Garota-Gelo escrita por Bia


Capítulo 47
Cala a Boca, Katrina.


Notas iniciais do capítulo

...
Eu nem sei como eu posso encarar vocês. UHASHSAHUAHUAS
Gente... Desculpem, sério. Essa semana ficou muuuuito corrida para mim.
Olhem só o meu drama: quarta feira, eu fiquei horas e horas na frente do PC, tentando colocar minha ideia escrita. Só que não veio nada, e eu fiquei sem inspiração. Quinta a mesma coisa. Sexta eu fui para a casa da minha amiga, e só quando eu voltei tive uma ideia. Comecei a escrever, mas não deu tempo de postar. Sábado eu fui encontrar a Sofia na Liberdade ~hug~ e quando cheguei em casa, minha família inteira estava reunida. UHASUHASHUSUHASUH Olha o drama para o meu lado ;-;
Mas sério, aqui está o capítulo, espero de coração que vocês me perdoem pelo atraso Ç^Ç
Espero que vocês gostem do capítulo,
Boa Leitura ♥
Ps: Olha a fotinho da nossa querida Kat-Kat: http://www.depoisdosquinze.com/wp-content/uploads/2011/12/ruiva-ruiva1.jpg
E aí, o que acham dessa? u-u
PPS: Que capítulo enorme é esse? O.o
PPPS: Todos os créditos do mundo para a linda da Sofia, que sugeriu a querida música que a Kat canta. SAHUUHSAUHASUHASHAS ♥



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Eu fiquei sem reação por vários minutos.

A multidão já ia se dispersando, as fofocas começaram a aumentar; e Jonas já estava recuperado quando eu me dei por mim.

Marcela abanou na frente do meu rosto várias vezes e eu pisquei, incrédula.

Uma mistura de ódio, indignação, fúria, ceticismo e várias outras coisas se passaram dentro de mim. Eu queria socar Pedro, Valentina e todos os presentes ali.

Pedro riu com a minha indignação – o desgraçado achava divertido ver os outros putos –. Ele se aproximou de mim e assoprou o meu rosto.

– Vou te buscar as quatro e meia, megera.

Minha sobrancelha começou a se mexer sozinha.

– Eu não vou nessa porra! – Eu berrei.

Ele riu.

– Fiquei sabendo que eles vão ver filmes como “O Massacre da Serra-Elétrica”. Vai perder o seu... – Ele hesitou um segundo. – O seu “querido” Jason em ação?

Cruzei os braços sobre o peito.

– Isso é suborno.

Ele sorriu.

– Exato. Na realidade, eu pedi para que eles vissem um filme de terror, porque eu sabia que você recusaria vir comigo.

Pisquei.

– Carneiro desgraçado.

*

No caminho de casa, um Sol canalha nos abordou. Era simplesmente impossível respirar, andar e não suar.

Eu estava parecendo um pedaço de merda. Toda suada, grudenta, cansada e estressada.

Chegamos à porta de casa e eu entreolhei os dois.

– Eu vou tomar banho. – Nós três dissemos em coro.

Olhei para os lados. Sorri maldosamente e apontei para o céu.

– O que é aquilo?! – Eu berrei.

Os dois olharam para cima, preocupados e assustados.

Não perdi tempo.

Praticamente arrombei a porta com o pé. Corri em disparada para o banheiro, derrubando tudo no meu caminho – inclusive a Isadora. Cheguei ao banheiro e tranquei a porta atrás de mim.

– Katrina, sua desgraçada! – Jonas bateu na porta enquanto gritava.

Ri maleficamente enquanto tirava a camisa.

– Chupa essa, Jonas. Quem mandou ser lerdo. Agora vai lá ao meu quarto e pega uma calcinha, uma toalha e um creme. Rápido.

Ele riu e ouvi os passos no chão.

Olhei para o espelho no armário.

– Dia de lavar a juba. – Eu avisei para ele.

Peguei o shampoo e o condicionador e os joguei em cima da tampa da privada.

Bateram na porta. Abri uma frestinha, e vi que Hércules estava com as minhas coisas. Em seu dorso estava minha toalha, minha calcinha estava sobre sua cabeça e meu creme em sua boca. Sorri e as peguei enquanto ele se sentava, com uma cara de preocupado.

A água estava deliciosamente quente. Eu podia sentir as gotículas caírem majestosamente na minha testa, enquanto meu cabelo pesava cada vez mais por conta da água.

Esfreguei com força meu couro-cabeludo e abri os olhos para enxergar ao redor.

O banheiro tinha sido domado pela fumaça branquinha e quente que se elevava do chão. Lavei o rosto uma última vez e enxaguei o cabelo.

Passei a mão pelo comprimento, fazendo com que fios rebeldes se desprendessem e colassem na minha mão.

Estralei a língua.

– Querem pegar a liberdade? – Perguntei para eles. – Então fiquem livres. Só que no esgoto.

Os joguei no ralo sem dó nem piedade.

Saí debaixo do chuveiro e enrolei a toalha em volta do meu corpo. Peguei um pouquinho de creme e o apliquei no meu rosto. O espalhei bem, para que minha pele não ressecasse mais por conta do Sol vadio.

Saí do banheiro acompanhada pela película branca e quentinha.

Marcela estava do lado da porta, com uma toalha cor-de-rosa enrolada no corpo e vários shampoos. Ela sorriu.

– Dia de lavar a juba.

Assenti.

– Te entendo.

Ela andou para dentro do banheiro enquanto eu saia. Pisei na cozinha e vi que Jonas estava com o rosto deitado sobre a mesa. Ele parecia triste.

– Perdeu um bofe maravilha? – Eu perguntei.

Ele conseguiu abrir um sorrisinho.

– Perdi no par ou ímpar com a Marcela.

Assenti e andei até a sala. Camila e Hércules estavam brincando, enquanto Isadora assistia TV.

Subi a escada tranquilamente, já me perguntando mentalmente o que eu deveria usar.

Resposta: “macaquinho” jeans verde musgo e coturno.

Perfeito.

Coloquei uma camisa branca bem folgada por baixo e prendi meu cabelo em uma trança de lado.

Me olhei no espelho. Eu parecia uma boa moça, aquelas de fazenda.

Sorri.

– E de novo, minha aparência ataca para fazer o mal. – Resmunguei.

Camila invadiu meu quarto e subiu na minha cama. Ela me encarou.

– Traz bolo para mim?

Ri.

– Tá ficando cara de pau que nem eu. – Me aproximei dela e me sentei na cama. – O que está acontecendo? Já está na idade rebelde?

Ela me olhou e abriu um sorriso.

– Quero ficar que nem a Katina. Porque ela é feliz sendo assim.

Ri e afaguei seus cabelos.

– Você não quer ser que nem eu. Eu sou uma grande bola de... De coisas. – Eu fiz uma bola com os braços. – Aqui tem mais maldade do que bondade. E mais... Mais medo do que coragem. – A olhei. – Camila, eu sou uma grande covarde. Isso sim. Não se espelhe em uma covarde, nunca mesmo.

Ela pensou por um instante.

– Por que você é uma covarde?

Sorri.

– Tenho medo ser feliz.

Ela colocou os dedinhos na boca.

– A culpa é sua.

Juntei as sobrancelhas.

– Ah, é? E como você chegou a essa conclusão? – Cruzei os braços rente ao peito.

Ela riu.

– Você não dá carinho para ninguém. Se desse, seria mais feliz.

Ela pulou da cama e correu para fora do quarto.

Pisquei.

– O que essa menina está vendo? – Resmunguei.

*

Estávamos sentados todos no sofá. Hércules, como sempre, estava deitado nas minhas pernas. Estávamos assistindo o gordo caiu. Era a vez de Maria, uma moça muito fofinha, cair dentro d’água.

Me impressionei com a aparência dos dois. Marcela estava com um short jeans clarinho, uma camisa regata cor-de-rosa que cegava os olhos de tanto brilho e uma sapatilha preta. O cabelo estava solto, apenas preso com um arquinho. Jonas estava com calça jeans bem larga, uma camisa branca e seu cabelo estava rebelde.

Estava na hora em que derrubariam Maria, mas bateram na porta. Marcela sorriu e se levantou, indo atender.

Fiquei espiando por cima do sofá enquanto o italiano intrometido sorriu. Derek apareceu por cima de seu ombro e acenou.

Abri e fechei a boca.

– O desgraçado só aparece quando tem festa! Nem foi convidado! – Eu gritei.

Ele riu e fez um positivo para mim.

– Não fui mesmo. Vou entrar de penetra. – Ele disse com o maior orgulho do mundo. Derek olhou para Marcela e sorriu. – Como vai, docinho?

Eu e Marcela reviramos os olhos, enquanto Jonas dava um tapa na minha perna.

– Vamos logo, megera. Temos uma festa para curtir.

O encarei.

– Você vai curtir porque tá cheio de gatinho bêbado. Alguém vai ter que segurar a bunda. – Eu ri.

Ele começou a dar risada. Mas não debochando do que eu disse. Jonas parou brutalmente de rir e me encarou.

– Eu sou o passível, meu amor. – Ele se levantou do sofá rebolando e passou por Pedro e Derek piscando.

Encarei minhas unhas.

– Desnecessário. – Eu resmunguei. – Agora eu vou ficar imaginando isso. Merda, mesmo.

Pedro bateu bruscamente na porta.

– Temos que ir, megera.

Bufei e o encarei.

– E se eu não estiver com vontade?

Ele sorriu, sacana.

– Então eu vou ter que te carregar que nem uma princesa.

Franzi o cenho.

– Você não faria isso.

Ele deu um passo para frente, e eu pulei do sofá. Hércules ficou no meio nas minhas pernas, e eu cocei sua única orelha.

– Tá, faria. – Me convenci. Andei até ele e quando estávamos paralelamente dispostos, sorri. – Você tem um cheiro de mel com hortelã que à três quarteirões dá para sentir. Como isso?

Ele sorriu.

– Não sei. Acho que é o sabonete. – Ele aproximou o nariz do meu coro cabeludo e o cheirou. – E você tem um cheiro... Que não sei. É gostoso.

Ri.

– Se chama shampoo.

Ele fez que não com a cabeça.

– Não... Não é isso. – Pedro deslizou lentamente seu nariz pelo comprimento do meu rosto e parou no pescoço. – É muito mais... Gostoso? – Ele praticamente sussurrou.

Comecei a tossir e o empurrei contra o portal. Corri, esfregando a mão no pescoço com brutalidade, até onde o grupo estava localizado.

Pelo que entendi, Fred, um amigo de Derek nos daria uma carona. Olha como as coisas são: o desgraçado nem convidado foi, mas mesmo assim vai. E ainda convenceu um amigo para nos dar uma carona.

Pois é, o mundo tá perdido.

Eu entrei no carro empurrando todo mundo e me joguei contra a janela.

Jonas ficou bravo e me puxou pela mão com força.

– Sai da janela! – Ele gritou.

– A janela é minha! – Eu gritei enquanto Jonas me puxava.

– Não, você já tomou banho primeiro! A janela é minha!

Dei um grito agudo e o puxei.

– Não! – Eu berrei. – Me deixa aqui!

– Vocês dois! – Marcela gritou. Nós dois nos viramos rapidamente, ainda assustados para encará-la. – Sejam educados no carro dos outros!

Eu e Jonas nos entreolhamos.

– Cala a boca, oxigenada! – Nós dois gritamos ao mesmo tempo.

Ela abriu e fechou a boca.

– Oxigenada? – Marcela riu debilmente. – Agora isso foi pessoal.

Marcela simplesmente se jogou em cima de nós dois, me fazendo ficar amassada.

Eu comecei a me debater e recebi umas três joelhadas de Jonas. Não demorou muito para que os meninos gritassem, em puro assombro. Derek pegou Marcela e a puxou para a calçada com cuidado. Pedro pegou Jonas pela cintura de qualquer jeito, e o puxou, o fazendo cair de bunda no chão de cimento.

Eu observei os dois. Marcela tinha sido pega... Pelas bolas. Ela tinha ficado com uma cara de puro ódio, constrangimento e aflição. Mas Derek não se dava ao trabalho de esconder seu grandessíssimo sorriso de puro divertimento. Pedro espalmou a testa.

– Solta meus seios. – Marcela disse entre dentes. – Agora.

Ele riu e os soltou.

– Quais? – Jonas gritou ali, sentadinho.

Comecei a rir com ele e Marcela lançou um olhar terrível para o coitado.

– Aqueles iguais aos seus.

O sorriso de Jonas murchou e o meu só se alastrou para uma risada incontrolável. Pedro riu enquanto balançava a cabeça e se apoiou no teto do carro.

– Vocês não têm vergonha na cara, não? – Ele perguntou.

Marcela e Jonas o fitaram.

– Você muito menos. – Disseram os dois. – Abusado.

Pedro pareceu ter se ofendido. Colocou a mão em forma de concha no peito e juntou as sobrancelhas.

– Eu? Abusado? Isso machuca. – Ele fingiu estar triste.

Todos caíram na gargalhada e Derek lhe deu um tapa nas costas.

– Larga de drama. Entrem no carro. – Ele sorriu.

Estávamos extremamente espremidos. Derek estava no banco da frente, eu na janela, Pedro estava ao meu lado mascando um chiclete – sem ser o estilo lhama de mastigar chicletes – Jonas, totalmente esparramado e Marcela no vidro, tentando pintar as unhas.

Em uma virada totalmente brutal, Pedro voou em cima de mim. Ele espalmou o vidro e me encarou, aflito.

– Desculpa, Katrina. Machucou? – Ele perguntou tentando se recompor. Quando eu sinalizei que não, Pedro chutou o assento do motorista com uma força que fez até os meus pés doerem. – Cuidado nas viradas, Fred. Caramba, cara. Tem meninas no carro, sabia? Pode machucá-las com essa sua barbeiragem.

O motorista deu uma risadinha.

– Desculpa, meninas. Sou ruim ainda.

Assenti.

– Mesmo que você não falasse, estava na cara. – Eu e Marcela dissemos.

Pedro deu uma risadinha e olhou para mim com os olhos entreabertos. Ele deslizou sua mão por trás de mim e espalmou o vidro, fazendo com que numa próxima virada, eu não batesse com a orelha no coitado. Pisquei e o encarei.

– Você acha que eu sou uma criancinha?

Ele assentiu.

– Não é, mas é tipo isso. Vai que você quebra o vidro do carro, é caro consertar, sabia? – Ele disse entre um riso.

Ri enquanto assentia.

– Não sou tão cabeça dura assim.

Todo mundo me olhou.

– É sim. – Todos disseram.

Bufei.

– Também odeio vocês. – Resmunguei.

*

Quando finalmente estacionamos, eu observei a casa do meu lado esquerdo.

Não era grande de largura, mas de comprimento era enorme. Um portãozinho cinza estava ao lado esquerdo, e a garagem cobria o restante. Tinha uma laje enorme, onde vários adolescentes estavam gritando e jogando coisas não identificadas lá de cima.

Pisquei.

– Eu não vou entrar nisso aí.

Pedro riu.

– Você não vai ficar ali.

Jonas e Marcela saíram do carro, e os meninos pararam de jogar coisas lá de cima. Eles começaram a assobiar quando Marcela olhou para eles. Ela arregalou os olhos e entrou de novo no carro.

Marcela olhou assustada para mim.

– Katrina... Dá um jeito neles... – Ela choramingou.

Fiquei de pé, mas curvada para não bater a cabeça no teto do carro.

Dei um tapa na perna dela.

– Vai logo. Não vai acontecer nada. Preciso passar, estou morta de fome.

Ela, ainda contrariada, saiu do carro resmungando. Pedro olhou para mim.

– Megera sendo cruel, como sempre.

Ri.

– Vai logo. – Dei um peteleco em seus cabelos finos e ele sorriu.

Pedro, com dificuldade, saiu do carro.

Quando saí, a mesma estória de Marcela se repetiu. Os meninos começaram a assobiar. Olhei feiamente para eles.

Mostrei o dedo do meio para todos os adolescentes espinhentos.

– Morram, desgraçados. – Eu gritei.

– Belos seios, moça! – Um deles gritou.

Bufei e bati minhas mãos nas pernas.

– Eu sei!

Pedro tocava a campainha da casa de Otávio feito louco, enquanto Jonas encarava os idiotas feiamente.

Marcela estava sentada no banco do carro, balançando as pernas, enquanto Derek se apoiava no teto.

Foram três minutos esperando. Pedro estava praticamente socando o negócio da campainha. Os meninos da laje piscaram várias vezes ao ver o comportamento do coitado.

Ele lançou as mãos para a cintura e ficou encarando o portão.

– Eu vou arrombar isso aqui. – Ele disse, sereno.

Derek engasgou e deu um pulo. Ele andou, vacilante até Pedro. Colocou sua mão no ombro dele e os dois cochicharam algo.

Pedro, por fim, relaxou os ombros. Ele agarrou o portão e assentiu.

Otávio desceu a escadinha e abriu o portão. Ele estava assustado.

Pedro o olhou, furioso, juntando as sobrancelhas. Ele apontou para cima.

– Por que você convidou aqueles caras?

Ele engoliu em seco.

– Eles me obrigaram.

Eu nem esperei a resposta de Pedro. Passei pelos dois e comecei a subir a escada.

– Katrina! – Pedro gritou. Ele me alcançou na escada e pegou o meu braço. – Onde pensa que vai?

– Comer.

Ele riu.

– É doida, mesmo.

Mas de vez de soltar o meu braço, ele passou por mim e ficou me puxando. Fomos até a sala, onde várias garotas e garotos estavam reunidos em volta de uma TV.

Ele me sentou em uma almofada e foi para a cozinha.

Fitei o pessoal.

– Oi. – Uma menina disse. – Você é a Katrina, né?

Assenti.

– Isso aí. – Fitei a tela preta por alguns segundos. – Que filme nós vamos assistir?

– Carrie, a estranha. – Todos disseram.

Me alegrei.

– Gosto desse filme. Já assisti três vezes.

Pedro voltou com uma tigela de pipoca, dois copos de refrigerante e uma barrinha de chocolate. Ele se sentou do meu lado feito um índio, e sorrindo, colocou a tigela em cima das minhas pernas.

Comecei a comer e o filme começou.

Só na metade do filme eu ouvi alguns sons estranhos vindos da cozinha. A sala estava toda escura, cheia de gente e casais se pegando.

Cutuquei Pedro.

– O que houve? – Cochichei para ele.

Ele se inclinou e sussurrou no meu ouvido:

– Não faço ideia.

Um arrepio percorreu a minha espinha e eu fiquei desconfortável quando ele se sentou ainda mais próximo de mim.

Eu não conseguia prestar atenção no filme porque Pedro roçava toda hora o braço no meu para pegar a pipoca. Olhei de relance para ele.

Ele estava quase sem nenhuma expressão. Ele prestava bastante atenção no filme, enquanto mastigava devagarzinho a pipoca. Seus cabelos louros ganharam um tom de preto, e os seus olhos negros estavam clarinhos por conta do reflexo da TV.

Todo mundo na sala gritou e Pedro levou um susto, indo para trás com a cabeça. Eu comecei a piscar e voltei à atenção no filme.

Eu senti minha garganta ficar seca. Precisava de água. Me levantei devagar e pulei as pernas dele. Pedro pegou meu braço com delicadeza e eu me dobrei para encará-lo.

– Aonde vai? – Sussurrou.

– Beber água. – Cochichei.

– Eu pego pra você.

Balancei a cabeça.

– Não precisa.

Me soltei dele devagar e atravessei a sala. Abri a porta e fui para a cozinha.

Peguei um copo de vidro e o enchi com a água da torneira. Um garoto da laje me abordou.

Ele me fitou com certa malícia nos olhos.

– Belos seios. – Ele disse.

Revirei os olhos.

– Agora me diz algo que eu não sei. – Tomei um gole de água e a senti escorrer pela minha garganta.

– Nervosinha você. – Ele se aproximou de mim, me pegando pelo cotovelo. – Quer dar uma volta comigo?

Acabei com a água do copo e o fitei com ódio.

Não perdi mais tempo.

Estourei o copo em sua testa. Ele me soltou com um grito horrível e cambaleou para trás.

– Sua... Sua desgraçada! – Ele berrou.

O garoto correu na minha direção e eu lhe meti um chute fabuloso em suas bolas.

Sua voz falhou e ele colocou sua mão em forma de concha ali. Ele se inclinou e deitou no chão, praticamente morto.

Olhei para o pessoal que se juntou para ver a cena.

– Alguém tem uma vassoura?

*

Olha, não é que eu não goste de bolos de chocolate com chantilly. Mas muito chantilly é enjoativo. Por isso comi só seis pedaços.

Todo mundo ficou me olhando enquanto eu mandava a Alice cortar pedaços de sete centímetros. Mas ela só sorriu e cortou direitinho.

Eu não estava nem aí com os olhares de puro assombro e medo. Sou gorda por dentro mesmo, me julguem.

Marcela parou no segundo pedaço. Ela não aguentou mais e me entregou. E com esse eu completei seis pedaços e meio.

– Katrina... Todos estão falando de você. – Marcela me disse. – Falaram que você praticamente matou o Fábio, e é um saco sem fundo por dentro.

Dei de ombros.

– Foda-se. Quase matei mesmo, e sou sim um saco sem fundo! Chupem essa. – Eu berrei para que todos me ouvissem.

Marcela riu baixinho e descansou sua cabeça no meu ombro.

Não demorou muito para que aquele grupinho da laje se aproximasse.

– Olha se não é a nossa loirinha preferida. – Um deles disse.

Marcela se encolheu.

– Não sou de vocês, seus brutamontes.

Eles riram. Um deles pegou o cabelo dela e o enrolou no dedo.

– Marcelinha... – Um deles disse com a voz mole. – Vamos fazer algo divertido juntos!

Senti um embrulho desgraçado no estômago. Já estava pronta para dar uma voadora na cara de um deles, mas Derek chegou bem na hora. Ele nos fitou.

– Algum problema?

– Sim! – Eu avisei, animada. – Eles estão flertando com a Marcela, mas a coitada não está nem aí. Os destrua, por favor.

Derek inspirou e olhou para o grupinho.

– Vocês não querem se meter comigo.

O grupinho riu.

– Você é só um, e nós somos cinco.

– Ah, é? Veremos, então.

Derek, como se fosse a coisa mais normal do mundo, simplesmente de uma rasteira nos cinco. Começou a bater alternativamente na cara dos garotos e eu arregalei os olhos.

Uma multidão desgraçada se formou a nossa volta, e eu fiquei ainda mais animada.

Pedro – do nada – chegou e o puxou, para que ele não batesse mais na cara dos coitados.

Levantei-me correndo e me espremi entre a multidão para conseguir chegar à cozinha. Peguei a tigela de pipoca. Quando eu voltei, a confusão tinha se alastrado, e todo mundo estava se batendo.

Eu comecei a gritar e a atacar pipoca em todo mundo. Não poderia estar mais feliz. Festa, bolo, tretas e filmes de terror.

Marcela apenas corria de um lado para o outro, tentando acalmar o pessoal. Mas eles pareciam touros bravos, totalmente incontroláveis e brutais.

Achei adorável.

Reparei no pessoal.

Pedro estava chutando a barriga de um cara, e o coitado nem conseguia se mexer direito. Derek acertava o rosto de outro. Juro que eu vi um dente voar. Otávio acertava o rosto de alguém com uma frigideira e Alice, sua namorada, batia com a bolsa em duas meninas.

Pulei de um lado para o outro, achando tudo aquilo um máximo. Tentaram me acertar três vezes, mas todas as vezes foram impedidas pelos meus reflexos ágeis. Mentira, foi o Pedro que socava o pessoal que tentava me pegar.

Ah, que delícia, cara.

*

Deram sete horas e a polícia foi chamada pelos vizinhos.

Eu fiquei desesperada, tentando correr para algum lugar. Pedro brotou na minha frente e me pegou pela mão. Ele desceu a escada e nós saímos da confusão de fininho, indo direto para a lojinha que ficava em frente à casa de Otávio. Quando chegamos lá, ele ligou para Fred.

– E aí, cara. – Ele disse. – Então, a gente tá aqui em frente à casa do Otávio, numa lojinha... Deu polícia. – Pedro riu baixinho. – Sim. – Ele olhou para mim. – Eu estou aqui com a Katrina. Só... Vai se ferrar! – Ele riu. – Só vem buscar a gente. Tá bom... Tá.

E desligou. Pedro me fitou por alguns segundos.

E foi aí que eu percebi sua situação.

Sua bochecha direita estava roxa, cheia de cortes. Seus punhos estavam com sangue e sua sobrancelha esquerda estava toda cortada. Seu lábio inferior estava um caco.

Tentei abafar uma risada.

– Meu Deus, cara. Você sempre tá ferrado.

Ele riu, assentindo.

– Eu meio que... Atraio confusão.

Pedro vasculhou algumas coisas que estavam dispostas nas prateleiras, e pegou uma caixinha de Band-aid. Ele caminhou até o caixa e pagou três reais pela caixinha.

Depois voltou até onde eu estava e sorriu. Ele esticou a caixinha para mim e apontou para os machucados.

– Pode fazer esse favor?

– Não. – Eu respondi.

Pedro caiu na gargalhada e bateu de leve na minha cabeça com a caixinha.

– Por favor, Katrina. Não vai te matar. É só um curativinho.

Bufei.

– Tá. – Resmunguei. – Onde?

– Na bochecha. Tá ardendo essa merda.

Peguei a caixinha e tirei um band-aid dali. Tirei os plásticos e mirei nos cortes da bochecha. Apertei o curativo ali, e Pedro soltou um “ai” baixinho.

– Obrigado. – Ele sorriu, passando a mão na bochecha.

Ele ficou me encarando por alguns segundos. Ri meio debilmente e olhei sobre seu ombro.

Marcela, Jonas e Derek saíram da casa de Otávio em disparada e entraram na lojinha, totalmente ofegantes.

Derek estava pior ou no mesmo estado de Pedro: caindo aos pedaços. Pedro deu um risinho e jogou a caixa de band-aid em seus braços.

Derek a pegou, sorrindo.

– Valeu, irmão.

Não demorou muito e o carro de Fred estacionou em frente à lojinha. Ele acenou para que entrássemos rapidamente e assim aconteceu: todos nós entramos no carro, sem ter uma ordem.

Me sentei bem entre Jonas e Pedro. Marcela tinha sentado lá na frente, e Derek estava no meu lugar.

O carro deu uma guinada para frente, e se não fosse o braço de Pedro servindo de cinto-de-segurança, eu voava lá para frente.

O clima ficou tenso quando um policial nos abordou. Ele nos fitou e pediu a habilitação de Fred. Ele a entregou, meio vacilante.

Depois de vários segundos de pura tensão, o policial entregou para Fred a habilitação, e ele na hora subiu o vidro.

Reparei em Marcela e Derek. Marcela colocou a jaqueta na cara e fingia dormir. Derek tinha colocado uns óculos de Sol e a touca bege.

Tudo para não serem identificados como os principais da confusão.

O clima estava extremamente tenso. Nem música tinha. O pessoal estava preocupado demais na polícia do que deveriam.

Decidi fazer o que qualquer um faria.

Super fantástico amigo, que bom estar contigo no nosso balão! – Eu cantei e bati palmas no ritmo da música.

Pedro não conseguiu abafar a risada e Marcela me fitou, cética. Jonas nem ligava mais.

Vamos voar novamente, cantar alegremente mais uma canção. – Eu joguei meus braços para cima, e os balancei no ritmo da música. – Tantas crianças já sabem que todas elas cabem no nosso balão!

– Katrina, não. – Jonas disse.

Até quem tem mais idade, mas tem felicidade no seu coração! Sou feliz, por isso estou aqui, também quero viajar nesse balão! Super Fantástico! No Balão Mágico, o mundo fica bem mais divertido! – Eu gritei essa última parte.

As pessoas na rua já começaram a ouvir, e Marcela se enterrou na jaqueta. Fred estava tendo um ataque de riso incontrolável, e Pedro ficava balançando a cabeça em negativa. Jonas colocou o capuz e descansou a cabeça no vidro. Derek ria juntamente com Fred.

Sou feliz, por isso estou aqui... Também quero viajar nesse balão! – Eu berrei, totalmente eufórica.

Finalmente, todo mundo me encarou.

– Katrina. – Eles disseram ao mesmo tempo. – Cala a boca.

Abri e fechei a boca.

– Olha o bullying.


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Notas finais do capítulo

Oi, gente.
Sério, nem sei porque esse capítulo tá enorme desse jeito. UASHHASHUASHUSAUH
Derek sendo um amor de pessoa, como sempre. E Pedro... Ah, o Pedro. UASHSAHUHUASUSA
Gente, eu não achei mais a fotinho da Marcela ~chora no cantinho
Mas achei uma foto do nosso Derek, que olha... Meu Deus! É essa aqui, olhem: http://29.media.tumblr.com/tumblr_lesa1kjYpt1qcvtkso1_r2_500.jpg
Ah, eu achei tão fofinho T^T
Mas e aí, o que acharam do capítulo? u-u
Espero que vocês tenham gostado,
Comentem bastante! ♥