Debaixo Do Mesmo Teto escrita por Giulianna Valadares


Capítulo 23
Falling out of love is hard, falling for betrayal is worst


Notas iniciais do capítulo

Oii! Quem aí estava aguardando ansiosamente esse capítulo? Então toma aí! hahaha

Sugestão de música: Impossible - James Arthur

Aproveitem!! ♥



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37º dia.

Vazio. Frio. Apreensão. Saudade.

Era segunda-feira, dia da última prova de ensino médio, antipenúltimo dia de aula. Peter levantara e a primeira coisa que fizera foi escrever no quadro branco acima de sua cabeceira. Número de dias e o que sentia. Era assim desde o dia em que ele havia feito a maior burrada de sua vida e e fora pego por Savannah com Tiffany. Mais de um mês depois do incidente principal – e de todas as burradas que o seguram – , ainda doía. Ardia. Fervia. Mas ele se sentia vazio, frio, apreensivo, com saudades da garota que mexia com o seu mundo desde o primeiro momento em que ele pusera os olhos nela.

Ela ainda tinha vívido na memória aquele momento.

Era o primeiro ano e Peter o único novato em Huntington Beach. Todos ali se conheciam desde o jardim-de-infância e agora ele era o “garoto novo”. Sentia-se um peixe fora d’água, totalmente deslocado e sendo observado a cada passo que dava.

Fizera o favor a si e a todos de se manter quieto e andar de cabeça baixa, procurando a secretaria para pegar seu horário e se virando para encontrar sua sala sem ajuda de ninguém. O que não foi tão difícil, pois a escola não era tão grande e, por sorte, a primeira aula era próxima de onde estava. Entrou e sentou-se na primeira carteira, pra variar.

“Velhos hábitos nunca morrem, não é, Peter” o garoto riu de si. Não era do seu feitio ser sociável. Ele estava muito bem com a sua figura de nerd calado, obrigado. Sempre fora assim e não sentia que era hora de mudar. Estava concentrado no quadro negro vazio à sua frente, tentando não fazer contato visual e se manter o mais invisível possível. Não o leve a mal, não era para manter a pose de nerd, era pela mais pura timidez. Ele era tímido demais para se arriscar a olhar para alguém e ser obrigado a conversar, mesmo que para apenas um “bom dia” – era capaz dele gaguejar a cada letra.

Foi no único momento que resolveu espiar a porta para ver se o professor chegava – a grade dizia “História 1 – Prof. Ângelo Venturinni” – que ele a viu pela primeira vez. Mesmo que não tivesse o feito intencionalmente, teria sua visão desviada para a garota. Sua imagem era como um imã, era impossível não observá-la e não continuar olhando. Longos cabelos negros, pele clara, mas dourada pelo longo verão – que ele fora obrigado a aguentar na cidade –, corpo com curvas nos lugares certos e um sorriso que irradiava alegria. A garota não parecia transparecer luz. Ela era luz. Ela era o Sol. E Peter, como qualquer astro não-luminoso, só fez a acompanhar.

— Bom dia, novato, seja bem-vindo! – Ela se aproximou da carteira de Peter e, para ele, parecia ainda mais bonita de perto – Sou Savannah, qual seu nome?

— O..o..oi, eu...e…eu sou… sou – ele tentava formular a frase, enquanto ouvia as risadinhas sarcásticas ao seu redor – eusouPeter.

Acabou saindo tudo junto e a garota riu, deixando-o totalmente sem graça, frustrado e esperando a zoação a que estava acostumado.

— Fica tranquilo, respira fundo e fala de novo – ela olhava nos olhos dele, transmitindo tanta amistosidade que ele ficou surpreso. “Por que ela está sendo legal comigo?” era tudo que ele conseguia pensar.

— Oi… - ele começou. Respirou fundo. – Oi, Savannah, eu sou Peter. – e sorriu. Como se fosse possível, o sorriso da garota ficou mais largo.

— Ah, sim! Seja bem-vindo, Peter. Espero que goste de Huntington Beach. – e, se abaixando e sussurrando no ouvido dele, continuou – Espero que sejamos amigos, eu gostei mesmo de você! – Piscou e sorriu, indo para o lugar dela.

Aquele, Peter decidiria tempos depois, era o melhor dia da vida dele.

Olhando para aquele quadro, aquilo tudo parecia tão distante agora. Desde o primeiro dia de aula dele na escola nova até a mais recente vitória do time de vôlei dele, Savannah estava lá. Passaram por tantos momentos, pequenos e grandes, bons ou ruins, fáceis ou difíceis, mas todos significativos. Todos eles tinham Savannah. Todos eles eram parte dele e dela.

E a pergunta que ele se fazia continuava sem resposta.

“Como eu pude jogar tudo isso fora?”

***

Mais tarde naquele dia, ele saía da sala e deixava o ensino médio para trás. Havia terminado suas últimas provas, História e Geografia. Novamente, estava lá a matéria que parecia ter dado início a tudo. Mas ele se recusava a pensar na garota. Tanto que, diferente dos últimos dias, ele não esperara Savannah na porta, apenas para vê-la de longe, indo embora com seus amigos e Andrew.

Andrew.

Ele não tinha como odiar mais aquele nome, aquele cara. No fundo, Peter sabia que não podia culpar o colega de classe de tudo o que acontecera. Mas Andrew tinha sua parcela de culpa, sendo sempre a sombra no relacionamento de Peter com Savannah.

O loiro era ciente dos sentimentos que a ex-namorada tivera por Andrew. Ela dizia ser passado, mas as constantes brigas, discussões sem motivo dos dois deixavam Peter um tanto quanto inseguro em relação a isso. Ele sempre se questionava se ela realmente não ligava mais para o outro garoto, sendo que ela sempre se incomodava tanto com o que ele dizia sobre ela, ou com as brincadeiras bobas. Até o jeito que Andrew olhava para Savannah tinha a capacidade de mudar o humor da garota.

Toda essa desconfiança somada a todas as investidas de Tiffany, sempre o elogiando, sempre por perto, fazendo tudo ficar mais fácil resultaram no ocorrido. Ele sempre resistira, sempre se esquivara, mas naquela noite, ele bebera tanto que nem se lembrava direito como havia chegado ao quarto com Tiffany. Mas tinha consciência do que dissera à Savannah. Sabia o quanto a machucara, sabia que jogara o que tinham fora. Sabia mais ainda depois do vídeo que Tiffany soltou para todos. Ele tinha vontade de arrancar seu coração fora, tamanho o ardor que sentia devido ao remorso pelo que fez e disse.

Ele nem percebera, mas acabara dirigindo direto para a praia, para o ponto em que sempre estava com Savannah. E era um belo fim de tarde de verão. O sol se punha no horizonte, deixando o céu com suas várias tonalidades, do amarelo ao rosado, passando pelo laranja e o azul escurecendo. Gaivotas voavam livremente e a brisa era convidativa.

Estacionou o carro na primeira vaga que encontrou e arrancou os sapatos, deixando-os no banco de trás. Saiu e trancou tudo, seguindo o caminho para a areia. O calor ainda retido nela era reconfortante. Estivera ali tantas vezes em dias como aquele com Savannah, para se divertir, para ouví-la chorar, às vezes apenas por estar. Ele ia caminhando em direção ao mar, que tinha a cor dos olhos dela.

Savannah. Savannah. Savannah.

Ele estava totalmente cercado dela. Tudo lembrava ela, tudo tinha o cheiro dela, o jeito dela. Tudo era ela. E aquilo tudo funcionava como um grande tapa na cara, o tapa que ela não dera nele. Ele sabia que ela nunca o faria, sabia que a garota ia deixar aquilo tudo retornar para ele de outra forma, mais dolorosa do que o tapa físico.

Ele não queria que doesse tanto, não queria se arrepender tanto. Mas ali, onde tudo se remetia à Savannah, aos dois juntos, não foi possível fingir mais. Ele só sentiu o corpo cair na areia e as lágrimas se derramarem pelo rosto. Sentado, ele observava o mar e sentia o peito da camisa molhado. Era um choro silencioso, mas não menos doloroso. A cada onda que quebrava, uma memória vinha. Boa ou ruim. Feliz ou triste. Savannah estava em todas elas.

Esquecê-la seria a pior parte de seguir em frente.

— Peter Johnson? Está tudo bem? – Peter ouviu alguém chamá-lo. Virando-se de costas, encontrou o sr. Newman, novo professor de matemática.

— Ah, oi, sr. Newman… - disse, limpando o rosto – Eu deveria dizer que sim como diz a educação, mas na verdade, não. Não está nada bem.

— Não se preocupe com educação, meu caro. – o professor riu, sentando-se ao lado de Peter. Ele estava despojado, vestindo camiseta e bermuda, o que fez o garoto presumir que ele corria por ali – Seria hipocrisia da sua parte dizer que está tudo bem. E eu não sei você, mas prefiro a falta de educação à qualquer tipo de hipocrisia.

Peter sorriu levemente – Sou obrigado a concordar. Mas meu erro foi exatamente esse, sr. Newman. Fui hipócrita comigo mesmo.

— Por favor, não me chame mais de sr. Newman, as aulas acabaram. Pode me chamar de Henry.

— Tudo bem… Henry. – o garoto demorou a se acostumar à ideia. Mas sentia que precisava mesmo colocar aquilo tudo para fora. – Está confortável? Porque a história é longa.

Henry riu. – Estou de férias, meu amigo. Sou todo ouvidos.

E então, Peter jogou tudo para fora. Desde o começo, quando conheceu Savannah, e foi passeando pelos quatro anos de namoro. Contou de seu ciúme em relação a Andrew, como isso piorou quando a mãe de Savannah começou a namorar com o pai de Andrew. Ela não parava de falar, até que chegou nos acontecimentos mais recentes, as investidas de Tiffany, os problemas com Savannah até o fatídico dia da traição e depois a história do vídeo.

Quando terminou, Henry o olhava meio chocado.

— Olha – o professor começou – se você não estivesse me contando, eu poderia jurar que estava ouvindo um roteiro de um drama adolescente. – e riu. Peter acompanhou, percebendo que alguns pontos eram bobos mesmo, mas que a história, em geral, era um enredo bastante complexo.

— Realmente, eu poderia escrever um livro… - Peter sorria, brincando com a areia – Mas a única coisa que eu queria mesmo era voltar atrás e desfazer todo o mal que fiz para Savannah. Ela sempre me apoiou, sempre me incentivou. Ela era minha melhor amiga, parceira de verdade. E por uma vaidade, eu joguei no lixo.

Henry acentiu, concordando com o rapaz.

— Eu te diria, meu caro amigo, que você realmente fez besteira e que é praticamente impossível reverter. Mas não acredito no impossível. – o professor soltou e encarou o mar a sua frente.

— O que eu faço então, Henry? – o tom da voz de Peter saiu meio desesperado.

Henry se levantou.

— Como você mesmo disse – ele começou, limpando-se da areia e dando a mão para Peter se levantar – Esquecê-la será a pior parte de seguir em frente. Então por que esquecer?

— Porque… dói? – o jovem indagou.

— Nós nos tornamos melhores com a dor, Peter. Ela vem para que possamos ver o que está acontecendo de errado em nosso organismo e consigamos tratar. As dores da alma também nos afetam. Mas ela foi uma parte linda da sua vida. Vamos lá, você passou quatro anos ao lado dela.

— É, foram os melhores quatro anos da minha vida… - Peter sorriu, tristonho, encarando seus pés.

— Então por que esquecer? Lute pelo que você quer. Lute por Savannah até não ter mais forças, até ver que não terá resultado algum. E quando chegar nesse ponto, guarde o melhor de vocês. Lembre-se das coisas boas e aprenda com seus erros. Assim, você poderá sempre se lembrar com carinho dela e encontrar a pessoa com quem você não se permitirá cometer os mesmos erros.

Peter o encarou, meio embasbacado. Jamais esperaria ouvir tamanho conselho vindo de um professor que ele conheceu há poucas semanas.

— Eu já tive que superar um grande amor, Peter – Henry suspirou – E não foi porque eu errei com ela, mas a vida que eu levava me afastou. Tive que assistí-la de longe, deixar que vivesse, que fosse feliz. Então guardei as coisas boas e segui em frente.

— Nossa, o senhor realmente foi muito forte. – Peter soltou.

— Sim, eu fui. E como você vê, esquecer não foi a pior parte. A pior parte foi encontrar motivos para seguir em frente. – sorriu – Até mais, Peter.

E saiu caminhando, deixando Peter confuso e até meio zonzo, mas com a certeza que ainda tinha motivos para lutar.


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Notas finais do capítulo

O que vocês estão achando? Me contem nos cometários!!
Beijos ♥