People With Problems escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 17
Sagrado




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O resto do dia passa normalmente. A gente faz uma fogueira a noite e Mack conta para eles histórias constrangedoras sobre nós. 

-E teve o dia em que a Em foi no primeiro encontro dela -ela começa, depois tem que pausar pra rir da própria história e eu reviro os olhos, lembrando do que ela vai dizer. -E acidentalmente meus pais e eu acabamos aparecendo NO MESMO RESTAURANTE QUE ELA E O GAROTO. -Então ela gargalha, e todo mundo ri. Não sei se estão rindo dela ou da história. Provavelmente da primeira opção. -Aí meu pai não sabia quem era o garoto, então ele sentou na mesma mesa que ela. 

-Ah, senhor. -Suspiro. 

-E ele falou bem assim "É hora do meu encontro com ele" e praticamente jogou a Emerson pro outro lado da mesa. -Ela ri mais um pouco e eu acabo cedendo e rio junto. É uma história engraçada. -Ele inventou que tinha que ajudar a avó doente cinco minutos depois. 

-E foi assim que vocês acabaram com meu primeiro encontro, legal, legal, passando pra frente...  

-Ah, lembrei de uma! A vez que eu fui no tobogã com a Em... -E ela continua. Começo a me sentir esquisita. Agora que estou me acostumando com ela aqui. Começo a me sentir meio... desligada. Como se minha mente e coração estivessem em outro lugar, e pra ser sincera acho que o lugar é minha cama. Dá vontade de ficar sozinha e eu me sinto horrível. Minha IRMÃ está aqui. Ela veio me visitar. E eu prometi pra mim mesma que ia ser uma pessoa melhor, então me forço a prestar atenção no que eles estão conversando, e lembro do que o guru falou sobre estar  mesmo em algum lugar. Começo a lembrar do porquê todos estão aqui e como é o lugar e isso ocupa minha mente, me impedindo de pensar em outras coisas. Comemos até explodirmos também. Minha barriga chega a doer. Liana pega pouco, então bom para ela. Por falar em Liana, ela emagreceu. Bastante. Parece mais bonita por causa disso, porque seu corpo está bem cuidado. E ela parece feliz. Acho que o último passo pra concluir a missão é ela parar de falar do marido e passar pra outro. 

Todo mundo está feliz. Não dá nem pra perceber que temos dias muito ruins por aqui hoje. Queria que todos os dias fossem assim, mas sei que não vai durar muito. Então eu tento aproveitar e me lanço para contar uma história super constrangedora da minha irmã, fazendo ela ficar vermelha. 

No dia seguinte, ela tem que partir. É inevitável. Começo a chorar assim que dou pra ela sua mala. Foi rápido demais. Ela abraça todo mundo. Primeiro Rose, depois os gêmeos e Kristin, então Perry, e ela fala alguma coisa pra ele, mas não escuto nem quero perguntar. 

Quando ela chega em mim, me abraça tão forte que acho que vou explodir. 

-Você tem que me prometer que vai ficar melhor. Você vai tentar, né? 

-Eu prometo. 

-Vou sentir sua falta. 

-A gente já fez isso antes. Vai passar rápido. -Tento dizer, mas só sai "passar rápido" porque o choro abafa o resto. 

-Eu te amo, Em.

-Também te amo. 

-Pronta? -Chris pergunta. Ela assente e pega sua mala. Todo mundo está com uma expressão triste hoje. Essa é a minha irmã. Não precisa de muito tempo pra você gostar dela. Ela acena pra todo mundo e quando entra no carro nos manda um beijo e em meio as lágrimas eu rio. Kristin me abraça quando eu começo a chorar bastante e Danny aperta meu ombro. 

-Ela é muito legal. -Kristin diz.

-Me lembra você. -É a vez do Danny. O carro liga e Chris e minha irmã saem pela estrada. 

Parece que alguém acabou de arrancar meu coração. Sem brincadeira. 

-Não vai demorar muito, daqui a pouco vocês vão se ver de novo. -E é verdade. Daqui a duas semanas tenho que ir para Nova York para o juiz sentenciar minha guarda, por causa da separação dos meus pais. Depois disso, volto pra cá. Mas não estou preparada. A única coisa boa dessa viagem é que vou ver minha irmã e minha mãe, a única coisa ruim é que vou ter que ver meu pai. E ele vai querer falar comigo e não estou preparada. Sei que se eu o ver agora, provavelmente não vou dar um soco nele, mas não sei mesmo que tipo de reação terei. Prefiro não pensar. Entro em casa de novo e corro pro meu quarto. Estou triste demais pra fazer qualquer coisa agora. É tudo vazio, silencioso de novo e o  medo das coisas calmas voltou. Kristin entra no quarto também, e o resto fica lá fora, em respeito, porque sabem que eu não estou bem. 

-Ela te ama, você sabe disso. 

-Sei.

-Ela não ia querer que você ficasse chorando por aí depois que ela fosse embora.

-Não estou no clima pra lição de moral. 

-Não é lição de moral, você não me deixou terminar. Ela ia querer que você explorasse esse lugar, e eu quero te mostrar outra coisa. 

-O quê? 

-O que tem DEPOIS da praia. Confie em mim, você vai amar. Vou chamar os meninos. Te dou cinco minutos pra botar biquíni e uma roupa por cima.-Olho pra ela, sem emoção. -Sorri um pouquinho. Todo mundo está triste, mas ninguém quer ficar triste, então a gente está tentando seguir em frente. E o lugar é perfeito pra isso. Vou avisar a senhora Kowki. Não demore. 

Leva uma hora pra gente chegar. UMA. HORA. Pensando bem, até faz sentido. Porque demora quinze minutos pra chegarmos na plantação de arroz, depois mais quinze minutos para atravessarmos, uns cinco minutos pra recobrar o fôlego e mais quinze minutos atravessando a mata, então a viagem até o outro lado daquela imensa praia demora dez minutos, mais ou menos, porque vamos de barco. Não veio todo mundo. Só Danny e Perry. E Kristin e eu, claro. A viagem de barco é útil pra descansar as pernas e chorar em um canto, lembrando da minha irmã, e morrer congelada porque o vento é forte e eu estou usando regata e short. Ninguém fala muita coisa. 

-Tenho uma coisa pra dizer pra vocês. -Danny diz, e nós olhamos pra ele. 

-O quê?

-Semana que vem é aniversário da Rose. -Ela nunca comentou.

-Não sabia. 

-A gente podia fazer alguma coisa pra ela, ela é bem legal. -Kristin diz. 

-Como o quê? -Perry pergunta. Nem sabia que ele estava escutando, porque estava lendo uma livro com uma capa esquisita. 

-Eu sei lá. Montar uma piñata. 

-A gente podia dar bebida pra ela. 

-Ela vai fazer treze anos. -Respondo, pra Danny. -Vou falar com a senhora Kowki, ela vai dar uma luz. 

-Chris deve estar planejando alguma coisa pra ela. 

-E não temos dinheiro pra comprar um presente. -Resolvo dar o suéter que eu estava tricotando para ela, mas tenho que fazer alguns ajustes porque é maior que ela. 

A conversa encerra quando a gente chega na terra outra vez. Surpreendentemente, é Perry quem me ajuda a descer, pegando a minha mão. Olho pra ele. Ele me olha. Desvio de timidez, então me solto. A gente entra na mata de novo. É estranho, estar mais familiarizada com florestas agora. Nem pagando eu entraria em uma em casa. Mas aqui, eu só sigo e desvio das folhas e galhos das árvores.

-O que você quer me mostrar? -Pergunto pra Kristin, impaciente. 

-Paciência. -Ela retruca. Eu mostro o dedo e eles riem. Finalmente, a gente chega. Sei disso porque eles param e me olham. Então Kristin abre uma cortina de folhas de bananeira que eu nem tinha visto que estavam ali, mas atenção logo desvia para o que está DEPOIS dela. É um barco. Um... barco? 

-Um barco? -Repito em voz alta. É de madeira, e enorme. Marrom. Parece antigo, também. 

-É incrível né? Apareceu na praia, foi o que Chris disse. 

-Dá pra entrar? -Ele está tombado pro lado, e a portinhola está aberta. Acho que dá pra subir nele. 

-Sim, vem aqui pro outro lado. 

Contornamos o barco e eles abrem uma portinha, alta demais. Kristin entra primeiro. Sou a última. É tudo vazio e estranho, porque o angulo do barco está errado. Parece oco e escuro, então eu me agarro a primeira pessoa que eu sinto do meu lado. TINHA que ser Perry. Ele tira minha mão do seu braço e eu dou um olhar bravo, mesmo sabendo que ele não consegue ver. 

-Luz? -Pergunto, então escuto um baque, seguido por um monte de luzinhas de LED ligando, iluminando toda a extensão interior do barco, deixando evidente o que tem aqui dentro. 

Estou em um templo. 


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