Era verão mais uma vez e Chris Rodriguez andava tranquilamente pelos terrenos do Acampamento Meio-Sangue. Com as mãos enterradas nos bolsos da calça jeans, vez ou outra desgrudava os olhos do chão olhava ao redor procurando por algo pra fazer.

 Pensou, inúmeras vezes, em procurar um lugar tranquilo onde pudesse apenas deitar e dormir como fazia antigamente, mas com a chegada de novos campistas essa opção parecia impossível, já que os pequenos pareciam estar correndo por aí a toda hora. E a imagem de ser pisoteado por uma manada de crianças não parecia nada convidativa.

 Olhando ao redor mais uma vez, Chris percebeu que todos os seus meio irmãos e, de alguma forma, primos pareciam ter algo para fazer. Já havia algum tempo que haviam parado de olhar para ele como o que de fato era... Um traidor. Mas poderiam ter continuado se quisessem, pois ele só se importava com a opinião de uma pessoa.

 Clarisse tinha o tirado do labirinto e cuidado dele quando ele estava louco. Ela não tinha obrigação nenhuma de ter feito o que fez, mas mesmo assim... A memória fez com que um calor gostoso se espalhasse pero corpo de Chris e, de repente, lembrando-se de algo, ou melhor, alguém, ele parou em sua trilha.

 Onde estava Clarisse?

 Um sorriso formou-se em seus lábios quando percebeu sua própria estupidez. Onde mais ela poderia estar se não na arena, treinando? Revirando os olhos, Chris começou a caminhar em passos rápidos em direção a arena, sinceramente achava um exagero Clarisse passar tanto tempo treinando quando poderia estar fazendo outras coisas, como pro exemplo, passar algumas horas com ele.

 Quer dizer, se Chris deixasse um pouco mais claro que queria ter um relacionamento com ela, talvez ambos estivessem casados e vivendo em Bora Bora agora, com três filhos para sustentar. Ou Clarisse realmente não percebia que ele estava interessado nela, ou, na pior das hipóteses, simplesmente não queria ter nada com ele.

 Chris balançou a cabeça e começou a correr quando ouviu o barulho da lança elétrica a qual ele conhecia tão bem. Chegando ao terreno circular usado para treinos ele viu Clarisse. Sozinha. Arrancando as tripas de um boneco pra fora.

 Por um minuto ele quase pode ouvir o boneco gritar e sangrar também.

 Ajeitou as roupas rapidamente, duvidou que ela fosse notar, mas de qualquer modo. Colocou um sorriso digno de Hermes nos lábios e passou a andar lentamente na direção dela antes de gritar:

 -Oi Clary.

 Clarisse parou de atacar o boneco por alguns instantes, mas logo voltou, ignorando-o, o que fez o sorriso de Chris aumentar ainda mais.

 Continuou andando até que estivesse ao lado do boneco, cruzou os braços, apoiou-se contra ele e ficou observando a lança atingi-lo repetidamente. Finalmente, parecendo incomodada com a presença do filho de Hermes, Clarisse parou e descansou a lança de pé ao seu lado. Com um suspiro, perguntou:

 -O que você quer Rodrigues?

 -O que eu quero? O que eu quero ela pergunta! – Formou um pequeno bico nos lábios e tirou uma lágrima inexistente do canto dos olhos com o dedo indicador – Eu não posso apenas passar por aqui e dizer um “olá” para uma amiga minha?

 Clarisse franziu as sobrancelhas e cruzou os próprios braços antes de dizer:

 -Estou falando sério.

 -Eu também – Chris insistiu enquanto balançava a cabeça, e, tempo depois quando viu que ela não daria o braço a torcer, disse com a voz rouca – Puxa Clarisse, eu pensei que já tivesse deixado bem claro que o que eu quero é você.

 O tom rouco fez com que a pele dela se arrepiasse por inteira. Com certeza sabia o que ele queria dela, mas o que não sabia era se podia dar isso a ele. Nunca fora boa em relacionamentos, em qualquer tipo deles. Tinha poucos amigos e, de repente, aquele garoto hispânico aparecia do nada e começava a flertar com ela. Era nessa e outras muitíssimas horas que sentia falta de Silena. Claro, ele era muito bonito, mas Clarisse não sabia nem ao menos como flertar de volta e deixar claro que queria o mesmo.

 Chris não sabia o que esperar quando Clarisse ficara quieta, os olhos dela estavam desfocados e ela parecia estar pensando profundamente, por isso não pode conter a ansiedade que se apoderou dele quando ela começou a abrir e fechar a boca rapidamente, como se tentasse arranjar algo para dizer.

 Não sabia dizer o que lhe ocorrera naquele momento. Talvez tenha sido o sol que tomara mais cedo, ou talvez tenha sido simplesmente o fato de nunca ter visto Clarisse La Rue sem palavras antes, mas sem que percebesse, havia dado um passo adiante e juntado os próprios lábios com os dela.

 Ficaram uns bons três segundos daquela forma antes que Chris acariciasse o lábio inferior dela com a língua, pedindo passagem, as mãos de Clarisse praticamente voaram para frente da camisa dele como se quisesse empurrá-lo, mas Chris continuou firme e antes que percebesse as mãos dela estavam o puxando para mais perto, ao mesmo tempo em que cedia ao beijo.

 Passaram um bom tempo naquela dança frenética e quando, por fim, a falta de ar parecia prestes a matá-los os dois se separaram. Em algum momento os braços fortes do hispânico haviam parado ao redor da cintura dela, enquanto o cabelo dele parecia apontar para todas as direções.

 Chris queria dizer que jamais provara algo tão macio e doce, mas como as palavras pareceram lhe faltar, a única coisa que disse foi:

 -Wow

 E mais rápido do que os olhos humanos poderiam acompanhar, Clarisse havia o empurrado e no momento seguinte o punho dela havia feito contato com o maxilar dele. O impacto foi tanto que Chris caiu para trás, segurando o lugar onde fora atingido, assistiu enquanto Clarisse pegava a lança que havia caído no chão, soltava algo parecido com um rosnado e saia apressada da arena.

 -Acho que isso te torna minha namorada então- Ele gritou antes que ela pudesse sumir completamente, ouviu mais um rosnado e então um enorme sorriso surgiu em seu rosto. Logo a gargalhada do filho de Hermes podia ser ouvida em todo lugar.

 Quando enfim se acalmou, cruzou os braços por trás da abeca e fechou os olhos, jurando a si mesmo que havia visto ela corar no momento em que se separaram. Ponderou em ir até a enfermaria já que não conseguia sentir o lado do rosto onde havia tomado o soco, mas decidiu apenas tirar uma soneca enquanto sonhava com os lábios macios de futura senhora Rodriguez, entretanto, quando duas sombras pairaram sobre ele, Chris abriu os olhos, vendo em sua frente Annabeth Chase e Percy Jackson.

 -Você está bem? – A loira perguntou enquanto franzia as sobrancelhas.

 -Não poderia estar melhor – Respondeu com um olhar sonhador.

 -O que houve com o seu rosto? –Perguntou Jackson.

 -Clarisse me socou.

 -O QUE? – Ambos gritaram ao mesmo tempo.

 -Por que ela faria isso? – Annabeth perguntou, parecendo muito menos abalado do que o namorado.

 -Eu a beijei.

 -VOCÊ O QUE?

 -Eu a beijei – Repetiu de forma irritada.

 Annabeth piscou algumas vezes antes de falar:

 -É meio óbvio o porquê de você ter feito isso, quer dizer, você gosta dela e todos sabem disso, mas... Por que está tão feliz? Ela... Te socou.

 Chris sorriu, cruzou as penas e fechou os olhos mais uma vez antes de sussurrar alto o bastante para que os dois pudessem ouvir:

 -Exatamente, ela não é demais?