Mama Dean escrita por Lady Padackles


Capítulo 35
As orelhas de abano de Dona Ambrósia


Notas iniciais do capítulo

Mil desculpa novamente pela demora... Estou com pouco tempo, e priorizando a minha outra histórias - "Dezesseis anos e meio". Prometo tentar ser mais rápida nas atualizações. Estou pretendo terminar a história com mais dois capítulo, além desse.



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Pobre Cass... Hilary estava penalizada. O anjo queria tanto ir ao Carnaval... Mas pelo jeito não estava se divertindo nem um pouco na festinha que arranjaram para ele... Ao invés de dançar e comer com os amigos, estava em um canto qualquer, de bobeira, sem fazer nada.

– Castiel! - chamou ela, com a intenção de animar seua amiguinho alado.

Castiel, entretanto, nem se mexeu. Ele e as avós da aniversariante agora assistiam uma novela mexicana, e o anjo estava vidrado da telinha. Bartolomeu Valentino estava prestes a beijar Jorcélia Cristina, quando foi atropelado por um caminhão...

– Cass! - insistiu Hilary.

Mas ele não respondeu... Preocupada, ela resolveu ir ao seu encontro. Achou Castiel sentado no meio de duas velhinhas: uma gorda e outra magra, com os olhos marejados e comendo pipoca. Hilary não pode acreditar no que viu!

– Cass! - ralhou ela. - Saia já da frente dessa televisão! Nós não viemos pro carnaval pra você ficar ai de bobeira, no meio dessas duas múmias...

A verdade é que Hilary Holmes estava morrendo de ciúmes.

– Não estou de bobeira... - respondeu o moreno de olhos azuis. - Estou vendo novela... E que múmias? - Perguntou ele sem entender, olhando para os lados.

Hilary nem respondeu. Agarrou o anjo pelo braço e o arrastou para a pista de dança.

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Andressa, enquanto isso, admirada pela beleza dos rapazes que chegaram de penetra, não resistiu e ligou para suas melhores amigas, as irmãs Adélia e Camélia.

– Amélia, eu juro! Não é pegadinha nenhuma! São três americanos, lindos de morrer! - explicava a garota, tentando convencer as gêmeas a irem até lá. - Um louro de olhos verdes, um moreno de olhos verdes, e um moreno de olhos azuis... Corram antes que eles vão embora! - Disse esbaforida. Sua intenção era conseguir ficar com algum deles. Seria mais fácil com as amigas ali: assim seriam três contra três.

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Samanthinha agora segurava, com as asinhas, um saquinho com duas orelhas apetitosas. Mama Dean falara para comer escondida, e era isso que a Bicudin pretendia fazer. Saiu de perto da nova amiguinha, e procurou um lugar onde pudesse ficar a sós. Olhou para todos os lados, e acabou resolvendo se esconder atrás do sofá - o mesmo em que as duas velhinhas estavam sentadas.

– Nhoc nhoc nhoc nhoc!

– Shiii!!! - reclamou uma das velhas. - Pare de comer pipoca!

– Eu não sou velha coroca! - resmungou a outra, ofendida. - E pare de comer pipoca!

– Eu não estou comendo pipoca! - retrucou a primeira. - Gruda na minha dentadura...

– Na minha também... - Lamentou-se a segunda. - E é só o que eles deram pra gente comer... Ingratos! Largando duas senhoras com fome...

– Nhoc nhoc nhoc! - Roía Samanthinha. Orelha era um de seus pratos prediletos...

As velhinhas se entreolharam. Mesmo sendo meio surdas, continuavam ouvindo o barulhinho de alguém mastigando. Foi só aí que a velha gorda teve a idéia de virar a cabeça e olhar atrás do sofá. Viu uma garotinha vestida de palhaço comendo com muito apetite.

– Betina? Seja educada e venha oferecer um pouco para as suas avós...

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Enquanto isso Dona Renata olhava horrorizada para os americanos, que continuavam a aterrorizar na pista de dança. E ela que tinha pago uma nota para Dona Ambrósia ensinar Camila a dançar? Agora via que mesmo que a menina tivesse talento não teria nenhuma chance... Pelo jeito Ambrósia era uma grande incompetente...

Já estava conformada em tirar a filha da academia, e um tanto irritada pelo dinheiro desperdiçado, quando Castiel, encorajado por Hilary, entrou na pista. O anjo começou a ensaiar uns passos, sacudindo o bumbum para os lados em uma tentativa mal sucedida de imitar um comercial que vira na televisão. Renata, ao olhar aquilo, enraivecida, chegou a uma conclusão: não era incompetência - Ambrósia desensinava seus alunos de propósito! Ninguém no universo inteiro poderia ser tão desengonçado naturalmente...

Maldita Ambrósia! No mínimo queria se vingar da humanidade por ter nascido com orelhas de abano... Lembrou-se das longas discussões que tivera com o marido, cada qual querendo culpar a genética do outro pela falta de talento da filha do meio. Recordou-se das noites intermináveis, com ambos xingando e acusando os pais do outro, em brigas homéricas... O sangue lhe subiu pela face. Aquela mulher pagaria caro pelo que fizera com eles!

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Samanthinha não entendia português. O que as velhinhas queriam? Logo, entretanto, as duas vovós se fizeram compreender. Com as mãos balançando no ar, faziam sinal para a criança levar a comida até elas.

Estranho... A Bicudin nunca soube que humanos gostassem de comer defuntos... Será que aquelas duas eram da mesma raça que ela? A menina olhou desconfiada. Se elas fossem Bicudins, não deveriam ter bico? Vai ver tinham caído, por causa da idade... Mas será que tinham asas? Samanthinha resolveu se aproximar.

– Vem cá, minha netinha querida. O que é isso que você tem ai? Salgadinho? Dá um pra vovó! - pedia a velhinha gorda.

– Não, venha aqui primeiro! - insistia a outra.

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– Plim plom! - soou a campainha.

Camila, que já estava feliz, mal pôde acreditar no que ouvia... Mais um convidado? Aquela já era a melhor festa da sua vida, e o soar da campainha prometia que as coisas só tendiam a melhorar. A menina correu para atender a porta.

– Dona Ambrósia! Que bom que a senhora veio!!!

Ambrósia usava uma fantasia exuberante, de cisne negro. Olhou a garota com compaixão. Sabia que nenhuma outra criança gostava dela... A menina era mesmo chatinha... Ir a festinha da aluna fazia parte da sua promessa de praticar uma boa ação por mês. Entregou a ela o embrulho, com o presente que comprara na super mega promoção, e entrou. Por pior que fosse a festa, pelo menos devia ter comida de sobra, já que tinha poucos convidados... Ela tinha até levado uma bolsa grandinha pra pegar bastante doce.

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Enquanto Camila abria o presente - um par de meias - e agradecia com educação, sua irmã finalmente acabava de convencer suas melhores amigas a irem até lá. Amélia e Camélia custaram a acreditar na menina. Afinal, essa não seria a primeira vez que Andressa inventava alguma história para que elas fossem à festa de aniversário de sua irmã do meio - a garota mais chata da escola.

Dona Renata, já sabendo da chegada de novos convidados, esquentava mais salgadinhos. Estaria feliz da vida com o sucesso da festinha da filha se não fosse a raiva que sentia de Dona Ambrósia... Esta, por sua vez, parada diante a pista de dança, estava escandalizada. Nunca tinha visto cena mais grotesca em toda a sua vida: Sam, Dean, Hilary, Castiel e Betina sacudiam as pernas de forma descoordenada, lançando o bumbum para frente e para trás, em um movimento digno de alguém recebendo santo em um culto de umbanda. Nunca vira criaturas tão sem jeito em toda vida.

– Me da licença - pediu a professora - posso tentar ensinar a vocês alguns passos?

Castiel traduziu o que a moça disse aos amigos, e todos pararam para observá-la.

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Não... Elas não tinham asas... Deviam ser humanas mesmo... Mas as velhas continuavam gesticulando desesperadamente e falando uma língua esquisita. Definitivamente elas queriam comer as orelhas...

Samantha preferia não ter que dividir seus petiscos... Mas humanos querendo comer orelhas de defunto era uma situação tão inusitada que a criança estava até curiosa. Aproximou-se de velhinha mais magra e estendeu o saquinho em sua direção para que se servisse.

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– E então? Não e fácil? - perguntou Dona Ambrósia depois de exibir um ou dois passinhos bem simples de dança de salão.

Castiel novamente serviu de intérprete, e todos acenaram a cabeça. Sim... Parecia simples o bastante.

Foi nessa hora que Dona Renata apareceu na sala para servir salgadinhos, e surpreendeu-se vendo sua mais nova arqui-inimiga na sala.

– Vamos lá! Mostrem o que eu ensinei! - exclamou a professora esperançosa.

Os cinco alunos tentaram imitar, mas eles eram o grupo menos talentoso que Ambrósia já tinha visto em toda a sua vida. Enquanto um ia para um lado, o outro ia para outro. Todos se movimentavam como se estivessem embriagados, fazendo movimentos aleatórios.

Dona Renata não podia acreditar na cena: Era a professora de araque, diante de seus olhos, instigando a sua caçulinha a ser uma das piores dançarinas que a humanidade já vira. Já bastava o que tinha feito com Camila, agora queria desensinar Betina também!?

– Eu te pego, seu urubú desgraçado! - Gritou Renata revoltada, pegando uma faca de cima da mesa, e correndo atrás de Ambrósia. A professora assustou-se e nada entendeu. Ela não era urubú, e sim um belo cisne negro... Ia abrir a boca para reclamar, mas achou melhor correr daquela mulher maluca...

– Volte aqui, professora de araque! Vou te arrancar essas orelhas de abano! - Berrava ela.

A dançarina saiu de casa em disparada, com a Renata, enraivecida, logo atrás. Todos olharam espantados.

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A velha mais magra enfiou a mão na sacola. O salgadinho era frio e molhado... E mole como uma pedaço de pelanca.

– O que é isso, Betina? - perguntou sem entender.

Samanthinha não entendeu a pergunta, e permaneceu calada.

– Se serve logo que eu estou faminta! - reclamou a gorda.

A velhinha então segurou uma orelha e puxou. Antes que pudesse perceber o que era, Samanthinha já havia estendido o saquinho para a outra velha, que pegou então o outro pedaço de carne.

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– Mãe, por que você fez isso com a minha convidada? - Camila estava chorando quando Dona Renata voltou para casa, após correr atrás de Dona Ambrósia ameaçando arrancar suas malditas orelhas. A melhor festa de sua vida, e a mãe tinha acabado de destruir... Suas irmãs, Andressa e Betina, olhavam horrorizadas.

– Aquela desgraçada! Desensinando a minha caçula a dançar aqui em casa, debaixo do meu nariz... Descarada! - Grunhia Renata.

Sam, Dean, Castiel e Hilary não entenderam o que aconteceu... Deram de ombros e continuaram a dançar. Betina não voltou à pista com eles, entretanto. Estava muito assustada. Nunca havia visto a mãe se portar daquela forma e fazer ameaças tão assustadoras. Resolveu ir se refugiar perto de suas avós.

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– Ahhhh Orelha!! Orelha!!! - berravam as velhas. Ambas chegaram a dar uma dentada, e só depois examinaram melhor para descobrir que o que tinham nas mãos eram orelhas de defunto humano.

Ahh não... Humanos gritando de novo? Desde a viagem de avião, Samantha não aguentava mais a gritaria que eles faziam sem motivo. Saiu dali depressa, tapando os ouvidos com as asas, e foi procurar Mama Dean. Queria se enfiar debaixo de sua saia.

Samanthinha sumiu dali e Betina apareceu em seguida. A garotinha ficou horrorizada com o escândalo das velhas, e com as orelhas que foram lançadas com força no chão.

– Betina! Minha filha! Que orelhas são essas? - perguntou uma das velhas escandalizada.

A menina fitou o chão constrangida.

– Acho que são as orelhas de abano da Dona Ambrósia, que a mamãe arrancou...


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