5 anos depois

12 de Janeiro de 2013 – Sábado

POV. German

– Você, German Castillo, recebe esta mulher como sua legítima esposa, prometendo amá-la, respeitá-la, protegê-la e consolá-la, durante todos os dias, enquanto vocês viverem?

– Sim, prometo. – Eu falei sorrindo para ela.

– Você, Angeles Saramego, recebe este homem como seu legítimo esposo, prometendo amá-lo, respeitá-lo, honrá-lo e consolá-lo, durante todos os dias, enquanto vocês viverem?

– Sim, prometo. – Ela disse chorando.

– Então repitam, cada um, comigo.

– Eu, German Castillo, recebo você, Angeles Saramego, como minha legítima esposa, para que nós dois sejamos um só, deste dia em diante, – Eu sorri – na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, – Fiz uma pausa e deixei uma lágrima escorrer – para amá-la e cuidá-la – Ela sorriu chorando. – até que a morte nos separe. – E coloquei a aliança delicadamente em seu dedo anelar da mão esquerda, sentindo-me o homem mais feliz do mundo. E então foi a vez dela.

– Eu, Angeles Saramego, – Ela começou com uma voz embargada pelo choro – recebo você, German Castillo, como meu legítimo esposo, para que nós dois sejamos um só, deste dia em diante, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, para amá-lo e cuidá-lo até que a morte nos separe. – E ela colocou a aliança em meu dedo.

– Eu os declaro marido e mulher em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. – Nós dois sorrimos. – Pode beijar a noiva. – Eu segurei o rosto dela delicadamente e aproximei-me

– Eu te amo, meu amor. – Ela sussurrou e eu a beijei calmamente.

Ninguém é capaz de sentir o quanto eu gostaria que isso não fosse fruto da minha imaginação, o quanto eu gostaria que isso fosse real e que eu pudesse ser feliz para sempre com Angeles. Hoje eu fiquei noivo de Jade e eu ainda estou tentando entender o porquê de ter feito isso. Há dois anos eu enviei uma carta para Angeles, explicando tudo e pedindo perdão, ela respondeu com uma carta curta e grossa dizendo que não acreditou em uma palavra do que eu escrevi e que ela conseguiu esquecer-me, dizendo para, se é que eu havia realmente amado-a, esquecê-la e deixá-la em paz. Se antes eu já estava em um processo de decadência, aquela carta destruiu-me por completo. Eu tenho a noção de que sou uma pessoa difícil mas será mesmo que eu mereço tudo o que aconteceu e vem acontecendo? Por que eu tive que sofrer uma perda pela segunda vez? E por que teve de ser pior? Eu amei muito a Maria mas quando eu a perdi tive a completa certeza de que ela não ia voltar, e perder Angeles... O que é pior, perder alguém que você sabe que não vai voltar ou perder alguém que você ainda pode ver e tocar mas sabe que isso jamais acontecerá novamente porque, provavelmente, ela o odeia mais do que tudo na vida? Agora eu vejo que Angeles foi, é e sempre será o amor da minha vida.

Passaram-se cinco anos desde o episódio na sala de reunião da escola, desde o dia em que uma dor crescente instalou-se em meu peito e nunca mais saiu. Angeles partiu e com ela levou alguma parte vital para a minha sobrevivência. Eu fiquei e passei a levar uma vida vazia. Os dois primeiros anos foram complicados, fui obrigado a aguentar alunos chamando-me de pedófilo e alguns professores ignorando-me. As coisas ficaram mais tranquilas quando aproximei-me da Jade. Embora ela fosse um tanto fútil, é uma mulher bonita, extrovertida e capaz distrair-me um pouco. Sobre o irmão dela, o Matias, eu nada sabia. Depois do incêndio em minha casa, ele saiu da escola e nunca mais o vi, Jade às vezes conversa com ele mas ela não fala comigo sobre isso porque sabe da história. Eu sempre soube que ela sentia algo por mim e, então, depois da carta da Angeles eu decidi dar a Jade uma chance. Não digo que estou bem com esse noivado e nem que estou feliz porque, na verdade, eu não sei o que pensar sobre isso.

São 22h agora e Jade foi embora há pouco. Estive sentado em minha cama desde então, olhando para uma foto em que estou com Angeles e deixando uma lágrima atrás da outra escorrer pelo meu rosto. À qualquer momento Violetta viria ao meu quarto para conversar. Durante todo o jantar ela ficou olhando-me e analisando-me, ela nunca foi a favor do meu relacionamento com a Jade e certamente não foi a favor do noivado. Eu tinha certeza que ela viria conversar comigo. Dito e feito, ela bateu duas vezes na porta e entrou no quarto. Eu a olhei e ela suspirou.

– Você está chorando!

– É errado?

– Não, – ela disse aproximando-se – mas é estranho depois de ter noivado. – E sentou-se ao meu lado na cama. Eu abaixei a cabeça. Ela pegou a foto que havia na minha mão e sorriu. – Sempre achei essa foto linda. – Eu assenti.

– É linda mesmo. – Eu murmurei. Ficamos em silêncio.

– Por que você tá fazendo isso, papai? – Violetta cortou o silêncio.

– Isso o que?

– Isso... esse noivado repentino com a Jade, por que isso? – Eu a olhei.

– Vilu, nós já namoramos há um tempo e depois de algum tempo que as pessoas namoram é normal elas noivarem e depois casarem.

– É normal quando as duas pessoas se amam. Na relação de vocês só uma pessoa parece sentir algo... e essa pessoa não é você.

– E o que você quer que eu faça? Quer que eu continue vivendo sozinho e vazio?

– Quero que você vá atrás de quem você ama. – Ela disse erguendo a foto. Eu abaixei a cabeça novamente. – Quero que você faça o possível para reconquistá-la e quando o fizer, quero que fiquem juntos para sempre, porque só assim serão felizes.

– Não adianta, Violetta, ela não me ama mais. – Eu falei com a voz embargada.

– Eu não tenho tanta certeza disso. Ela mentiu para você e para si própria quando escreveu aquelas coisas na carta. Papai, eu a conheço perfeitamente, a Angie evita falar sobre você, e sabe por que? Porque ela ainda sofre com isso e... se ela sofre é porque ela ainda o ama. – Eu a olhei.

– Aquela carta me convenceu, Violetta, e foi capaz de destruir qualquer esperança que eu tinha. Ela não acreditou e nunca vai acreditar em mim. – Eu suspirei e mais lágrimas rolaram pelo meu rosto. – Ela não me ama mais. – Ela abraçou-me.

Nós trocamos os papéis, sou eu quem estou chorando por amor e a Violetta quem está consolando-me, quando deveria ser o oposto. O fato é que a Vilu cresceu bastante nestes últimos anos, apaixonou-se por um garoto e está feliz com ele. Eu vejo a felicidade no sorriso dela, vejo o brilho nos olhos dela quando está com ele, é o mesmo brilho que eu via nos olhos de Angeles quando estava comigo, e ele a olha sempre com uma cara de bobo, uma cara parecida com a que eu fazia toda vez que estava com Angeles. A diferença é que eles são jovens, os dois, e podem ficar juntos. Entretanto, a Violetta não amadureceu só por causa disso, ela tornou-se tão responsável, tão boa e possui um caráter inigualável. Talvez as únicas coisas que tenham me salvado todos estes anos foram vê-la crescer e tornar-se o que é hoje e o orgulho que eu sinto dela. De resto, nada mais importa, nada mais faz sentido e, acho que na busca por um sentido, foi que eu decidi ficar noivo da Jade, mesmo sabendo que esse sentido de que eu falo tem nome e sobrenome. Angeles Saramego é o sentido da minha vida, é o que fazia-me viver e ser feliz.

POV. Violetta

Depois que saí do quarto do papai, eu desci as escadas e encontrei o León rindo com algo que ele assistia na televisão, não deixei de sorrir ao vê-lo daquele jeito. Sentei-me ao lado dele e ele abraçou-me.

– E então, como ele está?

– Não está bem. – Eu suspirei. – Entrei no quarto e ele estava olhando para uma foto dele com a Angie. E chorando. – Eu me desvencilhei dele para poder olhá-lo. – Sério, León, aquilo me cortou o coração. Meu pai sempre foi tão forte, mesmo depois da morte da mamãe quando ele escondia o sofrimento dele para que eu não sofresse mais por isso. – León passou a acariciar meu rosto. – Agora ele nem faz questão de esconder. Parece que ele não se importa se as pessoas estão vendo que ele está sofrendo ou não, parece que ele não se importa mais com nada, sabe?

– Então por que ele ficou noivo?

– Ele não quer continuar sozinho.

– Mas de que adianta ter alguém e continuar sofrendo por outro alguém?

– Ele tem certeza de que a Angie não o ama mais. – Eu abaixei a cabeça. – Ele perdeu completamente as esperanças com ela, León.

– E a Angie? – Eu o olhei.

– Ela não acredita nele, não acredita no amor dele. – Eu suspirei.

– A história dos dois é... muito triste, né? – Eu assenti. – Eu espero que você nunca deixe de acreditar no meu amor por você. – Eu sorri.

– Seu bobo, isso nunca vai acontecer. – Eu dei um beijo na bochecha dele. – E eu espero que você nunca pense que eu deixei de amá-lo.

– Nunca, meu amor. – Ele segurou carinhosamente o meu rosto e me beijou calmamente.

– León, papai pode ver. – Eu falei sorrindo após o beijo.

– Desculpa, é que eu não resisti. – Ele disse e me deu um selinho. – Eu te amo, minha princesa.

– Eu te amo, príncipe.