- Ai. – Remo gemeu parando de escrever e largando a pena na mesa.
- Que foi? – Sirius perguntou num cochicho, sentado na carteira logo atrás.
- Minhas costas. – Remo respondeu se inclinado para frente e enfiando a cabeça nos braços cruzados sobre a mesa.
Sirius esticou o braço e passou a mão nas costas do outro como se quisesse encontrar algum calombo, osso para fora, tumor ou qualquer saliência fora do comum.
- Que é que tem ela? – ele perguntou depois de ter concluído que não tinha nada de inédito.
- Tá doendo. – Remo respondeu num resmungo.
- Doendo? – repetiu Sirius como se fosse mais normal ter grama nascendo nas costas do que dor. – Ah, já entendi.
Sirius esticou os braços, segurou os ombros de Remo e puxou o amigo pra trás.
- Dói aqui? – ele perguntou cutucando o ombro do outro.
- Dói.
Sirius deu um apertão na região.
- Ai! – exclamou Remo.
- Pára com isso, me deixa trabalhar. – disse Sirius continuando a massagem.
Remo mordeu o lábio para não soltar mais “ais”.
Sirius tinha mãos fortes, que ele tirara sabe-se lá de onde, mas no momento, viam a calhar. As mãos iam apertando os ombros de Remo, que ia fechando os olhos com força.
- Há! Achei. – Sirius disse de Repente, segurando o pescoço de Remo.
- Achou o quê?– Remo respondeu confuso. Antes que Sirius explicasse alguma coisa, ele segurou a cabeça de Remo, com uma mão em sua testa e outra acima da orelha.
- O que é que você...
Crec.
- Aaai!
E a metade da sala que não estava prestando atenção na aula se virou para ver o que havia acontecido.
- Desculpe, Aluado, mas era necessário. – Sirius disse. – Tão olhando o quê? – ele se dirigiu aos curiosos, que voltaram suas atenções para a lousa imediatamente.
E Sirius escorregou as mãos de volta para os ombros de Remo, recomeçando a massagem.
Alheio a aula, Remo divagava sobre as mãos de Sirius, onde o rapaz aprendera a fazer massagem e porque os cabelos da garota a sua frente insistiam em balançar num ritmo hipnótico. Aos poucos, a voz do professor ficava mais baixa, as coisas ficavam menos nítidas e tudo que Remo era capaz de sentir estava concentrado em seus ombros.
- Sabia que estresse e falta de sono causam dor nas costas? Li isso no Semanário das Bruxas. – a voz de Sirius ecoou de repente na cabeça de Remo, o puxando de volta para o mundo real, barulhento e excessivamente iluminado.
- Acho que tenho que parar de andar com você, então... – Remo respondeu, piscando várias vezes, estranhamente desacostumado com a luz da sala de aula.
- Não, eu não, o problema deve ser o Potter. Ele não sabe fazer massagem. – Sirius treplicou.
Remo estava pronto para dizer que a “massagem” do Sirius doía mais que a própria dor nas costas, quando ele percebeu que não estava mais doendo. Os apertões de Sirius tinham um efeito não muito diferente das poções que Remo tomava para dormir. A cabeça começava a girar, as pálpebras a pesar e os músculos relaxavam um a um.
Não era ruim.
- Se você diz.
Sirius riu e continuou até a sineta do fim da aula tocar.
- Se quiser, eu continuo mais tarde. – Sirius disse se levantando e juntando o material. Remo balbuciou qualquer coisa em resposta e passou pelo menos mais cinco minutos escorregando pela carteira, ainda sentindo os reflexos dos apertões em seus ombros.
- Aluado! – ouviu alguém chamar e saiu do transe. Levantou-se e foi até Tiago na porta da sala.
- Vão indo os dois pras masmorras, preciso falar com um batedor incompetente. – Tiago falou autoritário e orgulhoso por ser o capitão do time de Quadribol. Sirius se virou para Remo.
- Remo, abre a mochila.
- Quê?
- Abre, rapaz, só quero ver uma coisa. – ele disse impaciente girando Remo pelos ombros e agarrando a mochila do amigo. Abriu a bolsa.
- Um, dois, três...cinco, seis livros numa mochila só. Uma agenda inútil, um bloco de desenho grosso demais e...um tinteiro de dois litros para família inteira.
- Só tem duzentos mililitros.
- O que você sabe de matemática, Aluado? Duzentos mililitros equivalem a dois litros.
Remo abriu a boca para protestar contra os cálculos de Sirius, mas foi atrapalhado pela sensação de que alguém arrancava um pedaço de seu peso.
- Isso fica comigo. – Sirius concluiu colocando cinco livros debaixo do braço e enfiando o tinteiro na própria mochila. – Pode ficar com o seu bloco e com essa revistinha de Runas Antigas que você chama de livro. Confiscados para o bem de suas costas.
Sirius terminou de guardar as coisas e voltou a olhar para Remo, que parecia muito menor que nunca. Sirius suspirou e segurou os ombros do amigo.
- Não, não, de novo não... – Remo protestou, mas Sirius ignorou e, apoiando um dos cotovelos nas costas do outro, puxou com a outra mão seus ombros para trás. E tudo estalou.
- AH! – Sirius imediatamente soltou os ombros de Remo e pulou para trás.
- Aluado, hoje à noite eu vou botar tudo isso no lugar. – ele disse vendo Remo se entortar outra vez, com uma careta de dor.