Harry Potter e a Fúria dos Deuses escrita por almeidalef


Capítulo 2
Capítulo II - A profecia


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores, vocês não fazem ideia do quão feliz eu fiquei com os reviews que recebi! Agradeço de coração mesmo, nunca pensei que isso fosse acontecer. Quero agradecer especialmente às pessoas que favoritaram a fic mesmo ela tendo apenas um capítulo. Está sendo divertidíssimo escrever essa história e tudo graças a vocês.
Enfim, chega de "lenga-lenga" e vamos para o que interessa: segue o segundo capítulo da fic.
Espero que gostem!



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Havia pequenos mantos esverdeados de bosques, um riacho sinuoso que cortava o horizonte, campos de morangos espalhados por um longo pedaço do horizonte, juntando-se, mais adiante, como um só, do céu azul. O vale tinha como cercas, colinas ondulantes e aprazíveis. A paisagem era pontilhada de construções que lembravam a arquitetura grega antiga - um pavilhão a céu aberto, um anfiteatro, uma arena circular -, as colunas de mármore brancas reluzindo ao sol. Em uma quadra de areia próxima, uma dúzia de crianças e sátiros em idade escolar jogavam voleibol. Canoas desfilavam tranquilamente pairando num pequeno lago. Crianças de camiseta laranja-claro corriam umas atrás das outras em volta de um agrupamento de chalés no meio do bosque. Algumas praticavam arco e flecha em alvos. Outras montavam cavalos - alguns com asas - em uma trilha arborizada e íngreme.

Percy e Annabeth encontravam-se sentados na mais alta colina à sombra de um grande pinheiro no topo, com uma manta dourada reluzindo em seu galho mais baixo. Percy contava, preocupado, o sonho que tivera na noite anterior.

–... uma garota de cabelos cheios e castanhos estava chorando... - Contava, enrugando a testa, tentando se lembrar. - e também havia um garoto... de cabelos pretos e olhos verdes... que ria... ouvi... uma voz conhecida... que me chamava e, despertei com uma dor horrível, como se tivessem me traído...

Para seu imenso alívio, Annabeth o observava atentamente, absorvendo cada palavra.

– Bem, tudo faz tanto sentido para mim quanto faz para você, Percy - disse a garota de olhos cinzentos e cabelos louros que esvoaçavam com o vento que antecedia uma chuva de fim de tarde, quando ele terminou de contar as cenas horripilantes que sonhara. - Mas, acho que você deveria contar à Quíron este seu sonho, você não pode ficar as férias de verão inteiras sem saber o que isso significa. E seja rápido Percy, para variar. Porque hoje é o último dia.

Percy hesitou, pensando no que faria. Observou o rosto de Annabeth ser varrido pelo vento por uns minutos constrangedores, fazendo a menina evitar seu olhar, interessando-se repentinamente nas colinas do horizonte encimadas por grandes nuvens que se aproximavam. Percy quedou-se, absorto, em seus pensamentos, revivendo cada minuto agonizante que tivera na noite passada. Contudo... contudo... não era a dor horrível que tivera quando acordara que o incomodava; Percy não era estranho à dores e ferimentos. Uma vez que é inevitável quando se é meio-sangue. Não, a coisa que estava incomodando Percy era que da última vez que tivera pesadelos tão reais, o rei dos titãs, Cronos, estava reerguendo-se... mas o titã não poderia estar ali, naquela hora... a ideia de Cronos estar rondando o Acampamento Meio-Sangue era absurda, impossível...

Percy parou para escutar com atenção o silêncio à sua volta. Estaria esperando ouvir o farfalhar suspeito de um arbusto, a respiração ofegante do monstro Cronos? Então teve um leve sobressalto, os passos apressados de seu amigo sátiro, Grover - um menino magrelo, que chorava quando ficava frustrado, possuía uma barba rala começando a nascer e um problema sério de acne e que escondia um segredo por debaixo das calças... -, estalavam os galhos e folhas secas ali por perto.

Percy deu em si mesmo um sacudidela imaginária, estava sendo burro; não havia mais ninguém por ali, exceto Annabeth e Grover que parou aos soluços na frente dos amigos, curvando-se com as mãos nos joelhos peludos.

– Quíron... e o Sr. D. estão esperando - anunciou ele, recuperando o fôlego gradualmente.

Annabeth e Percy se entreolharam e os três desceram. Atravessaram depressa a quadra de voleibol, sem olhar para os alunos que ali jogavam, tranquilos. Percy desejou ser uma daquelas crianças. Sem preocupações, sem pesadelos que anunciavam catástrofes e a destruição do mundo Olimpiano juntamente com o mundo humano. Pouco depois estavam caminhando em frente a uma grande mansão antiga em madeira, pintada de azul-claro com acabamentos em branco. Uma enorme varanda circundava toda a casa de fazenda, onde encontrava-se uma mesa de carteado e, próximas ao gradil, espreguiçadeiras. Sinos dos ventos pendurados ali pareciam ninfas se tornando árvores enquanto giravam. As janelas pareciam encarar com olhos raivosos quem aparecesse por lá. Na parte mais alta do telhado um cata-vento no formato de uma águia de bronze girou com o vento e apontou para o leste, onde o sol mostrava-se acanhado por entre pequenas nuvens rechonchudas que pareciam acotovelar-se para assistir o espetáculo das nereidas no lago e as danças dos sátiros nas florestas.

Os três subiram as escadarias que davam de frente para a porta de entrada escancarada, que parecia pronta para engoli-los.

A sala de estar parecia ter sido construída no meio de uma floresta tropical. Parreiras tomavam conta das paredes e do teto, tinham folhas verdes e estavam repletas de cachos de uvas vermelhas. Sofás de couro rodeavam uma grande lareira de pedra, acesa. Em um canto, um velho fliperama de PacMan fazia barulhos e piscava. Nas paredes, várias máscaras - as de sorriso/choro do teatro grego, máscaras do carnaval de Nova Orleans, máscaras venezianas com plumas e narizes grandes e aduncos, máscaras africanas feitas de madeira e outras de criaturas do folclore brasileiro. As vinhas se retorciam por suas bocas e pareciam línguas de folhas. Algumas máscaras tinham cachos de uvas saindo pelo buraco dos olhos, mas o que mais chamava a atenção era a cabeça empalhada de um leopardo no alto da lareira. Parecia muito real, e seus olhos davam a sensação de seguir com uma desaprovação desafiadora os movimentos de quem caminhasse pelo cômodo, que mesmo com o dia raiando lá fora, encontrava-se numa penumbra mortal.

Um homem de cadeiras de rodas, casaco tweed, cabelos castanhos ralos e barba desalinhada vinha na direção dos garotos, assim que estes puseram o pé para dentro da Casa Grande. Quíron, ex-professor de latim de Percy na Academia Yancy. Seus olhos não carregavam o brilho travesso de quando fazia prova-surpresa e todas as respostas da múltipla escolha eram A. Não, seus olhos fundos como um poço guardavam uma expressão atordoada... como se tivesse esquecido o peru de Ação de Graças no forno e acabasse de descobrir que dele só restavam as cinzas.


– Ah, meus queridos, venham, venham. Precisamos conversar. - disse ele, reunindo o máximo de entusiasmo que podia em sua voz, sorrindo. Percy notara que era um sorriso forçado.


Os quatro caminharam em direção ao grande sofá e poltronas de couro que circundavam a lareira que crepitava misteriosamente. O Sr. D - um homem pequeno, mas gorducho, que tinha nariz vermelho, grandes olhos chorosos e cabelo cacheado tão preto que era quase roxo à luz da lareira, parecia uma daquelas pinturas de querubins que chegaram à meia idade num acampamento de trailers. Usava uma camisa havaiana com estampa de tigre, calças cáqui e chinelos -, estava sentado em uma das poltronas de couro marrom, forçando simpatia com um homenzarrão sentado à sua frente em meio as sombras. No grande sofá, estavam sentados Rachel Dare e Nico di Ângelo que seguravam em suas mãos uma carta, e seus envelopes encontravam-se abertos e debruçados sob suas pernas. Percy, Annabeth e Grover sentaram juntando-se a eles enquanto Quíron acomodava sua cadeira de rodas ao lado da poltrona do Sr. D., de modo que pudesse ver a todos sob a luz da lareira.

Um incômodo silencio sufocou todos na sala. Quando Quíron fez menção para falar, Percy prendeu a respiração.

– Bem... - começou Quíron com uma voz levemente trêmula. - Este é Rúbeo Hagrid, Guardião das Chaves e das Terras de Hogwarts.

O homenzarrão ajeitou-se na poltrona de modo que seu rosto fosse completamente iluminado pela luz das chamas bruxuleantes da lareira. Uma caraça mostrou-se, em meio de cabelos, barbas e sobrancelhas castanhas, grandes e espessas que quase encobriam todo seu rosto, porém, escondido por detrás de todo o desgrenho encontrava-se um sorriso gentil e seus olhos pretos como besouros brilhavam.

Percy olhou para seus amigos ao seu lado e encontrou estampado nos rostos de Annabeth, Grover e Nico a mesma expressão estupefata que encontrava-se em seu rosto. Apenas Rachel parecia calma, quase sorria para Hagrid.

– Annabeth... - sussurrou Percy entre dentes. - este homem... eu sonhei com ele.

Annabeth arregalou e percorreu os olhos em Hagrid, mas nada disse.

Percy sentia, quase sem querer, que aquela tempestade que se aproximava lá fora não era uma tempestade comum... Sentia, em seu mais profundo âmago, um comichão insistente, um comichão que anunciava que não era Cronos que se reerguera e eles teriam que impedir que este espalhasse terror à todos. Não, as muitas expressões que se escondiam por detrás do olhar de Quíron, diziam sem palavras que, desta vez, tudo seria mais complicado. Percy tentava controlar o pavor que subia como vômito do seu estômago, travando desconfortável na garganta. Tinha de ser Cronos. Quem mais seria? Que criatura poderia ser mais horripilante que Cronos?

– Ele os levará para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. - anunciou Sr. D, entediado, expulsando de sua blusa uma semente de uvas.

Milhões de perguntas explodiram como fogos de artifício Dr. Filibusteiro na cabeça de Percy e de seus amigos. "Escola de Magia e Brux... o quê?!".

– Ah! - sobressaltou-se Hagrid, dando a todos um leve susto, tateando seu grande casaco preto. - Já ia me esquecendo...

Hagrid tirou de seu casaco duas cartas e estendeu sua manzorra em direção a Percy, chocalhando-as para ele pegar. Annabeth foi mais rápida e pegou a primeira carta. Percy lembrou-se do que sua mãe lhe dissera no começo da manhã, antes de ir com Tyson para a Goode High School: "...você precisa ir para a escola. Eu lhe mando uma carta. Vá!". Será que era desta carta que sua mãe falara mais cedo?


Percy pegou o envelope. Era grosso e pesado, feito de pergaminho amarelado e endereçado em tinta verde-esmeralda. Não havia selo.


Quando virou o envelope, com a mão trêmula, Percy viu um lacre de cera púrpura com um brasão; um leão, uma águia, um texugo e uma cobra circulando uma grande letra "H", escrito embaixo, em latim: Draco Dormiens Nunquam Titillandus que, graças as suas aulas de latim com o Sr. Brunner (nome de disfarce de Quíron) na Academia Yancy traduziu: Nunca cutuque um dragão adormecido. Contudo, ali estava, uma carta, endereçada tão claramente que parecia que quem a endereçara sabia exatamente onde Percy a receberia. Não poderia haver engano.


Sr. P. Jackson
A Casa Grande
Acampamento Meio-Sangue
Long Island


Percy abriu o envelope tão rapidamente que o rasgou, puxou a carta e leu com tamanha e estranha facilidade que parecia mágica (e talvez fosse...):

ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA DE HOGWARTS

Diretor: Alvo Dumbledore
(Ordem de Merlin, Primeira Classe, Grande Feiticeiro, Bruxo Chefe, Cacique Supremo, Confederação Internacional de Bruxos)

Prezado Sr. Jackson,
Temos o prazer de informar que V. Sa. tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Estamos anexando uma lista dos livros e equipamentos necessários.
O ano letivo começa em 1º de setembro. Aguardamos sua coruja até 31 de julho, no mais tardar.

Atenciosamente,

Minerva McGonagall
Diretora Substituta


Percy leu e releu o conteúdo da carta como se esperasse que ele mudasse. Ao olhar para o lado, pôde ver Annabeth, estagnada. A luz cavernosa da lareira pairando sob seu olhos cinzentos e astutos.

– Corte toda essa encenação! - disse o Sr. D, entediado, gesticulando para Quíron.

– O.K... - começou Quíron com um leve tremor na voz, apertando, nervoso, uma manta que se estendia sob suas pernas. - Achamos que é mais seguro vocês passarem as férias do Acampamento estudando em Hogwarts.

– Quí... Quíron - gaguejou Grover, observando o homem alisar suas barbas nervosamente -, o Acampamento é tipo, o lugar mais seguro do mundo para eles, semideuses.

– Costumava ser, meu rapaz - contou, sem encarar Grover, os olhos vidrados e pousados no soalho da sala. - Hécate desapareceu.

Percy achou que seria menos assustador se Quíron lhes tivesse servido uma xícara de chá antes do anúncio. Grover levou as mãos à boca como se estivesse tentando conter um "Bée!" de pavor.

– Hécate? - perguntou Percy, mais para si mesmo, tentando se lembrar da deusa. - Deusa...?

– Deusa protetora dos bruxos - concluiu Annabeth com os dentes cerrados, lançando a Percy um olhar de censura.

– Isso mesmo, Annabeth! - concordou Quíron mostrando mais um sorriso forçado.

– Mas o que temos a ver com a deusa protetora dos bruxos? - perguntou Nico, finalmente.

– Hécate, em grego, significa "a distante", ela é a criadora da Névoa. Ela permite que os trou... - interrompeu-se Quíron, lançando um olhar de esguelha para Hagrid, cujo sorriso se alargara. - ...que os humanos não possam ver o nosso Acampamento e nem o Castelo de Hogwarts. Com o seu desaparecimento, a Névoa que nos protege contra os olhos curiosos dos humanos se enfraqueceu. Entretanto, por ser a deusa protetora dos bruxos, o seu poder maior está centrado em torno deles. Ou seja, a Névoa que protege os bruxos continua funcionando perfeitamente. Por isso é mais seguro que vocês vão para lá. Os monstros voltaram a atacar semideuses em plena luz do dia, e assim, mortais estão sendo feridos também. Sem o poder da Névoa, uma mente astuta pode descobrir o nosso mundo e estaríamos condenados. Os deuses estão furiosos diante desses ataques e, alguns imaginam que Cronos está voltando...


– Acalmem-se... - ribombou Quíron em meio ao vozerio de discussões que se iniciara pela Casa Grande, e antes que pudesse continuar, foi interrompido por Rachel, que tinha o corpo se contraindo, agonizante, os olhos começando a brilhar com uma luminosidade estranhamente verde, e encarava, mórbida, o ondular do fogo na lareira. Todos se sobressaltaram e Percy notara de esguelha que até Seymour, a cabeça empalhada do leopardo no alto da parede se empertigou arregalando os olhos brilhantes e sorrateiros.

Rachel começou a sibilar grave e etereamente no silêncio que iniciou-se:

Na terra da rainha, buscarão a deusa acorrentada,
As trevas se unirá a filha de Atlas apaixonada,
Meios-Sangues e Bruxos, cada um, brilha,
A fúria do Olimpo aponta a trilha,
Sucumbirão sob bruxos e deuses desleais,
Aqueles que carregam seus defeitos fatais.

Rachel voltou ao normal gradualmente, seus olhos já não eram mórbidos e esverdeados, sua voz tornou a afinar-se e seu corpo contorceu-se de volta ao normal. Hagrid levantou-se assustado, deixando a sala em uma grande penumbra ao se postar em frente da lareira.


– Está tudo bem, Hagrid - falou Quíron, entregando à Rachel uma xícara de néctar dos deuses. Bebida usada por semideuses para se recuperarem de dores e/ou ferimentos. - Isto é completamente normal. Esta garota é o nosso Oráculo, uma longa história - concluiu, balançando as mãos para Hagrid, que se sentou rapidamente, com um estrondo, afundando a poltrona ainda mais.

– Blá-blá-blá - sibilou Sr. D, com as mãos apoiadas na bochecha gorda, revirando os olhos. - Vocês estão oficialmente numa missão, moleques! Agora sumam daqui antes que eu perca a paciência. E Percy... não me encare com essa cara de debiloide!

– Mas não podemos sair dos limites do Acampamento, Quíron - retrucou Nico, com cara de espanto. - Se os monstros estão atacando descontroladamente, um táxi com quatro semideuses será como um grande pedaço de bacon ambulante.

– Você tem razão, menino Di Ângelo - concordou Quíron, pegando de volta a xícara de néctar de Rachel, agora vazia. - Por este motivo vocês viajarão com Hagrid até o Beco Diagonal, com Pó de Flu.

– O.K., traduz? - suplicou Percy.

– É muito simples. Você usa o Pó de Flu para viajar por entre as lareiras ou se comunicar com algum bruxo - começou Hagrid, com sua voz que ribombava gentil nas paredes de madeira da Casa Grande, levantando-se, sorrindo. - Se parece com as... como é mesmo? As Mensagens de Íris, que vocês, semideuses estão acostumados. A única diferença é que vocês precisam jogar este pó... - Hagrid começou a tatear seu grande casaco de pele a procura de um saco de Pó de Flu. - Jogar este pó aqui numa lareira e, dizer com clareza o local que deseja ir.


Eles se reuniram defronte para a lareira e Seymour os encarava, impassível. Hagrid passou o saco de Pó de Flu em mão em mão até que todos tivessem pego uma quantidade relativamente grande já que viajariam para um certo pub em Londres...

– Vocês precisam falar claramente - disse Hagrid a todos. - E se certifique se está saindo na grade certa.

– Na o quê certa? - perguntou Grover, nervoso, enquanto as chamas espiralavam, convidativas, fazendo seu rosto ficar mais vermelho que de costume.

– Bem, há um certo número de lareiras de bruxos para você escolher - explicou Quíron, deslizando mais para perto dos garotos. - Mas se você falar com clareza...

– Eles vão acertar, Quíron, não se preocupe - disse o Sr. D, com um sorriso maldoso no rosto avermelhado.

– Certo, você vai primeiro, garoto - falou Hagrid, apontando para Nico. - Jogue o Pó de Flu na lareira e diga o mais claro que puder: "O Caldeirão Furado". Mantenha os cotovelos presos ao corpo. Olhos fechados, a fuligem...


– Não se mexa - aconselhou Quíron. - Ou pode cair na lareira errada...

Nico tentou afastar os conselhos de Hagrid e Quíron - os estavam deixando mais nervoso que o normal. Apertou com força a mão cheia de Pó de Flu que pegara e avançou até a beira do fogo. Inspirou profundamente, lançou o pó nas chamas - que ao toque do pó brilharam numa intensa cor esverdeada, lembrando os olhos de Rachel no momento da possessão - e entrou; o fogo lhe lembrou uma brisa morna; ele abriu a boca, encantado e assustado, e imediatamente engoliu um monte de cinzas quentes.

– O Caldeirão Furado! - exclamou o mais claro possível, tentando não tossir.

A sensação era de que estava sendo sugado por um enorme ralo. Ele parecia estar girando muito rápido... o rugido em seus ouvidos era ensurdecedor... e tentou manter os olhos abertos mas o rodopio das chamas verdes lhe dera enjoo... e uma coisa dura bateu no seu cotovelo e ele o prendeu com firmeza junto ao corpo, sempre girando... agora a sensação era de mãos geladas esbofeteando seu rosto... apertando os olhos ele viu uma sucessão de lareiras indistintas e relances de aposentos além... seu estômago revirava-se em sua barriga... ele tornou a fechar os olhos, desejando que aquilo parasse e então... caiu, de cara num chão de pedra fria.

Tonto e machucado, coberto de fuligem, ele se levantou desajeitado. Estava em pé numa lareira de pedra, em um barzinho sujo, escuro e miserável. Havia umas velhas sentadas a um canto, bebericando pequenos cálices de xerez. Uma delas fumava um longo cachimbo. Um homenzinho de cartola conversava com o velho dono do bar, que era bem careca e parecia uma noz viscosa. Sentiu falta de Sra. O'Leary e estava decididamente convencido que viajar pelas sombras era muito mais confortável e seguro. Nico foi abruptamente empurrado para o lado quando Percy e Grover surgiram das chamas pequenas e fracas da lareira, estatelando-se no chão sujo. Em seguida, Annabeth apareceu tossindo e arfando ruidosamente, com os cabelos louros, agora em tonalidades de preto. Logo atrás dela, surgiu Rachel que admirou a decoração do lugar. Hagrid chegou com um estrondo, assustando as pessoas próximas da lareira. Espanou o emaranhado de suas barbas que faiscavam, e vociferou:

– Bem-vindos ao Caldeirão Furado!

Um vulto curvo segurando uma bandeja com algumas xícaras de cerveja amanteigada apareceu à porta atrás do balcão. Era Tom, o dono encarquilhado e sem dentes do bar-hospedaria.

– Bem, Hagrid, vejo que os encontrou - falou Tom, caminhando penosamente em direção dos garotos cumprimentando-lhes um a um, sorrindo amarelo. - O de sempre?

– Talvez um bule de chá para eles e um conhaque para mim, Tom, muito obrigado - pediu Hagrid, sacudindo a mão miúda e marcada de Tom comparada a sua manzorra. - E eles precisam de quartos também, ficarão hospedados aqui até o ano letivo começar.

– Sim, sim, claro. Queiram me acompanhar! - Tom gesticulou apontando para um corredor estreito, empurrando-os todos pela cintura.

Percy e os demais seguiram os calcanhares de Tom por uma bela escada de madeira até uma porta com placa de latão de número sete, que Tom destrancou e abriu para Percy. Estalou os dedos e um fogo se materializou na lareira.

– Senhor Percy Jackson, este é o seu quarto. Amanhã logo de manhã, você, seus amigos e Hagrid irão até o Beco Diagonal comprar os materiais necessários para o ano letivo. - informou Tom, prestativo, e, fazendo uma reverência, ele se retirou do aposento indicando aos outros para seguirem o corredor.

Em seu quarto havia uma cama muito confortável, uma mobília de carvalho muito lustroso e a lareira em que o fogo crepitava alegremente. Percy ficou sentado na cama durante um bom tempo, admirando o céu visto pela janela, que foi mudando rapidamente de um azul-escuro e aveludado para um cinzento metálico e frio, depois, lentamente, para um rosa salpicado de ouro. Percy mal acreditava que abandonara o Acampamento Meio-Sangue nas circunstâncias em que se encontrava... Normalmente ele seria mandado para resgatar a deusa Hécate, mas, desta vez, precisaria da ajuda de outras pessoas. Pessoas que ele mal conhecia e não sabia ao certo se gostaria de conhecer. Sem mesmo perceber, Percy havia se estatelado no colchão confortável e adormeceu. O pesadelo apoderava-se de Percy sem que este pudesse lutar ou defender-se. Sentia os pelos de sua nuca eriçarem, suas pernas tremiam e gotas de suor desciam descontroladas pelo seu rosto. A enxurrada de imagens perturbadoras e sem sentido algum recomeçavam a dançar uma ciranda perigosa em sua mente...


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Notas finais do capítulo

Esperando seu review ansiosamente!