Encontro Surpresa escrita por Flor de Cerejeira


Capítulo 7
Situações adequadas




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Rin  definitivamente não estava esperando por aquele comentário. Desviou seus olhos de Sesshoumaru e fixou-os em seu prato, abalada demais para perceber o quanto desejava que ele a amasse e quisesse se casar com ela.

— Queria saber se pode nos ajudar a fingir que isso é verdade. - Fingir! Rin focou sua atenção na palavra que fazia ,toda a dife­rença. — Sei que não é justo com você, mas é que isso significa muito para Risa. E para mim também — ele acrescentou depois de um momento. — Claro que estaremos apenas fingindo, enquanto ela estiver por perto — ele fez questão de assegurar novamente a Rin. — Será que poderia encarar isso como... parte do trabalho?

— Trabalho? —Rin perguntou, frisando a palavra, como se fosse a única que houvesse entendido.

— Não lhe pediria que fizesse isso de graça — explicou Sesshoumaru. — Farei com que valha a pena financeiramente. Podemos combinar seu salário com uma gratificação extra pelo... pelo que mais houver.

Com formalidade, Sesshoumaru deixava claro que tudo seria uma mera transação comercial. Rin tentava entender sua lógica.

— O que quer exatamente que eu faça? — ela perguntou, tentan­do manter sua voz em um tom calmo.

— Queria que sempre estivesse por perto enquanto minha mãe estiver conosco. Que tentasse fazê-la acreditar que eu e você...

— Estamos apaixonados? — Rin terminou corajosamente a fra­se que ele começara.

Sesshoumaru  prendeu a respiração.

— Sim.

— Costumo ser boa em dramatizar situações — ela disse, depois de um momento. — Sempre quis um papel de verdade, mas me deram só figurações. Talvez essa seja minha chance de voltar a atuar!

 

— Está dizendo que aceita a proposta? — ele perguntou, como se mal pudesse acreditar que ela falava a sério.

— Por que não? —Rin  já tinha assumido novamente o controle de si mesma.

Apenas não queria que Sesshoumaru percebesse que estava realmente apaixonada por ele. Convencê-lo de que podia aceitar o trato e se comportar de modo imparcial poderia ajudá-la a se manter traba­lhando para ele.

— Pode ser muito divertido dependendo de como combinarmos — ela disse com vivacidade. — Parece que vou ganhar esse dinheiro com facilidade.

— Você pode não achar tão fácil quando conhecer minha mãe. - Sesshoumaru lançou-lhe um olhar frio. — Vai nos observar cuidadosamente. Para convencê-la que estamos noivos, teremos que passar a impres­são de que somos muito mais íntimos do que realmente somos.

Trate isso com frieza, Rin disse a si mesma.

— Claro que teremos de nos beijar de vez em quando. E o que mais?

— Esse tipo de coisa. — Sesshoumaru parecia incomodado com a atitude casual dela. — Como se sentiria a esse respeito?

Rin imaginou como se sentiria se fosse capaz de dar a volta na mesa, segurar a mão dele, colocar os braços em torno de seu pescoço, ousar beijar-lhe... E como seria sentir aquela boca na sua, desejando que se encontrassem por inteiro, até que o ar lhe faltasse nos pul­mões.

— Acho que posso lidar com isso. — Ela tentou manter seu tom casual, mas sua voz saiu um pouco mais rouca do que de costume e teve que tossir, e tentar de novo. — Será apenas parte do trabalho. Não significará nada, não é isso?

— Claro — disse Sesshoumaru.

Ele parecia muito cauteloso, e Rin ficou então aterrorizada de que ele houvesse notado como realmente se sentia.

— Quando fechar meus olhos ao beijá-lo, pensarei em minha gratificação. — Ela tentou brincar.

A expressão de Sesshoumaru mudara.

Rin  suspirou. Oscilava entre a irritação que Sesshoumaru lhe causava e o desejo de dizer-lhe que queria abraçá-lo e ficar com ele para sempre.

— O que Risa está achando de tudo isso?

A expressão tensa de Sesshoumaru relaxou sutilmente.

— Está orgulhosa pela excelente idéia que acha que teve. Eu disse a ela que lhe perguntaria esta noite, por isso deve ainda estar acordada, esperando-me ansiosa. Vai ficar excitadíssima quando souber que aceitou. — Ele olhou fixamente para Rin. — Risa não é de se dar bem com as pessoas, mas ela gosta de você.

— Eu também gosto dela.

Houve uma pausa, e a questão: "E você? Você gosta de mim?", parecia flutuar no ar.

Mas Rin não as pronunciou. Olhou para o prato, a comida já fria e esquecida. Não estava com fome. O amor parecia ter destruído seu apetite. Mas instantes depois pegou o garfo e voltou a comer. Tinha que lidar com o desconfortável silêncio.

— O que disse a sua mãe a meu respeito?

— Apenas o seu nome, e que nos conhecemos quando você veio trabalhar comigo. — Sesshoumaru parecia não estar apreciando a refeição mais do que ela. — Achei que quanto mais eu me aproximasse da verdade, mais fácil seria.

— Aposto que ela vai querer saber muito mais do que isso — disse Rin.

Um sorriso quase maroto se esboçou nos lábios dele.

— Ela me perguntou como você era. — admitiu.

— E o que você respondeu?

— Que você era afetiva e engraçada, e que Risa gostava muito de você. O que é verdade. -

Afetiva. Engraçada. Não havia nada de errado com esses adjeti­vos, mas faltava um pouco de intensidade. Desejava que Sesshoumaru a descrevesse com termos mais passionais. Atraente, irresistível. Será que nenhuma dessas palavras vinha à mente dele quando pensava nela?

Rin deixou seu garfo de lado, incapaz de continuar a comer.

— Sua mãe não lhe perguntou o que o fez mudar de idéia a respeito do casamento?

— Eu disse a ela que entenderia quando a conhecesse.

O olhar deles se cruzou sob a luz do candelabro, e de novo as palavras pairaram no ar.

— O que faria se eu houvesse recusado?

— Não sei bem — ele admitiu. — Eu confiei em sua generosidade. Talvez dissesse que você tinha me trocado por outro pouco antes de ela chegar.

— Eu nunca faria algo assim — Rin protestou.

— Não, provavelmente não — ele concordou.

— Você pode sempre inventar algum problema de família — ela propôs para ajudar.

— E preciso mais que um problema de família para pará-la — disse Sesshoumaru. — Ela a encontraria até no fim do mundo.

— Bem, eu aceitei.

— Vamos ter que pensar em alguma razão para romper nosso noivado depois que ela se for, antes que ela reserve suas passa­gens para o casamento.

— Ótimo. — Rin deu um breve sorriso. — Não queremos que isso aconteça, não é?

— Não — Sesshoumaru concordou, a voz inexpressiva. — Não queremos.

 

 

— Tem certeza de que é uma boa idéia, Rin? — Kagome e Sango, sentadas em volta da mesa, olhavam para ela preocupadas.

— Ganhar dinheiro é sempre uma boa idéia — Rin disse em tom desafiador.

— Há modos mais fáceis de se ganhar dinheiro do que fingir estar apaixonada pelo chefe.

Rin não disse a elas que o problema seria muito mais complicado do que imaginavam. Ela precisava fingir não estar apaixonada por ele. Mas não havia como explicar a elas, Rin refletiu. Kagome diria apenas "Eu avisei!".

— Seria melhor que você conseguisse um trabalho, através da agência mesmo — Sango continuou.

— Sesshoumaru vai me dar um bônus extra pela história do namoro, o que significa que poderei liquidar a minha conta no cartão. Talvez possa até economizar para viajar no feriado. Além disso gosto de Risa, e isso resolve o problema do cachorro durante o dia.

— Bem... está bem então — Kagome disse sarcasticamente. — Já que o cachorro será privilegiado...

— Não sei por que vocês duas estão complicando as coisas. E apenas um emprego.

Sango parecia em dúvida.

— A mãe dele não acreditará que vão se casar se não estiverem nem mesmo dormindo juntos.

— Bem... Poderemos dizer que não parece apropriado por causa de Risa — Rin disse na defensiva.

Kagome balançou a cabeça, fingindo-se exasperada

— Desculpe, eu me perdi. Em que século estamos? Em que ano? - Rin a ignorou.

— Está bem, então dormiremos no mesmo quarto enquanto a irmã dele estiver aqui.

— Só não queremos que você se magoe — Sango  disse com do­çura, percebendo a mágoa na voz de Rin.

— Não vou fazer nada tolo — Rin disse rispidamente.

De qualquer maneira, era tarde para pensar nisso. Não haveria como não se magoar.

 

— Sesshoumaru ainda ama Sara, eu sei disso. Mesmo que não fosse obcecado por ela, é completamente indiferente a mim. Ele é bem mais velho, tem outras experiências, a vida dele é diferente.

Era tudo verdade, e isso não afetava em nada o modo como o amava.

Rin olhou com receio para as amigas, grata pelo fato de, apa­rentemente, não perceberem o modo como se sentia.

— Não há por que me envolver com ele, ou com sua filha, ou com seu cachorro... — Rin disse a elas, sabendo que isso era mesmo verdade, mas já sem poder evitar. — E isso ou ficar esperando pela benevolência do pessoal da agência enquanto minhas contas vencem mais um mês, dois meses. Francamente, prefiro viver com conforto na mansão dele por duas semanas.

Sango  não estava convencida.

— É muito fácil misturar as emoções em situações como essas — ela disse. — Só acho que você deve tomar cuidado, é tudo.

Muito tarde.

 

— Esse é o seu quarto. — Risa abriu a,porta e mostrou orgulhosa. — Eu o deixei bem bonito para você.

Rin olhou em torno, emocionada com as palavras da pequena.

— Está lindo, Risa.

Havia até um vaso com flores em cima da cômoda.

— Como você arrumou tudo sozinha?

— Papai arrumou sua cama — Risa  admitiu. — Mas eu fiz todo o resto.

Rin olhou para a cama e imaginou Sesshoumaru arrumando-a, alisando os lençóis sobre os quais dormiria. Abalada por um sentimento de carinho, ela disse rapidamente.

— Foi muito legal da parte dele, mas eu mesma poderia ter feito isso.

— Oh, ele não se importou em fazer para você — Risa disse casualmente. — Quer ver o meu quarto?

A cabeceira da cama de Risa era coberta de fotografias de Risa sua mãe e Sesshoumaru. A maioria delas o mostrava abraçado a Sara sorrindo, com o brilho do sol em seus olhos.

Rin sentiu-se vazia por dentro ao lembrar de que nunca o vira feliz daquele jeito.

— Essa é minha mãe — disse Risa, seguindo o olhar de Rin. -Ela era bonita, não era?

— Era — disse Rin. — Ela era muito bonita. Você consegue se lembrar dela?

— Na verdade não, mas papai me fala dela, e ele guardou algumas coisas dela para mim. Veja. — Risa tirou uma caixa de debaixo de sua cama e abriu-a com cuidado.

Rin sentou-se na cama e foi pegando as coisas que Risa lhe oferecia. Um batom. Um frasco de perfume pela metade. Um lenço de seda. Um livro de poesias com uma capa antiga. Um diário com notas escritas rapidamente. Um par de brincos. Uma foto de um bebê.

— Sou eu nessa foto.

Rin sentia seu peito apertado, percebendo que Sesshoumaru escolhera cuidadosamente algumas peças, que mostrariam a Risa exatamente como sua mãe era pouco antes de partir. Recolher tudo aquilo devia ter sido muito, muito doloroso para ele.

— Esse foi o anel de noivado dela — Risa disse, abrindo uma caixinha e pegando uma das jóias. — Papai disse que ela o deixou para mim, e que eu poderei usá-lo quando for mais velha. Essas pedras azuis são safiras. Papai as escolheu porque eram da cor dos olhos de mamãe.

— É um anel lindo — disse Rin, perigosamente à beira das lágrimas. Seu coração doía por sesshoumaru, mas não queria se descontrolar e chorar na frente de Risa.

Ela desviou os olhos da caixa e viu que Sesshoumaru as olhava através da porta entreaberta. Por um momento muito, muito longo ficaram se olhando, os olhos de chocolate de Rin ainda úmidos, brilhando com as lágrimas contidas.

Risa percebeu a presença do pai e disse naturalmente:

— Estou mostrando a Rin a caixa de mamãe.

— Estou vendo. — Sesshoumaru tinha um sorriso terno. — Preparei o chá. Quando quiserem descer...

Rin sentia-se mal, como se estivesse se intrometendo em assun­tos particulares, e quando tentou se desculpar, Sesshoumaru interrompeu-a.

— Fico feliz que ela queira falar sobre Sara — ele disse, ofere­cendo a Rin uma xícara de chá. — Acho que nunca mostrou essa caixa a alguém antes. Sempre guarda seus sentimentos para si mes­ma, e é difícil saber o que sente, o que a magoa... Se ela conseguir falar com você, vou ficar muito feliz, muito grato. Ela já está muito mais falante do que costuma ser.

Como que para provar isso, Risa desceu rapidamente a escada com Raito, gritando animada.

— Papai, eu estava pensando uma coisa enquanto guardava as coisas de mamãe. Rin precisa ter um anel se vai ser sua noiva.

— Oh, não, Risa. Não precisa — Rin disse, levantando as mãos para mostrar os anéis que estava usando. — Posso usar um desses.

 

Sesshoumaru segurou a mão dela e inspecionou, junto com Risa, a discreta exposição de anéis. Nem um nem outro pareceram impressionados.

— Não, acho que nenhum deles vai convencer minha mãe — disse Sesshoumaru pensativo. — Deixe-me ver este — ele pediu, apontando para o anel que ela usava no terceiro anular.

Rin sentia sua mão queimar onde Sesshoumaru a havia tocado quando tirou o anel.

— Para quê? — ela perguntou.

— Para saber seu tamanho. Vou comprar um.

— Eu não acho que seja necessário... — ela começou, mas ele a interrompeu.

— Você não conhece minha mãe. Ela logo desconfiaria se a visse usando um anel pequeno e barato como esse. — E depois de uma pausa, ele continuou: — Por que está me olhando assim? — ele perguntou, a voz preocupada quando percebeu a mudança involun­tária na expressão de Rin.

— Foi Kouga quem me deu esse anel.

O fato de Sesshoumaru haver reconhecido imediatamente que era um anel barato, fez com que ela confirmasse quão pouco Kouga a valorizava. Ela tratara o anel como um tesouro, certa de que era uma demons­tração de seu amor por ela, mas na verdade não significava nada, assim como toda a sua relação com Sesshoumaru.

Sesshoumaru franziu o cenho.

— Não se preocupe, não vou perdê-lo.

— Não importa. Acho que não vou mais usá-lo. — Rin forçou-se a sorrir e levantou. — É melhor que eu comece a pensar no jantar.

Sesshoumaru tentava o tempo todo tratá-la como hóspede, mas ela não o deixaria esquecer por que estava ali.

—Já posso começar a ganhar meu salário — disse, sendo prática.

Não havia quase nada no freezer, mas ela conseguiu o bastante para fazer um molho para macarronada. Ficou muito sem graça a seus olhos, mas Sesshoumaru e Risa comeram como se fosse uma iguaria rara.

— Acho que vocês andaram comendo comida pronta demais — disse Rin. — Sorte minha!

Perto de oito e meia, Risa já estava sonolenta.

— Hora de dormir, mocinha. Você tem aula amanhã.

Depois de se assegurar de que ela havia escovado os dentes, ga­nhado seu beijo de boa-noite e argumentado firmemente contra to­das as tentativas da pequena para atrasar ao máximo o momento em que as luzes seriam desligadas, Sesshoumaru e Rin não tinham mais desculpas. Estavam sozinhos... com o cachorro.

Em um acordo sem palavras, ficaram na cozinha clara e segura,fugindo ao conforto da aconchegante lareira. Rin sentou-se em fren­te a Sesshoumaru, do outro lado da mesa de jantar, onde não havia perigo de que se tocassem por acidente.

Naquele momento, tudo que ela tinha que fazer era começar uma conversa animada para quebrar o silêncio incômodo que sempre se colocava entre eles, mas não conseguia pensar em um único assunto. O único foco de sua atenção era o homem do outro lado da mesa, sua boca e suas mãos, e como seria bom sentar ao seu lado, colocar os braços em seu pescoço e beijar seu rosto cansado.

— Espero que isso esteja tranqüilo para você — Sesshoumaru  finalmente disse e a olhou com seus perturbadores olhos dourados. — Quero dizer... Espero que a situação não lhe seja desconfortável.

— Claro que não — Rin disse com vivacidade, como se não es­tivesse nem um pouco preocupada em estar ali sozinha com ele.

Sesshoumaru olhou em torno na cozinha, como se quisesse vê-la sob a perspectiva dela.

— Sei que um trabalho como esse não é divertido para uma ga­rota.

— Isso depende do tipo de garota que pensa que eu seja. Ele pareceu considerar seriamente a questão.

— Parece ter muitos amigos e sair muito. Por isso acho que vai ficar entediada por estar dentro de uma casa o dia todo.

— Garanto que vai ser mais divertido do que ficar fechada no escritório. Como sabe não sou muito organizada, mas adoro cozinhar e cuidar de plantas... E se eu tiver um cachorro para passear e Risa para me contar as novidades quando voltar da escola... Bem, acho que vou ter uma estada adorável.

— Sabe, você não é má secretária quando se concentra. — Ele parecia atencioso. — Só estou lhe pedindo que me faça um favor, não entenda isso como uma sugestão de mudança de carreira. Logo poderá se dedicar a algo mais interessante.

— O problema é que não tenho essa ambição. Quer dizer, não sei se quero uma profissão interessante.

— Como assim?

— Sempre pensei em coisas comuns. Tenho um pouco de vergo­nha de admitir, mas tudo que eu queria era encontrar alguém es­pecial, ter filhos e um lar. Sabe, gosto de uma vida mais tranqüila...

A expressão nos olhos de Sesshoumaru era indecifrável.

— Sango e Kagome acham a vida doméstica entediante, mas eu acho que seria feliz cuidando de e ajudando meus filhos com os deveres da escola. — Rin suspirou. — Em parte foi por isso que me decepcionei com Kouga. Acreditei que ele era a pessoa especial, e que poderia me ajudar a realizar esse sonho.

 

Sesshoumaru parecia ouvi-la com atenção, mas não fazia nenhum co­mentário.

— Claro que fui muito tola — ela continuou, mantendo seus olhos no copo. — Kouga jamais se interessaria por crianças... Foi doloroso quando tive que aceitar isso. Desistir dele foi como desistir de meus sonhos, do que acreditei que minha vida poderia ser.

— É muito difícil quando os sonhos vão embora — Sesshoumaru  disse de um jeito triste.

— Foi isso que viveu com Sara? Um sonho?-  Ele ergueu um pouco os ombros.

— Agora parece que foi um sonho — ele confirmou. — Sei que não deve ter sido tão perfeito e que brigamos muitas vezes, mas não consigo lembrar dessa parte. Só consigo me lembrar do quanto era especial estar com ela.

— Você teve sorte por haver vivido esse sonho.

Somente depois de ter falado, Rin ouviu suas próprias palavras.

— Desculpe-me — ela pediu. — Sei que não chama isso de sorte.

— Entendi o que quis dizer, não se preocupe. Eu tive mesmo muita sorte. Algumas vezes nem eu posso acreditar que vivi todo aquele amor... E pelas estatísticas, sei que isso só acontece uma vez na vida. — A boca dele tremeu sutilmente. — É quando eu sinto mais falta de Sara. Quando me lembro de como era feliz com ela, e penso que nunca o serei novamente.

Naquela noite, Rin deitou-se na cama e ficou olhando para o teto lembrando-se da expressão nos olhos de Sesshoumaru. Devia ser horrível sentir-se tão comprometido com alguém que já morrera, e ela não podia deixar de pensar em Sara e no quanto Sesshoumaru a amara.

Não valia a pena pensar que poderia ser a segunda chance de felicidade dele. As "estatísticas" diziam que não.

Qual era o problema com ela? Por que só se apaixonava por ho­mens que não conseguiam amá-la?

Aquele trabalho lhe oferecera a chance de estar próxima a Sesshoumaru e ela o agarrara de pronto. Mas agora pensava se fora mesmo uma boa idéia. Era como se apenas agora ela tivesse a certeza de que não havia esperança para seu amor com Sesshoumaru.

Mas já era muito tarde. Teria que continuar ali, disse a si mesma. Se não podia fazê-lo feliz, podia pelo menos ajudá-lo a viver uma fase mais confortável.

E se fingir ser sua noiva iria facilitar a vida dele durante a visita da mãe, ela o faria.

Era estranho não precisar ir ao escritório, mas Rin estava feliz circulando pela casa, levando Risa para a escola, cuidando do ca­chorro. Aproveitou para lavar algumas louças e fazer compras. E então já estava na hora de pegar Risa na escola de novo.

Quando Sesshoumaru chegou, naquela noite, as duas estavam na cozinha. Rin estava fazendo o jantar, e Risa fazia a lição da escola.

Sesshoumaru inclinou-se para abraçar a filha, e então olhou para Rin, que tinha a estranha sensação de que ele deveria fazer o mesmo com ela. Com um movimento brusco, ela se voltou para a pia.

— Como foi seu dia? — ela perguntou sorrindo, pensando que logo estaria lhe oferecendo os chinelos e o cachimbo.

— Correu tudo bem. — Sesshoumaru ficou com um olhar de dúvida, como se tentasse por encontrar algo para contar. — Ocupado.

— Como está Kagura? — Rin ajudou.

— Ela está... bem.

— Então não sentiu minha falta? —- ela brincou.

— Parece engraçado, mas senti.

O coração de Rin se acelerou, e sem pensar, ela se virou.

— E mesmo?

— Mesmo.

Era como se o olhar dele a penetrasse, e Rin ficou subitamente tão confusa que não sabia mais o que estava fazendo.

Ele tinha sentido sua falta! Como ela era tola. Por que aquilo fazia tanta diferença?

Mas ele não estava apenas falando por falar, essa era uma de suas qualidades. Era absolutamente sincero.

Sentira a falta dela! Claro, na fração de segundo em que não estava se lembrando de Sara. Mas quando Rin olhou nos olhos dele, incapaz de se desviar de seu brilho, disse a si mesma que aquilo era o suficiente.

Um longo silêncio se seguiu. Rin podia sentir que o ar parecia pesar, e, quando o telefone tocou, ela deu um salto e largou instan­taneamente a colher. Mas enquanto enxugava as mãos, Risa já o havia atendido.

— Olá, vovó — ela disse, e por cinco minutos respondeu a perguntas sobre a escola. — Ele está aqui — ela disse pouco depois, e completou casualmente: — Está conversando com Rin.

Risa sorriu para o pai, estendendo-lhe o telefone.

Mexendo o molho bem devagar, Rin pôde ouvir parte da conver­sa, que consistia em longos tempos de silêncio e algumas breves respostas de Sesshoumaru.

— Não, você não pode falar com ela. Não quero que faça interroga­tórios pelo telefone... Mãe, vai encontrá-la quando chegar.... Não, não estamos planejando nos casar enquanto estiver aqui. Não há pressa. Rin está morando conosco agora e estamos perfeitamente bem desse jeito. — Balançando a cabeça, ele colocou o telefone no gancho. — Minha mãe...

Rin tentava se concentrar na comida quando Sesshoumaru a olhou.

— Bem, nosso compromisso agora é público — ele disse. — Espero que não esteja pensando em mudar de idéia...

— Não. — Rin pegou o sal para adicionar à carne. — Não vou mudar de idéia.

— Ótimo. — Sesshoumaru aproximou-se dela. — Deixe-me ver sua mão. Não, a outra mão — ele disse, puxando algo do bolso.

Rin teve que se esforçar muito para controlar o tremor em sua mão esquerda enquanto ele colocava o anel.

— O que acha?

Ela olhou para sua mão. Sesshoumaru ainda a segurava, e ela estava terrivelmente consciente do calor dos dedos dele.

Tentou focalizar sua atenção no anel. Era uma peça em ouro antigo, desenhado com uma pedra de topázio e várias pérolas.

— E lindo — ela disse com dificuldade.

Risa não ficou tão impressionada. Ao lado do pai, inspecionou o anel com olhar crítico e disse:

— Tinha que ser de diamantes, pai.

— Diamantes não combinam com Rin.

Só neste momento Sesshoumaru pareceu lembrar-se de que ainda segu­rava a mão dela e a soltou abruptamente.

— São muito frios.

Rin mordeu o lábio enquanto observava o anel em seu dedo.

— Deve ter sido muito caro — disse preocupada.

— Vai valer a pena se acalmar minha mãe — disse Sesshoumaru secamente, afastando-se.

Depois de um breve e perturbador silêncio, ele perguntou, como se não pudesse se conter mais:

— Você gostou mesmo?

— Adorei — Rin disse com honestidade.

— Posso lhe comprar um anel de diamantes se preferir.

— Não quero diamantes — disse Rin, arriscando-se a olhar para ele.

A luz fez com que seus olhos ficassem exatamente da cor do sol poente.

— Este é perfeito.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No próximo capítulo:

 

— De que lado você dorme normalmente? — ela perguntou, to­mando a iniciativa.

Ele apontou o lado e ela deu a volta na cama, levantando a seguir as cobertas.

 

 

Aguardem!

 

 


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