John demorou pelo menos mais uns quinze minutos para se recompor o suficiente para conseguir do armário de limpezas.

Saiu correndo pensando estar atrasado, mas ao chegar ao escritório de Greg não havia ninguém além de Sally que estava sentada no sofá aguardando.

– Limpando muito? – esta riu apontando para o seu ombro e só neste momento ele viu um pedaço de pano de chão sujo pendurado.

– Oh. É...- riu sem graça enquanto se livrava deste.

– Eu também...os finais de semana nunca duram o suficiente para se limpar tudo não? – Donovan brincou, mas como nunca fazia isso, John conseguiu apenas sorrir ficando ainda mais sem graça.

– Oi gente! Desculpe-me...estava falando com minha esposa. John! Cadê o Sherlock? – Greg entrou na sala sentando-se em sua mesa.

– Eu não faço a mínima ideia...- este respondeu e neste momento Holmes entrou na sala de maneira elegante enquanto devorava um picolé de morango.

– Oh, chegou quem estava faltando! Bom, eu chamei vocês aqui porque...- Lestrade começou a explicar, mas John não conseguia se concentrar em nada além da boca do moreno muito vermelha por causa do corante, sua língua passando por todo o doce.

Seus olhares se encontraram e Sherlock piscou enquanto Greg conversava diretamente com a sargento.

– Você nem ao menos gosta de sorvete...- John disse em voz alta enquanto sorria o que fez todos o encararem.

– Estava com vontade. – Sherlock respondeu lambendo seus lábios e jogando o palito no lixo assim que terminou.

– Oh. Obrigada por compartilharem isso...e nos interromper. O que estávamos falando, John? Você ao menos ouviu algo? - Sally questionou mal humorada.

– Ah...é...eu...- o loiro gaguejou.

– Vocês estavam, inutilmente, dizendo que o casal pode ter sido assassinado pela máfia. – Sherlock respondeu secamente.

– Inutilmente? Como inutilmente? Eu...- a mulher já ia interrompendo quando Greg teve que interver.

– Gente, ok...vamos partir para o que temos de concreto, está bem? Sally, nos conte...alguma novidade sobre Amélie?

– Oh, sim. Claro. Amélie se recupera muito bem e deve sair do hospital dentro de alguns dias!

– Graças a Deus. – John sorriu trocando um olhar com Sherlock.

– Mas nem tudo são flores...os avós, tanto por parte de pai quanto por parte da mãe não possuem interesse e nem condições para terem sua guarda, portanto ela será enviada para um orfanato do governo até ser liberada de volta para seu país de origem, o que é algo controverso pois Ester era francesa...e estava ilegal também em Amsterdã, enquanto ele era filho de uma família sem registros certos.

– Oh. – Watson e Greg responderam juntos.

– Bom, é isso. Por enquanto. Tenho que ir...até mais Watson...Lestrade. Qualquer novidade vamos nos falando! – Sally disse saindo da sala.

– O que houve que ela está tão irritada? – Greg questionou.

– Anderson a traiu com uma mulher mais velha e menos atraente. Inesperado e ainda assim inevitável. – Sherlock respondeu sério, mas isso fez os outros dois gargalharem.

– Bom, pelo menos sabemos que Amélie está bem, certo? Pobre criança...Holmes, o Adam me ligou ontem dizendo que não conseguiu voltar ainda porque...- o inspetor começou a conversar com moreno, mas de novo o médico se perdeu em seus pensamentos.

Ele deveria tentar ao menos? Havia todo um discurso pronto pelo menos. Sorrindo, ele decidiu que pediria para Sherlock. Amélie, como tudo que acontece de maravilhoso na vida, havia chegado finalmente e estava apenas esperando pelos dois.

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Três dias depois...

John ajudou Sherlock a tirar o casaco e colocá-lo na cadeira enquanto este se sentava.

– Uau...fazia um bom tempo que a gente não vinha aqui no Giovanni’s...- o loiro comentou sorridente enquanto pegava o cardápio, ajeitando-se também.

– Dois anos e três meses para ser mais preciso. Algo de especial ocorreu, John? – Sherlock respondeu enquanto bebericava sua água e olhava sem interesse para a página com os petiscos.

– Oh...nada...quero dizer, temos que jantar mais vezes fora, não acha? Uma noite de sábado linda como essa é para ser comemorada.

Seus olhares se encontraram e John sabia que não poderia fugir por mais tempo. Era impossível.

– Você prefere me contar assim que terminarmos nossa refeição, eu aceito isso. - o moreno respondeu pacientemente.

– Ok. Certo. Eu não quero e não vou mais adiar isso. Já tem um tempo que eu...droga, desde que eu me conheço eu sempre quis isso...e com você ao meu lado, eu não vejo como não poderia ser perfeito. E eu sei que você não quer...eu entendo. Eu sei as implicâncias disso também, mas pedirei que reconsidere.

– Você está se justificando antes de ter me dito o que deseja tanto, John. – Sherlock respondeu com um meio sorriso.

– Eu quero ter filhos com você, Sherlock. É isso. Eu sempre quis e agora neste exato momento eu quero ainda mais. Nós estamos mais fortes do que nunca...eu te amo a cada dia mais e eu sei que seremos ótimos juntos.

– Filhos?

– Sim! Eu sei que você não tem muito contato com crianças...além do Louis. Mas é que eu acho que nós dois juntos, por mais absurdo que pareça, seria fantástico...iria funcionar. Já pensou? Nós dois juntos formando uma família? Uma extensão do que somos e acreditamos? Eu sei que a nossa vida é uma loucura, nossas profissões são arriscadas, mas Sherlock...eu quero tanto isso com você. – John respondeu quase ficando sem fôlego.

Sua mão estava sob a mesa quando o detetive a segurou por breves segundos se certificando antes que ninguém os olhava. Trocando um sorriso, Holmes observou o médico completamente nervoso à sua frente.

– Por que não me disse então? – perguntou.

– Por que...por que eu não te disse? Bem, eu...meio que tenho esse jeito natural de dizer sabe: “sou para casar” e “adoro crianças” e...

– John, isso eu já sei há quase sete anos. E você já havia deixado também bem claro, não se lembra? Quando me pediu em casamento? Você disse: “Eu quero tudo. Porque nós merecemos e podemos isso. Você é tudo o que eu sonhei...eu quero passar o resto da minha com você. Quero ter uma família com você.” – Sherlock sorriu carinhosamente.

– Oh. Deus. Verdade...minha memória é péssima mesmo. Sim, eu já havia dito...mas se você sabia a todo esse tempo...

– Por que eu não disse nada? Bem, porque você tem razão. Nosso trabalho é uma loucura, nossas carreiras são difíceis e achei que fosse reconsiderar. Mas percebi como almeja isso, John e eu jamais pediria para abrir mão de algo que deseja tanto. Você está certo também quando afirma que eu não sou bom com crianças. Para falar a verdade eu não tenho jeito e nem muita paciência. Mas com você, com você, John eu sei que eu posso conseguir.

John abriu um enorme sorriso, mas em seus olhos castanhos havia lágrimas. Ele sabia que Sherlock estava abrindo mão de muitas coisas para concordar com ele e prova de amor maior do que aquela não havia.

– Quando eu penso que não posso te amar mais... - este respondeu inclinando-se e beijando-o de maneira carinhosa.

Os dois trocaram um sorriso enquanto John segurava com força suas mãos por cima da mesa. Tais demonstrações de carinho eram raras, por motivos óbvios, mas agora nenhum dos dois se lembrava disso.

– Então, é isto. Vamos adotar Amélie. – Sherlock respondeu ainda sem graça pela manifestação espontânea.

– Sim...precisamos ver os detalhes. Não é perfeito? Já é e ela só nos deixará ainda melhores. – John respondeu agora chorando de alegria.

– Sim, ainda mais perfeito. Mas você precisará me ajudar porque eu não sei como...

– Você será perfeito, Sherlock. Assim como tudo em você...e tudo o que faz, eu tenho certeza absoluta que será um pai perfeito para ela. – John o interrompeu educadamente, beijando suas mãos, enquanto os dois trocavam mais um sorriso. A noite apenas se iniciando com aquela grande decisão e motivo de muita comemoração.