They Don't Care About Us - Hiatus escrita por Ju Black, Vicky Black


Capítulo 1
Bleeding




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Era incrível a capacidade de Alice Wings mudar de humor tão rapidamente quando estava sozinha. Era mais incrível ainda como ela conseguia derramar-se em lágrimas quando ninguém estava olhando.

Quer dizer, àquela manhã tudo ocorrera bem. As coisas completamente normais aconteceram; ela acordou cedo demais por causa da insônia e dos pesadelos, foi tomar banho, pegou a blusa da farda da escola, uma calça jeans branca surrada acima e abaixo do joelho, seu All Star preto e uma pulseira de sua banda preferida. Deixou seu cabelo loiro cacheado solto e passou um lápis de olho, realçando seus olhos verdes.

Pegou os fones e esperou dar seis horas. Pegou sua mochila preta e abriu a porta da casa em silêncio, tentando não acordar ninguém. Sabia que receberia bons gritos se conseguisse acordar alguém.

Andou por mais ou menos meia hora até chegar à casa de sua melhor amiga. A janela do quarto dela estava aberta - foi fácil entrar no quarto da outra sem que nem precisasse passar pela porta de entrada.

Annelise Ângelo, diferente da amiga, era uma garota fria de natureza. Tinha obscuridades em seu passado que ainda não estava disposta a dividir com ninguém.

Menina órfã de pais, que morava com o tio, um dos chefes da máfia de drogas local. Muitas vezes, a menina tentou fugir dele e de toda aquela criminalidade, apenas para ser punida depois. Thomas Ângelo precisava da sobrinha, afinal, ela era herdeira de uma grande fortuna que garantia seu império nos crimes.

Lise levantou-se da cama e jogou-se debaixo do chuveiro, preparando para mais um dia daqueles. Ajeitou os cabelos loiros que, no momento, possuía mechas roxas e passou uma boa quantidade de maquiagem para esconder as olheiras. Colocou um jeans preto, a blusa da escola, suas fieis meias de braço [não sei o nome disso] e colocou seu supra preto.

Saiu do banheiro terminado de colocar seu colar, o último presente de seus irmãos, também mortos.

- Por que não me surpreendo Alice?

- Ah, provavelmente porque eu sempre vou estar aqui às seis da manhã. - respondeu a outra, que estava deitada na cama de pés para cima. - Pesadelos de novo?

- Isso não é novidade. - Lise colocava o material do dia numa bolsa preta e roxa. - E você?

- Claro.

- O que dessa vez borboleta loira? - sim, Lise a chamava de borboleta, devido seu sobrenome ser asas.

- O mesmo de sempre. Pessoas gritando, pânico, minha irmã morrendo sufocada em meio às chamas... O seu também foi o de sempre?

- Sim. O maldito acidente que Thomas causou. O mesmo que tirou a vida deles e o qual eu infelizmente sobrevivi. - ela terminou de arrumar a bolsa. - Vamos?

- Tenho escolha? - perguntou Alice, fazendo biquinho.

- Tem. Fica aqui com meu tio e reprova de ano ou... - sentei na janela, pronta para pulá-la. - Vem comigo, estudamos, depois ensaiamos e eu vou trabalhar.

- Dá pra sobreviver. - ela pulou também.

Você deve estar se perguntando por que elas simplesmente não saíam pela porta, como pessoas normais. Bem, já tinham cometido esse erro antes, quando eram bem menores que naquele dia. Elas saíram do quarto e deram de cara com um cara deitado no sofá, roncando. A sala estava uma bagunça e tinham comida e estragada e drogas para todo lado. Várias pessoas estavam deitadas no chão, como se estivessem ficado tão chapadas que não puderam se levantar de onde estavam. No extremo esquerdo da sala estava o tio de Annelise, roncando alto, com uma mulher loira ao lado somente de calcinha.

As duas entenderam que não precisariam ver aquela cena ou levarem gritos de Thomas todos os dias; pular a janela era simplesmente mais fácil.

- Trouxe seu skate? - perguntou Annelise para a amiga, pegando o seu skate em seu canto escondido.

- Trouxe. - respondeu Alice, tirando-o da bolsa.

- Vamos parar para comer onde hoje?

- Na lanchonete de sempre? - Alice já estava em cima do Skate.

- Pode ser. - Annelise subiu no skate e se direcionou para a lanchonete.

A Hill's Lanchonete era a lanchonete que elas iam desde que se entendiam por gente. O Sr. Smith, o dono, sempre fora muito carinhoso com elas e sempre atendia as duas muito bem.

- Oi Charlie! - disse Alice assim que entraram e o viram no balcão - Vou querer um X-Frango, ok?

- Para mim, apenas um suco de laranja natural. - Annelise pediu ao sentar em no balcão.

- É pra já. - respondeu o senhor, entrando na cozinha.

- Qual música ensaiaremos hoje borboleta?

- Ontem eu escrevi uma... Você quer ver? Tô com o manuscrito aqui. - ela abriu a bolsa e procurou o manuscrito. Quando finalmente achou a folha de papel completamente amassada, diga-se de passagem, entregou à Annelise.

- Hum... Gostei. - Annelise deu um meio sorriso. - Escrevo a parte do baixo? E a do piano?

- Exato. A gente tenta mais tarde, então?

- Sim. - logo o suco de Annelise e o lanche de Alice chegaram.

- Você trabalha hoje?

- Não, hoje é minha folga, lembra? - respondeu a outra loira, terminando seu lanche, colocando o dinheiro em cima do balcão e pegando sua mochila. - Vamos?

- Sorte sua, eu trabalho hoje. - resmungou Annelise já saindo do restaurante.

As duas saíram e subiram em seus skates em direção à escola.

Annelise e Alice moravam numa cidade da Inglaterra chamada Bristol. Não era exatamente uma cidade tão grande quanto Londres nem tão pequena. Dava para ter uma condição de vida até que boa naquele lugar.

Elas seguiram pelas ruas com seus skates. Passaram por algumas lojas que pareciam ainda estarem acordando e, depois de dois quarteirões, chegaram ao Colégio Estadual de Bristol.

Não era grande coisa. Existiam todos os tipos de alunos; alunos brilhantes, nerds, valentões, esquisitos, baba-ovos, as líderes de torcida, as garotas dramáticas e as que tinham problemas de verdade...

Bem, uma escola normal.

É claro que pelo estilo mais... Rebelde das duas, poucos eram os que se aproximavam delas, não que elas ligassem.

Annelise e Alice passaram pela entrada da frente, cruzaram o pátio e chegaram nas salas, deixando suas mochilas nas últimas filas e os skates embaixo das mesas.

- Que aula é a primeira hoje? - perguntou Alice.

- Olhar o horário para quê né? - resmungou Annelise deitando na cadeira. - Biologia.

- Ah, merda. - Alice disse. Biologia era a única matéria que odiava com todas as forças, pelo menos com o último professor. Naquele dia, elas teriam a aula do novo professor, que curiosamente ninguém conhecia. - Como você acha que o novo professor vai ser?

- Sabendo explicar a matéria, para mim, pode ser até um velho caquético de mil anos.

- É, sei como é. - Alice ficou batucando qualquer coisa em cima da mesa. - Você viu se o Will chegou?

- Não, seu boy não chegou. - Annelise ligou a música e pôs o capuz. - Avisa quando o professor chegar.

- Ele não é "meu boy"... Argh, esquece. - disse Alice, corada.

- Ainda não é seu boy. - a voz dela saiu abafada.

E, nessa hora, Will entrou na sala.

William Stonem era, basicamente, o sonho de consumo de quase qualquer garota... Antes de Annelise e Alice entrarem para o colégio. Ele sabia tocar bateria e guitarra muito bem, além de cantar. Jogava futebol, tinha média alta.

Até ser o primeiro a falar com as duas garotas.

Ele não achava que elas estavam metidas em problemas, eram drogadas, violentas ou qualquer outra coisa que o resto da escola pensava. Achava que elas eram apenas antissociais.

- Pronto, seu namorado chegou. - resmungou Annelise vendo ambos sorrirem um para o outro.

Apesar de resmungar sempre, ela estava feliz pela sua querida amiga, sua irmãzinha, ter achado alguém que a faça feliz. É claro que Anne já tinha ameaçado Will caso ele machucasse a pequena Borboleta dela.

Mas mal Will entrou na sala e um homem alto e loiro entrou também. Ele provavelmente estava nos vinte e poucos anos, tinha olhos verdes intensos e era, bem, lindo.

- Bom dia, classe. - as garotas soltaram um suspiro quase coletivo e algumas soltaram risadinhas, enquanto Annelise e Alice simplesmente reviravam os olhos. Era sempre assim quando aparecia algum homem muito bonito.

- Bom, não é um velho caquético de mil anos. - disse Annelise tirando os fones do ouvido. - Só espero que saiba ensinar.

- Meu nome é Jake Watson. Sou seu novo professor de biologia. - ele disse.

- "Não é um velho caquético de mil anos"? Tá longe disso.

- Olha que o Will fica com ciúmes. - Annelise já puxava suas folhas da mochila, pronta para iniciar suas anotações sobre a matéria.

Uma hora depois - numa aula que Anne tinha julgado "interessante" e Alice "legal" - biologia tinha terminado e começava a aula de História. Para a alegria de alguns. Alice gostava de História desde que se entendia por gente; diferentemente de Anne.

- Ainda não sei como consegue gostar disso, me dá sono! - resmungou Anne deitada em sua mesa, mas mesmo assim ela tirava notas da aula.

- E eu não sei como você consegue não gostar. - respondeu Alice, revirando os olhos e "voltando" para 1930. 

[...]

O intervalo era uma alegria para todos, é claro.

As duas amigas, junto com Will, foram para a fila da cantina, esperando pacientemente.

- Licença, licença, sai da frente... - dizia Allie.

- Alice! Seja mais educada. - falou Anne, em tom repreensivo.

Mas é claro que a garota não deu ouvidos a melhor amiga e continuou seu caminho empurrando a todos a sua frente. Will apenas riu da cara de desagrado de Annelise.

- Duas fatias de pizza por favor. - disse Allie, dando o dinheiro para a "tiazinha da cantina".

- E meu refrigerante amora, não se esqueça da minha schweppescitrus. - Annelise pediu para a amiga.

- O.k. O que você vai querer, Will? - perguntou.

- Um sanduíche e uma coca, por favor. - ele passou o dinheiro para ela

Depois de já estarem com os lanches, foram em busca de uma mesa mais afastada do resto dos outros alunos, como sempre faziam.

- Vocês não vão ficar se agarrando né? Por que se forem, me avisem que eu saio. - disse Annelise nada discreta.

Allie corou - como sempre -, Will só sorriu divertido.

- Vá à merda, Annelise. - resmungou Allie.

- Sei que me ama, gata. - disse Annelise se levantando. - Como não trouxe minha fantasia de vela hoje, estarei encostada em alguma árvore lendo e ouvindo música, juízo os dois viu?

- Ei! Nós temos juízo! - protestou Allie, mas era tarde demais porque Anne já estava com seus fones.

Annelise caminhou solitária até o jardim em frente a sala dos professores, onde encostou-se a uma árvore e começou a ler um de seus romances preferidos, Romeu e Julieta.

- Romeu e Julieta? Não é todo mundo que lê Williams Shakespeare atualmente. - Jake Watson, o professor de biologia, tinha sentado ao seu lado.

Quem sentava ao lado dela?,era a pergunta que vagava em sua mente.

- Não sabem eles o que estão perdendo. - ela respondeu sem tirar os olhos do livro. - Se bem que, achar um amor verdadeiro hoje em dia é quase impossível.

- É, felizmente é somente quase impossível. - o professor suspirou - O que mais você gosta de ler?

- Ficção, ação, algo dramático e sem muito romance. - ela fechou o livro e o encarou. - Até por que, o amor não existe para pessoas como eu.

- O amor existe para todos, só temos que encontrá-lo.  - os olhos intensos encararam Annelise; provavelmente ele sabia do que estava falando.

- Pena que algumas pessoas jamais o encontram, ou merecem-no. - ela respondeu com frieza.

- O que você sabe sobre o amor? - ele perguntou.

Mas que diabos de pergunta era aquela?

- O que sei é que nunca fui amada, por ninguém, e nem nunca vou ser.

- Bem, que eu saiba... - Jake abriu a mochila verde que carregava nas costas e tirou um pacote de lá, mas não fez nada com ele - você já é amada sim por alguém. Alice, ela não é nada para você?

- Alice é minha irmã, minha melhor e única amiga. - Annelise automaticamente sorriu. - Mas apenas ela.

- O mundo dá voltas... - ele a entregou o pacote amarelo. - Sua mãe tinha me dado esse livro.

- M-Minham-mãe? - ela olhou descrente para ele. - De onde você a conhece?

- Digamos que eu apenas a conhecia. - ele deu um sorriso misterioso, do tipo "logo logo você sabe... acho" - Leia o livro, você vai gostar.

- Minha mãe... Ela está... Viva?

Ele ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder:

- Sinto muito.

- É, já devia imaginar. - ela pegou o pacote e mandou ma mensagem para Alice, dizendo que se encontravam no final da aula no lugar de sempre.

A loira ainda pediu para a amiga pegar seu material e seu skate. Annelise pulou o muro e seguiu até um parque abandonado, onde ficou ali, aranhando seus cortes no pulso, fazendo os mesmo sangrarem mais e mais.

- EU. SABIA! - gritou Alice, jogando o skate da amiga no banco do parque. - SABIA QUE VOCÊ NÃO TINHA PARADO!

- Ela realmente morreu Alice. - Annelise encarou a amiga com os olhos brilhando por lágrimas reprimidas.

O pequeno ataque de raiva de Alice repentinamente acabou. Ela deixou a mochila e seu próprio skate no chão e sentou ao lado de Anne, abraçando-a.

- Sinto muito, Anne.

E ela realmente sentia. Tinha conhecido Helena e John, os pais de Annelise. Eles também eram como pais para ela.

- Eu ainda tinha esperanças que eles estivessem vivos, mas não. - Annelise abraçou a amiga com força, ignorando seus cortes abertos.

- Ei... Calma... - Disse Allie, de modo gentil - Eu ainda estou aqui, o.k.?

Sabia que a qualquer momento ela provavelmente começaria a desabar, mas Allie não podia fazer mais nada. Apenas ficar ali, abraçada à sua melhor amiga, tentando prometer que as coisas iriam melhorar.

A garota chorou até desmaiar nos braços da amiga. Afinal, bem antes de a amiga chegar ela já estava fraca. Arranhara todos os cortes fechados, abrindo-os novamente. Encarou o sangue escorrendo de seus pulsos até Alice chegar e "brigar" com ela.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? c:



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