aqui para se desculpar. – Ele acena e se afasta para reportar para alguém.

Após uns minutos ele volta e carrega no botão. O portão faz um barulho estridente e começa a abrir-se. Eu passo e começo a caminhar para dentro.

– Espere. Tenho ordens para a acompanhar. – Ele fala.

– Tudo bem. – Encolho os ombros.

Rapidamente entramos na casa e ele me guia por corredores imensos. Ficamos de frente para uma porta de mogno e ele a abre. Eu espero que ele entre mas o guarda faz sinal para que eu entre e depois desaparece. Entro e fecho a porta em seguida.

– Vejam bem o que o vento trouxe! – Shadow se levanta da sua poltrona vermelha. Eu quase quero recuar ao ver esta cara de novo, o cara que me comprou como uma escrava.

– Eu vim me desculpar – Me aproximo sedutoramente – Eu fui uma garota tola.

– E não é mais? – ele zomba de mim. Engulo o nojo que tenho por esse homem e me aproximo ainda mais. Sinto seu hálito de álcool.

– Não mais – sussurro e roço meus lábios na pele do seu pescoço. Ele não perde tempo e me agarra a cintura. Seguro meus impulsos.

– Boa garota! – Ele começa a beijar meu pescoço.

– E que tal celebrar? – pergunto me afastando subtilmente. Ele me olha desconfiado – Pelo meu regresso, quero eu dizer.

– Não é uma má ideia. – Ele sorri e clica num interfone – Jonas, trás uma garrafa de champanhe agora!

Eu me sento no sofá e ele logo vem também se sentando ao meu lado, agarrando e tocando minhas coxas. Felizmente o champanhe logo chega o distraindo. Ele pega os copos e serve um para mim e outro para ele. Finjo beber enquanto ele bebe de uma vez só o seu e enche de novo. De copo na mão ele torna a aproximar-se. Deixo meu copo cair no piso e ele afasta-se assustado.

– Ai, como sou desastrada! – Minto. – Desculpa.

–Deixa lá isso. Alguém irá limpar. Vamos para meu quarto – Fala olhando toda a extensão do meu corpo.

– Me mostre o caminho – Faço um gesto para ele ir na frente. Ele se aproxima da porta do escritório, eu pego na garrafa de champanhe e acerto na sua cabeça com toda a força que consigo reunir.

Me apresso a fechar a porta à chaves e a procurar.

Finalmente, encontro o que procurava, destranco a porta e saio dali. Vejo uma funcionária aparecer.

– Hum, acho melhor não ir agora. Ele está bastante irritado com algo. Acho melhor voltar depois. – Ela me olha com compreensão de desaparece. Bom, acabei de ganhar algum tempo para sair dali sem ser pega.

Saio da casa andando descontraidamente até ao portão. O guarda de antes estava um pouco afastado falando com alguém pelo rádio. Carrego no botão na mesma hora que ele me vê. Pelo olhar vejo que já encontraram Shadow. Ele começa a correr até mim tentando -me impedir de fugir. Salto para cima da mota e a ligo rapidamente, acelerando a fundo, deixando o guarda e aquele sitio para trás.

– Onde raios você esteve? – Grita Peeta quando chego à garagem – Você levou minha moto?

– Ei, calma. – Levanto as mãos em rendição – Só precisava respirar!

Ele me olha tentando intercetar a mentira. Eu tento ao máximo colocar uma mascara indecifrável no rosto

– Está mentindo! – Ele cruza os braços. – Onde. Você. Esteve?

– Não. Te. Interessa! – Cuspo.

– Peeta, até que enfim que te encontro - aymitchhh Haymitch chega ofegante. – Acabamos de receber a informação que Shadow está morto. Assassinado.

– Assassinado? Por quem? – Ele questiona e eu começo a suar frio.

– Ainda não sabemos. A única coisa que sabemos por agora é que ele estava com uma garota que pode ser a homicida.

Peeta assimila as palavras do pai e depois arregala os olhos. Ele roda a cabeça na minha direção e caminha para perto.

– Katniss, o que você fez – Ele questiona com um tom de voz tão sereno que era malditamente assustador. Recuei uns passos mas ele me agarrou- me impedindo de me mover.

– Katniss? O que está falando Peeta? – Seu pai estava confuso.

– Pergunta para a garota que estava com Shadow esta noite pai. – Ele me puxa, me deixando frente a frente com seu pai cujos olhos brilham de entendimento.