Fomos conduzidos para uma sala um pouco distante da que estava com o Conselho, e eu achei isso bom. Assim que a porta se fechou, Yell começou a falar, as palavras caindo como uma cascata.

– Olha, eu sei, você deve estar puto comigo, com meu pai, com todos, e eu não te culpo sabe, eu fiz por merecer, acho que você vai adorar a Guilda de Fogo mesmo que nunca tenha ido, e a Alyss te adora, agora você tem-...

– Yell. – Apenas uma palavra, e ele se calou. Não estava olhando para mim, mas eu pude ver que ele se esforçava para não chorar. Eu estava abismado, de uma maneira boa. Era a primeira vez que eu o via demonstrar algum tipo de emoção. Tirano quando eu voltara do pátio de execução, quando ele pareceu um pouco preocupado. E carinhoso.

Ele ainda olhava para o chão, e o puxei pela mão até um dos sofás. Ele foi, sem oferecer resistência, e se sentou do meu lado. Eu estava extasiado por finalmente conseguir fazer ele demonstrar alguma coisa por mim, alguma coisa concreta e intensa assim. Toquei-o no rosto, um carinho leve, e ele fechou os olhos apertando os lábios.

– Yell, olha pra mim. – Depois de alguns segundos ele ergueu o rosto cravando aquelas orbes azuis celeste em mim. A mão dele subiu, segurando a minha que ainda estava em seu rosto. – Por que esse desespero? – Eu sabia, mas queria ouvi-lo dizer. Só uma vez, queria ouvi-lo dizer.

– Você vai embora, - Ele disse num fio de voz. – E eu vou sentir tanto sua falta.

– Eu não vou embora ainda. – Eu disse. – Estou fraco ainda, é uma viagem longa e eu estou machucado... – Pus a outra mão sobre meu peito onde finas linhas cor de rosa riscavam minha pele por baixo da camisa e Yell franziu a testa como se pudesse vê-las.

– Você não está mais tão fraco assim. – Eu deu uma risadinha.

– Tem razão. Eu devia ir então? – Eu disse brincando, com um sorriso, para Yell ver que eu não estava falando sério. O príncipe só revirou os olhos.

– Está se achando demais já. A realeza lhe subiu a cabeça.

– Eu precisava de um desculpa para ficar mais tempo aqui, Yell – Disse eu, sério dessa vez. – Por que eu acho que eu e você... Precisamos pensar juntos num jeito de resolver essa questão da distância, por que eu tenho uma nova casa pra ir e não vou aguentar ficar longe de você. – Para a minha surpresa, Yell riu, enquanto uma única lágrima, lhe descia pela face.

– Por todos os Deuses, Allen! Você me assustou de verdade. Achei que você... Você ia...

– Eu nunca seria capaz de te deixar. Você enfeitiçou meu corpo e alma dês da primeira bola de nele que jogou em mim. – Eu disse arrancando outra risada. Limpei a lágrima do rosto dele. – E eu aprendi a amar você. A gente vai ficar junto pra sempre, nem que pra isso seja necessário juntar os dois reinos.

– Allen, eu-...

O calei com um beijo. Em parte por que não suportava mais ficar tão longe dele e em parte porque não queria ouvir. Não era hora de conversar, era hora de fazer o que não tínhamos feito noite passada. Hábitos são difíceis de serem quebrados, e uma noite sem ele já fazia eu sentir uma abstinência enorme. Coisas como distancia podiam ser decididas depois.

Ele retribuiu sem hesitar e não demorou muito para estarmos engalfinhados um no outro sobre o sofá. Yell congelou a maçaneta da porta por dentro para ser impossível abrir, conseguindo a perícia sem precisar para o que estávamos fazendo. Impressionantemente excitante.

Enfiei as mãos por debaixo da camisa dele sentindo ele arrepiar sob o toque da minha mão. Os gemidos dele me enlouqueciam e um fogo parecia queimar dentro de mim. Era mais o menos como duas noites atrás, mas dessa vez Yell estava mais que presente e as coisas não soavam como uma despedida.

– Me deixa ficar por cima dessa vez... – Ele murmurou, com a boca sobre a minha.

– Você pode tentar. – Respondi, por que sabia que ele adorava uma provocação.

*¨*¨*¨*¨*¨*

Deitado sobre o tapete com Yell descansando sobre mim horas depois, fiquei grato pelas salas serem distantes. Eu estava no céu. Estava com a pessoa que amava, não era uma relação platônica e eu tinha uma família, e era um príncipe... O que mais se pode querer? As coisas estavam perfeitas.

Yell fazia um carinho distraído no meu peito, seus dedos acompanhando as linhas.

– Vai ficar cicatriz pra sempre sabia? – Ergui os olhos para ele. – Por que foi uma ferida profunda com um elemento oposto ao seu.

– Não ligo. – E eu estava sendo sincero. – Me lembram você. É só o que importa.

– Me desculpe – Ele disse abaixando a cabeça.

– Já te disse, não importa. – Fiz uma pausa. – Eu fico apenas curioso por que você não disse nada, não precisava falar sobre nossa relação, mas por que não disse que eu realmente não sabia?

– Por que não ia fazer diferença. – Ele fez uma pausa. – E por que... A idéia de ter algo pelo qual lutar me assustou. Eu nunca precisei lutar por nada antes, por ser um príncipe tudo sempre foi me dado. Terem tirado você de mim me fez... Crescer, acho.

– Hm. – Ficamos em silencio um tempo até eu lembrar do que Alyss tinha me dito nessa manhã. – Fiquei sabendo que Manfred foi preso e está sob pena de morte por traição?

– É. – Yell concordou.

– Perfeito.

– Por que? – Yell levantou a cabeça e me encarou. – Ele também te falou coisas horríveis e te ameaçou?

– Algo assim. – Disse. Não ia contar pra ele o que houve lá embaixo, nunca. Não havia necessidade, não mais. Isso morreria comigo. Depois de um tempo Yell soltou uma risadinha.

– Acho que meu pai não vai precisar se preocupar com a paz entre os reinos... Acho que os príncipes estão muito de acordo. – Eu ri e concordei. Yell mordeu o lábio inferior e me olhou. – Sabe...

– O que...? – Perguntei.

– É só que... Eu te amo também.

E o beijo que ele me deu em seguida tornou as coisas ainda mais perfeitas.

~Fim~