People With Problems escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 5
Água


Notas iniciais do capítulo

idk oi?



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Segunda a senhora Kowki me acorda e eu tenho que me lembrar que ela não é meu pai e eu não posso dar um soco nela por ter me acordado tão cedo.

–Bom dia. -Ela abre minha cortina. A primeira coisa que eu vejo é a cama de Kristin vazia. Ela ainda não voltou, e eu fico até meio contente por causa disso. O evento de sábado ainda gira na minha mente.

–Oi. -Digo de mau humor. Ela sai, e eu saio da cama pra trocar de roupa. Penso em ligar em minha mãe, mas meu celular não tem sinal. Finalmente entendo porque "não usar celular" não é uma regra: nunca tem sinal, então nunca dá pra realmente usar o celular. Jogo ele na cama e saio do quarto, pra tomar café. O final da semana passou lento, quieto e solitário enquanto eu me escondia do mundo no quarto. A senhora Kowki falou comigo (pra me dar remédios) algumas vezes, e Rose e Liana perguntaram se eu queria jogar xadrez, mas eu quis ficar na cama. Trouxe um livro, um sobre as ideias de Shopenhauer* e fiquei lendo por dois dias seguidos, só parando pra comer e ir no banheiro (tem dormir, mas é óbvio demais), e todo mundo me deixou em paz. Toda vez que eu queria ligar pra minha mãe ou irmã, eu me concentrava mais no livro. Porque eu decidi que estou com raiva delas por ainda não terem me tirado daqui. E Mack não ligou nem uma vez pra esse lugar. Então suponho que me abandonaram, e vou fazer silêncio até elas me procurarem. Mas isso não me impediu de chorar de noite por saudades.

Sento na mesa, e todo mundo já está lá, comendo. Dessa vez, a única cadeira vaga é a do lado de Perry, então eu sento.

–Bom dia, Emerson.

–Oi. -Não acredito em bons dias.

–Preparada pras nossas atividades? -Chris pergunta. Ele voltou.

–Não. -Pego uma bolacha. Dover e Danny riem. Liana funga e sai da mesa, voltando pro quarto. Todos seguem com o olhar, mas ninguém diz nada.

–É só um mau dia pra ela. E por que não?

–Pra começar, eu não sei o que a gente vai fazer.

–Você pode escolher: ou você vem com a gente pro rio e a plantação da arroz, ou você fica aqui e aprende a costurar com a senhora Kowki.

–Fico com a costura. -Plantação de arroz? Sério? Chris não parece tão feliz com a minha escolha. Rose joga adoçante no seu café, seu cabelo em uma trança que faz ela parecer bem mais nova. Ela parece radiante, apesar de quieta.

–Emerson...

–Me chame me Em. Ou Meri. Ou Emer. -Ele falando meu nome está me deixando irritada.

–Emer? Isso é esquisito. -Dover diz, quietamente.

–Em é muito chato. -Rose analisa. De repente todo mundo começou a abrir a boca, pelo visto.

–Meri é legal. -Danny diz. -Meio esquisito, mas legal.

–Então me chamem de Meri.

–Me passa o cereal. -É a única coisa que Perry diz. Passo pra ele, sem nem olhá-lo. Ele não diz mais nada.

–Continuando, Em, Meri, Emer, qual for sua escolha -Chris diz-você tem deficiência de vitamina D. Acho que seria bom ir pro sol um pouco.

–Como você sabe disso? -Digo, acusadora.

–Estava na ficha médica que seus pais me mandaram quando aceitamos você aqui. -Falando desse jeito, parece que eu sou uma louca que vim para uma hospital psiquiátrico. Pensando bem, lembrando de Kristin, não duvido de nada.

–Que ficha? A mesma que disse que eu tenho problemas de raiva e princípios de depressão?

–Controle seu tom, Emerson. -A senhora Kowki diz e eu quero explodir tudo outra vez. Eu não quero controlar meu tom, obrigada. O guru não se abala.

–É. Essa mesmo.

–Não. -Digo, por fim.

–Você sabe pra que a vitamina ajuda? Ela dá mais energia, previne a depressão e te deixa mais disposta.

–Olha que coincidência: REMÉDIOS TAMBÉM! -Finjo animação, e Chris respira fundo.

–Escute, isso é uma obrigação. Pela previsão do tempo, semana que vem vai chover, então essa semana você vai todas as atividades ao ar livre e semana que vem pode ficar a semana toda costurando um casaco pra sei lá o que, com a senhora Kowki. -Ele diz, autoritário. Meus olhos ardem, mas nenhuma lágrima sai. Já que não tenho opção, faço que sim com a cabeça, expirando irritada.

Meia hora depois, estou dentro de um barco. Danny, Dover, Rose e Perry estão em barquinhos como o meu também, e nós estamos no meio de uma plantação de arroz. É extensa, utilizando alguns quilômetros das terras de St. Mara, e calmo. É tudo muito calmo e isso traz uma agitação no meu coração. As coisas nunca foram calmas pra mim, e calmo só quer dizer que algo está se preparando pra acontecer -e essa coisa é ruim. Não sou babaca a ponto de dizer que a vista não é maravilhosa: porque é. Como a água é super calma, o céu está sendo refletido na água, e de longe da pra ver o começo de uma floresta. É um pequeno paraíso, se fosse gosta de paisagens assim. Os pássaros voam, o vento é fresco e o sol está lá em cima, fechando com chave de ouro. Mas ainda estou agoniada. Meu barquinho de madeira é movimentado pelos meus remos, e demorei quinze minutos pra aprender a remar direito, sem ficar girando.

–O que a gente vai fazer? -Grito para Chris, alguns metros ao lado.

–Só remar. -...Só? Sem guerra de balão de água ou algo assim? Só remar em uma plantação de arroz? -Aproveite a paisagem. Deixe a vitamina D entrar no seu corpo. -Cala boca, penso.

–É só fechar os olhos. -Diz Rose. -E respirar fundo. É muito bom. -Faço o que ela disse. Fecho os olhos, e respiro fundo.

Você vai ficar bem, Emerson. Isso não é tão ruim. Não tem problema você querer socar alguém às vezes. Não tem problema alguém querer te matar. As coisas vão dar certo. Abra os olhos agora, digo para mim mesma e é isso que eu faço.

–Tente aproveitar. -Grita Dover. Ou Danny. Eles são gêmeos, então dificulta, mas acho que é Dover. -Se você não tentar, não vai nem chegar perto de conseguir.

–Qual a profundidade disso aqui? -Pergunto, olhando pra água. As nuvens lá do seu estão sendo refletidas. Fecho os olhos de novo e ergo a cabeça em direção ao sol. Não posso negar: a sensação é boa. Kristen e a minha família já estavam quase fora da minha mente.

–Um metro, acho. Tem bastante lodo e alguns peixinhos. Não dá pra nadar, mas é relaxante.

–Coisas quietas não me relaxam. -Respondo seu comentário.

–Vamos conversar sobre isso mais tarde. -O guru desvia do assunto. -Agora, só fique em silêncio e aproveite. -Abro os olhos e olho para o lado. A uns vinte metros, Perry está remando para mais longe. Ele parece no mundo da lua, e eu o observo. Ele tem cabelos negros, e bem curtinhos e pose de fortão. E a julgar pelos bíceps que aparecem pela camiseta dele, ele é mesmo forte. Mas parece meio babaca e grosseiro. Porém desse jeito, sem saber que tem gente olhando pra ele, ele parece... inofensivo.

Subitamente, ele se vira e olha em nossa direção. E eu entro em pânico, por causa disso (e se ele percebeu que eu estava olhando pra ele?) e acabo caindo na água e consequentemente, me sujando completamente de lama.


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Notas finais do capítulo

shopenhauer foi um filosofo alemão e ele defendia a ideia de que a gente sofre a vida inteira por causa dos nossos desejos basicamente todo mundo é miserável e é por isso que a emerson tava lendo aquilo caso queiram saber ok tchau