Marotos e a Torre da Tríade escrita por liihpequeno


Capítulo 3
Poço dos desejos




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Poço dos desejos

A noite chegou tão rápido quanto um Peter esfomeado conseguia devorar uma torta, e isso era realmente veloz. Aproveitaram pouco do que o vilarejo tinha a oferecer. Aquela era a parte onde a população trouxa se concentrava, apesar de ser o lado mágico da cidade. O chão era coberto de paralelepípedos coloridos, entre os prédios altos e tortos, balões do tamanho de bolas de basquete flutuavam e iluminavam o chão. No começo da rua havia um arco enorme escrito “Abracadabra”. Lojas se estendiam uma ao lado da outra, algumas tão tortas que pareciam que iriam cair. Peter podia jurar que a loja de guloseimas dobrava por cima da lanchonete “Carruagem Mágica” e só terminava no final da rua.

Do lado onde a população mágica se amontoava, era do lado trouxa. As pequenas e confortáveis lojas na estrada de terra, com decorações estáticas e lamparinas presas em postes, paredes e placas.

Frank e Alice, que namoravam desde o quinto ano, estavam aproveitando a enorme loja de doce no fim da rua mágica, o centro de uma bifurcação. Emmeline e Marlene haviam decidido que no dia seguinte iriam até loja de roupas “Fada Madrinha” para comprar algumas poucas coisas que não haviam trazido para a viagem. Por poucas coisas, Lily e Dorcas sabiam que perderiam um dia inteiro só com essas futilidades.

Sirius e James passaram pela logros chamada “Os Sete Anões” que era realmente atendida por sete anões e cada um com uma personalidade em destaque diferente. Remus preferiu visitar a livraria “Castelo da Fera” e Peter estava ocupado, enchendo o bolso de doces no “Pé de Feijão”. Uma loja regida por um rapaz magrelo e dentuço chamado Jack, em homenagem a lenda que rondava a floresta.

Na manhã seguinte, a maioria dos alunos estava de pé. Animados e soltos pelo vilarejo. Foi pedido somente cuidado na hora de interagir com os trouxas, mesmo eles estando acostumados com essa união, parecia que algo estava abalando a sintonia entre eles. Então era melhor evitar qualquer tipo de conflito.

–Eu acho que você devia dizer ao James o que o Amos está fazendo. - Dorcas continuou o assunto que atormentava as meninas desde o dia anterior.

Elas mal haviam conseguido dormir. Conversaram e tentaram pensar em algum jeito de empurrar Amos da torre ou afogá-lo com a lula gigante do lago.

Emmeline estava encostada na janela, olhando o jardim lateral do albergue e a pequena estrada de pedras vermelhas que davam da porta para a rua. Marlene estava deitada em sua cama, com a ruiva ao seu lado, a cabeça apoiada em seu abdômen, enquanto a morena acariciava sua cabeça. Dorcas mantinha os olhos fixos nas amigas enquanto conversavam sobre o dia anterior, sentada em sua cama no canto do quarto. O assunto principal era o fato de Lily ter aceitado a chantagem sem pé nem cabeça de Amos.

–Por que ele iria fazer algo assim? - Dorcas repetia a pergunta. Toda a vez que o assunto se encerrava e elas se encontravam em silêncio, a mais baixa voltava a se questionar, quase sempre em voz alta.

–Pelo simples fato de querer acabar com a minha vida. - Dramatizou a ruiva, se encolhendo mais contra o corpo da amiga.

–Talvez ele realmente goste de você. - Marlene disse dando de ombros, enrolando uma das mexas nos dedos.

–Isso não é gostar, é chantagem! - Concluiu Dorcas, suspirando. -Só espero que James se comporte e não se jogue em cima de alguém. - Revirou os olhos e cruzou os braços, recostando no travesseiro as suas costas.

–Bem… Acho que você se deu mal, porque ele já ‘tá com outra. - Comentou Emmeline, pressionando a ponta do dedo indicador contra a janela, querendo mostrar os pontos que se moviam para fora do albergue. Dois cabelos negros, um bem espetado e outro comprido, vinham na frente e o de cabelo espetado estava abraçado a uma menina que tinha o cabelo acobreado bem escuro. Outro rapaz loiro ia atrás deles acompanhando de um rechonchudo com cabelos castanhos bem penteados.

–O que?! - Gritou Dorcas, pulando da cama e correndo na direção da janela, esbarrando em Emmeline para dividirem o espaço perante o vidro.

–Meninas… - A ruiva tentou pedir, sem sucesso, já que a morena tinha lhe abandonado e agora as três tentavam ocupar o mesmo espaço. A lei que dizia o contrário estava errada. Três corpos conseguiam ocupar o mesmo espaço quando a curiosidade era maior.

–Quem é aquela piranha? - Disse Marlene sem qualquer censura, arrancando um sorriso de Emmeline e um suspiro em desaprovação de Dorcas. Lily tampou o rosto com o travesseiro, querendo se esconder.

–Não é a Bones? - Dorcas pressionou a ponta do nariz contra o vidro, franzindo os olhos. Na mesma hora Emmeline perdeu toda cor de seu rosto sem qualquer explicação aparente.

–Amelia? Desde quando ela e James se conhecem? - Emmeline apoiou a mão direita no topo da cabeça da mais baixa, empurrando ela mais para baixo ainda, querendo ter uma melhor visão.

–Desde final do semestre passado ela anda treinando com ele. Acho que quer entrar no time esse ano. - Deu de ombros, saindo da janela ao se sentir espremida. Dorcas sentou na beirada da cama de Lily, olhando as duas amigas na janela.

–Vou ver isso. Eu posso tentar descobrir. - Emmeline cruzou os braços, saindo de perto da janela e sentando na outra beirada da cama.

–Isso! Se faça amiga da piranha e descubra tudo! - Marlene parecia a mais animada. Emmeline e Dorcas riram da expressão nada culta da amiga.

–Chega! - Gritou a ruiva com a voz abafada pelas penas de hipogrifo do travesseiro. Sentou no meio da cama, batendo com o travesseiro em cada uma. -Vocês acham que eu quero saber disso? Talvez seja isso, talvez não seja pra ficarmos juntos. Esqueçam, por favor.

Contrariadas, elas resolveram aceitar o pedido da amiga. Afinal, a principal envolvida era ela. Elas ainda tentaram argumentar, mas foi em vão. Lily estava decidida que ela e James nunca dariam certo porque carma era uma bela de uma cretina.

Era difícil ser uma adolescente viciada em cafeína quando ninguém mais era. Amelia Bones dependia da cafeína desde que começou a se entender por gente. Começou com um simples café com leite para se manter acordada e atualmente preferia capuccino com creme e farelo de nozes por cima. Edgar, seu primo e maior confidente, havia dito que iria dar uma volta nas lojas trouxas antes de voltar para buscá-la.

Poucos segundos depois, naquele mesmo caminho entre as lojas bem erguidas e eretas, Emmeline, Marlene, Lily e Dorcas passeavam de braços dados tagarelando sobre coisas diferentes, evitando o nome Amos sempre que podiam.

–Sinto muito, mas meu vício me chama. - Emmeline se soltou das amigas, acenando com a mão enquanto abria a porta da cafeteria, deixando que elas continuassem seu caminho.

Um sininho delicado tocou anunciando que havia mais um cliente na loja. Quando a movimentação era grande, a dona Diewell erguia e o prendia em uma fina corda rosa para que a porta não batesse mais no sino e o barulho não a irritasse. Era perturbador ter que atender a todos os clientes com aquele trin trin ressoando nos ouvidos.

–Curtindo a viagem? - Perguntou Emmeline, debruçando em cima dos braços no balcão ao lado de Amelia, assustando a ruiva, que somente sorriu sem sequer virar o olhar.

–Sim. - Respondeu sem qualquer entusiasmo, respirando fundo e encarando o pequeno pedaço de papel branco com um número grande escrito em rosa indicando qual era o seu pedido. Embaixo desse, estava o papel que Emmeline pediu para um garoto do terceiro ano entregar para ela. Simplesmente escrito “Café?”. Impressionante quanta coisa poderia estar subentendida em uma palavra acompanhada de um ponto de interrogação.

–Posso saber o que fazia com James Potter hoje mais cedo no jardim?

–Por algum acaso é da sua conta? - A dona Diewell veio com dois copos de isopor rosa com lilás de café esfumaçando, entregando para a ruiva.

–Agora é assim? - Emmeline saiu de cima do balcão, cruzando os braços, com a sobrancelha esquerda erguida.

–Seu. - Amelia estendeu um dos copos para a loira junto com o papel com a palavra que significou mais do que realmente era pra significar. Emmeline mordeu o canto do lábio inferior, pegando-o rapidamente, tanto o café quanto o bilhete. Sabia que era infantil, mas pelo menos havia funcionado e seu coração pulava com pompons em comemoração. As duas se dirigiram para uma mesa afastada, bem ao canto, sentando de frente uma para a outra.

–Com nozes? - Perguntou a loira, destampando o copo. Amelia afirmou com a cabeça enquanto bebericava seu café. -Ainda não me respondeu, Bones. - Insistiu, bebendo um pouco de seu próprio café.

–Você some por meses… E agora ressurge pra me cobrar? - Amelia abaixou o copo, apoiando os braços na mesa. -Sério isso, Vance? Eu achei que você gostasse de mim, achei que quisesse ficar comigo, e não sair correndo quando eu toco no assunto “assumir”.

–Eu não tenho nada pr’assumir! - Aumentou o tom de voz, esticando as costas.

Algumas pessoas ao redor olharam para as meninas e Emmeline automaticamente corou nas bochechas, abaixando a cabeça em seguida. Era difícil para ela tocar naquele assunto. Desde seu quinto ano havia se envolvido com Amelia em algo diferente da amizade.

Lembrava como se tudo tivesse acontecido no dia anterior. Emmeline estava envolvida com Edgar Bones, primo de Amelia, e os três passavam bastante tempo juntos. Naquela noite de quinta-feira, após a aula de astronomia, eles resolveram ficar na sala enquanto todos saíam para o jantar. Emmeline estava sentada entre os Bones, observando o teto enfeitiçado, as estrelas brilhando e clareando o cômodo.

O ambiente fechado causou o tipo de reação em Edgar. Amelia estava prestes a se despedir e sair para deixar o casal a sós, mas foi o primo quem levantou e correu para fora da sala. Infelizmente o cheiro de traça e a poeira causaram uma reação alérgica no Lufano, que não aguentou muito até sair desesperado de dentro da sala, tropeçando nos próprios pés. Emmeline e Amelia se olharam, trocando uma risada divertida. Vance gostava da garota, só não sabia que Amelia retribuía de maneira diferente.

Nenhuma das duas soube como, entre uma risada e outra, uma mordida de lábio e um suspiro, elas haviam se beijado. Os lábios grudados embaixo das estrelas, Amelia com a mão apoiada na bochecha avermelhada da loira, enquanto Emmeline estava ocupada em lembrar como respirar e dar espaço para a língua de Amelia ao mesmo tempo.

Quando o beijo finalmente acabou, nenhuma das duas pensou em fugir. Continuaram ali e outro toque de lábios aconteceu. E foi assim até Edgar voltar como um furacão empurrando a porta.

–Pois se não tem, então não temos nada a conversar e nem você tem nada a me cobrar. - Amelia debruçou o corpo sobre a mesa e Emmeline estremeceu mesmo que ainda mantivesse certa distância da ruiva. Conseguia sentir o gosto de baunilha dos lábios de Amelia e sentiu saudade deles. -Eu não sou algo que você fica por um dia, faz o que quer e depois some durante um mês por medo de descobrirem. Você sequer teve a capacidade de me escrever uma carta durante as férias! - Os olhos castanhos de Amelia brilharam tristemente e Emmeline se sentiu abaixo do chão.

–Eu… Eu estava com as meninas na casa da Marlene, se eu te mandasse cartas, elas iriam perguntar e seria estranho. - Encolheu os ombros, implorando para que um buraco abrisse embaixo dela e pudesse sumir dali. Havia enchido o peito de coragem e se sentia que tinha toda a razão quando cruzou a porta, mas agora Amelia tinha a feito enxergar como estava sendo egoísta. Não queria assumir nada, mas não queria deixar Amelia.

–Ah, então você acha que eu vou ficar feliz com você sumindo e aparecendo quando quer? Olha… - Amelia respirou fundo, bebendo mais um gole do café, levantando da cadeira. -Eu gosto de você, de verdade, mas se for desse jeito, não vai dar. - Deu de ombros, dando a volta na mesa e passando ao lado de Emmeline para se dirigir a saída, mas os dedos finos da loira ao redor de seu pulso a prendeu no lugar.

O choque elétrico percorreu o corpo das duas. Vindo das pontas dos dedos dos pés até o cabelo e ambas seguraram forte a vontade de se beijarem. Elas não perceberam quando a sineta tocou mais uma vez, anunciando que mais gente estava entrando na cafeteria. Soou tão longe que Amelia achou que fosse seu cérebro com um aviso a mandando sair de perto da loira. Mas quando Emmeline soltou seu braço com pressa e olhou para a porta assustada, Amelia sabia que mais uma vez ela tinha dado razão ao seu medo ao invés de se entregar.

–Emme? - A voz de Dorcas foi um misto de surpresa e curiosidade ao ver as duas juntas.

Amelia bufou, balançando a cabeça. Se Emmeline queria uma chance, havia sido jogada no ralo com aquele gesto medroso que sempre tinha quando alguém se aproximava das duas.

Amelia não entendia como Emmeline estava sendo pressionada pela sua família. Marlene tinha pais compreensivos e que tinham filhos gêmeos para cuidar e não tinha tempo de se preocupar com a sua vida, Dorcas era filha única de um homem que vivia para o trabalho e Lily tinha pais tão carinhosos que sempre a apoiavam em qualquer decisão, a única estranha na família Evans era Petúnia, irmã de Lily e um tanto quanto pirada da cabeça.

–Estou indo. - Emmeline se levantou, pensando no que dizer para Amelia aceitar se encontrar com ela mais tarde, mas a ruiva saiu em disparada pelo salão, saindo ao som da sineta irritante. Internamente, Emmeline amaldiçoou todas as gerações das famílias das amigas com nomes impensáveis.

–Então você quer me fazer acreditar… - James estava concentrado passando a língua ao redor da enorme circunferência -porque escrever “bola” levaria ao duplo sentido e James tem um sério problema com homossexualismo- de sabor chocolate. -Que o tal pato de borracha não faz absolutamente nada?

Remus riu com o comentário do amigo. Os quatro passeavam pelas ruas em zigue zague da parte mágica do vilarejo. Sirius mantinha a mão esquerda dentro da calça escura, a outra segurando um picolé de morango, Remus já tinha terminado seu sorvete de baunilha e estava devorando a metade final da casca crocante e Peter se confundia com o tanto de sabores presentes no pote neon com confeitos e biscoitos.

–É uma companhia para banhos, nada mais. - Respondeu, mordendo mais um pedaço e limpando o canto da boca com a ponta do dedo indicador.

–Isso é ridículo. Eu podia ter companhias mais interessantes que um pato amarelo de borracha! - Sirius exclamou revirando os olhos, arrancando risadas dos amigos.

Por um instante, quase uma fração de segundos, Lupin achou ter ouvido alguém chamar seu nome. Como um vento sussurrante ao pé de seu ouvido. Um segredo, para que somente ele entendesse. Franziu o cenho, olhando em volta, procurando qualquer conhecido que pudesse estar por perto. Bem, conhecidos tinha quase todos os alunos de Hogwarts, mas ninguém parecia dar importância aos quatro. Com exceção das meninas desesperadas pela atenção de Black.

–Ouviram isso? - Parou de súbito. Novamente ele ouviu seu nome, dessa vez, mais alto. Uma voz doce, serena, como o canto de uma sereia.

–Remus? - Foi a voz baixa de Peter que chamou a atenção de Remus. Sirius e James já estavam alcançando a praça mais à frente, conversando e rindo, sem se dar conta que os dois ficaram para trás. -Vamos. - Peter sorriu docemente. Tão inocente e ingênuo que parecia uma criança.

Aluado acenou com a cabeça, sorrindo de canto, apressando o passo junto com Rabicho para acompanhar os amigos.

No meio do caminho, Lily encontrou com Amos. Na verdade, elas apressaram o passo ao ouvir o Lufano chamar pela ruiva, mas ele foi mais rápido que elas e acabou levando a monitora da Grifinória para um passeio que Lily achava mais ser uma tortura. Ter que olhar para Diggory e ainda por cima fingir que gostava de estar na companhia dele, quando queria arrastar o rosto do rapaz no chão de areia, era crueldade. Ela não conseguia ser tão falsa. Mas era por James.

Mas ela não se foi sem antes ouvir tudo o que Emmeline tinha descoberto sobre Amelia e James. Claro que a maior parte a loira inventou, mas descobriu nessa sua nova missão a chance de se aproximar de Amelia sem que as amigas desconfiassem. Garantiu que ainda não tinha descoberto nada e que tentaria se aproximar, alegando que Amelia só iria se abrir sobre coisas tão pessoais caso confiasse nela.

Eu deveria ganhar um Oscar.” – Pensou depois que mudou de assunto drasticamente antes que qualquer pergunta sobre Bones fosse feita.

Emmeline, Dorcas e Marlene chegaram à praça praticamente ao mesmo tempo do que os marotos.

Cinco caminhos que se encontravam em um ponto, por isso eram conhecidos como cinco bocas. No centro, havia um poço rodeado por madeira escura, no topo um telhado do mesmo material, decorado com flores e ramos. No telhado pendia um balde, enrolado na manivela, esperando para que alguém retirasse água de seu fundo, algo que devia ser somente decorativo.

Pequenas mesas coloridas se espalhavam por aquela praça, extensões dos restaurantes lotados que se estendiam pelas ruas de paralelepípedo.

Dorcas acenou debilmente para os rapazes, que sorriram em retorno, andando na direção delas. Remus se encolheu atrás dos amigos, ainda achando que alguém o chamava, por mais que os amigos ignorassem esse fato. Eles se cumprimentaram. James, como sempre fazia, ergueu a mão bem acima da cabeça de Dorcas, momento que antecedia o fato da baixa começar a pular, tentando acertar a mão de James com um tapa amigável. Mas cada vez que ela quase alcançava, ele erguia mais a mão e todos riam.

–Cadê a Lily? - Perguntou James, mas logo se arrependeu ao ver o olhar cabisbaixo de Marlene, que era a que estava mais perto de si, enquanto Emme e Dorcas conversavam com Peter e Remus.

Eles se sentaram ao redor de uma mesa redonda, apertados um do lado do outro, para tomar um suco e lanchar antes de voltar ao albergue, mesmo tendo comida livre na sala de refeição da hospedaria. Era diferente quando eles podiam sentar juntos e conversar sem qualquer restrição, especialmente quando Marlene ria de maneira tão escandalosa.

Mas Emmeline não conseguia prestar atenção em nada. Brincava com o pingente de pimenta no cordão dourado, ouvindo o coração martelar nas orelhas ao ver Amelia com Edgar conversando encostados no poço. Vez ou outra, elas trocavam olhares por segundos, mas era o suficiente para a respiração acelerar e descontrolar totalmente.

–Isso não é um poço dos desejos. - Riu Edgar, arqueando as sobrancelhas enquanto Amelia tapava os olhos com um sicle na mão, pronta para jogar.

–Mas vale a intenção, não? E antes um sicle do que um galeão. - Deu de ombros, contando até três mentalmente antes de lançar a moeda poço abaixo.

Eles esperaram… E esperaram… Mas o barulho da moeda atingindo o fundo do poço nunca veio. Por um segundo, eles acharam que ao redor deveria estar barulhento demais para ouvir alguma coisa, mas depois perceberam que eles teriam ouvido pelo menos o ploft do metal atingindo a água.

–Cadê o fundo disso? - Edgar arqueou as sobrancelhas, olhando de relance para a prima.

Não muito longe, Remus ouviu novamente alguém o chamando, dessa vez insistentemente, não o deixando em paz. Seu estômago revirou e a vista embaçou. Sentiu-se fraco e com o corpo mole, como se fosse um boneco de pano.

–Pára, pára, pára! Me deixa em paz!

Os gritos fizeram todos se calarem e virar para Remus. Aluado estava com a testa encostada no tampo da mesa, as mãos abafando as orelhas e ele se levantou, recuando em passos lentos, derrubando a cadeira e quase caindo por cima dela. Automaticamente, James e Sirius levantaram, segurando Remus enquanto Peter e as meninas encaravam de boca aberta.

–É ali… Vem dali! - Berrou, apontando com o dedo indicador trêmulo para o poço.

Com um barulho parecido com um arroto, a moeda foi cuspida para fora e atingiu o chão de pedra. Edgar olhou curioso para a moeda, mas Amelia inclinou o corpo no poço, as sobrancelhas juntas, sem entender o que tinha acontecido.

Foi então que ela viu subindo pela parede do poço. No primeiro momento pensou em uma aranha gigante, mas a ‘pele’, se é que podia ser chamada assim, era lustroso como petróleo e negro como tal.

–Mas que… - Sussurrou a ruiva.

Antes que ela pudesse jogar o corpo para trás ou correr, aquela coisa molenga saltou no rosto da garota, tampando seus olhos nariz e boca. Amelia caiu sentada no chão, seu cox reclamando da dor por causa do impacto. Ela não conseguia respirar, era como afundar o rosto em uma gelatina gigante. A vista escureceu, as unhas se afundaram naquela gosma que a asfixiava sem piedade.

–Alguém me ajuda! - Edgar gritou, se ajoelhando ao lado da prima, tentando ajudá-la a tirar ‘aquilo’ sem muito sucesso. Conseguia arrancar pedaços pequenos que fugiam como areia por entre seus dedos.

–Amelia. - Sussurrou Emmeline, sendo a primeira a levantar antes dos outros, correndo em direção a ruiva.

Sirius soltou Remus e correu junto com os amigos, deixando que James tentasse acalmar Aluado, que tremia e grunhia com as mãos nos ouvidos. Enquanto isso, perto do poço, Amelia começava a perder as forças. Os ouvidos zuniam e a respiração parava aos poucos. Ao longe, ela ouvia vozes a chamando, uma em especial. A voz doce de Emmeline fez com que ela tivesse vontade de fechar os olhos e se entregar a um sonho com a loira, mas ela sabia que seria um sonho do qual não acordaria mais.

Edgar segurava Amelia nos braços, a nuca da prima apoiada em seu peitoral. Ele procurava segurança e apoio nos olhos de Emmeline, por quem ainda sentia uma paixão arrebatadora, mas ela parecia mais preocupada em livrar Amelia daquela gosma, o que era normal, já que todos estavam assim. Com mais mãos disponíveis, eles conseguiram arrancar mais pedaços, atirando para os cantos, até livrar o rosto de Amelia, que respirou com dificuldade, os lábios azuis pela falta de ar.

Amelia se curvou para o lado, sentando no chão com a ajuda dos amigos e forçou o vômito, o resto da gosma preta caindo perto dos pés de Marlene e Dorcas, junto com saliva esbranquiçada e espumando. Emmeline, sem perceber, abraçou Amelia e recebeu o abraço de volta.

–Que porra foi essa?! - Gritou Marlene, levantando do chão e chutando com sua sapatilha florida a gosma para longe.

Dorcas puxou a blusa branca e larga de Marlene, querendo chamar a atenção, apontando para os pedaços que começavam a rastejar pelo chão, até se encontrarem no ponto onde o menor deles estava.

–É a maldição! - Gritou um senhor não muito longe.

–Fujam e salvem suas crianças! - Uma mulher abraçou sua filha, que deveria ter apenas oito anos, e correu por uma das saídas da praça, seguida em desespero e berros por muitos outros. Poucos curiosos foram os que ficaram na praça.

– Você tá bem? - Perguntou Emmeline desesperada, segurando o rosto mole da menina entre as mãos. Os olhos castanhos dela estavam cerrados e ela respirava fortemente, mas ainda com um pouco de dificuldade. -A gente precisa sair daqui. - Olhou para Edgar e ele lhe acenou com a cabeça, feliz por Emmeline finalmente ter notado sua presença.

Eles seguraram Amelia um em cada braço, ajudando-a a se erguer. Amelia recomeçava a ganhar as forças nas pernas e conseguiu se manter em pé, mas ainda precisou de apoio.

–Está se juntando de novo! - Gritou Dorcas, agora chamando a atenção dos amigos.

A gosma se tornou novamente uma única forma e rolou pelos paralelepípedos, ignorando o grupo que se afastou alguns passos, procurando por alguma vítima mais fácil agora. Não demorou muito para se aproximar de um grupo de alunos que olhava curioso. Eles gritaram, mas não foi o suficiente.

Sarah Millan não conseguiu fugir a tempo. O bicho rolou pelo seu pé, subindo pela canela, deixando um rastro de lama preta pela pele e roupa até alcançar seu rosto. Depois, foi como se ela tivesse sido engolida por uma bolha. Ela tentou se mexer, fugir, mas era impossível. Quanto mais tentasse resistir, queimava. A gosma foi tomando conta do corpo dela, se fundindo as suas curvas, que não eram muitas. O corpo de Sarah parecia ter sido contornado por um tipo de armadura escura, os olhos assustados aparecendo entre duas frestas. Ela assoprou pelo nariz, com força, dois pedaços da gosma caindo no chão, liberando as narinas.

Como um robô, ela marchou em direção ao poço. Era notável que ela não se controlava e pedidos de socorro ficaram abafados, mas podiam ser entendidos. Sirius e Peter correram na direção da garota, mas ao tentar tirar a gosma que a cobria, a mesma começou a subir por seus dedos, quase engolindo suas mãos, queimando. Quando ajudaram Amelia, aquilo não tinha acontecido. Eles gemeram de dor, tentando livrar as mãos em desespero, esfregando contra as peças de roupa em seus corpos.

Ninguém ousou tocar nela quando a menina se jogou de cabeça dentro do poço. Somente James correu o caminho que separavam eles, as mãos por pouco não segurando os pés de Sarah para que tentasse salvá-la. Ele bateu os punhos fechados na beirada do poço, nervoso.

–Que merda! - Suspirou James, se sentindo agoniado por não ter conseguido salvar a Lufana. Ele se virou para Amelia, segurando a ruiva pelo rosto, olhando fundo em seus olhos. Emmeline torceu os lábios com a aproximação dos dois. -Mia. Mia. Você está bem?

Ver aquela cena, mesmo que de longe, fez Lily sentir um soco no estômago e uma vontade de chorar, mas a mão de Amos apertando a sua, fez com que recobrasse a consciência. Precisava ser firme por James, por mais que doesse.

–O que aconteceu? - A voz da ruiva vacilou por um segundo quando se aproximou dos amigos.

James fechou a cara ao ver Amos com os dedos entrelaçados nos da ruiva e um sorriso cretino nos lábios. Marlene e Dorcas ajudavam Peter, que estava com as mãos trêmulas e avermelhadas. Sirius garantia que estava bem e escondeu as mãos nos bolsos, Amelia já se encontrava em perfeito estado, mas ainda assim se apoiava em Emmeline, enquanto Edgar a encarava a loira pelo canto dos olhos.

–Alguma… Coisa pegou Sarah Millan. Primeiro tentou matar Amelia e depois se jogou no poço com Sarah. - Disse Marlene, olhando de relance para a ruiva e se controlando para não quebrar os dentes perfeitos e a amostra de Amos.

–Eu tentei segurar ela, mas não consegui… - O olhar de James passou por cima do ombro da ruiva, procurando por Remus que ele havia deixado em uma cadeira. -Onde está o Lupin? - Franziu o cenho, olhando para os lados.

–Aonde ele está indo? - Foi Dorcas quem avistou Remus correndo por um dos cinco caminhos, o que ficava entre um restaurante e a loja “Abóbora Adocicada”, onde tudo era feito de abóbora, até o formato da loja era de uma abóbora. Lembrava muito as enfeitadas de Halloween, onde as janelas estavam no lugar dos olhos e a porta no lugar da boca.

–Remus! - Foi Sirius que gritou, mas foi Dorcas quem correu atrás do lupino.

–Mas que! - James segurou o palavrão, mas Marlene continuou, soltando um sonoro “merda”.

–Levem Amelia pra enfermaria e chamem Minerva! Eu vou atrás dele! - James olhou para Lily, sabendo que por ela ser monitora, aquele era o trabalho dela. Ficaria segura levando os amigos machucados até a Professora. Mas a ruiva segurou firme o pulso de James e sua vontade de chorar aumentou. Queria tocá-lo além daquele gesto impulsivo. Havia sonhado com o gosto dos lábios dele e sabia que não desvendaria esse mistério tão cedo.

–Vocês não vão sozinhos sem acompanhamento de um monitor! Eu vou, Amos vai atrás de Minerva. - Ela disse e nenhum deles pareceu contrário a ideia, exceto por Amos. Ele apertou mais a outra mão da ruiva, tentando alertá-la, mas a garota se soltou, lançando um olhar de reprovação. Era uma situação de perigo e ela precisava ajudar… E ficar perto de James, claro.

O grupo se dividiu em Edgar, Peter e Amos voltando para avisar a professora sobre o ocorrido e cuidarem das mãos feridas do maroto mais gordo e Marlene, James, Lily, Sirius, Emmeline e Amelia -que se recusou a ir para enfermaria, pois já estava bem e queria ajudar- correram atrás de Dorcas que, por fim, corria atrás de Remus, chamando pelo nome do garoto.

Só pararam de correr quando a floresta cresceu com árvores robustas em um labirinto à frente deles. Engoliram em seco, vendo o amigo desaparecer entre os galhos e folhas.

–Vocês esperem aqui. Nós vamos atrás do Remus. - Disse James, apontando para as cinco garotas. Por um instante, ele viu o reflexo da mãe nas atitudes delas. Marlene cruzou os braços, Lily apoiou as mãos na cintura e Dorcas encolheu os ombros em sinal de desaprovação. Emmeline e Amelia riram do maroto, como se fosse uma piada. Ele se sentiu desmoralizado.

–Nem em sonhos eu deixo você entrar aí sozinho! Você pode se machucar! - A ruiva negou com a cabeça enquanto falava.

–Desde quando você se importa?

As palavras de James foram como um tapa no rosto da garota. Ela mordeu o lábio inferior para conter as lágrimas. Percebendo a situação constrangedora que a amiga estava, Dorcas tomou a frente, sem se importar com os amigos que discutiam mais atrás.

–Vocês podem ficar aí tentando descobrir quem é o sexo mais frágil, enquanto isso, eu vou encontrar quem levou meu Remus e a tal Sarah e acertar a cara do infeliz em cheio. - Acenou com a mão por cima do ombro, já com os pés na orla da floresta. Eles arregalaram os olhos em surpresa e seguiram a baixinha corajosa.

Quanto mais fundo adentravam na floresta, mais perdido eles ficavam. Não lembravam por onde tinham vindo e gritavam por Remus a cada segundo, mas o maroto não parecia muito a fim de responder, ou algo não o deixava. Dorcas já estava agoniada, nervosa querendo achar o maroto.

–Ele estava ouvindo vozes. Ele apontou pro poço pouco antes daquela coisa saltar de lá. - Explicou Sirius enquanto eles conversavam sobre ocorrido para deixar Lily a par de tudo que aconteceu.

–Isso é estranho, Lupin nunca foi paranormal pra ouvir coisas que outros não ouvem. - Disse James, saltando uma raiz de árvore grande que crescia para fora.

–Vai ver ele tem uma audição melhor do que a nossa. - Concluiu Lily, tropeçando em um galho e se apoiando nas costas de James. Eles se encolheram ao toque e prenderam a respiração, mas logo a ruiva se afastou, tropeçando nos próprios pés dessa vez.

–Deveríamos voltar. Talvez Lupin tenha achado o caminho de volta e está escurecendo. Vamos ficar presos aqui. - Disse Amelia, parando de andar. Emmeline parou ao lado da garota, afirmando com a cabeça.

–Remus é o mais inteligente de nós, com certeza deve estar nos esperando lá fora. - Marlene segurou Dorcas pelos ombros, tentando tranquilizar a amiga.

A mais baixa das meninas suspirou, engolindo o choro que começava a engasgar em sua garganta, mas aquela floresta estava lhe dando calafrios. Se Remus estivesse a salvo fora daquele lugar, ela já podia imaginar os tipos de torturas que usaria nele.

Eles deram alguns passos antes de pararem repentinamente. Ao longe, eles ouviram um uivo. Como de um lobo, mas um toque gutural humano. Eles se arrepiaram e Sirius e James trocaram olhares desesperados. A lua cheia não apareceria por uma semana e eles estavam a salvo. O grunhido animalesco parecia mais perto quando eles resolveram voltar a andar, dessa vez apressados, quase correndo.

–Vai, vai, vai! - James empurrou Marlene, que estava à sua frente, começando a correr em busca da saída. Atrás deles, já podiam sentir o caçador em sua cola, quase os alcançando para jantar.

Sirius olhou de relance para trás e soltou um rosnado ao ver um lobo de aparência diferente do que estava acostumado. Não era nada parecido com humano, nem mesmo lobisomen. Era um lobo de verdade, mas de tamanho duplicado. Com caninos longos, correndo sob quatro patas, a saliva marcando o caminho quando tocava o chão, os olhos vermelhos como sangue.

No meio da corrida, Emmeline se desequilibrou, torcendo o pé e caiu de bruços no chão. Ela não imaginou que os saltos a atrapalhariam quando saíram para passear pelo vilarejo. Estava mais para trás e os amigos pararam quando ela gritou. A fera rosnou e pulou num tronco de árvore antes de partir para cima dela. Emmeline cobriu a cabeça com os braços, torcendo para que sua morte fosse rápida. Ela esperou o que pareceu uma eternidade, mas a morte nunca veio.

Outro grito se foi ouvido e dessa vez Emme ergueu a cabeça coberta de folhas, encarando Amelia de costas no chão, somente um tronco fino separando a ruiva do animal de pêlos cinza e enorme. Não demorou muito e o galho se partiu. A boca do lobo por pouco não acertou o pescoço de Amelia, mas pegou seu ombro, dilacerando a carne e espirrando sangue.

Segundos depois, Sirius correu com um galho firme e grosso nas mãos, acertando a lateral do bicho e o lançando contra uma árvore, que caiu inconsciente no chão.

–Saiam daqui! A gente segura ele! - Berrou Sirius, ajudando Amelia a se levantar.

Dorcas retirou o cachecol do pescoço, pressionando contra o ferimento de Amelia, que não parava de sangrar. Emmeline levantou do chão, tirando Lily, contra a vontade dela dali. Elas correram em direção ao único feixe de luz que podia ser visto por entre as árvores. Tinham que aproveitar enquanto estava claro e lembrar que não podiam usar suas varinhas por causa das restrições. James e Sirius dariam um jeito. Eles sempre davam.

Quando as meninas sumiram de vista, James e Sirius se entre olharam enquanto o lobo recobrava a consciência, bufando, lambendo os dentes afiados. James e Sirius tiraram as roupas, mantendo somente a peça íntima no corpo.

O barulho de ossos estalando ecoou por toda a floresta, parecendo sussurros das árvores conforme eles iam se quebrando. A primeira parte a se quebrar foram os joelhos de James e Sirius, sendo empurrados para trás e os dois caíram com as mãos apoiadas no chão. Sirius mordia o próprio braço, rasgando a pele com os dentes, o canino crescendo afiado conforme ele mastigava a própria pele. Os olhos de James se tornaram completamente negros, como descreviam os olhos de demônios. Ele soltou um resmungo e de suas testas rasgaram-se em dois pontos distintos, o osso se protelando para a fora, crescendo e tomando a forma de um par de chifres firmes e volumosos. As costas de Sirius se rasgaram em dois, a pele dando lugar ao pêlo negro e bagunçado, os olhos amarelos ressaltando. A transformação levou poucos segundos e no lugar dos dois amigos, estavam um cervo forte e imponente, e um cão negro e raivoso.

Arrastando as patas dianteiras nas folhas, o lobo marcou com suas garras a terra, antecedendo o ataque. Eles se entrelaçaram em um briga de mordidas, garras e rosnados. O cachorro e o lobo trocavam mordidas e cortes com as patas como se não doesse. A adrenalina e a forma mágica não deixavam. Iriam sentir depois. Eles só queriam garantir que as meninas teriam tempo o suficiente de fugir. Sirius tentou ao máximo não machucar o lobo, por receio de ser Remus.

No meio a toda comoção, o cervo investiu com os chifres contra o lobo, prensando o animal contra a árvore, que soltou um lamento parecido com o choro canino. Aos poucos, os pêlos do lobo foram caindo, deixando um Remus inconsciente e nu preso as galhadas no cervo. James o soltou, deixando que o amigo escorregasse pela árvore. No instante seguinte, Pontas estava em sua forma humana, também nu. Sirius estava estirado no chão, o corpo nu coberto de folhas e sujo de lama e sangue.

James estava menos machucado, pequenos cortes pelo corpo e um arranhão profundo no antebraço direito. A respiração deles estava ofegante e pesada, era como se tivessem corrido uma maratona. A boca estava seca e ele sentia o corpo dolorido.

–Saiam daqui… - Murmurou Lupin, erguendo o olhar para James. Seus olhos ainda estavam vermelhos. -Ou eu vou arrancar a cabeça de cada uma delas com os dentes. - O sorriso que surgiu na face de Aluado fez Pontas estremecer. Os lábios e os dentes manchados de vermelho, de sangue.

James se aproximou de Sirius, ajudando o amigo a se levantar. Eles pegaram as roupas largadas no chão e correram, querendo fugir dali para se recuperarem. Já haviam encarado Remus como lobisomen antes, mas agora era diferente. Ele estava mais forte, maior, mais astuto. Não era um animal burro e violento. Era racional e atacava de acordo com os movimentos dos garotos.

–James! - Gritou Lily ao ver o garoto de óculos saindo da floresta. Ela correu se esquecendo de tudo que os impedia de estar juntos por um segundo e se jogou contra ele. O corpo do maroto protestou, mas ele não se importou. Abraçou Lily de volta, com força.

–Você está bem? - Marlene foi mais comedida. Aproximou-se devagar e tocou com a ponta do dedo ao redor do pequeno corte que Sirius tinha no rosto.

No chão, Amelia estava sentada com Emmeline ao seu lado e Dorcas do outro, pressionando o cachecol contra o ferimento. No fim das contas, a mordida não havia sido tão profunda nem mortal como eles esperavam, mas Bones carregaria a marca pelo resto da vida.

–Onde está Lupin?! - Dorcas se ergueu do chão, caminhando na direção dos meninos, os olhos marejados. -Era ele, não era? - Emendou ao notar a falta de resposta dos amigos. Os garotos abaixaram a cabeça e Dorcas desabou em um choro pesado e sentido.

–Obrigada. Eu não esperava que você fosse se arriscar assim por mim. – Emmeline sorriu em gratidão, mantendo o tom de voz baixo para que os amigos não escutassem.

–Faria o mesmo pelas meninas ou os meninos. Não se anime. – Por mais que doesse em Amelia ver o rosto triste de Emme, ela não ia se deixar se abater. Seu amor próprio ainda era um pouco maior. Ainda.

–Mas pelas barbas de Dumbledore, o que aconteceu aqui?! – Minerva vinha ao fundo com Slughorn, Amos e Edgar na direção deles. –Porque eu deveria imaginar que vocês estariam metidos nisso, hum? – Trincou os lábios, erguendo os olhos por cima do aro dos óculos.

–Todos têm participação nisso, eu me responsabilizo por tudo! – Disse Lily, entrando na frente de James, como se fosse defendê-lo de um tiro. Ela se lembrou da ameaça de Amos, que eles seriam expulsos caso fossem pegos em mais uma artimanha. James arqueou as sobrancelhas, soltando uma risada baixa.

–Não é o fim do mundo, já peguei detenção por coisas piores. Até porque eu estava tentando salvar Sarah Millan e Remus. Não fiz nada errado.

–Sobre o sequestro de Sarah Millan, peço que não comentem nada com ninguém. É uma situação delicada e Dumbledore está vindo pessoalmente resolver isso. Quanto ao Senhor Lupin... – Ela olhou para os três marotos, a sobrancelha esquerda erguida. -Quero ver Potter, Black e Pettigrew na sala de refeição do albergue nesse instante. – Minerva juntou as mãos à frente do corpo e fez um sinal com a cabeça para que Slughorn ajudasse Amelia.

O professor soltou um gritinho de animação ao tirar um vidro com uma poção azulada, pegajosa e pungente. Ele retirou a pequena rolha que tampava o frasco e levou as narinas, inalando o odor fétido. Com cuidado e com a ajuda do cachecol de Dorcas, espalhou a poção sobre a ferida de Amelia.

Horace fez um curativo improvisado no rasgo no ombro de Amelia e tratou rapidamente dos outros ferimentos de James e Sirius. Lily queria ajudar, estava preocupada com a situação de James e seu coração martelava com a possibilidade dele ter algum ferimento mais grave ou ser expulso após a conversa com Minerva.

Emmeline e Edgar ajudaram Amelia a se pôr de pé. Amos correu na direção de Lily, roubando-lhe um beijo que foi muito mal retribuído, mas foi o suficiente para James balançar a cabeça e caminhar apressado, junto com Sirius e Peter. Antes de voltar ao vilarejo, Dorcas olhou por cima do ombro para floresta. Não importava o que diriam, ela sabe que seu Remus estava lá, perdido, sozinho, precisando de ajuda. E ela não iria deixá-lo sozinho.


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