Era cruel eu sei, mas precisava me afastar, Jacob pelo menos estava vivo e era mais humano do que lobo e a amava... seria alguém muito melhor do que eu e eu cuidaria para que ele mantivesse o controle, o testando até seu limite.

Me senti amargurado por ouvir seu choro, eu a amava mas era necessário... será que era tão necessário assim ficar longe?

Encontrei Jacob sentado perto de uma árvore, ele estava em sua forma de lobo, o pêlo todo bagunçado e a vegetação em volta destruída.

“Droga Cullen” – reclamou ao sentir minha presença, era bom poder ouvir os pensamentos do lobo.

“Jacob, eu sinto muito pelo que você viu, mas foi necessário.” – fiquei a alguns metros de distância.

“Necessário?” – ele rangeu os dentes.

“Sim, para saber se você se controlaria o suficiente...” – falei me sentando na grama destruída. A voz saiu mais triste do que eu gostaria.

Jacob virou o focinho e me encarou a mente trabalhando rápido, não era a toa que ele assumiu seu posto alfa entre os lobos.

Após alguns minutos de silêncio, mesmo com ele trabalhando seus pensamentos e organizando as idéias, Jacob voltou a sua forma humana, vestiu as roupas que estavam presas numa espécie de sacola em seu calcanhar e sentou-se ao meu lado.

“O que está tramando Cullen?”

“Se você já adivinhou, por que a pergunta?” – falei sem olhá-lo, meu rosto sem nenhuma emoção.

“Porque quero a certeza. Bella vai se machucar muito... e...”

“Eu sei, mas você é o melhor amigo dela e ela te olha diferente..” – menti.

“Você ouve os pensamentos dela... ela... pensa em mim?”

Parecia um adolescente apaixonado perguntando segredos de sua amada, Jacob sussurrava mesmo nós dois estando sozinhos ali.

“Eu não posso ouvir os pensamentos de Bella, é a única pessoa que eu não escuto”.

“Que merd..” – ele parou e socou o chão – “Era a única que você precisava ouvir”.

Eu ri, foi engraçada a reação dele, uma criança com responsabilidades! Como ele podia ser a favor de invasão de privacidade? Mesmo que essa não fosse minha intenção, mas sim um dom... ele queria era saber dos sentimentos de Bella e de seus segredos mais íntimos.

“Black..” – iniciei.

“Jacob, pode me chamar de Jacob” – me interrompeu com a voz tranqüila.

“Black...” – eu não queria intimidade com o rapaz que ficará com a mulher que eu amo – “... não preciso ler os pensamentos dela, ela é muito expressiva, é só você notar os detalhes”.

Expliquei ainda relutante em lhe dar armas para conquistá-la.

”Que detalhes?” – seus olhos faiscaram esperançosos. Isso corroeu meu coração e o desfez em pó.

“Quando Bella está ansiosa ela costuma morder o canto do lábio...” – mostrei para ele – “Quando entediada ou nervosa, desgostosa com alguma coisa, ela solta um suspiro leve e força um sorriso, ele sai meio apertado e de canto...” – parecia que eu podia ver Bella na minha frente, Jacob estava boquiaberto me ouvindo contar coisas que ele já notara mas nunca prestara muita atenção – “Quando ela coloca o cabelo na frente do rosto e olha de lado, ela está com vergonha e geralmente ruborizada...” – me lembrei do nosso contato na escola.

“Você prestou bastante atenção não é sanguessuga?” – ele falou enciumado.

“Quando ela aperta os lábios e fica com ar pensativo, ela provavelmente está analisando alguma coisa” – ignorei seu comentário – “e com certeza te encherá de perguntas”. – havia mais coisas mas por hora, ele saberia como se virar.

“Hey.. você vai desistir mesmo? Pelo que vejo, gosta muito dela”. – ele estava sendo sincero em sua preocupação, o que me surpreendeu.

“Black...” – ele fez uma careta por eu não chamá-lo pelo nome próprio – “Eu posso matá-la a qualquer momento... ela...” – procurei as palavras certas para dizer – “Você não precisa saber o motivo, só saber que tem chances e que não irei interferir”. – Jacob me encarou mais um pouco, a mente trabalhando.

“Edward..” – ele pausou – “Eu também posso machucá-la... e bem, ela disse que o coração dela pertence a você...” – ele recordou com amargura – “e de qualquer modo quem tem de escolher é Bella, não concorda?”

“Ela não saberia o que é melhor pra ela Jacob!” – falei amargurado.

“Claro que saberá... o amor não conta?”

“Neste caso, ela não pode amar o que não deveria existir!” – disse me referindo-me a mim mesmo.

Jacob balançou a cabeça visivelmente confuso e ficou em silêncio alguns minutos.

“Edward...” – levantei o rosto para encará-lo – “tudo bem, concordo com a sua idéia, mas Bella não gosta de mim e...”

“Ela gosta o suficiente para te dar a chance de conquistá-la” – retruquei.

“Edward eu sinto que ela gosta de mim, mas toda vez que você aparece..” – ele soltou o ar com força – “estraga tudo!”

“Vou me afastar, mas estarei de olho em você”. – me levantei.

“Ela não vai aceitar...”

“Não pense cachorro, aja!”.

Corri pela floresta de volta a nossa casa improvisada, Jacob se transformou e foi na direção da casa de Bella.

Bloqueei seus pensamentos para que eu não me arrependesse do acordo traçado entre nós.

Não entrei em casa pois antes de chegar já ouvi Alice avisá-los que eu não entraria, que iria direto para a floresta atrás da casa. Ela sempre estava certa, foi o que fiz. Porém Alice se questionava o motivo da minha atitude, aparentemente meus passos estavam em branco em sua mente até agora.

“Talvez porque ele ainda estava com o lobo” – argumentou Emmett.

Eles podiam cuidar de suas próprias vidas não?!

A raiva estava me dominando e eu não conseguia pensar direito, o melhor seria sumir por algum tempo... deixar que ele conquistasse o coração de Bella, que eles se casassem e depois...

Não haveria depois para mim sem Bella ao meu lado e não era a primeira vez que me dava conta disso.

Pelos olhos de Jacob

Não dá pra entender um Cullen, sinceramente! O cara faz de tudo pra garota se apaixonar por ele e agora vem me dizer que não vai ficar no caminho! Como se eu não fosse capaz de conquistar Bella. Hunf. Ela já estaria comigo se não fosse por ele, com certeza estaria comigo. Maldita hora que não a chamei para estudar na reserva comigo!

Parei em frente a casa de Bella com o intuito de entrar e conversar com ela, mas fui surpreendido com o som de seu choro, essa forma me dava uma audição incrível e era nítido que Bells estava chorando.

Voltei a minha forma humana, me ajeitei e parei em frente a janela; peguei algumas pedrinhas no chão e ataquei de leve na janela na esperança dela ouvir.

“Bells.. hey!” – sussurrei a cada pedra lançada.

Eu já estava desistindo quando a ouvi abrir a janela.

“Jake?” – Bella estava com o nariz vermelho e a boca um pouco inchada por chorar, aquilo me arrancou o resto de respeito por Edward.

“Ei.. posso subir?” – perguntei envergonhado, balançando o corpo parecendo um menino indefeso.

“Ow Jake er... eu não...”

Não esperei ela terminar e entrei pela janela, Bella se afastou dando-me espaço e assim que pisei o assoalho ela agarrou meu tronco me abraçando, senti lágrimas quentes molharem minha camiseta.

“Bells?” – a abracei e a segurei contra meu peito até que se acalmasse.

“Ele foi embora do nada Jake, estávamos juntos e de repente ele disse que não me devia explicações e saiu... me... ele está namorando!” – nova crise de choro.

A peguei em meus braços e deitei com ela em sua cama, Bella em meu peito.

“Bells, ele não te merece! Estar com duas ao mesmo tempo? Ele nem sabe  que quer então!! Esquece esse sanguessuga!” – falei enraivecido.

Quem era ele pra brincar com o sentimento das pessoas? Eu tinha me esquecido da cena ridícula do beijo caliente entre ele e Sara, mas pelo visto Bella não.

“Mas Jake... eu acho que ele a beijou pra me proteger e...” – ela soluçou – “acabou se apaixonando.. afinal ela é uma deles... e...” – Bella parou de falar enfiando as unhas nas minhas costas, afundando o rosto em meu peito.

“Bells, não creio que ele ame a Sara...” – sussurrei. Eu sabia que não, apesar do beijo o que eu vi na floresta era amor verdadeiro. A felicidade de Bella estava em jogo, mesmo eu sendo infeliz.

“Eu acho que sim Jake” – ela limpou o rosto e me encarou.

“Ele tem medo de machucar você”. – informei, tentando controlar minha emoção.

“Mas ele nunca me machucou Jake... e estivemos bastante tempo juntos... isso é desculpa! Você só quer me animar!”

Essa não é a Bella que conheço, tão desistente e desacreditada.

“Bella você sabe o que ele é?”

“Sei”

“O que é?”

“Vampiro” – ela sussurrou.

“E do que eles se alimentam?” – encarei os olhos dela.

“Eles disseram que de animais...” – ela falou pausadamente como se pensasse na resposta.

“Seu alimento preferido é sangue humano Bella e você é como um delicioso licor praquele sugador de...” – parei no meio da frase.

“Mas eles vão a escola Jake, nunca machucaram ninguém... porque ele não pode ficar comigo?” – ela engasgou.

“As pessoas na escola não tocam neles, não ficam perto o suficiente pra faze-los ter muita sede Bells... eu não entendo muito, só o que os ouvi comentar comigo na casa dele, que você era irresistível para ele... que ele não conseguiria ficar perto sem te machucar” – botei a mão na boca por ter falado demais.

“Não ligo Jake... eu só quero que ele admita que me ama e fique comigo... eu não toco nele se esse é...” – Bella arregalou os olhos e me olhou de novo – “é isso! Jake, ele não pode me tocar, por isso esta com ela, ela pode satisfaze-lo ela é linda, nossa... ela é incrivelmente linda! Ah como eu podia achar que ele ia olhar pra uma menina sem graça como eu? Como? Só eu mesma pra me iludir...”

Bella girou o corpo, pegou um livro de cima da mesinha ao lado de sua cama, levantou e o atacou pela janela.

“O que está...”

“Isso é que dá ler romances e acreditar neles!” – eu nunca vi Bella furiosa, nunca! Ela saiu, pegou mais uma pilha de livros e ofegando e falando os jogava pela janela – “Vocês só querem é se satisfazer, ter uma mulher na cama.. é isso!” – ela olhou a capa de um livro e eu pude ver que era Romeu e Julieta, Bella riu e jogou com raiva pela janela.

Eu me levantei e a abracei por trás.

“Bells, você sabe que não é isso... ele quer te proteger” – odiava ter que ajudar aquele idiota, mas o que eu podia fazer diante da dor dela?

“Você também pode me machucar e está aqui!”

“Eu me controlo melhor e não me alimento de sangue Bells... posso te dar filhos, uma vida... ele não” – sussurrei sem lhe largar.

Bella virou para mim, passou os dedos pelo meu rosto e sorriu.

“É isso? Ele não quer que eu seja uma deles? Ele quer me proteger?” – assenti – “Eu posso agora mesmo me jogar na frente de um carro e nem ele e nem você teriam culpa Jake” – Bella se desvencilhou de mim e saiu na direção da escada.

“Bells... o que.. Aonde vai?”

“NÃO ME SEGUE!”

Pelos olhos de Edward

[para ouvir lendo, música em homenagem a mon amour, ma vie, ma belle... –autora]

 http://www.youtube.com/watch?v=J2GYxThK8Q8

Não sei quanto tempo fiquei deitado entre as flores e árvores, sentindo o vento tocar meu rosto, de olhos fechados e pensamento distante, mas quando abri meus olhos já não era mais dia.

Encarei as estrelas como se encarasse meu leito de morte, pois assim me sentia, cada dia mais perto do final.

No altar ela diria sim e eu me mostraria aos Volturi no mesmo segundo ou correria para Heidy e lhe pediria que fizesse o serviço, ela entenderia meu pedido, pois da mesma forma sofreu e sofre por amor. A estratégia estava traçada em minha mente.

Me sentei devagar observando o lugar onde ela esteve na única vez que colocou os pés nesta fazenda, o olhar assustado, as lágrimas presas na garganta... eu podia sentir seu coração batendo no meu como se eu estivesse vivo, se fosse possível eu teria perdido o fôlego, só de tê-la ali a poucos metros de mim.

Levantei e contornei a árvore, pensando em Bella, eu não sabia o que queria, o que esperar da imortalidade e agora, quase sempre me pego desejando a mortalidade.

Nunca soube qual era a minha busca, nunca entendi o que esperava mas era certeza que buscava algo e agora sei o que era... quem era...

“Bella” – sussurrei encostando minha testa a árvore, meu olhos secos com lágrimas que não posso verter, meu corpo trêmulo por braços que não posso mais sentir, minhas pernas falharam e cai ajoelhado no chão, curvado sobre mim mesmo. Era possível que doesse tanto essa decisão? Deixei-a em boas mãos... em mãos quentes e vivas...

Me ergui e soquei o ar revoltado, um grito animal saiu de minha garganta e corri para longe, sem rumo.

O ar arranhando meu rosto como pequenas agulhas, a chuva em Forks fazia o vento ricochetear com força contra meu peito, não havia mais estrelas, mas uma pesada nuvem acinzentada e a água caindo delas banhando meu rosto como se fossem minhas lágrimas, minha dor.

Continuei correndo, árvores, carros, pessoas, vozes, pensamentos, alguém me seguia mas não me preocupei em saber se amigo ou inimigo, eu queria sair de dentro da minha própria mente... ah Bella Bella! O que fez comigo menina?

Um trovão cruzou meu caminho e parei, as mãos nos joelhos, o corpo arqueado, minhas vestes e meus cabelos completamente molhados, tentei respirar mas senti-me asmático. Levei uma das mãos ao peito sentindo dor, uma náusea em minha garganta, o espaço vazio em meu coração parecia sangrar, tamanha dor.

“Edward?”