Caspian e Lucia simplesmente pareciam não conseguir desgrudar um da companhia do outro no decorrer daquela semana, o que obviamente começava a incomodar Pedro, que volta ou outra estava no encalço da rainha, segundo ele tomando conta da mesma e exercendo seu direito assim como se dever como irmão mais velho.

Enquanto Caspian fazia uso dos treinos com espada naquela tarde na companhia de Edmundo no gramado no Palácio, Lucia admirava os cavalheiros durante seu duelo enquanto aproveitava a sombra de uma das arvores um pouco distante de onde se encontrava os rapazes. Lucia estava sentada sobre uma poltrona confortável posta pelos criados especialmente para que ela pudesse desfrutar da boa vista do campo de treinamento, enquanto bebia chá. Por um pequeno momento, depois de ter rendido Edmundo obrigando-o a recuar, Caspian que ficava cada dia mais habilidoso com o manejo das espadas, desviou seu olhar divertido em direção à rainha, que sorriu de volta para o mesmo. Quando o duelo chegou por fim a um empate entre os dois homens, Edmundo cumprimentou o oponente com um aperto de mão, seguido de um toque em seu ombro e um sorriso, logo em seguida se afastando, o que abriu espaço para Caspian se dirigir a rainha. Dos muros do palácio, Pedro observava tudo com certo incomodo.

– Vigiando a rainha novamente, majestade? –perguntou Susana ao se aproximar pelas costas do rei.

– Não estou vigiando a Lucia, Susana. –repreendeu este. – Estou apenas exercendo meu dever como irmão mais velho.

– Não acho que Lucia esteja correndo algum perigo neste momento, para que precise se preocupar. –ela seguiu parando ao lado do rei.

– O perigo nem sempre está nas más intenções Susana, às vezes as boas intenções também possuem certos riscos.

– Acredita mesmo que Caspian possa causar algum mal a Lucia? Veja como ela está feliz... Há quanto tempo não a vê sorrindo dessa maneira?

– É exatamente isso que me preocupa, o sorriso na face de minha irmã.

– Quem o ouve falando assim, pensa que não fica feliz com a felicidade de sua irmã. –Susana franziu a testa encarando o loiro.

– É pela felicidade de Lucia que devo zelar Susana. Caspian não pertence à Nárnia, e essa aproximação entre os dois pode trazer sofrimento a minha irmã. –dizia em tom imponente.

– Acredita que Caspian pode querer voltar ao seu mundo?

– Se ele for mesmo Caspian X, de Nárnia ele já teve seu reinado Susana. –ele fitou a face da linda mulher ao seu lado. – Por que Aslam permitiria que ele voltasse?

– Talvez para ajudar mais uma vez.

– Exato, e depois?

– Acredita que Aslam o enviará de volta?

– Não sei. –ele desviou o olhar e fitou a irmã longe no campo aos sorrisos com o moreno. – E Lucia também sequer suspeita, e isso... É o que me incomoda nele. –disse passando por Susana e seguindo rumo ao interior do palácio.

Susana observou a cena distante entre o casal, e sentiu a mesma sensação incomoda que Pedro. Por fim, ela entendeu do que se tratava a implicância do rei magnífico para com Caspian, não era antipatia pura, e sim medo de que o coração de Lucia fosse despedaçado quando chegasse o dia em que Caspian partiria novamente. Susana se afastou da mureta e seguiu o rei para dentro do palácio, e o encontrou pouco depois cabisbaixo com as mãos escoradas sobre o encosto de uma poltrona em uma das salas. Ela passou pela porta e fechou a mesma atrás de si, logo adentrando o cômodo e se aproximando do rei, e depositando suas mãos sobre os ombros do mesmo de maneira a confortá-lo. Ao sentir o toque das mãos de Susana sobre seu ombro, Pedro levou sua mão até o toque dela, e apertou seus dedos como quem busca apoio.

– Não quero ver minha irmã sofrer por um sentimento tão devastador como o amor Susana. –disse em um tom moderado. – Lucia merece conhecer um homem que a ame, e que esteja ao seu lado, para amá-la e protegê-la.

– Fica difícil quando você rejeita todas as opções que aparecem. –a morena sorriu de maneira gentil.

– Fiz isso porque conhecia tais homens Susana.

– E será que nenhum deles seria bom o suficiente para sua irmã, ou você tem medo de perdê-la? –disse ficando dentro do campo de visão do loiro.

– Lucia é pura, e embora seja uma rainha sem igual, ciente de seus deveres e magnífica! –ele sorriu orgulhoso. – Ela pouco sabe sobre o amor. Lucia sempre foi encantada pelas estórias do antigo rei, é como um sonho realizado pra ela, mas pode isso ser mais do que um simples devaneio? –disse se afastado e sentando-se sobre a beirada da mesa.

– Pedro... Você me disse uma vez que o amor não se escolhe ele simplesmente acontece. –Susana se aproximou novamente do rei parando diante dele. – Acreditava mesmo nisso, ou estava apenas agindo de forma conveniente naquele momento?

– Não. –ele a fitou fundo nos olhos. – Eu realmente acredito que o amor nos escolhe. Mas às vezes precisamos ser práticos, e agir com a razão. –disse enquanto tocava o queixo de Susana carinhosamente. – Lucia está deslumbrada Susana...

– Nem todos conseguem ser práticos, Pedro. –ela se afastou e andou rumo à janela. – Lucia não está encantada com Caspian, ela o ama. –ela se virou e encarou duramente o rei.

– Como ela poderia amar alguém que conhece a menos de duas semanas?

– Me diga você. –ela manteve seu olhar seco.

– Acha que o que Lucia sente por Caspian, ou vice e versa se aplica ou tem alguma comparação ao que eu sinto? –disse levando a mão ao peito e se aproximando.

– Não, por que eles não conseguem ser tão práticos Pedro. Além do mais, Caspian não se sente como um rei, mas isso não importa pra ele, a única coisa que importa é o que ele sente por Lucia. Assim como ela não deve se importar se ele é ou não o verdadeiro rei Caspian X, pois ela já está apaixonada por ele pelo homem que ele é, e não pelo seu titulo. –Susan se afastou da janela e passou pelo rei que antes que ela partisse segurou-a pelo braço fazendo-a ficar próxima de si.

– Isso não tem a ver conosco Susana. Estamos falando de um caso diferente.

– Sabe de uma coisa Pedro? –ela o encarou duramente. – Acho que Lucia estava melhor antes do seu regresso, e não somente ela...

Dito isso Susana tomou de volta seu caminho e se retirou da sala deixando o rei magnífico sozinho, com seus pensamentos sobre tudo o que lhe incomodava naquele momento, e isso incluía sua relação conturbada e complicada com a líder dos arqueiros, por quem ele nutria um sentimento resguardado há alguns anos.

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