Doce Ilusória escrita por RoBerTA


Capítulo 2
Apenas o início de uma adorável noite


Notas iniciais do capítulo

Olaá pessoas lindas :D



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Nada nessa vida faz sentido. Francamente. Olha só para mim, com esse vestido todo cheio de frufru. Claro, não basta me obrigar a jantar com o Toninho e o Pedrinho. Tem que me impelir a usar um vestido turquesa rendadinho, e a droga de um sapato com a droga de um mega salto!

— Ei maninha, que cara é essa? — Calvin apareceu repentinamente ao meu lado. Bufei, ainda de braços cruzados. Estávamos cruzando o jardim extenso da residência dos Parker, para chegar até a mansão onipotente. Claro, não bastava serem aprumadinhos e bem afamados. Não, claro que não, tinham que ser ricos também!

— Não enche. — Respondi ao meu irmão, que continuava andando ao meu lado. Estava arrumadinho, camisa cor creme bem passada, calças sociais escuras, e — pasmem — até mesmo uma gravata. Até aí tudo bem. Tirando os tênis All Star e a estampa da gravata. Havia diversos coqueiros espalhados em sua extensão. Mamãe teria uma síncope quando visse.

Bem feito para ela.

Nesse momento provavelmente estava com o seu Toninho nos aguardando. Decidira ir antes, para deixar tudo "pronto e perfeito", segundo ela.

— Ah, mas a mamãe vai amar esse teu visual. — Comentei em um tom sarcástico.

Calvin deu de ombros.

— As pessoas sempre me amam, não importam as circunstâncias. Faz parte da minha maldição.

— Oh, pobre Calvin. Como deve ser difícil ser amado por todos. — Coloquei a palma aberta sobre meu peito, de forma dramática, enquanto rolava os olhos.

Calvin pareceu ignorar meu comentário pouco virtuoso.

Paramos em frente à enorme porta, que por acaso estava adornada com um segurança fortão, e que se chamava Joe. Tivemos uma pequena desavença há uma semana, algo de mínima importância.

— E aí garotão, como vão os anabolizantes? — Uma coisa é fato sobre mim: eu sei chegar chegando.

Joe me lançou um olhar sinistro, e simplesmente abriu a porta para nós, com aquele seu jeitão de taciturno.

Ao entrarmos, isso é, depois que atirei um beijo soprado para Joe, fomos recebidos por uma mulher de aspecto bastante agradável. Devia estar quase na casa dos cinquenta, mas seu sorriso era jovial.

— Olá, sua mãe os espera na sala de estar. Sou Mary, a governanta dos Parker.

Ai meu Deus. Governanta? Sala de estar? Que gente mais bundinha.

— Hnm, legal. E onde ficaria essa bagoça?

Senti Calvin me acotovelar, mas Mary apenas sorriu docemente. Aposto que minha mãe a antecipou sobre meus "modos peculiares".

— Por aqui. — Disse, e nós a seguimos.

O corredor em si já era enorme, adornado com quadros, estatuetas e alguns vasos com folhagens. Mas a tal sala de estar, uau, era um pouco menor que o tamanho total do nosso apartamento inteiro. E a decoração, impecável.

— Filha, minha querida, você está fabulosa! — Mamãe veio até nós, analisando-me de cima a baixo. Ela também estava "fabulosa", com um vestido discreto num tom de marfim. Seus cachos carmesins caiam como uma cascata por suas costas. Pelo menos Toninho tinha um bom gosto.

— Calvin... — Ela olhou em desaprovação para ele. Mas logo deixou escapar um sorriso. Era sempre assim, todos amavam o amável Calvin. O garoto conquistava todos, nunca se encrencava, era o gêmeo bom e blá blá blá. Já eu era a encrenqueira da família. Mas isso não me importava. Eu também o amava. E dói admitir, mas era uma irmã bem ciumenta.

— Que maravilha! Vamos lá, sorrisos à mostra, afinal, somos uma família feliz. — E abri um sorriso enorme. Preciso dizer, minhas palavras e todo o resto estavam encobertas de veneno. Mamãe estreitou os olhos.

— Samara...

Notei o tom de perigo em sua voz, mas fingi não notar.

— Amélia! Mas que linda essa sua filha! — Olhei cética para aquele homem prostrado na entrada da porta da tal sala de estar. Devia ser o Toninho. Seus cabelos eram da cor de uma noite sem estrelas, nem lua. Já seus olhos, recuperaram as estrelas sumidas. Eram prateados, nem pareciam reais. Sabe que a peste era bonita. Doía admitir, é claro.

— Oh, Antônio!

Caraca, onde é que eu vomito?

— Amélia, minha beldade, essas suas crianças são belíssimas, iguais à mãe!

— Crianças é o teu... hnmmm! — Calvin tapou minha boca, impedindo-me de terminar meu pequeno comentário.

— Pois é, acho que a Sammy está com fome. — Seu sorriso era encantador, e acabou distraindo os dois seres que me encaravam chocados.

— Hnm, — Antônio parecia sem jeito, mas minha mãe estava pior ainda — acho que meu filho, Pedro, já deve estar chegando.

Dei um chute no tornozelo do Calvin, o que o fez me soltar, com um olhar ressentido.

— Oh, o famoso Pedro. Mamãe falou muito dele. Um exemplo de garoto. — Se alguém além de Calvin notou meu sarcasmo, não demonstrou.

— Sim, sim, meu filho é realmente um rapaz encantador. O filho que todo pai gostaria de ter.

Vejo pelo canto do olho Calvin se encolher. Ele sempre teve problemas com papai, que o chamava de irresponsável, e dizia que ele devia agir feito um homem, e não um pivete.

— Ah, estou louca para conhecê-lo. — Forço um sorriso.

Antônio me olha de cima a baixo.

— Quem sabe não nasça um sentimento muito bonito entre vocês dois, não é mesmo?

Mamãe deu risadinhas. Senti-me roxa, tremendo de raiva. Eu podia ter minhas belas madeixas roxas, mas era ruiva de nascença. Isso sempre fazia com que eu ficasse mais vermelha e com mais facilidade. Até Calvin, o Traidor, parecia com dificuldades em segurar o riso.

Bufei, exasperada, e cruzei os braços. Antônio se aproximou, e fiquei sem reação. Ele apertou minha bochecha.

— Mas ela fica tão fofinha brabinha!

Sabe, costumo ser calma, muito pacifista, na maior parte das vezes. Tento sempre dar o melhor de mim. Mas às vezes, eu me deparo com pessoas sem amor à vida. Como esse acéfalo, por exemplo.

Só Deus sabe como eu gostaria de saber alguns golpes de karatê agora. Calvin pareceu prever minhas intensões, porque me deu um abraço apertado.

— Ah, como eu amo essa minha maninha! — Fiquei parada, enquanto ele me abraçava, e o Toninho e a Amélia-beldade nos fitavam com cara de “own” “ownt” “óin”.

Alguém, por favor, me mate.

— Pai? — Uma voz veio da porta, e fez com que Calvin me largasse.

Olhei para o rapaz, com os mesmos cabelos do pai, em um corte curto, porém com os olhos escuros. Negros, eu diria. Indecifráveis. E que estavam voltados na minha direção.

— Filhão! — Antônio foi até ele, e eles se deram um abraço muito másculo. Esse garoto não me era estranho...

— Oi, sou o Calvin, seu futuro mano. — Meu gêmeo estendeu a mão, com um sorriso amistoso e brincalhão. Mamãe batia palmas, empolgada. Então o filho-exemplo foi até onde eu estava. E eu o reconheci.

Na volta para o apartamento, eu havia piscado para alguns gatinhos. Teve aquele da namorada, e, bom, teve esse também. Eu soprei um beijinho para ele, porque convenhamos, ele pode ser um Parker, mas é gostosinho até. O garoto ficou me olhando como se eu tivesse um chifre no meio da testa. Daí eu fiz um sinal, tipo: me liga. Ele ficou de boca aberta. E eu, Samara do jeito que sou, meio que mostrei a língua, mas não daquele jeito petulante e infantil, nem de longe.

— Você deve ser a Samara! — Ele exclama alegre. Espera, ele não me reconheceu?! Ai, como Deus é bom. — Espera... A gente não se conhece? — Seus olhos se estreitam. — Acho que te vi hoj... — Pô, Deus.

O puxo para um abraço, o que o impede de continuar. Dou até uns tapinhas nas costas dele, que parece surpreso demais para esboçar qualquer reação. Mamãe parece estar vibrando de felicidade. Juro que já a teria matado, se não fosse minha mãe.

Quando tento me afastar, algo me impede. Ele também tenta, mas é como se uma força invisível estivesse nos segurando juntos. Olho para baixo, e vejo o tecido frágil do vestido preso em um botão do casaco dele. Eita, isso realmente é possível?

Com raiva, tomo um impulso para longe dele. De repente, me sinto mais leve, e mais fresca também. Quando olho para baixo, novamente, e percebo que a frente do vestido ficou grudada em Pedro, e que apenas um sutiã bege, também rendado, sem alças, é tudo o que possuo na parte superior.

Como se o tempo tivesse parado, ninguém se mexe. Percebo a direção em que o menininho perfeito está olhando, e tenho vontade de rir. Ou de estapeá-lo.

Colin se coloca na minha frente, tira sua camisa e me dá ela, ficando apenas com uma regata branca. O que o deixou ridículo, com aquela gravata ainda mais ridícula. Mesmo assim, aceito sua camisa, e a coloco. Minha estatura é mediana, quase igual à de Calvin, portanto ela fica quase justa, nem muito grande, ou muito pequena.

Alguém limpa a garganta. Todos estão encabulados, sem saber o que fazer ou dizer.

Mary Jane põe a cabeça para dentro da Tal Sala. O que foi? Ninguém assistiu O Homem Aranha? Parker, Mary... Até Pedro é parecido com Peter. Ah, deixa pra lá.

— O jantar está à mesa.

Maravilha. A noite mal começou.


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Notas finais do capítulo

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