Era um meio de tarde frio e claro n’A Toca, Gina e Hermione estavam no pequeno quarto que dava para o quintal dos fundos rindo e conversando enquanto uma Hermione já arrumada começava a fazer um penteado simples, mas elegante nos brilhantes e longos cabelos ruivos da amiga.

– Nossa, finalmente minha mãe parou de gritar lá em baixo. – Gina comentou sorrindo percebendo o relativo silêncio na casa.

– Ela realmente gritou por muito tempo. – Hermione riu.

– Deve ter perdido a voz e agora está azarando todo mundo para fazer as coisas que ela pede.

– Manda. – Corrigiu Hermione.

– É. Manda. – Gina concordou rindo.

– Está nervosa? – Hermione perguntou depois de algum tempo.

– Não muito. Provavelmente bem menos que o Harry. – Ela riu. – E, com certeza, muito, muito, realmente muito menos do que o Ron vai estar quando vocês casarem.

Hermione riu alto e revirou os olhos, continuando a pentear o cabelo de Gina, separando-o em alguma mechas. As duas mulheres ficaram em silencio por algum tempo, ouvindo apenas o barulho pela casa e pelo jardim. Alguns minutos se passaram até que ouviram alguém batendo na porta do quarto.

– Entra.

Ron entreabriu a porta e colocando a cabeça para dentro olhou diretamente para Hermione com uma expressão preocupada.

– O que foi, Ron? – Hermione perguntou franzindo um pouco a testa.

– Er... Hermione, posso falar com você aqui fora um minuto?

– Ok. – Ela concordou ainda com a testa franzida, colocou a escova na penteadeira e saiu do quarto sob o olhar interrogativo de Gina.

– O que foi, Ron? – Perguntou novamente enquanto o namorado fechava a porta do quarto da irmã.

– Eu não sei onde o Harry está. – Ele sussurrou.

Hermione piscou e encarou Ron por alguns segundos.

– O... o que?

– Não sei onde o Harry está. – Ele sussurrou outra vez olhando inseguro para a porta do quarto. – Ele não está em nenhum lugar da casa. Faz meia hora que estou procurando. O Harry sumiu.

– COMO ASSIM O HARRY SUMIU?

A porta do quarto se abriu instantaneamente com o grito de Hermione.

– Bloody hell, Hermione! – Ron exclamou olhando para Gina que segurava a maçaneta e olhava rapidamente de Ron para Hermione. – Não era para você anunciar para o mundo inteiro! Por isso que eu estava sussurrando!
– Ron... o que exatamente você quer dizer com “O Harry sumiu.” ? - Gina perguntou com a voz calma.

– É meio obvio, não é? Eu não tenho a mínima ideia de onde ele está. – Ele falou olhando para o chão.

– Quando foi a ultima vez que você viu ele? – Hermione perguntou meio histérica. – Ele deve estar lá ainda! Você que não deve ter procurado direito!

– Er... Hermione... ele não é um objeto que eu não lembro onde eu deixei.

– Eu sei onde ele está. – Gina falou de repente depois de alguns segundos olhando para o nada. – Eu vou lá.

– Vai onde? Onde ele esta?

– Mas você tem que se arrumar logo. Você vai se atrasar!

– Hermione, qual o ponto de eu não me atrasar se o Harry se atrasar?

– Fala onde ele está e o Ron vai atrás dele e...

Gina entrou rápido no quarto, pegou cachecol, luvas, touca e uma pesada capa e saiu em disparada pelas escadas, as mechas tão cuidadosamente separadas por Hermione já todas se misturando.

– Ron, se você fizer isso quando nos casarmos eu mato você! – Hermione disse com um muxoxo de impaciência.

Gina saiu da casa se esforçando para não ser vista por ninguém, principalmente pela mãe e saindo para estradinha estreita desaparatou com um estalido alto. A ruiva surgiu em uma outra estradinha, caminhou por um tempo e chegou ao centro de um povoado. Ela passou por um memorial de guerra no centro da praça, que se modificou instantaneamente em uma estátua de um casal com um pequeno bebê. Gina sorriu para a escultura e continuou andando em direção a uma pequena igreja.

Não demorou muito para que ela encontrasse Harry, sentado no chão, meio encolhido pelo frio, tentando esquentar as mãos dentro do bolso, contemplando a superfície lisa de um tumulo de mármore, praticamente sem piscar e definitivamente sem perceber a presença de Gina, pelo menos até o momento que ela se sentou ao seu lado, também com as mãos no bolso e apoiou a cabeça no ombro dele, que continuou olhando para frente.

– A Hermione vai matar você. – Gina falou baixinho depois de algum tempo.

– Ainda bem que não é com ela que eu vou casar. – Ele deu uma fraca risada e beijou a cabeça de Gina. – Como sabia que eu estava aqui?

– Era obvio. – Ela deu de ombros. – Queria que a Luna estivesse aqui.

– O que?

– É ela que sempre sabe o que te falar nessas horas.

– E eu queria que eles estivessem aqui.

– É, eu sei.

– Queria que meus pais estivessem aqui. Queria que todos eles estivessem aqui.

– Quantos pais você tem, Harry? – Gina sorriu fraco, arrancando uma curta risada do futuro marido.

– Que eu saiba só dois, mas como minha vida é tão estranha, eu não tenho muita certeza.

Ele tirou a mão do bolso e a passou pelos ombros de Gina e com a outra mão acariciou a perna dela, encostada na dele. Os dois ficaram assim por um bom tempo, apenas comtemplando a lápide a frente deles, sobre o chão duro e gelado daquele final de outono.

– Eu também queria que todos eles estivessem aqui. – Gina confessou baixinho depois de um tempo, se encolhendo mais quando um vento frio passou por eles.

– Todos os meus pais?

– É, todos eles. – Ela sorriu. – Seus pais...

– Sirius.

– Tonks.

– Remus.

– Olho-Tonto.

– Dobby.

– Dumbledore.

– Cedric.

– Colin.

– Hedwig.

– Fred. – Gina completou triste. Harry beijou mais uma vez a cabeça dela e a puxou para mais perto ainda de si. – Ei... mas não devíamos ficar tristes hoje, não é? – Ela falou olhando para ele, embora sorrindo, ainda com um olhar triste.

– Não, não devíamos. – Harry sorriu de volta.

– E definitivamente não devíamos nos atrasar. Mamãe já deve ter percebido que não estamos lá e deve estar louca.

– Melhor irmos antes que ela cometa dois assassinatos antes de nos casarmos. – Ele falou se levantando ao mesmo tempo que Gina.

– É. Não ia ser legal. Perderíamos toda a lua-de-mel.

Harry deu uma risada silenciosa e os dois, ainda abraçados pararam mais alguns segundos olhando para o tumulo e bem devagar começaram e se mover em direção à saída do cemitério. Tentando deixar ali todo o peso e dor de todas aquelas perdas e se prepararem para o que definitivamente prometia ser um dia feliz.