Acordei quase num pulo. Cansada e com falta de ar. Dick me fez deitar novamente delicadamente:

– Shh… Calma, está tudo bem agora

Ele estava sentado ao meu lado, meus cabelos estavam úmidos assim como os dele, mas eu usava outra roupa.

– Foi… Aquilo tudo foi real – Gaguejei, esperando que ele me chamasse de tola e dissesse que era só um pesadelo ridículo

– Sim – E abaixou a cabeça

Meus olhos atravessaram a janela. A chuva havia sumido e o céu era negro. Tudo era silêncio e escuridão lá fora. Me sentei na cama, dispensando sua mão que tentava me impedir. Dick fez uma careta.

– Então… Agora a sua ex-namorada quer me matar?

– Ela nunca foi minha namorada

– Qual é a história?

– Acho que ela era da minha turma no colégio em informática ou química. Nós nos falamos duas vezes, se não me engano. Então ela me perguntou se eu ia ao baile e no dia seguinte, todos achavam que nós estávamos juntos. Eu tive que desmentir tudo, tenho certeza que fui gentil.

– E alguns dias antes...

– Eu avisei que não iria ao baile. E ela nem me respondeu, nunca mais falou comigo. Eu não sabia que ela seria capaz de algo assim.

– Na noite do baile, você saiu com...

– Zatanna.

– Sim, imaginei.

– Nós vamos cuidar da Andy, vou dar um jeito. Ela não vai machucar você.

– Não, eu é que vou machucar aquela louca. Acho que ela precisa de um gato.

Ele riu. Uma lembrança ruim me tomou e tudo o que eu consegui foi dar um sorriso fraco. Abaixei a cabeça.

– O que há? - Ele perguntou, me incentivando a olhá-lo nos olhos.

– Você ficou mesmo... mexido com aquele beijo?

Vi a resposta em seus olhos. Um calafrio correu pela minha espinha.

– Não precisa responder.

Me levantei, decidida. Dick segurou meu braço e me puxou devagar.

– Eu quero responder – ele me olhou nos olhos, parecia tenso. - Andy mexeu comigo. Mais do que deveria – meu estômago embrulhou, tentei expressar uma reação para aquilo, mas não consegui. Ele continuou: - Mas não tanto quanto você. É incomparável, Lis. Nada do que ela fez ou poderia ter feito seria como quando eu te reencontrei, na festa da faculdade. Ou como quando eu a beijei na noite seguinte, na sua casa. O nosso primeiro beijo.

Ele sorriu ao pronunciar as palavras e continuou:

– Ah, Lis... Aquele beijo foi tão especial. No meio da sala de estar, e o modo como você reagiu... entregando-se momentaneamente a mim – ele sorriu, mas falava sério. - E nenhum tipo de atração poderia ser tão intensa quando Asa Noturna e Black Angel, como nenhum beijo será tão intenso quanto aquele, no alto da capela.

Eu sorri e mordi o lábio inferior.

– Você é tão boba – ele sorriu e aproximou seu rosto do meu

Dick me deu um beijo leve, terno.

– Hum... Como você acha que ela pode ter conseguido... superpoderes?

– Ela estudou magia

– Então, Zatanna e Zatara... magia...?

– Como você soube? - Ele se espantou, como se fosse um segredo mortal. Eu o encarei e ele revelou: - O mago Giovanni Zatara é pai de Zatanna. Ele desapareceu há anos por... Bom, sim. Ele é o mago e Zatanna era sua aprendiz. Ela é ótima e...

– O livro! Por isso você ficou tão preocupado, por isso era tão importante e por isso Andy é... bem, a Andy.

– Sim, é magia.

Pov. Dick

Nos dias que se seguiram, eu ia trabalhar normalmente sabendo que Robin vigiava Lis como um favor para mim. Quase duas semanas depois, tudo seguia seu curso “normal”. Com os Homens da Noite fora de ação, as únicas atividades extracurriculares de Lis eram coisas pequenas. Mas ainda havia uma sensação de peso em meu peito. E quando entrei no meu escritório, numa quinta-feira de manhã, entendi o motivo.

Quando eu a vi, quase engasguei. Ela arrumava papéis em minha mesa, interpretando seu melhor papel de secretária. Fechei a porta lentamente.

– Bom dia, Dick. Como vai?

– O que você quer aqui?

– Bom, eu espero que minha ausência não tenha sido um grande problema. Eu mandei um e-mail a você, avisando que me ausentaria. Eu agi mal? - Ela saiu de trás da minha mesa e ajeitou a saia justa

– Me poupe. Como você pode voltar aqui depois de tudo?
Ela sorriu. E eu quis esganá-la. Permaneci frio e ela respondeu, livrando-se do sorriso:

– Estou fazendo apenas o meu trabalho.

– Andy, você é louca. Agora saia da minha sala e da minha vida.

– Sabe, Dick, eu esperei tantos anos para te ver novamente. Não imaginei que fosse assim.

– Você já me viu, agora vai embora.

– Você não entende que não vou deixá-lo em paz, não é?

– Eu não quero ter que chamar a segurança.

– Ah, e você acha que meia dúzia de seguranças bem pagos das Empresas Wayne poderia me impedir? Por favor! Nada pode me impedir! Eu não consegui ter você...

– Então ninguém mais me terá? - Debochei

– Se fosse tão simples não teria a menor graça! - Ela sorriu – Você é sempre tão egocêntrico. Acha que meu interesse é apenas em você? - Aquelas palavras me atingiram exatamente como ela queria

Eu a agarrei pelos braços e apertei, trincando os dentes.

– Fique longe dela. - Mandei

Ela riu perversamente e eu a chacoalhei.

– Está me ouvindo? - Berrei

– E quem vai me obrigar? Você?

– O que você quer? - A raiva era explicita em minha voz. Tentei me controlar sabendo que não conseguiria dobrá-la daquela maneira – Quer que eu fique longe dela? Vai deixá-la em paz se eu sumir da vida dela?

– E por quanto tempo isso duraria? Acha que eu quero você? Não me surpreende! Eu nunca vou ter você. Ninguém nunca vai ter você, apenas ela. Sua querida e preciosa Lis! Mas eu vou acabar com isso. - A maneira como ela falou aquelas palavras me deu enjoo

– Fique longe dela, Andy!– Berrei mais uma vez

– Ah, como você pode ser tão ingênuo? O que essa garota tem? Você é quase tão cego por ela quanto Jhonny! - Ela riu

– Jhonny... - Murmurei soltando-a

Ela saiu da sala, me deixando sozinho novamente. Jhonny... É claro. Não hesitei em pegar o celular.

– Zee?

Zatanna chegou pouco tempo depois. Assim que se sentou, comecei a contar.

– Eu nunca confiei nessa garota... - Ela murmurou

– Eu sei, você tinha razão.

– Sim. E agora? O que você vai fazer?

– Proteger minha namorada.

– E vai esperar que Andy ataque novamente? Olha, ela não vai demorar para fazer isso.

– Eu sei. Mas o que eu posso fazer? Não posso prendê-la por algo que não posso provar. Assim como Jhonny.

– Você tem razão.

– Sim.

– Eu vou continuar pesquisando. Eu sei que ela não roubou um livro de magia tão poderoso para fazer simples ilusões ou levitar. Há algo mais.

– Eu imaginei. É isso o que me assusta.