Debaixo Do Mesmo Teto escrita por Giulianna Valadares


Capítulo 19
Every night when I wake up, I need you to get back to sleep


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal!!!
Estou muito feliz com todos que estão lendo a fic, já somos 96 acompanhando e 20 favoritos! No capítulo passado, foram quase 120 acessos, o maior número no mês!!! Fora isso, os comentários de Thalita Abreu, Dippity Do, little dreamer, Doinha, Llemosd e QUEEN nesse capítulo fizeram meu dia mais que feliz! Agradeço também àqueles que tiraram um tempinho pra ler as fanfics da minha irmã (e à Thalita Abreu que deixou comentário ♥)! Ela ficou muuuito feliz e eu só posso dizer: OBRIGADA, OBRIGADA, OBRIGADA!!!

Sem mais delongas, aqui está o capítulo novo. E olha o título dando dicas novamente, hahaha!
Sugestão de música: Roses - James Arthur ft. Emeli Sandé

Aproveitem!! ♥



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As semanas que se seguiram depois daquele momento foram, no mínimo, infernais. A fofoca rolou solta em Huntington Beach High, todos comentando sem parar que "o casal 20" tinha terminado, mas ninguém tinha certeza do porquê. Alguns diziam que Savannah traíra Peter com Andrew e fora pega pelos pais, outros diziam que ela dera o fora nele porque eles iriam para faculdades diferentes. Alguns chegaram até a dizer que Peter se envolvera com Andrew e Savannah flagrara os dois na cama dela. Mas nenhuma das fofocas chegara ao motivo real. Tiffany continuava posando de santa ao lado de Derek, mas Savannah sabia das visitas furtivas da loira ao ex-namorado.

— Ela é impossível, não bastou fazer vocês terminarem, ela ainda fica visitando o garoto e faz questão que eu saiba! - Natalie bufava - Ela só pode fazer de propósito, pra me irritar!

— Provavelmente, amiga. - Savannah riu - Ela sabe que você me conta tudo e é tudo o que ela quer. Mas eu não ligo mais. - suspirou. A ruiva sabia que a amiga mentira.

As duas se arrumavam no quarto de Savannah na antiga casa para a final do campeonato de vôlei naquele sábado à noite. Seria no estádio da cidade contra Loyola, valendo o bicampeonato para o colégio das garotas. Elas estavam empolgadas, mas o cansaço era evidente no olhar de Savannah. A semana que passou pareceu durar uma eternidade e ficar lutando contra as fofocas era mais difícil sem Peter.

Andrew ajudava como podia. Os dois estavam mais próximos do que nunca e isso também ajudava a fomentar os cochichos no corredor quando eles passavam pelo corredor juntos. Acabaram combinando de não andarem mais colados pelo colégio, gastando todas as tardes e noites conversando e cuidando um do outro.

— Mas a senhorita não liga por causa do Peter - Natalie terminara de se arrumar e sentou-se na cama de amiga, observando-a - ou por causa da sua nova companhia?

— Nem vem com essa, Nat! - Savannah voltou-se para a amiga, rindo - Andrew virou meu irmão mesmo, sabe? Ando afastada dele na escola, mas quando a gente chega em casa conversamos sobre tudo, brincamos e até estudamos juntos, e é ótimo. - Ela não percebeu, mas o sorriso que carregava era enorme.

— Ah, sim, estudar quando os dois já estão na faculdade... – disse e viu a morena revirar os olhos para o seu comentário - E me conte mais sobre como é querer beijar esse novo irmão-urso. - Natalie riu - Porque eu sei muito bem que é o que você mais quer desde aquela primeira noite!

Savannah jogou a almofada que ficava no cadeira de canto direto na cara de Natalie, que caiu na gargalhada. A morena acabou rindo também e se sentando ao lado da amiga. Ela não podia negar que desejava Andrew mais do que qualquer outra pessoa.

Naqueles dias, porém, esse desejo passou a ser secundário. Era como se a necessidade de ter uma companhia, alguém em quem ela pudesse confiar além da mãe e de Natalie, viesse a frente de qualquer desejo.

— É confuso, amiga. Eu não sei o que pensar, nem o que sentir em relação a ele. Sempre vi ele como um inimigo, alguém que só me fazia mal, mas que, ainda assim, tinha um poder quase magnético sobre mim. E agora ele é meu melhor amigo.

— EI! - Natalie exclamou, jogando a almofada de volta na amiga, meio risonha - E eu nessa história? Fiquei pra escanteio, é? Palhaça! Vou é embora! - fez menção de levantar, mas Savannah puxou-a, rindo da amiga.

— Não, sua babaca, você é minha melhor-amiga-irmã-mãe-amor-da-minha-vida! - e abraçou a garota - Mas é como se o Andrew estivesse me ajudando a cicatrizar a ferida, entende? Porque o Peter era meu outro melhor amigo e, de repente, eu não podia mais contar com ele. E Andrew estava lá. Desde a primeira noite, estamos dormindo juntos e...

— VOCÊS ESTÃO O QUÊ? - Natalie quase gritou, chocada.

Savannah riu. - Não é nada do que você está pensando, besta. Ele só me faz companhia. Deitamos juntos e conversamos, até um dos dois ficar cansando demais pra responder. E tem sido ótimo. Não que ele substitua o Peter, até porque eles são muito diferentes. Só que ele ajuda a doer menos, ele me ajuda a ser só a Savannah de sempre, quando todo mundo lá fora está me julgando vadia/corna/safada/coitada ou seja lá o que eles pensem ou digam.

— Ok, tudo bem, mas e detalhes? Quando isso começou? Como? O que vocês conversam? – Natalie parecia vomitar todas as perguntas de uma vez só, fazendo Savannah rir mais alto.

— Eu te conto tudo, Nat. Mas pode ser no caminho? – disse, olhando para o relógio na cabeceira – Já está quase na hora do jogo e eu não quero perder nada!

— Nossa, como você é sem graça, garota! – exclamou Natalie, indo em direção à porta. – Você não vem, não?

— Vai ligando o carro, preciso terminar de colocar as coisas na bolsa!

— Ave Maria, – a ruiva bufou – você é a rainha dos atrasos! Te espero no carro! - Savannah riu da impaciência da amiga.

Era sempre bom para ela estar com Natalie, desde o jardim de infância quando se conheceram. Eram as meninas super poderosas, ela, Natalie e Tiffany. Savannah tremeu só de lembrar o nome da loira. Tudo o que ela não queria era lembrar que aquela garota existia.

Jogando celular, carteira e todas as coisas que achava que pudesse precisar, Savannah logo estava pronta para ir. Quase saindo, lembrou-se do batom que estava na cômoda e, já na ponta da escada, voltou para pegá-lo. Acabou encarando a sequência de fotos que ali estavam.

A primeira era dela, aos 5 ou 6 anos. Ela sabia que era perto da época em que seu pai sumira, pois num momento de loucura infantil, acabou picotando os cabelos e tendo que cortá-los curtos. As fugas à praia resultavam em um cabelo castanho médio que ela odiava.

A segunda fora tirada aos oito, quando a mãe colocara a garota em uma escola particular, com um uniforme que ela odiava. O fotógrafo, que Savannah jurava ser um enviado do capiroto, pegara o pior momento da garota. Ela guardou a foto sabendo que, um dia, ela renderia risadas. Estava certa, estava rindo dela mesma.

A terceira era de Natalie aos 9 ou 10 anos, quando ainda era loira. Apesar de todos acharem que a amiga é ruiva natural, Natalie nascera loiríssima (e odiava isso). Savannah não tinha certeza da idade da amiga, mas lembrava que elas trocaram fotos umas da outra para "sempre carregarem uma parte da outra consigo". A morena sorriu. Não podia pedir uma amiga melhor que Nat.

A quarta era uma foto de Susan e John, antes de Savannah nascer. Não tinha como as lágrimas não brotar em nos olhos da garota. Seus pais pareciam tão felizes na foto e ela sabia que aquilo tudo fora arrancado brutalmente da mãe.

Rapidamente, ela passou para a seguinte foto, dela e de Peter. Eles haviam tirado no ano anterior, no aniversário de Peter. Era a última coisa que restara dele ali. Ela havia devolvido roupas, presentes ou qualquer coisa que a lembrasse dele. Não teve coragem de entregar cara a cara, pois sabia que ele não aceitaria. Deixou em uma caixa, endereçada a Peter, na porta da casa do garoto. Seria mais fácil.

Olhando aquela foto agora, Savannah se perguntou aonde eles se perderam um do outro. Pareciam tão ligados, tão necessitados um do outro, tão apaixonados. Era difícil acreditar no que haviam se tornado em tão pouco tempo. "Como isso foi parar no lixo assim?" ela se questionava, com o porta-retrato em suas mãos.

A resposta foi a buzina da amiga, tirando-a da sensação nostálgica. Organizou as últimas coisas e seus sentimentos. Caminhou até a porta, mas antes de apagar a luz, olhou de volta para a cabeceira e o último porta retrato que havia olhado. Percebeu que tomara a decisão certa e foi embora.

O porta-retrato agora estava vazio.

***

Do outro lado da porta, Andrew ouvira toda a conversa. Saiu antes que as garotas o pegassem ali. E foi para a sua final com o maior sorriso do mundo, querendo apenas levar aquele campeonato para completar a rodada de felicidade, recordando-se de Savannah, no dia seguinte em que dormiram na casa dela, procurando o quarto dele pela primeira vez.

Savannah acordara num supetão.

Meio sem ar, olhou para os lados, ainda aflita. Percebera que se tratava de um sonho - ou melhor, pesadelo - e respirou aliviada. "Foi só um sonho ruim," dizia a si, em pensamento "só um sonho bobo!"

Levantou-se e foi em direção ao banheiro, querendo se livrar do suor grudado em seu pescoço e em sua testa. Os flashes do pesadelo tomavam conta de sua cabeça e Savannah sentia arrepios na espinha. Sentia como se fosse observada. Lavou-se e encarou o espelho, ainda no escuro. Aos poucos, seus olhos se acostumavam à pouca claridade que entrava pela janela do banheiro e a garota conseguia ver sua imagem. Bagunçada, amarrotada. Ela se sentia assim, por dentro e por fora. Os flashes voltavam.

Gritos.

Confrontos.

BANG! Alguém levou um tiro.

"NÃO!" ela grita. Savannah chora e corre na direção de alguém.

Alguém a conforta.

Mais choro.

Mais gritos. Discussão.

BANG! BANG! BANG!

Savannah abre os olhos e encontra sua figura novamente. Atordoada. A garota acordara após o barulho dos três tiros, não sabendo quem os recebera. A dor em seu peito parecia querer dizer que ela tinha sido atingida. Olhou-se no espelho novamente. Confusão. Desespero. Não conseguiria voltar para aquela cama novamente.

Seu primeiro pensamento foi em correr para o quarto da mãe, como sempre faz quando tem pesadelos. Mas estando na casa de Mike, as coisas eram mais complicadas. Por mais que ele fosse um doce e tivesse se tornado o melhor padrasto do mundo para a garota naquelas últimas semanas, a intimidade não era tão grande para que Savannah invadisse a cama dos dois. Além do mais, elas continuavam estranhas uma com a outra e Sav não é do tipo de pessoa que dá o braço a torcer facilmente.

Peter foi seu segundo pensamento. Ligar para ele sempre a confortava. Mas no segundo seguinte lembrara-se que ele era a possível causa daqueles pesadelos. Natalie também não era uma opção. Provavelmente já estava no mais profundo dos sonos devido a hora. 3h54, como piscava o relógio na cômoda quando a morena se levantara.

Andrew.

Ainda encarando-se no espelho, Savannah recusou a ideia. Eles já haviam dormido juntos na noite anterior, seria muita... "Muita o quê, Savannah?" ela pensou "Muita ousadia? Muita sem vergonhice? Muita... coragem?" Considerando por mais alguns segundos, resolveu que não tinha nada demais, afinal. Eram como irmãos agora, amigos, mesmo com tudo o que ela sentira na noite anterior. "Ele não se incomodaria, certo?" ela disse para o seu reflexo. Sorriu. Com certeza, ele não acharia ruim.

Foi pé por pé rumo ao quarto de Andrew, tentando não acordar mais ninguém. Passando pelo corredor, rapidamente chegou ao quarto do garoto, abrindo a porta e se esgueirando adentro. O cheiro dele rapidamente tomou conta de Savannah, trazendo conforto e segurança. Nos últimos dias, era o que ele representava para ela.

O quarto estava arrumado, considerando-se que nele vivia um adolescente de 17-quase-18 anos, como ele adorava dizer. Só faria aniversário dali alguns meses, mas era o fato de ser mais velho que Savannah que o fazia brincar com isso. Ela acabara de fazer 17, no início de maio, antes de tudo mudar. A garota se concentrava em Andrew para não chorar depois de pensar nisso.

A mudança de casa, sua mãe, Andrew, Harvard, Peter. Tudo era tão diferente há apenas algumas semanas. E agora ali estava ela, prestes a pedir para dormir com aquele que, até então, era seu pior inimigo por causa de um pesadelo. Se tivessem contado que ela faria isso algum dia, ela diria que isso sim é que era um pesadelo. Respirou fundo e se aproximou da cama, onde Andrew dormia profundamente. Estava de bruços, com um braço caído para fora da cama. Savannah assistia suas costas subirem e desceram e ele se mexia vez ou outra.

Quando deu por si, a garota o encarava sorrindo. "Não, Savannah, pode parar!" se repreendeu. Resolveu acordá-lo. Não podia simplesmente se deitar ali. Ela o sacudiu levemente algumas vezes, até que ele deu um pequeno pulo.

— OI? O QUÊ? - ele disse alto, ainda confuso.

— Shhh. - Savannah sussurrou, fazendo sinal de silêncio - Sou eu, Andrew.

— Ah, oi, Sav - ele respirou fundo e coçou os olhos, tentando se acostumar a visão turva para vê-la - Tá tudo bem contigo?

— Mais ou menos. - ela se sentou na cama e ele a acompanhou - Tive um pesadelo horrível e não consegui voltar para a minha cama.

— Oh, meu bebê! - Andrew sorriu e abriu os braços - Vem cá! Você quer dormir comigo?- Savannah riu, levando a mão à boca para a abafar o som

— Sim, eu quero, mas não me zoa. Você se importa? - ela o olhou inocentemente. Aquilo fez o coração do garoto parar de bater por alguns momentos, tamanha doçura da garota que ele, inevitavelmente, não deixava de amar.

— É claro que pode, Savie! E eu não estou te zoando, vem cá! - ele a puxou e abraçou-a, fazendo a garota deitar-se aconchegada nele - Pode deixar que eu cuido de você. - E ele realmente cuidaria. Faria o impossível para sempre vê-la bem.

Savannah riu baixinho - Não sou um bebê, Andrew. Só tive um pesadelo bobo.

— Eu sei, eu sei, mas não precisa ficar com medo que o tio Andrew tá aqui com você, viu? - ele a olhou, brincalhão. Ela respondeu com um tapa em seu peito - OUCH! Isso dói, Savannah!

— Essa é a intenção! - ela sorriu - É sério, foi horrível. Tinha tiros e gente gritando. Doeu tanto... – Ele a abraçou mais forte.

— Não vai doer mais, Savannah - ele disse, sério – Como eu disse ontem, eu estou com você.

A garota ficou meio sem ar com as palavras dele. Mesmo tendo escutado algo semelhante na noite anterior, em sua verdadeira casa. Parecia surreal viver aquilo. Logo ela que sempre sonhara com uma cena como aquelas antes de... Conhecer Peter. Ela lutara contra aqueles sentimentos por tanto tempo que agora parecia estanho, quase desconfortável sentir aquilo novamente, duas noites seguidas. Quase.

Andrew parecia calmo por fora, mas a agitação em seu peito era audível, seus batimentos enlouquecidos. Ele respirava fundo para se controlar e ela o acompanhava para se acalmar. Já não sabia se estava nervosa pelo sonho ou se era por estar deitada com Andrew pela segunda noite seguida.

— Obrigada - ela disse, quebrando o silencio.

— Pelo o quê? - ele a olhou. Seus olhares se encontraram e o arrepio na espinha de Savannah voltou. Mas agora era bom.

— Pela companhia, pela amizade, pelo cuidado, por sempre estar no lugar certo, por tudo o que você tem feito por mim nos últimos tempos. Você tem sido um grande amigo, um grande...

— Um grande...? - ele esperava o complemento. "Heroi? Amado? Príncipe? Futuro namorado?" ele pensava. Não podia evitar.

— Um grande... - ela ponderava - irmão. O irmão mais velho que eu nunca tive. - ela só estava sendo parcialmente sincera.

Ele sorriu. Não era o que queria ouvir, mas era um começo.

— Estamos juntos nessa... Irmã - ele disse, abraçando-a. Ela se aconchegou em seu peito e afundou em seus sonhos, dessa vez nada ruins.


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Notas finais do capítulo

#GuentaCoração!
Estão gostando? Me contem nos comentários!
Até o próximo capítulo! ♥