_ Ei! – uma voz ao longe chamava a minha atenção em meio ao silêncio daquela floresta. Voltei-me para o dono da voz, sorrindo. A minha jovem luz no fim do túnel se aproximava. Acenei para ele e indiquei para que se sentasse em uma pedra próxima à que eu estava.

_ Ora, ora, se não é o jovem cavaleiro de Athena.... – brinco com ele, que faz uma pose engraçada. Por sorte, meu disfarce de camponês não deixava rastros de meu cosmo divino, e muito menos ele reconheceria o meu rosto futuramente....essas eram as vantagens de poder manipular a névoa e as imagens.... - Como vão os planos para a guerra?

_ Vão bem...estamos investigando melhor a hipótese de Hades ter mais deuses como aliados...os dois maiores suspeitos são os gêmeos exilados do Olimpo...Thanatos e Hypnos...dizem ser eles as mentes por trás desta guerra...mas infelizmente temos poucas informações. – comenta, pensativo, depois levando os olhos para mim. – Ei...você que conhece bastante lendas...sabe algo sobre os dois? – Era engraçado como o rapaz me enxergava como alguém mais sábio que ele, apesar de aparentarmos a mesma idade.
_ Hum....sei tanto quanto você...os dois deuses menores, um representa o sono....o outro a morte, personalidades diferentes...nada mais que isto... – suspiro, contendo uma risada. Gostava de jogar com as pessoas....eram tão interessantes suas reações...Sem falar que queria descobrir até que ponto aquele jovem chegaria para proteger sua deusa. – Talvez se tentar procurar pelos templos antigos consiga encontrar algo, não sobre eles, mas sim sobre como limitar os poderes de Hades....aquelas paredes escondem segredos que nós, humanos raramente percebemos... – Thanatos e eu tínhamos sido cautelosos o bastante para apagar algumas informações, entretanto, dei meu jeito de manter alguns enigmas ocultos, na esperança de que algum humano excedesse as expectativas e os desvendasse.

_ Entendo....bom...então tentarei fazer o que me sugeriu! Matthew, você é o melhor! – Sorri para mim, dando um leve soco no meu ombro. Aquele humano era realmente muito engraçado....eu me divertia com suas caras e bocas. Após uma breve conversa, ele logo se despediu, voltando ao seu posto no santuário, e eu assumi minha verdadeira forma, não deixando de conter um sorriso, afinal, tudo estava correndo conforme o planejado. Queria dar todas as informações que pudesse àquele jovem cavaleiro, mas seria muito arriscado. Hades não é fácil de ser enganado e muito menos meu irmão, que me esperava à porta de meu templo, quando me teleportei para lá.

“Coisa boa não deve ser....”, pensei, dando um suspiro. Ao julgar pela expressão de Thanatos, algo com certeza não ia bem. Aproximei-me dele, perguntando o que houve, entretanto ele apenas me respondeu secamente:

_ Mais uma vez te encontro fora de teus domínios....Não encontrei seu cosmo em lugar algum!!- se aproxima de mim, sério – Hypnos....eu não sou idiota...

_ Estava investigando no mundo mortal...nada demais...é interessante se quisermos ser bem sucedidos nesta guerra, caro irmão....- na verdade, eu sentia um forte aperto, um enorme vontade de dizer a Thanatos tudo aquilo que estava preso em minha garganta, mas temia sua reação. Talvez, se eu tentasse induzi-lo a pensar como eu, indiretamente, funcionasse - Estive muitas vezes me perguntando como seria o mundo sem os humanos....

Nem ao menos terminei de falar, quando sinto meu irmão pegar-me pelo pescoço, olhando fixamente em meus olhos. Se não fosse um deus, aquela pressão sobre minha traqueia seria insuportável.

_ Não vá me dizer que está criando compaixão por estes vermes, meu irmão! Ou....por acaso se apaixonou por um deles? Não minta para mim, Hypnos! – eu podia ver, através da aparente raiva, que Thanatos temia que eu me aproximasse demais dos humanos e me tornasse um “impuro” como Athena. Apenas o encarei friamente, tirando suas mãos de meu pescoço.

_ Estava apenas fazendo um comentário...nada demais....- dei as costas a ele, mantendo minha postura séria. – Como disse, estou colhendo informações que possam ser úteis para nosso imperador...nada mais do que isto. E da próxima vez, não toque em mim sem ao menos saber o que houve....- olho-o repreensivo e passo uma de minhas mãos sobre meu pescoço. Com certeza as marcas das mãos de Thanatos haviam ficado sobre minha pele clara.

_ Humpf...espero muito mesmo que seja como me disse. Hades nos informou que atacará esta noite o santuário, e nós deveremos ficar em alerta caso aconteça algo, mas sem interferir diretamente.... – consigo ver um sorriso frio na face de meu irmão. Ele sempre se divertia quando Hades resolvia massacrar os “vermes”, como ele mesmo dizia. Respondi a ele com apenas um sorriso, enquanto eu sofria por dentro, temendo que algo pudesse dar errado, agora não restava nada que eu pudesse fazer, a não ser torcer para que aquele jovem cavaleiro conseguisse decifrar os enigmas deixados por mim naquele lugar...

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 A guerra lá fora havia se iniciado, juntamente com a que estávamos travando agora. Eu ficava cada vez mais apreensivo. A rainha branca tomava uma posição arriscada perante o cavalo negro que a observava. Duas peças brancas se destacavam ali, um deles, o bispo, próximo à rainha, como se a quisesse proteger a qualquer custo, e o outro, um peão, desafiava seus limites, aproximando-se perigosamente do rei negro. O jogo era como uma guerra: imprevisível até mesmo aos mais experientes.
  _ Xeque.... – Thanatos sorria, confiante de sua vitória. – Não há mais como fugir deste cavalo, caro irmão....o jogo termina aqui.

 _ Tem  certeza? – sorrio para ele, movendo meu peão, derrubando o rei negro. A sede de Thanatos de vencer havia o cegado para a armadilha que eu estava criando. – Xeque mate....
_ O QUE? – ele se exalta, batendo as duas mãos na mesa, incrédulo. – UM PEÃO????Só pode estar de brincadeira comigo, Hypnos!!!Meu rei não pode ser derrotado por um mero peão!!
_ Assim como nas guerras....esse jogo é imprevisível, Thanatos.... – sorrio para ele, sentindo, logo após um enfraquecimento brusco no cosmo de Hades, o que nos fez desviar a nossa atenção para o que ocorria no mundo dos humanos: o rei negro, assim como em meu jogo, havia sucumbido ao peão...Era nossa vez de agir.