A minha visão ia ficando turva. Eu via homens cavalgando na direção em que Matthew tinha ido, iriam matá – lo, com certeza, e eu não pude impedir, e isso era o que eu tinha ido fazer ali. E agora eu era uma refém, mas...por que me manter viva? Era o que eu viria a descobrir.

Minhas armas foram retiradas. Ambas minhas mãos e meus pés foram amarrados, colocaram uma mordaça na minha boca e enfiaram um saco na minha cabeça, e foi nesse momento que eu apaguei totalmente.

***

Quando acordei, tiraram o saco da minha cabeça. Já era quase de manhã.

–Sabe esse seu amigo? - disse Kanen, que estava ajoelhado na minha frente, apontando para o corpo de Matthew morto, em cima de seu cavalo. - Eu acho que ele seria de uma grande utilidade para nós. Assim como você. - ele pegou um papel com ago escrito. - O que acha dessa carta para seus amigos?

O homem começou a ler, e a mensagem dizia:

“Viva esse dia como se fosse o último.”

Eu nem tentei responder. Estava muito acabada para isso. Eles colocaram a carta nas costas de Matthew e pregaram – na com uma flecha, mandando o cavalo correndo na direção de Ealdor.

–Sobre você, teremos que considerar muitas coisas. Nós podemos matar você, manter você. Tudo dependerá das circunstâncias. Se você ficar caladinha na sua e não nos causar problemas poderemos te manter viva, mas você terá que cooperar.

Eu respondi com um aceno positivo de cabeça.

*Um pouco depois disso, em Ealdor*

–Não! Não! - gritava uma mulher ao ver o corpo de Matthew morto que havia chegado com o cavalo.

–Olhe o que você fez, você o matou. - disse William, surgindo da multidão novamente.

–Não foi sua culpa.

–Espere, onde está Ana? - perguntou Morgana, recebendo de resposta os rostos aflitos de alguns.

–Meu Deus...

–Se ele não fosse tão arrogante – começou William, apontando para Arthur. - tratando – nos como seu exército, isso não teria acontecido!

–Eles são corajosos o bastante para lutar pelo que acreditam, mesmo que você não seja.

–Está mandando – lhes para suas covas. Você matou um homem, fez uma mulher desaparecer, isso se também não morreu. Quantos mais precisam morrer para você perceber que essa batalha não podemos vencer. Quando Kanen chegar, não terão chances. Vocês serão massacrados. - e assim, ele saiu.

*Voltando à Ana*

Passou – se um tempo, e mais para de tarde eles tentaram me interrogar. Eu não podia revelar nada importante, por isso tive que mentir.

–Eles tem algum plano?

–Não. Eles o temem, não querem lutar porque sabem que não tem chance e que irão todos morrer...

Depois de um bom tempo sendo interrogada, eles me deixaram.

De noite, eu ouvi dois homens conversando, eles planejavam me levar de refém para conseguir que qualquer um se rendesse a eles. Teriam que conquistar toda a Álbion antes, eu não deixaria que isso acontecesse, não mesmo.

De madrugada, quando todos dormiam, e só dois homens faziam vigia, eu comecei a minha Operação Fuga. Soltei as cordas com facilidade, usando a minha magia. E, silenciosamente, nocauteei os dois vigias. Eles tinham me torturado para lhes dar informações, e tinham me envenenado várias vezes para me fazer dormir, e, por isso, estava fraca para grandes corridas. Peguei minhas armas e algumas facas e mais flechas, montei meu cavalo e saí correndo do lugar.

Quando a manhã já caía, eu estava me aproximando de Ealdor, mas estava muito fraca. Sem comer ou beber, ainda sob o efeito do veneno não mortal deles, e cheia de machucados. Caí de meu cavalo, já desistindo, e, para minha total sorte, tinha alguém próximo.

–Arthur? - falei, ao acordar em Ealdor deitada em uma cama (uma das poucas que tinham lá). - O que aconteceu?

–Nós te achamos. Pensávamos que estava morta. Graças a Deus não. Já demos um jeito em suas feridas...mas você não vai poder lutar. O que houve?

–Eles mataram Matthew e me sequestraram. Iriam me usar como um preço para sua rendição, mas eu escapei.

–Você não revelou nada para eles, certo?

–Nossos segredos são nossos. Suas mentes só tem mentiras.

–Ótimo.

–Eu disse que conseguia me defender sem você...

–Não é muito o que parece.

–Eu fugi sozinha. - disse, me sentando na cama. - Vá se preparar, as tropas de Kanen estão próximas.

Assim que todos saíram, me deixando sozinha, eu cheguei se não tinha nenhum curioso por perto e rapidamente fiz um feitiço de cura, agora que tinha forças para tal. Após estar curada, me levantei, e coloquei uma roupa parecida com a qual tinha vindo, só que era verde e eu coloquei uma blusa de mangas, e levantei o capuz. Peguei minhas armas e olhei pela a janela, a batalha tinha começado, era o momento de entrar em ação.

Saí, com o arco armado, dando várias flechadas. Um homem foi correndo na direção de Arthur, e eu o dei uma flechada bem nas costas, alertando Arthur. Ele olhou na minha direção, não me identificando.

Houve uma batalha lá. Até William decidiu se juntar a nós. Nós lutávamos de forma corajosa. Kanen possuía uma fúria terrível. Ele chegou por trás de mim e me pegou pelo pescoço.

–Você, sua ladra suja e fugitiva. Devia ter matado – a quando tive a chance. - disse, levantando o machado.

–Devia. - disse.

Et sacrificate de manibus tuis

Ele sentiu suas mãos queimarem e me soltou. Eu continuei a lutar. Olhei para trás e vi Merlin, ele com certeza se preparava para um feitiço. Eu estava pronta para ajudá – lo, se necessário. Um homem foi atacar Merlin, e quase que involuntariamente, eu cheguei perto dele e o finalizei com magia. Quando Merlin olhou para trás e viu o homem caído, e viu que estava próxima, algo me dizia que ele sabia do ocorrido.

Mas, ele voltou a se concentrar em sua situação. De repente apareceu um furacão, literalmente, do nada. Ele levava os homens de Kanen para longe, sem dificuldade, e seus cavalos corriam apavorados, coitados, mas pelo menos estavam com seus donos em cima.

Todos lutavam, e os homens de Kanen recuavam. Porém, um homem ainda estava lá, inteiro, o próprio Kanen.

–Pendragon! - exclamou o homem, derrotado, mais ainda furioso.

Tirou sua capa e seu elmo e segurou forte o machado.

Começou – se, assim, uma luta.

Kanen era forte, mas Arthur era mais rápido, e, por isso, desviava de todos os golpes de seu adversário. Ao tirar o machado da mão de Kanen, este lhe deu um chute, e pegou a espada que estava fincada no corpo de um morto. Assim, a luta continuou. Arthur começou o seu ataque, levou alguns socos de Kanen, mas no final conseguiu enfiar a espada na barriga do homem, que ficou chocado. Caiu de joelhos no chão, aparentemente morto.

–Quem fez aquilo?

–O que?

–Ventos como esses não aparecem do nada. Conheço a magia quando a vejo. Um de vocês fez isso. - disse Arthur, se referindo a Merlin e Arthur.

–Arthur.

Kanen se levantou, com uma besta (sabe – se lá donde ele tirou aquela arma) e mirou em Arthur. Eu ia atirar em Kanen, mas William se jogou na frente de Arthur.

–Cuidado!

A flecha acertou Will. Ele caiu, roçando os dentes de dor.

–Você salvou minha vida. - disse Arthur.

–Não sei no que estava pensando.

–Venham, levem – no para dentro.

Várias pessoas chegaram perto e o levaram para dentro de uma das casas e deitaram – no em uma mesa.

–É a segunda vez que te salvo.

–Segunda?

–Fui eu. O que usou magia...

–Will, não...

–Merlin, tudo bem, não viverei para sofrer as consequências. Fui eu. - afirmou Will, forte.

Que lindo, ele mentindo para salvar Merlin. Eu achei isso tão fofo, eu quase chorei, ele não merecia morrer...tive que me controlar.

–Vi o que estava a acontecer, tive que fazer algo.

–É um mago?

–Sim. O que vai fazer? Me matar?

–Não. Claro que não.

–Merlin...

–Faça o que puder por ele.

Todos nós saímos deixando Merlin a sós com Will.

Depois que Will morreu, fizemos seu funeral, com uma grande fogueira.

Assim, nós cinco montamos nossos cavalos e retornamos à Camelot.

Nada importava, só o pensamento:

Será que Merlin sabia de meu segredo?