Blood Moon - O Coiote e a Dama do Deserto escrita por LalaMarry


Capítulo 17
A carta indício de um recomeço


Notas iniciais do capítulo

Olá cupcakes!
Não estou nem acreditando que este é o fim, terminar uma fic para mim, ainda mais uma long, é realmente gratificante(não consigo pensar em uma palavra mais simples agora). Nem parece que já se passou quase 1 ano e meio desde que postei o primeiro capítulo e estou muito feliz com os leitores maravilhosos que me acompanharam durante esse tempo, principalmente a Dark Mermaid que mesmo após todo o meu tempo de bloqueio continuou lendo e comentando, sem todo o apoio de vocês acho que eu jamais teria terminado esta fic.
Muito obrigado à todos vocês e espero que gostem do desfecho.
Obs: Alguém ainda lembra da ligação que a Molly faz no final do capítulo 11? Provavelmente não. Então, agora vocês vão saber quem era! /apanha
Boa leitura!



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As pessoas corriam tentando sair do recinto em vão, já que as entradas encontravam-se trancadas. Os lobos espalhados pelo teatro, assumindo suas grotescas formas meio humanas e meio lupinas, deixando-os mais assustados ainda diante do desconhecido.

Lawrence tentava correr contra o fluxo de pessoas, que o empurravam em trombadas fortes diante do desespero, conseguindo alcançar o corredor que estivera antes com algum esforço, porém detendo-se em continuar.

Homens se jogavam contra as estruturas de madeira até finalmente conseguirem arrombá-las, deixando para trás um pequeno grupo de pessoas mortas pelos lobos caídas para trás, além de outras que pareciam ter desmaiado ou haviam sido pisoteadas em meio à confusão.

Ele a fitou uma última vez, a expressão desesperada e confusa, as mãos que agarravam o microfone como se fosse sua vida, os cabelos alaranjados que sempre lembravam o fogo em movimento colados em sua testa e jogados sobre os ombros em ondas.

Poderia nunca admitir, mas a amava, amava como jamais amara outra mulher, mesmo que ela ainda fosse uma criança, e simplesmente não era capaz o bastante, e nem queria, ser a razão de sua dor, assim como Scott fora por tantos anos para ela. Entretanto, não queria ainda mais que ele fosse a causa de sua morte. Definitivamente não.

Sentiu os delicados dedos de uma mulher envolver seu braço, o semblante sério de Chloe tomando conta de sua visão.

“Você se apegou a algo que sabia que seria errado e, no final, inevitável, mas até aonde seu amor pela Molly vai te levar?”

“- Ou você some e a deixa conosco ou se arrisca em salvá-la, porém não garanto a vida de ninguém.”

– Chloe, eu sei que tivemos nossos desentendimentos, porém creio que me deve um favor pelos anos de serviço.

A testa da mulher vincou-se enquanto Molly já corria para fora do palco, indo em direção a eles, logo atrás se encontrava Alec e Abigail com uma expressão indagadora, como quem espera o veredito final.

– Quero que a deixe aqui e no dia que ela a procurar, leve-a as gêmeas.

– Mas que tipo de favor é esse, você enlouqueceu ou o que?! – retrucou incrédula.

Lawrence então agarrou os ombros brancos cobertos por alguma pele cara de algum animal.

– Confie em mim, por favor – fez um apelo e vendo o quão próximo a jovem já estava deles.

Então apenas virou-se e saiu, correra tanto que era capaz de terem enxergado um borrão em seu lugar, sem saber ao certo quando suas mãos deram lugar a patas e seu rosto em um longo focinho. A única certeza que ele tem é de que fugiu para bem longe dali.

No teatro onde ele havia acabado de sair, a mão de Alec lentamente baixou, tirando a pontaria da arma que segurava das costas de Molly assim que viu Lawrence saindo. A alguma distância dali, a menina observava desolada o espaço que a pouco estiveram.

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– O que está fazendo? – perguntou a menina, estranhando ver os cabelos da jovem diante de si não mais grudados nas paredes como lodo.

–Te ajudando a fugir.

– Você nunca me disse seu nome durante todo o tempo em que estive aqui.

– É Lindsay. – respondeu terminando de tirar a última algema que a prendiam naquela úmida sala. – Agora vamos, temos que ser rápidas.

O fogo alastrava-se rapidamente pela boate, a fumaça invadindo meus pulmões, sufocando-os e me fazendo tossir com uma sensação de ardência neles.

Peguei o corpo inconsciente do menino que anos atrás me entregara para meu pior pesadelo, mas que agora não passava de um adolescente fraco e vulnerável que acabaria morrendo se passasse mais algum tempo ali.

Pulei por cima das cadeiras e móveis em chamas, entretanto o peso extra não me auxiliava em nada. Tropecei em um pedaço da estrutura que havia caído, meu joelho cedendo até bater com força no chão, a dor se alastrando por ele.

“–Alô? – uma voz feminina soou do outro lado da linha.

Meu coração bateu descompassado ao ouvir aquela voz e seguiu-se um silêncio, eu não sabia mais o que iria falar.

–Molly? – arriscou.

Eu continuava imóvel e muda.

–Molly é você? – insistiu.”

– Desculpe-me, Cassie. – sussurrei antes de perder totalmente o ar oxigenado que ainda restava.

Usei minhas últimas forças para jogar o corpo do jovem no corredor dos fundos, talvez ele sobrevivesse por mais algum tempo longe dos focos de fogo.

Para mim ali era meu fim definitivo.

Depois de tudo eu morreria sufocada pela fumaça das chamas.

Deixei uma risadinha insana escapar junto a uma sessão de tosse. Mas espere, eu ainda não havia atingido meu objetivo, não havia achado Lawrence, ainda faltava locais a se procurar e eu sentia que ainda estava vivo, talvez ainda tivesse algum rastro misturado ao cheiro de queimado dele por ali, afinal não fora à toa que tinha sido atraída para ali, mesmo que inconscientemente.

Entretanto quando cheguei a esta conclusão? Eu nunca reparara antes, as toxinas deveriam estar me fazendo ter algum tipo de confusão mental.

As coisas agora estavam girando, eu iria desmaiar a qualquer momento, porém precisava ter certeza de que era coisa minha, coisa da minha mente insana.

Agarrei o chão com as garras expostas e rastejei até próximo ao garoto, sua respiração e batimentos estavam fracos, mas ainda presentes. Eu estava lutando contra aquilo e não fosse minha atual dupla identidade eu estaria morta há tempos.

Jazia um resquício de fragrância conhecida no corredor em meio ao terrível cheiro do lugar.

Ele estivera ali antes de mim.

Ele ainda estava vivo.

Deixei um soluço escapar, lágrimas misturando-se as poeira e cinzas que sujavam meu rosto. Vi um vulto no fim do corredor após um estrondo de arrombamento, era tão alto que dava dois de mim. Encolhi-me ao lembrar de Alec, porém reconheci os braços que me envolveram, alguém que eu jamais esqueceria, mas que eu odiava tanto quanto ele.

Pena que eu não tive força o bastante para aplicar-lhe um soco, então deixei meu corpo flácido ser carregado para longe de toda aquela confusão.

–x-

– Molly? – uma voz soou longe,como se estivesse atrás de um parede.

Tossi algumas vezes até meus pulmões conseguiram expulsar o resto de fumaça que havia em meu organismo. Os olhos preocupados de Lindsay me analisando e suavizando aos poucos ao me ver sentar em meio ao beco que havia ao lado da boate, quanto tempo fazia desde que chegara com Alec ali? 2 dias? Pareciam eras.

– Vamos, tem alguém te esperando. – disse saindo de sua posição agachada e indo em direção a um carro preto parado na calçada.

E então eu vi, os cabelos agora tão vermelhos, porém num tom artificial, diferente de meus fios alaranjados; a mesma maquiagem carregada e o sorriso sem dentes. Em uma de suas mãos havia um isqueiro a qual seus dedos o faziam soltar faíscas sempre que o acionava.

– Abigail... – deixei seu nome escapar entre meus lábios e levando um susto logo em seguida.

– Você está bem? Quer que eu chame Luigi para te ajudar?

Virei rapidamente para o outro lado do beco, onde agora havia nada além do ranger dos restos da porta arrombada.

– Luigi?!

– Pelo menos ele disse que era esse seu nome, ele foi colocar o garoto no carro e pediu para que eu ficasse de olho em você até que acordasse. Hoje era meu dia de folga na verdade, só vim aqui ver como estavam as coisas por causa da briga da noite passada, não imaginei que acharia a boate em chamas. – suspirou – Mas você está realmente bem?

– Sim, está tudo bem... Quem me tirou lá de dentro? – andei ao lado dela, apesar de ter um bom palpite, seria bom ter uma certeza de outra pessoa, vai saber que tipos de alucinações a fumaça pode nos fazer ter.

– Alguém te tirou? Achei que tivesse conseguido escapar sozinha. – seus olhos piscaram confusos. – Até porque todo mundo sumiu, só ficou você e o garoto.

Balancei a cabeça, o melhor era deixar as coisas um pouco de lado por hora, até porque se Luigi estava ali, então outras pessoas também estavam.

– Talvez a fumaça tenha me feito esquecer, minha memória costuma me pregar muitas peças. – na verdade não era bem aquilo, mas seria bom me conformar com alguma história inventada, pelo menos uma vez.

– A minha também. – comentou abrindo a porta de trás do carro, o assunto dando-se por encerrado.

– Há quanto tempo, ma chérie. – saudou Luigi.

–x-

Luigi deixou Lindsay em sua casa, que nos assegurou de que iria prestar depoimento assim que a polícia ligasse, diria a eles que fora algum acidente na iluminação, mesmo sabendo que não chegava nem perto do que realmente havia acontecido.

Fui durante todo o trajeto dividindo o banco com o menino ainda desmaiado, sua blusa amarrada em seu peito para estancar o sangue.

– Acho que já pode tirar a blusa dele. – comentou Luigi, o carro sendo estacionado em frente a uma casa maior que qualquer outra residência na região, posse típica de uma pessoa extravagante como Chloe.

Pelo jeito algumas coisas realmente nunca mudarão.

Desamarrei a blusa ensopada de sangue, agora havia apenas uma cicatriz rosada onde Megan o atacara. Uma empregada da casa logo veio ajudar a tira-lo do carro com Luigi, enquanto o mesmo disse para eu ir entrando.

Tentei limpar um pouco da fuligem em meu rosto, sem muito sucesso, e amarrei meu cabelo nele mesmo, ele sempre fora rebelde, mas no momento estava impossível e com mais nós que eu poderia contar.

Estava prestes a abrir a grande porta dupla entreaberta quando alguém a abriu antes de mim, havia mudado tanto desde a última vez em que a vira.

– Cassie... – puxei-a para um abraço, minha cabeça agora chegava em seus ombros e ela me lembrava Emily tanto quanto sua mãe.

Ela parecia tão surpresa que demorou alguns segundos até eu sentir seus dedos agarrando minha blusa suja em um abraço cheio de saudades.

– Meu Deus, como você cresceu. – afastei um pouco para observá-la, um largo sorriso adornava seu rosto e ela rapidamente tratou de retirar algumas lágrimas que queriam escapar de seus olhos.

– Venha, a mamãe quer te ver. – disse arrastando-me para dentro da casa, mal dando tempo de eu reparar em seu interior.

Levou-me até a cozinha, onde Chloe estava encostada na pia preparando alguma coisa com um cheiro muito bom. Eu realmente não me recordo de ter visto-a cozinhando alguma vez antes.

Ela largou uma colher de pau que utilizava em cima da pia e aproximou-se lentamente, observando meu rosto e me abraçando logo em seguida, tão forte que chegava a sufocar, entretanto não me incomodei, afinal aquele era o melhor lado dela.

– Assim que eu soube sobre o incêndio mandei Luigi atrás de você, sorte que mantive esta casa e corri para cá. – afastou-se, agora limpando meu rosto com seus dedos que logo ficaram pretos. - Eu quase te perdi de novo, Molly, jamais me perdoaria por isso.

– Está tudo bem agora... Mãe. – eu nunca a chamara assim, mas agora pareceu o adequado.

Um sorriso satisfeito se abriu em seu rosto, mas logo sua testa vincou-se, seu rosto tomando uma expressão séria e arrependida.

– Eu escondi e tirei muitas coisas de você, mas como não posso reverter o que fiz, preciso pelo menos tentar te ajudar em algo. – foi até a bancada no centro da cozinha e entregou uma carta para mim, eu nunca chegara a usar uma, não havia alguém com que eu realmente precisasse me comunicar através dela, além de que nos tempos atuais ninguém mais as usava – Espero que entenda... Agora vá se limpar, você está fedendo a fumaça e sangue. – retorceu o nariz me arrancando um sorriso.

Cassie me mostrou o lugar, onde era o banheiro e a muda de roupas que deixara em cima da cama de um dos quartos desocupados, me deixando sozinha com o objeto em mãos.

Tratei de tomar um banho e colocar roupas limpas, os arranhões que havia em meu corpo por eu ter caído e me arrastado já haviam sumido, o que me poupou tempo em fazer curativos.

Sentei na larga cama e abri o lacre, o papel antigo indicando de que ela já havia sido escrita tem tempo. Minhas mãos tremendo levemente ao reconhecer a letra.

Molly,

Gostaria de ter mais tempo para redigir esta carta, porém terei que ser breve, será uma curta questão de tempo até que Cassie acorde e venha até a mim e eu realmente não sei como explicar isto para uma criança, então quando ler a mesma, talvez já não seja mais a menina que conheci.

Antes de tudo tenho que dizer que eu fugi. Eu tinha uma escolha, ou eu fugia e a mantia viva ou eu tentava salvá-la e colocava em risco sua vida. Eu sei do que eles são capazes e no final isto não é uma daquelas histórias de super-heróis onde eles enfrentam de tudo e salvam o dia com sucesso. No final eles acabariam te matando e eu realmente não seria capaz de carregar um fardo desse tipo. Então armei um plano, se eu pudesse, eu mesmo a salvaria, naquela noite ainda, porém não se preocupe, eu não descansarei até saber que está segura.

Pretendo ir para outro continente daqui alguns anos, dizem que os países por lá estão em ascensão, então creio que me trará novas oportunidades, além de que preciso manter distância de ti por enquanto. Às vezes creio que ter te tirado de Scott fora um erro, mas também não acho justo viver uma vida de mentiras. E acabou que eu mesmo lhe escondi coisas demais. No final não posso lhe esconder da realidade. Desculpe-me.

Espero que consiga me entender, por mais que isso tudo pareça um tanto covarde. No final, percebi que a amo e gostaria de não ter percebido isto tarde demais. Talvez um dia eu tenha a oportunidade de falar pessoalmente para você, porém se eu não tiver, estarei tranquilo em pelo menos assegurar-me de que soube disto.

Lawrence.

Eu estava tão absorta nas palavras escritas naquela carta, que mal percebi quando Chloe chegara sorrateiramente.

– Ele levou o garoto consigo, mas pelo jeito ele acabou ficando por essas redondezas, eu não sei o motivo pelo qual ele deixou o jovem exatamente com aqueles lobos, ainda mais por todos serem fugitivos da alcateia de Abigail.

Um estalo pareceu ter dado em minha cabeça, como quando uma lâmpada acende-se sobre a cabeça de um personagem animado.

– Foi ele quem pediu para Alec me proteger... – murmurei – Ele queria que eu lembrasse.

Os olhos de Chloe arregalaram-se levemente, parecia estar juntando os pontos e surpreendendo-se com tamanha esperteza de Lawrence.

– Ele queria que eu esquecesse aquela noite com medo de como eu poderia reagir e esperou até o momento que julgou certo para ir me fazendo lembrar e nada melhor do que me fazer conviver com as pessoas que me marcaram de alguma forma no passado... E na carta... Ele me fala para onde foi!

Estava decidido, eu iria para a América.

– Cassie! – chamei-a

Sua cabeça apareceu no vão da porta, o olhar indagador.

– O que acha de fazermos uma viagem?

– Para onde vamos? – questionou Cassie, a expressão curiosa.

Apenas lhe direcionei um sorriso e duas palavras que me fizeram recordar alguém. Alguém que eu tinha fé em achar.

– Você verá.

FIM


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam do fim?
Eu não sei se alguém esperava que a Molly fosse reencontrar o Lawrence no final, mas assim como a outra fic ela deixa pontos abertos para uma próxima história, eu realmente não tenho planos de escrevê-la agora, pois não quero que aconteça o que aconteceu nesta fic de eu demorar 500 anos para postar um capítulo. Eu não havia trabalhado com um enredo tão complexo antes, foi um custo interligar todos os pontos, mas eu gostei bastante de escrevê-la.
Mais uma coisa, vou postar um epílogo contando sobre uma coisa que eu não expliquei, pois acontece antes do início da história.
Qualquer dúvida me perguntem, caso eu tenha deixado alguém confuso rs
Enfim, é isso, obrigado por lerem e até a próxima!
Kissus



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