Minha vez de contar a história- Peeta Mellark escrita por Levi42


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o quinto capítulo, levei bastante tempo pra fazer, Okay? Desculpem se tiver algum erro. Aproveitem, obrigado. ^^ Até lá embaixo!



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Mordo mais uma vez meu lábio inferior que está praticamente moído, meu olhar está fixo à televisão ligada na reprise de minha última entrevista dada ainda na Capital, minha mão direita sobre o braço do sofá está ensopada de suor, e meu pai ao meu lado, em sua poltrona, olha para mim com receio, ele me entende como quase ninguém e sabe quando há algo de errado comigo. Não tenho forças para lidar com isso, assistir Katniss mentir assim descaradamente é como pisar em meu peito com botas de aço. “É tudo minha, porque eu usei aquele torniquete”- A voz de Katniss ecoa em minha mente, ela realmente parecia preocupada comigo, tudo o que queria fazer ali era levá-la embora, longe de todos, sozinhos, enquanto abraço-a e sinto sua cabeça em meu peito. Sinto falta daquela caverna.

Chega a ser engraçado o jeito que o destino age em minha vida, por um segundo eu tive o que sempre quis na vida, ter Katniss ao meu lado, e em um piscar de olhos as câmeras desligam e a máscara cai.

“Juntos?” “Juntos.”

Levanto-me e saio da sala, eu não quero ter de conversar agora, preciso ficar sozinho. Katniss tem sorte por ter a floresta inteira à sua disposição para seus pensamentos, mas para mim, um mero plebeu, tenho de me satisfazer com o próprio quarto. Quando estou subindo as escadas sinto uma mão em meu ombro direito.

− Pai, eu não...

− Seu pai está no telefone, Peeta.

Aquela voz. Ela me pega de surpresa, viro-me tentando ao máximo esconder minha feição de susto.

− Ah... Oi, mãe − eu digo

− Peeta, posso conversar com você?

Vou contar o que precisa saber: Eu sou o mais novo de três irmãos, minha mãe nunca se preocupou comigo e também jamais retribuía meus esforços com algum agrado, eu já estava acostumado com isso, nunca deixei que isso afetasse minha vida, mesmo sem qualquer amor materno, sempre me dei bem na escola e tinha vários amigos, não tinha problema com comida, qualquer um diria que eu tinha uma vida perfeita, bem... Quase perfeita. Ela me chama para conversar, eu hesito por um instante, não é de nosso costume ter um relacionamento recíproco de amor fraternal, mas aceito assim mesmo.

− Peeta... Eu sei que você não tem muitas lembranças boas de mim. Mas você tem de entender, por favor, foi tudo para o seu bem. – ela põe sua mão em meu rosto e o silêncio predomina o meu quarto. Eu não consigo olhar em seus olhos, não depois desse choque de informações. O que ela quis dizer com isso? O meu bem? Anos e anos me colocando para baixo, me batendo e me xingando, fazendo-me quase acreditar em tais defeitos que ela tanto citara sobre mim, isso significaria o meu bem?

− Por quê? – é a única palavra que consigo proferir.

Silêncio

− Por quê? – insisto.

− Porque o mundo é um lugar perigoso, as pessoas vão te magoar, elas irão partir de sua vida. Tudo o que eu queria era... Que você fosse uma pessoa forte. E eu consegui. Veja só, você ganhou os Jogos Vorazes.

...

− Você poderia ter feito diferente. – digo.

− Talvez.

Então ela retira sua mão de minha face, olho fixamente em seus olhos, e ela me abraça, seu cabelo acinzentado amarrado encosta no meu e aos poucos ela se afasta de mim, passa a mão em meus cabelos e diz:

− Você parece muito com o seu pai. – logo ela se levanta de minha cama, e sai andando lentamente do meu quarto – A propósito, eu vi como Katniss olha para você, não se preocupe, ela gosta de você. Ela só não sabe como. – e me deixa sozinho com meus próprios pensamentos.

Olhando para a minha janela, agora fechada, percebo o quanto minha mãe tinha razão. Todos os gritos, xingamentos e agressões, de alguma forma, foram para o meu bem. Ela me fez mais forte, e hoje eu posso entender isso, quer dizer, minha vida foi bastante equilibrada, não sou um garoto sentimental e sensível tampouco completamente frio. Como já disse, moramos na parte “rica” do distrito doze, ou seja, nunca tivemos problema com falta de comida ou dinheiro – não que eu me lembre – como muitos na Costura, a padaria nos sustentara muito bem desde então, por isso minha mãe me tratou desse jeito todos esses anos, eu precisava ser forte, precisava amadurecer para o mundo. Mas eu não sei o porquê.

−Peeta – meu pai me chama, despertando-me de meus pensamentos, à porta do meu quarto – Posso falar um instante com você?

− Claro. – Sorrio abertamente, e ele sorri de volta.

− Peeta, sua mãe pode ter sido durona com você, mas não fique ressentido com isso, tudo bem?

− Posso te perguntar uma coisa?

− Claro.

− Por quê? Por que ela fez tudo isso? Eu sei que era para me preparar para o mundo, mas... Por quê?

− Sua mãe teve uma infância difícil, o pai dela ficou doente terminal enquanto ela tinha só quatorze anos, tendo que amadurecer mais rápido para cuidar de suas irmãs, já que a mãe dela morreu no parto dela, e teve que crescer com isso. Peeta, sua mãe se orgulha muito por ter se tornado esse homem que você se tornou, principalmente agora que você venceu os Jogos Vorazes. Ela não saiu nem por um momento da frente da televisão, querendo saber sobre você. Ela se preocupa com você, Peeta.

Saber disso foi como um tapa na minha face. Olho firmemente para aquele par de olhos azuis eram como um oceano calmo para mim, e me levanto da cama e ando até a janela, olhando para mim mesmo através do reflexo do vidro. Escuto os passos do meu pai no chão de madeira seguindo-me até a janela.

− Então, o que eu devo fazer? – pergunto.

Ele coloca sua mão em minhas costas, e com os olhos distantes do meu diz:

− Espere as coisas se acalmarem, vai ficar tudo bem, eu prometo.

E assim, ele se afasta de mim, indo em direção à porta, sinto como na nossa despedida no Edifício da Justiça, como se ele nunca mais iria voltar. É um pensamento bobo, eu sei, mas depois de tudo o que passei nos Jogos, tento valorizar mais o tempo em que estou com ele de novo. O que eu faria se a pessoa que eu mais amo, partisse para longe de mim em um caminho sem volta? Acho que era isso que minha mãe queria. Que eu fosse forte.

− Ah... Peeta, tem uma encomenda pra você na sala, é uma caixa grande, endereçado da Capital. Acho que também tem um bilhete, espere aqui vou trazer pra você. − ele fala

Espero pacientemente meu pai voltar com a encomenda, enquanto observo meu quarto novamente, e por um segundo reparo em algo, embaixo da cama, que não tinha visto antes. Meu antigo caderno de desenho, ou o que resta dele, me abaixo para pegá-lo e sento-me em minha cama de costas para a entrada do quarto, e abro o caderno. Mesmo com muitas das folhas arrancadas e rabiscos, ainda contém nele alguns antigos desenhos, muitos deles envolvendo Katniss. Suas tranças, alguns esboços de seus esquilos caçados na floresta, outros do dia em que lhe entreguei aqueles pães queimados, o meu primeiro dia de aula, e um especial: Um dente-de-leão.

− Aqui está – ouço a voz de meu pai. Viro-me para ele e o encontro segurando uma caixa marrom grande com um papelzinho branco colado na ponta dizendo “Aproveite bem e amplie seus talentos – Portia” Abro o pacote com cuidado e estendo um sorriso em meu rosto, é um kit de quadros, pincéis e tintas. “Obrigado, Portia, você me conhece bem” – digo a mim mesmo.


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Notas finais do capítulo

Então, gostou? Vou tentar escrever com mais constância, okay? Obrigado! Siga-me no twitter pra saber sobre capítulos novos: @boywith_bread ;) até.