Darker Than Black escrita por MsRachel22


Capítulo 27
Darker than Black


Notas iniciais do capítulo

Epílogo/Alternativo



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[10:45] 9/8 — Distrito de Osaka

(Winter solstice

  Eu sentia como se tivesse a mãe de todas as ressacas e se não houvesse mais gravidade. Havia dor, havia sonolência e sons ocasionais que eu não conseguia mais decifrar, mas que estavam ali.

  A primeira vez que abri os olhos, eu me odiei por fazê-lo tão devagar. Era como se eu lutasse contra o sono e o cansaço enquanto piscava e focalizava a primeira cor que encheu o mundo: branco. Depois que levantei a cabeça, na terceira ou quarta tentativa, aquela massa estranha de sensações me encheu: enjoo, dor, sonolência.

  Havia duas pessoas enfiadas no que eu entendi que era um quarto, pisquei lentamente até conseguir distingui-los e associar os rostos às vozes.

— Naruto! Não acredito! — Ele disse.

— Eu vou buscar uma enfermeira — ela disse.

  A minha língua parecia ser feita de lixa e a minha cabeça doeu menos quando consegui focalizar com clareza o rosto assustado de Minato Namikaze. Um tipo de sofrimento surreal encheu o meu peito quando pus os olhos no meu pai e no rosto assustado dele assim que ele passou os braços no meu pescoço e jogou o tronco com cuidado para me abraçar.

  Parecia o abraço mais longo do mundo e eu me senti com dez anos de novo, quando eu temia que fosse me perder do meu pai dentro do supermercado quando ele sumia da minha frente por cinco minutos. Aqueles eram os piores cinco minutos da minha vida e eu me sentia preso neles, num loop infinito, enquanto meu pai se afastava.

— Nós achamos que tínhamos perdido você — a voz embargada dele me tocou e meus próprios olhos ardiam em lágrimas. — Por uma semana, eu... Mas não importa. Não importa.

— O que... O que aconteceu? — Finalmente consegui perguntar com esforço, porque a minha cabeça não parava de criar imagens assombrosas onde a última vez em que eu havia visto meu pai foi na discussão de Natal com Karin. Eu ainda me lembrava de ligar constantemente, deixar recados na caixa postal enquanto pessoas se jogavam de prédios.

— Você levou um tiro — meu pai segurava com força a barra da cama hospitalar em que eu estava instalado e os olhos dele pareciam mais tensos quando ela pigarrou e continuou a dizer: — A gente estava num caixa eletrônico e... Você tentou impedir o assalto.

— Eu... levei um tiro? — Olhei para o meu peito coberto pela roupa hospitalar e escutei a máquina registrando meus batimentos cardíacos cada vez mais acelerados. — Quer dizer que...

— Você não reagiu e entrou em coma por um mês — aquela notícia fez a minha pulsação acelerar e senti que meus pulmões eram apertados por mãos invisíveis, de repente eu não conseguia mais respirar direito e não havia mais torpor que me deixasse anestesiado ou que desligasse as imagens distorcidas na minha cabeça de lugares seguros e túneis.

— Respire, filho, você consegue — apertei a mão estendida do meu pai e não consegui desviar os meus olhos dos dele. — Muito bem — o incentivo dele funcionou e minha pulsação atingiu um ritmo mais calmo depois de algum tempo e ele sorriu quando uma enfermeira cruzou a porta acompanhada por Karin Uzumaki.

— Você... Nunca mais faça isso! — A ordem da minha irmã rachou qualquer linha de raciocínio da minha cabeça quando ela se inclinou para me abraçar com força. Toquei suavemente os ombros dela com a mão direita e um riso estrangulado saiu da boca dela. — Da próxima vez que você bancar o herói, eu juro que arrebento a sua bunda magra.

— Karin — o tom de advertência do meu pai interrompeu o abraço desajeitado que eu recebia.

— Tudo bem, tudo bem — ela se afastou e secou as lágrimas que desciam pelas bochechas.

— Eu vou chamar a doutora Haruno — uma parte do meu cérebro associou o nome com fugas em carros, discussões e um rosto borrado. A enfermeira sorriu amigavelmente para nós dois antes de acrescentar em tom controlado e calmo: — Ela vai gostar da sua evolução, senhor Uzumaki.

  Eu enxergava a cama de hospital, as máquinas que zumbiam e me monitoravam, a janela à esquerda, meu pai abatido e cansado à minha direita, minha irmã um pouco menos cansada à minha esquerda  – eu via tudo aquilo como se fizesse parte de um sonho amargo, uma versão estranha da realidade.

  Uma mulher de cabelos rosa e olhos verde entrou carregando um tablet, o jaleco branco dela tinha o sobrenome Haruno bordado com capricho. Um sorriso sincero tomou conta da expressão dela assim que ela atravessou o piso apertado e se colocou na frente da cama.

— Bom dia, Naruto. É bom ver você de olhos abertos — ela inclinou um pouco a cabeça na direção dos monitores e depois me encarou. — Reconhece essas pessoas?

— É o meu pai e a minha irmã — respondi com a mesma dificuldade de mais cedo, porque eu tinha medo de verbalizar a pergunta que estava esmagando a minha sanidade. — Eu fiquei desligado por um mês?

— Podemos colocar dessa forma. Você foi baleado, entrou em choque e perdeu sangue demais, mas o que mais nos preocupava era a concussão na cabeça — ela respondeu com as mãos enfiadas no bolso do jaleco e eu simplesmente soube que o que ela dizia era a mais pura verdade. — Você caiu feio depois que foi baleado. Bateu a cabeça no caixa eletrônico e depois no chão, mas não houve dano cerebral, o que é muito bom.

— Eu desliguei um mês? — Repeti com incredulidade e olhei assustado para os dois. — Mas, ontem, eu lembro que eu estava num túnel e...

— Sim, filho. Nós passamos por um túnel antes de chegar no caixa eletrônico — a explicação do meu pai foi dita no mesmo tom didático que ele usava na minha infância.

— Por que eu tentei impedir o assalto? — Aquela era a segunda pergunta mais importante.

— Você tentou me proteger, seu cabeça dura — havia um tom leve de advertência na voz embargada do meu pai e ele esfregou os olhos. — Garoto imprudente — ele afagou a minha cabeça e me olhou da mesma forma que fazia quando eu havia feito algo que o orgulhava e assustava, porque significava que ele não podia mais me proteger do mundo.

— Vou deixar vocês três à sós. Venho checar você mais tarde, Naruto — o anúncio da médica animou o meu pai, dava para notar. — Não se esqueça do horário de visitas, senhor Namikaze. Seu filho precisa descansar muito antes de sair daqui.

— Doutora, eu... O que foi que mudou nesse mês? — Juntei saliva e coragem para finalmente perguntar, porque eu tinha medo de enterrar aquela pergunta – a mais importante – no fundo da minha mente e ser assombrado por ela depois.

  Ela avaliou a minha pergunta com calma e notou o ritmo frenético que o meu coração havia tomado. A voz dela não havia mudado, continuava firme e sem qualquer traço de mentiras:

— Um ou dois escândalos políticos. Nada demais.

  Foi uma espécie de alívio entorpecente que inundou o meu sistema nervoso, eu ainda escutava a voz do meu pai e da minha irmã, a voz da doutora Haruno e os bipes mecânicos ficando mais lentos outra vez, mas eu não os escutava de verdade. A minha atenção estava voltada para repetir as duas palavras que mais importavam naquele momento.

  Nada demais.

— Não esquenta, maninho. A Hinata não te deu o pé na bunda, mesmo que você mereça — o tom zombeteiro de Karin me deixou em choque e virei o pescoço como pude para encará-la. Karin pareceu apreensiva e riu nervosa. — Hinata... Sua namorada quase noiva... A pessoa mais decente que você já namorou nessa vida.

— Não precisa...

— Namorada quase noiva? — Repeti e interrompi a voz do meu pai, fechei os olhos com força e tudo o que eu conseguia associar, pelo menos naquele instante, era uma mulher de cabelos longos e corajosa, que me deixava fascinado e trazia leveza e calor quando eu segurava a sua mão. — Hinata.

— É o nome dela — Karin respondeu animada e meu pai não foi o único a respirar fundo, de puro alívio.

— Ela esteve aqui todos os dias, é bem provável que ela chegue daqui a pouco — meu pai estava mesmo empolgado e emocionado quando comentou sobre Hinata e seus olhos suavizaram um pouco quando eu o encarei.

  Na minha cabeça, boa parte das coisas ainda transcorriam de forma mais lenta, menos a ansiedade crescente que me dominava quando passei a encarar fixamente a porta do quarto. Meu coração doía e trabalhava mais rápido quando me concentrei unicamente nos olhos quase perolados e agitados de Hinata Hyuuga assim que ela passou pela porta algum tempo depois.

  Nós fazemos uma bela dupla. O pensamento brotou na minha cabeça quando ela se aproximou, me fazendo sentir bobo, nervoso e assustado.

  Não era só alívio ou calma que encheu o meu coração agitado quando Hinata sorriu, mas a certeza automática de que as coisas ficariam bem, porque foi a primeira vez desde que acordei daquele torpor que eu podia mesmo ter paz.

  Eu podia e sabia que tudo ficaria bem.


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Notas finais do capítulo

Ok.
Sacanagem? Plausível? Sacanagem?
Esse, se vocês quiserem, é o verdadeiro final. Digo isso porque cada leitor meio que, em situações assim, prefere x ou y. Então, de boas, fica a critério de vocês.
Escrevi essa alternativa porque meio que senti que Darker tem muitos truques, muitos poréns, e faltava um final nesse rumo. Mas entendo se vocês não gostarem, de boas.
Obrigada por ter acompanhado, lido, favoritado e parado pra ler.
Espero que Darker tenha sido uma boa leitura.
Rachel.



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