Ice Prince Passion escrita por Annie ONeal


Capítulo 8
As Palavras Não Ditas


Notas iniciais do capítulo

Então, mais um capitulo... Não ficou muito grande e foi meio de ultima hora, mas espero que tenha ficado aceitável... Divirtam-se =3


Yell's POV



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  A gente conversou madrugada adentro. Incrível como eu nunca me cansava de saber mais sobre ele, de ouvir a voz dele. Eu não falei muito, sou bem reservado, mas até que dividi um pouco com ele sobre a minha família. A minha família problemática. Íamos, aos poucos, nos conhecendo.

  - Meu pai é um pai ausente, só liga pros assuntos de governo, dinheiro, poder.

  - Eu nem tive pai. – Allen riu, sem nenhum traço de humor. – Minha tia que me criou, não sei nem do meu pai nem da minha mãe. – Me senti estranhamente mal por ele.

  - Bom, pelo menos você teve sua tia. Eu fui quase renegado. – Uma pausa silenciosa se seguiu.

  - Por que renegado? – Ele perguntou depois de um tempo.

  - É quando os pais não te querem. Ele só precisam de mim para ter o herdeiro.

  - Eu sei o que significa, estou perguntando a razão. – Fiquei quieto. Ele suspirou. – Olha se não quiser contar tudo bem.   – E não eu não queria. Ficamos um tempo em silencio, e aos poucos a respiração dele foi ficando mais profunda e ritmada, e percebi que ele tinha dormido.

  Com um sopro gelado e um movimento suave com a mão, apaguei todas as velas do quarto e o ambiente mergulhou numa na penumbra escura da noite. Olhei pra ele e sorri. Um sorriso de verdade dessa vez, que eu não deixava ninguém ver, meu sorriso sincero. Devagar para não acordá-lo, fiz um carinho leve no rosto dele. Ele suspirou, mas não acordou. Passei as pontas dos dedos delicadamente pela bochecha, desci pelo pescoço e parei no peito dele, logo acima do coração.

  As batidas fortes e ritmadas me encheram de calma e pela primeira vez em muito tempo, me senti... Bem. Tirei a mão e pousei minha cabeça no lugar, ouvindo a vida dentro dele. Não consegui reprimir outro sorriso. Mas levantei a cabeça minutos depois, sabia que, se continuasse daquele jeito ia acabar dormindo ali.

   Desci da cama e saí do quarto o mais silenciosamente possível. Voltei para meu quarto nas pontas dos pés, precisava estar lá quando Meena chegasse, ou ela desconfiaria. No quarto de Alyss é que eu não ia estar, e ela sabia disso.

  Voltei e me enfiei debaixo das cobertas, mas é claro eu não dormi. Algum tempo depois ouvi Meena entrar no quarto. Devia ser de manhã, cedo demais no entanto. Enrolei um pouco e por fim, decidi levantar. Era melhor fazer algo de útil. Meena me vestiu e eu sai do quarto pensando na ironia de ter entrado poucas horas antes.

  Antes de prosseguir, parei cinco passos adiante em frente à porta ao lado da minha. Dei um suspiro. Fazia mais de uma semana que não entrava ali, desde... Desde que conhecera Allen. Eu não sentira necessidade da companhia dela, não sentia culpa, não sentia vontade de rezar pra ela. Não que eu acreditasse que ela ouvia, mas eu tinha visto minha mãe fazer uma vez e fazer algo, qualquer coisa que ela fazia, me fazia sentir mais próximo dela, de alguma forma.

  Toquei a maçaneta pensando que eu queria contar pra ela sobre Allen, pedir uma luz, um conselho sobre Alyss, e sei lá, rezar um pouco. Mas não deu tempo de pegar a chave que eu escondia num colar no pescoço, por que ela, sim, minha queridíssima noiva, apareceu no corredor gritando bom dia.

  - Bom dia Alyss. – Eu respondi entredentes. Ela tentou me beijar, mas desviei o rosto. Ela não ligou.

  - Vamos tomar café? Eu estava esperando por você! – Como era possível uma criatura ter tanta energia de manhã?! Me arrastei atrás dela tentando calcular quanto tempo eu tinha que ficar com ela até conseguir escapulir sem deixa-la “sentindo minha falta”.

  A sala que ela tinha escolhido já estava arrumada, a mesa posta e inundada pelo aroma fresco dos Lírios de Inverno que decoravam. Era tudo tão cheio de frufru que me senti enjoado antes mesmo de comer. Me sentei ao lado dela por que ela estava agarrada em mim. Me servi de uma xícara de chá tentando entrar no piloto automático.

  - Ah, eu estava para te perguntar, você sabe se o seu guarda está... Sabe, com alguém? -  Quase cuspi o chá.

  - Como é?

  - Se ele tem namorada, noiva, o que seja... Por que sabe, a Wine parece ter gostado muito dele. Não seria legal um casamento duplo?? Eu e você, e minha dama e seu guarda... Ah, ia ser tão romântico! - Não, não ia. Senti algo borbulhar dentro do mim, mas me recusava a achar que era ciúme. Eu só estava irritado por que Wine era a ex dele, e se eles não estavam mais juntos, deveria ser por uma boa razão. Tipo ela ser uma manipuladora da Guilda de Fogo.

  - Falando de mim? – É só falar no demônio que o rabo aparece. Wine entrou na sala, como se fosse dona do lugar. Ela tinha uma postura que quase ofuscava a princesa. Alyss parecia não perceber. Ela não percebia nada.

  - Ah, sim, eu estava falando com o Yell sobre um casamento duplo! Não ia ser demais? – Wine sentou-se à mesa na minha frente.

  - É, ia. – Ela deu um sorriso pra mim que qualquer outra pessoa interpretaria como simpático mas eu via além dele. Ela estava me provocando. Ela devia saber, ou estava de blefe e eu não gostava de nenhuma das duas alternativas.

  - A gente podia usar vestido que combinassem! E buquês! Ah, vai ser tudo tão lindo!

  - É claro. Você também está animado, alteza?

  - O suficiente. – Disse frio.

  - É claro. Você tem outras coisas mais importantes com as quais se preocupar não é? – Soava como um desafio.

  - Com certeza.

  - Mas quando você se casar, sabe que essas coisas não podem mais ser as mais importantes não é?

  - O que é importante pra mim, é da minha conta e de mais ninguém. – Vociferei. Ela estava passando dos limites. Ambos sabíamos bem que não se tratava mais de ‘coisas’, mas sim de ‘quem’.

  - Espero que sim. A vida privada deve ser mantida atrás de portas fechadas certo? – Deus, ela era impossível. Isso era uma ameaça? Como ela podia saber?

  Ela deu um sorriso e seus olhos tinham um brilho perigoso, como se ela não soubesse de nada e sua única intenção fosse me deixar paranoico. Bom, ela estava conseguindo. Mas eu podia jogar esse jogo também. Allen não tinha me falado nada ainda, apenas que ela tinha sido “algo do passado”.  Resolvi usar a mesma estratégia e blefar.

  - Certo. Especialmente se envolvem o passado. Devem ficar atrás de porta trancadas. – O sorriso dela desapareceu. Ok, esse round eu tinha ganhado. Alyss acompanhava a discussão como quem acompanha uma partida de tênis, mas tinha um olhar confuso de quem não entendera. Quando a pausa se prolongou ela deu um sorriso hesitante.

  - Que bom que vocês estão se dando bem...! – Eu tirei o guardanapo do colo me levantando.

  - Estou satisfeito. – Mesmo que não tivesse comido nada. – Com sua licença, jovens damas. – Alyss sorriu e assentiu, mas Wine sequer me olhou.

  - Te vejo mais tarde na Recepção Formal? – Ah, sim, aquela maldita festa desnecessária, entre as cortes que meu pai insistia em dar. A parte boa da tradição é a constante repetição, meu pai não cansa de dizer. Assenti meio sem querer e saí da sala.

  Fiquei pensando num lugar para ir que Alyss não me achasse. Wine provavelmente procuraria Allen e eu não queria estar perto quando ela o fizesse, então não podia procurá-lo ainda. O único lugar de todo o palácio que ela não pensaria em me procurar seria a biblioteca, então fui pra lá.

  Antes de entrar tive aligeira impressão de que estava sendo seguido, mas ao olhar por sobre o ombro não vi ninguém, apenas o corredor vazio. A paranoia de Wine estava me subindo à cabeça.

  A biblioteca estava calma e silenciosa, perfeita para me ajudar a pôr os pensamentos em ordem. Eu precisava me acalmar! Não era como se ela soubesse, não tinha como saber. Eu já estava com mania de perseguição, algo que sempre acontecia quando ela estava por perto. Ela tinha uma aura simplesmente perturbadora. Me aproximei da grande janela e olhei pra fora.

  O dia estava bonito, o céu azul sem nuvens e a neve branca pura estendida pelas montanhas abaixo. Eu suspirei encostando a cabeça no vidro frio; as coisas estavam ultimamente estavam me deixando exausto. Eu sempre reclamara de tédio e agora parecia que tudo estava acontecendo de uma vez.

  Quando levantei os olhos vi um reflexo no vidro da janela, alguém estava bem atrás de mim. Mania de perseguição ou não, a pessoa fora silenciosa o suficiente para entrar ali despercebida. Antes que eu pudesse me virar para distinguir o vulto, uma mão forte agarrou minha nuca e empurrou minha cabeça para frente com toda força.

   Ouvi o barulho de algo trincando, e não sabia se era o vidro ou a minha própria cabeça. Senti a dor se espalhando e me deixando mais confuso do que já estava e a tontura foi a próxima coisa que senti.

  - Isso é só um aviso alteza. – A voz estava baixa e sombria, e eu não conseguia dizer se era feminina ou masculina.

  Essa foi a última coisa que ouvi antes do próximo impacto e as trevas.

    


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Notas finais do capítulo

Calma gente, vaso ruim não quebra... Mas tem sempre exceções né?

Comentários são puro amor *-*

Até o próximo o/