Andy saiu do canto mais escuro do porão, rindo. Tentei de todas as formas sair dali, reagir. Mas ela estava fazendo aquilo de novo, me mantendo imóvel.

– Você é tão patética.

Ela se aproximou, mais e mais. Se ajoelhou a minha frente e pegou um pedaço pontiagudo de vidro do chão, o maior deles. Ela o examinou e colocou o dedo na ponta.

– Ai! - Debochou com um risinho ridículo

Andy segurou o meu rosto com uma das mãos e o apertou.

– Eu juro que pensei que seria mais difícil! Mas quem diria que você fica tão burra quando se trata da sua querida família Lane?

De repente, ela enfiou o vidro do lado esquerdo do meu corpo, abaixo das minhas costelas. Eu gritei de dor e ela o empurrou ainda mais. Andy se afastou, sorrindo com a minha dor. Gemi mais uma vez e ela começou a falar.

– Você não percebe? Você destruiu tudo. Você destrói tudo em que toca. Primeiro Jhonny, agora é Dick. São dois babacas cegos por você. Vou ter que matá-los! Logo depois de estruir toda a sua preciosa família em chamas.

Grunhi de ódio, eu não conseguia nem ao menos falar.

– Ah, isso mexe com você? Saber que vou matá-los? Por que você se importa se vou matá-la primeiro?

Eu rosnei. Eu podia sentir o sangue encharcar toda a minha camisa.

– Você não mudou. Você não muda. Não é uma mulher boa que sente compaixão. Agora eu vou mostrar o que há atrás do seu sorriso doentio, vamos ver o que você esconde. Você pode tê-los enganado, mas não a mim. Eu sei quem você é. Você é fraca atrás dessa máscara. Não adianta, você não vai ganhar. - Sua risada gélida encheu o ambiente – Você não sabia que o amor morre no fim? Já é hora, Alicia. Diga adeus e peça ajuda ao seu anjo mau.

Minha respiração fazia o vidro entrar ainda mais em meu corpo. Mas não era isso o que me matava. Eram suas palavras frias e afiadas, me tirando todo o ar. Ela aproximou seu rosto do meu. No fim, Andy tinha razão. A quem eu queria enganar? Eu ainda era só uma garotinha escondida no guarda-roupa. Sem que ela notasse, peguei o primeiro pedaço de vidro que encontrei e enfiei no corpo dela. Andy gritou. Eu podia ser só uma garotinha escondida no guarda-roupa, mas essa garotinha não morreria sozinha.

– Peça ajuda ao seu anjo mau, Andy. - Murmurei

Ouvi barulho, vozes e passos apressados. E então apaguei.

Eu estava no ginásio, matando outra aula de literatura. Apenas olhando para o meu all star surrado, como quase sempre.

– Alicia Amell? - Ouvi alguém atrás de mim, andares acima na arquibancada.

Me virei para ver e me surpreendi.

– Eu sou Dick Grayson.

– Eu sei quem você é.

– Sim, mas nós não começamos bem. Posso tentar de novo? - E se sentou ao meu lado

– Não vai me matar. - Respondi mal educada

Ele sorriu.

– O que foi? - Perguntei

– Você é diferente. Sempre me ataca. Eu não vou morder você. Não mordo.

– Talvez eu morda.

– Sou vacinado. - Retrucou

Eu sorri.

– O que foi agora?

– Você é diferente. Não tem medo de mim.

– E você, tem medo de mim?

– Por que eu teria? Você não morde.

Ele riu.

– Certo, vou tentar. - Ele limpou a garganta – Oi. Eu sou Richard Grayson. Você vem sempre aqui?

– Sou Alicia, muito prazer. Só venho durante as aulas de literatura. E você, Richard?

– Só venho para conversar com meninas que matam aula. E você pode me chamar de Dick... se quiser.

– Certo. Acho que você pode me chamar de Lis... se quiser.

– Lis? É um nome tão doce. Acho que combina com você. Lis.

Abri os olhos devagar. Minha visão estava desfocada, mas eu podia vê-lo. Sua preocupação quase me irritava, mas era bom.

– Dick.

Ele não respondeu, apenas sorriu e me beijou levemente, com medo de me machucar.

– É bom saber que não morri. – Eu sorri

Me levantei com a ajuda dele. Me surpreendi por estar tão fraca. Eu estava no sofá da sala da mansão Wayne. Vi Lucy encharcada e Gavião Arqueiro a cobria com uma manta amarela. Suzi estava no sofá, conversando pesadamente com Dave. Na poltrona, Barbara fazia um curativo no rosto de Mike. Vi Martha com Bruce e Zatanna, de longe.

– O que houve, exatamente? - Perguntei

Clint me viu e se aproximou.

– O que você está fazendo sentada? Você não tem jeito mesmo, Alicia.

– Mas já está me dando uma bronca? Pelo menos me conta o que aconteceu primeiro, Clint.

– Se você soubesse o quanto está pálida, me entenderia. Bom, depois daquele showzinho que, por acaso, era o motivo dos surtos de energia da fortaleza voadora, encontramos você no porão. Você estava à beira de uma hemorragia, sabia? Estava até desmaiada. Bom, o que importa é que aquela maluca está em Arkhan** e o outro também.

– Espera. Surtos de energia?

– Sim. Era culpa dela. - Explicou Dick

– Acho que faz sentido.

– Pois é. Agora, por favor, repouse. O que aconteceu lá no porão foi sério. Você torceu feio o tornozelo e aquele vidro... Em muitos anos, foi um dos machucados mais feios que já vi.

– Eu estou bem. Não sinto dor.

– O efeito da morfina.

– Uau.

Depois de algum tempo, começaram a ir embora. Assim como Dave, os Lane se foram. O mesmo aconteceu com Clint e Zatanna. Dick insistiu que eu ficasse em sua casa, num quarto de hóspedes até me “recuperar”. Fechei os olhos aliviada sabendo que por enquanto, havia acabado. Eu não queria pensar nas explicações que devia à minha família nem nada do tipo. Eu só queria dormir aliviada como não dormia há tanto tempo.