Na Linha Da Vida escrita por Humphrey


Capítulo 27
Caro traiçoeiro




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/404982/chapter/27

De repente, tudo começou a se encaixar como um quebra-cabeça. Bailey tinha me dito que havia brigado com um amigo, que estava apaixonada... Tudo fazia sentido, afinal. E, sinceramente, eu estava feliz por saber que havia me apaixonado, na verdade, duas vezes pela mesma pessoa.

Naquela noite, mandei diversas mensagens à Anne. Porém, ela não respondia nenhuma, obviamente. Todavia, estirado na cama, fechei os olhos e as lembranças de quando eu a beijei vieram à tona; sorri quando lembrei que, no ensaio da peça de Romeu e Julieta, havia prometido a mim mesmo que nunca o faria. É, realmente, eu não era bom com promessas, como havia dito à minha mãe.

– Martin. – Calma e lentamente, minha mãe entrou no quarto, batendo na porta, apesar de que a mesma estava aberta.

Virei o rosto para o lado, enxergando apenas parte do seu corpo, cujo estava iluminado pela luz que vinha do andar debaixo.

– Você ama aquela garota, não é? A Anne. – perguntou ela, sentando-se na cadeira à frente do computador.

Apoiei parte do meu corpo nos cotovelos, franzindo a testa.

– É, eu sei que sim – ela disse, sem esperar por uma resposta. – Ela é uma boa garota. Ótima, aliás. Mas você tem que esquecê-la, Martin, senão tudo vai piorar. Não somente para você, mas para ela também. Você vai embora e, ainda mais, ela está doente...

– Como você sabe dessas coisas? – Finalmente me sentei, à beira da cama.

– Eu e a mãe dela estudamos juntas no colégio, então, por acaso, nos reencontramos há alguns dias. Mas isso não vem ao caso.

– Tia. Ela é tia da Anne – corrigi. – Mãe, eu sei o que vou fazer, tá bom? Preciso ficar sozinho. – E me deitei novamente.

Minha mãe me encarou por mais alguns segundos e por fim se levantou, direcionando-se até à porta e saindo por ela, instantes depois.

Na tarde do dia seguinte, David tinha acabado de pedir uma pizza e lá estávamos nós, no meio de montes de roupas, jogando vídeo game como se nossos dedos estivessem colados aos controles.

– Cara, não, não, não. Não acredito que fez isso – David disse, ainda mastigando um pedaço de cookie. – Era pra direita. Pra direita! Você está muito fraco. Tem que treinar mais. Há quanto tempo não jogamos? Dois anos?

– Ultimamente não jogo muito.

– Mas para conversar com aquela Bailey você tem vinte e cinco horas, não é? Aliás, vocês não iam se conhecer, não? – E mordeu outro pedaço, sem tirar os olhos da tela da TV de LCD.

Sorri, falando a mim mesmo que o contaria depois – de alguns meses, é claro.

Pausei o jogo e deixei o controle no chão.

– Me mostre aqueles novos jogos que você baixou no computador – mudei a trajetória do assunto.

– Ah, é verdade. – Quase tropeçando nas cuecas e meias espalhadas, ele esperava o computador ligar enquanto abria a garrafa de refrigerante em cima da escrivaninha branca-quase-amarela-por-causa-da-gordura-das-comidas. – Vai querer um copo?

– Não, valeu.

– Beleza. Eu preciso muito, muito mesmo, mijar. Então, enquanto o computador liga, pode ir procurando os jogos. Eles estão na pasta Bac146.

Soltei uma risada.

– Por que o nome Bac146?

– Parece um nome profissional, tipo códigos de agentes. Não me pergunte por que acho isso, pois nem eu sei a resposta. – E sumiu, fechando novamente a porta.

Quando o computador já estava ligado, o esperei atualizar até abrir os arquivos. Arrastei a barra de rolagem até achar a pasta Bac146 e, então, eu clicaria para abrir, se não fosse algo que chamou muito mais a minha atenção.

PlanB era uma pasta de arquivos da qual tinha um visual um tanto suspeito; era única que tinha imagens. Então, ao clicar, percebi que realmente havia fotos. Mas fotos da Anne e do Trevor. Aquelas fotos. Senti algo subindo pelo meu corpo e fazendo meu rosto ferver. Quando olhei para minhas mãos, vi que ambas tremiam. No entanto, me levantei e fui até a janela; eu necessitava tomar ar fresco. Passei uma das mãos pelo rosto e me debrucei à janela, esperando pelo que estava por vir.

– É melhor que alguém não entre naquele banhe... – David disse, antes de me ver na janela. – Já viu os jogos?

– Não – respondi em seco, ainda de costas para ele, tentando me recuperar do que vi.

– Você está passando mal? – Fechou a porta, com cuidado.

Até que me virei para ele, com as mãos ainda apoiadas na janela. Eu mordia o lábio inferior, que também tremia. David finalmente olhou para a tela do computador e arregalou os olhos ao raciocinar o que havia acontecido.

De braços cruzados, fui até ele, que deu passos para trás, encostando-se na parede. O defrontei.

– Agora você vai ter que me explicar tudo – afirmei, quase espumando de tanta raiva. – Seu filho de uma...

– Não fui eu, cara, foi o Trevor. Não sei como, mas ele descobriu que eu gosto da Anne. – Ele estremecia. – É sério. Por favor, eu não fiz nada.

– Ah, é? E essas fotos?

– Trevor me chamou, um dia, perguntando se eu queria dicas para conquistar a Anne, e então falou que o primeiro passo era tirar você do caminho, porque você e ela estavam muito, muito próximos.

Cerrei os olhos, como um aviso para continuar.

– Convidei a Anne pra sair e a fiz responder algumas perguntas, gravando-as no meu celular, que estava sob a mesa, e depois as editei. Aquilo que você ouviu s-são edições. Na verdade, tudo era sobre o que ela acha do Trevor. – David estava com o rosto vermelho. – Com isso, fizemos você achar que ela estava sendo falsa.

– Eu vou acabar com vocês.

– E... e depois, Trevor me passou essas fotos, as quais eu imprimi e entreguei... a ele.

De repente, David sentou-se no chão e começou a chorar.

– Ele chegou à escola antes de todo mundo... e colou os cartazes. Fizemos a Anne acreditar que... que você fez isso por vingança.

Respirei fundo e fiquei caminhando pelo cômodo.

– Seus imprestáveis, desgraçados... – Eu gesticulava. – Você é um trouxa, David, um trouxa! Trevor me odeia e você sempre soube disso! Ele nunca quis te ajudar; o alvo dele era afetar a mim e à Anne! – Parei no centro do quarto, mirando David. – Sabe por que ele te escolheu para fazer isso? – Não o deixei responder, se é que responderia. – Porque você é um otário!

– Me desculpa, cara. Me desculpa... – ele murmurava.

– Não bato em você porque tenho respeito à sua mãe e estou na sua casa.

Eu cogitava, com o dedo indicador vergado à frente da boca.

– Você deve ter o número de celular do Trevor. Mande uma mensagem dizendo que quer encontrá-lo na praça perto do colégio daqui a pouco. Depois de digitá-la, me mostre – disse, ainda pensando sobre a ideia.

Lentamente, tirou o celular do bolso e começou a digitar, fungando. Instantes depois, me entregou, provando que tinha mesmo digitado o que pedi.

Peguei meu casaco e saí pela porta, sem dizer algo a mais. Já fora da casa, vi o entregador de pizza chegando. Logo o paguei e ele me entregou a mesma. Quando foi embora, joguei-a fora, no lixeiro sobre a calçada.

Liguei para a Anne, mas sem sucesso. Portanto, decidi que teria atitude: iria a casa dela e a levaria até à praça comigo. Sim, era o que faria.

Toquei o interfone, aproximadamente quinze minutos depois de me decidir a ir até lá.

– Eu preciso falar com a Anne. Por favor, é urgente.

– O que você quer? – porém, Anne respondeu.

– Anne... eu sei quem fez isso com a gente. Quem imprimiu os cartazes e editou a sua gravação, digo. Estava certa sobre David ter sido o culpado. Você disse que quer que eu lhe mostre quem eu realmente sou. Farei isso. É só você vir, e então prometo nunca mais te incomodar.

Pude ouvir um suspiro, mas não compreender se era algo bom ou ruim. E então ela desligou, enquanto o portão se abria.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aíííí? Finalmente descobriram se estavam certos ou errados, né? :-D E sinto dizer que Dear Enemy está acabando, como devem ser percebido ( mais uns 4 capítulos, eu creio ) ;-; Mas já tenho outra fic em mente! Espero que, quem for ler, goste da mesma também :3 Beijos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Na Linha Da Vida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.