Um Outro Conto de Fadas escrita por Ryuuzaki
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Um homem perscrutava através da janela do quarto da garota. Havia acabado de chegar no andar da escada de emergência que correspondia ao da casa da menina. O estranho parecia procurar alguma coisa, havia olhado por todas as janelas as quais passara, até chegar ao terceiro andar, onde se encontrava. Seus olhos se arregalaram ao esticar o pescoço um pouco mais para a direita e com isso tendo a visão da delicada cama da criança, segundos depois fez uma expressão que era um misto de alegria e satisfação. Tinha acabado de encontrar o que procurava.
Como tinha que se esticar e retorcer o pescoço para conseguir observar o que procurava, o desconhecido mudou de posição, subindo um pouco os degraus e conseguindo uma linha de visão direta para onde a menina estava deitada. O intruso demorou-se observando a pequena dormir, primeiro para suas delicadas feições em especial as bochechas redondas e salientes, em seguida demorou-se nos lábios finos e rosados, que estavam entreabertos, - cerrou os olhos para poder enxergar melhor e fez cara de alguem que se esforça para pensar, era como se estivesse tentando identificar alguma coisa – por ultimo contemplou o movimento constante do lençol azul claro, que denotava a respiração da criança. Teve certeza que ela dormia.
Qualquer um que visse a cena e não estivesse por dentro da cabeça do homem, pensaria que ele era um maniaco, um pedófilo à observar sua próxima vítima. Mas não, estariam redondamente enganados.
- Pedófilo?! - sussurrou o homem para o vento – ...Cada coisa que inventam... - deu um risinho sarcástico, tipico de quem achou uma história absurda.
Uma brisa atingiu o homem e ele tremeu. Esfregou as mãos nos braços e nas coxas, tentando se aquecer - A noite estava fria – .Acabou por se arrepender de não ter saído agasalhado de seu esconderijo. A calça jeans que usava, mesmo rasgada em alguns pontos e desbotada em vários outros até que ajudava a manter o frio longe de suas pernas, também não tinha muitos problemas com os pés, já que os pesados coturnos que calçava impediam a passagem do frio. No entanto, a camiseta preta que vestia não contribuía em nada para proteção contra baixas temperaturas tampouco a camisa de botão, quadriculada, que usava aberta, como um casaco. Seus cabelos curtos e castanhos claros, que, com a ventania, insistiam em cair sobre os olhos a cada instante - balouçavam nós locais não protegidos pelo chapéu estilo western que usava e se eriçavam onde era mais curtos - , por culpa do vento gelado, a pele branca do rapaz, que tinha na faixa dos vinte e cinco anos, ficava arroxeada em alguns pontos pelo menos motivo. Seus olhos não podiam ser vistos, escondidos pelas sombras criadas pelo chapéu.
Seu rosto de garoto novo, liso como o de um nobre europeu se contorceu por alguns segundos conforme inclinou a cabeça para atras e o homem segurou seu chapéu, com uma das mãos, enquanto, com a outra, abafava um espirro indesejado, que poderia alertar alguem sobre sua presença. Quando tirou as mãos do rosto, percebeu que seu nariz -um nariz arrebitado, que lhe dava um ar petulante – havia ficado vermelho e um tanto quanto sujo de catarro. A primeira coisa lhe veio à mente foi em quanto essa situação embaraçosa havia atrapalhado em sua descrição na historia.
Limpou a secreção com as costas do braço, não ligando muito para o a opinião que as leitoras iriam ter sobre o ato e tirou do bolso, com todo o cuidado que poderia reunir – como se estivesse lidando com a coisa mais importante de sua vida – um pequeno objeto achatado e circular, muito parecido com uma bússola, porem com algumas diferenças que descartariam esse palpite. Não havia nenhuma marcação que indicasse os pontos cardeais, o que deveria ser agua se apresentava como um liquido viscoso e um pouco esverdeado – semelhante à azeite -, o ponteiro não existia, em seu lugar havia seis fios de pêlo, que lembravam bigodes de um gato e um dente que parecia ter pertencido à uma criança.
Olhou para seu estranho pertence por alguns instantes, como se esperasse algo. Impaciente, chacoalhou o objeto e então aconteceu o que deseja. Lentamente os fios que estavam dentro do liquido começaram a se enrolar no dente e então, alguns instantes depois, apontaram todos para uma mesma direção: Para a garota que dormia. Ele sorriu com o efeito de sua bússola pitoresca e então, sem demonstrar um pingo sequer de seu antigo apreço pelo instrumento, jogou-o com descaso para atras, como se fosse o papel de uma bala, quicando duas vezes no andar da escada antes de passar pela grade de proteção e cair em direção ao solo, quebrando e espalhando seu conteúdo pelo asfalto contudo o jovem não se importou.
Ao invés de atentar para o acontecido, falou em direção ao vento frio da noite:
- Vocês devem estar aí imaginando o que eu vou fazer agora, talvez pensando que vou fazer algum mal à garotinha, ou talvez até mesmo pensando se não sou eu a “fada-dos-dentes”. Bem... Spoiler para quem quiser: Não sou. - fez uma pausa – Estou aqui esperando pela tal fada. E quando ela vier...
O jovem puxou de um coldre - cuja tira passava pelo seu ombro e ao redor do pescoço, escondendo completamente o aparato -, que estava por dentro da camisa de botão, uma pistola prateada, grande e pesada, cujo um dos lados trazia os dizeres: “.44 Sword Cutlass”. Agachado, apontou o cano da arma para cima - sem estender o braço, apenas usando o pulso – e olhou para uma câmera imaginaria que estaria em algum ângulo à cima dele.
-... “I'm gonna kill Bi...” Digo... A fada... Sim, vou matar a fada. *
Sorriu com o canto dos lábios e com a ponta de sua arma, levantou de leve a aba de seu chapéu, deixando seus olhos ficarem visíveis pela primeira vez e, mesmo banhados precária daquela escada, era claro: Era o olhar de um louco.
Assim como Faye, Owen Hughes, esperava pela fada.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
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* Frase do filme Kill Bill
Owen é, dentre minhas criações, meu segundo personagem preferido. Espero que gostem dele