Acordei na manhã seguinte e chegara o dia da minha partida. Eu partiria da Terra – Média, e não sabia quando voltaria, mas que queria voltar, queria. Parte de mim queria voltar para Camelot, outra parte queria ficar na Terra - Média. Existia algum mistério além de todas as coisas que viriam a acontecer nesse mundo, muito além da guerra do Anel e da desolação de Smaug. Esses sonhos...acho que são só uma invenção minha. Óbvio que vale considerar que, se eu estou realmente nesse mundo, e isto não é nenhum sonho maluco e muito vivido, alucinações e visões não estão tão fora do normal, mas...eu? Por que eu teria isso tudo? Na verdade, como eu tenho poderes? Como? É simplesmente impossível! Eu não posso simplesmente sair levitando coisas e jogando fogo nos outros (bem que eu queria), mas é impossível. Não sei o que me deu hoje, simplesmente não consigo mais acreditar nessa "brincadeira". E o pior de tudo é que todo mundo simplesmente quer me matar! Eu mal consigo matar um mosquito! O maior avanço da minha vida foi ter nocauteado alguns orcs, mas isso já foi demais e já deixou a minha adrenalina lá no alto. Vish, por que eu fui parar pra pensar nisso agora?

Me levantei, guardei as minhas coisas, e troquei de roupa, colocando um vestido de seda bem simples, Deixei de fora da minha bolsa somente um traje e as minhas armas. Saindo do meu quarto, andando despercebida pelos corredores, encontrei com Estel.

–Ana!

–Estel!

–Como vai o Sindarin?

–Bem, e o seu?

–Bem também.

Fomos conversando, enquanto íamos andando. No caminho, passamos por Elrond, que pareceu surpreso com a minha presença.

–Ana!

–Eu? - falei, me virando para ele.

–Você não ficou até o final da festa, pensávamos que tinha deixado o vale, mas aqui está você. O que houve?

–Eu fiquei cansada e não estava me sentindo muito bem, por isso achei melhor ir dormir.

–Ah, é claro. - falou, saindo.

Eu e Estel continuamos andando pelos corredores e fomos conversando de assuntos aleatórios, nada muito importante.

***

O tempo passou e chegou a hora do almoço. Nós tivemos um farto banquete, e depois, eu fui aproveitar da melhor forma o meu último dia na Terra - Média. Saindo do salão de refeições, andando por aí, vi uma estranha figura. Um homem, alto, de cabelo cinza e de longa barba grisalha. Usava uma longa túnica acinzentada, e um cachecol que portava um certo brilho. O homem tinha olhos de um azul fraco. Em uma mão ele segurava um cajado e na outra, um chapéu pontudo. Aquela figura não me era desconhecida, se estava certa, aquele era Gandalf, como tinha visto no meu sonho.

Gandalf...GANDALF! No primeiro olhar que dei pra ele simplesmente olhei, e foi depois que eu parei pra pensar, aquele era G-A-N-D-A-L-F!!! O grande mago Gandalf. Eu por um minuto fiquei viajando na batatinha, mas depois voltei a minha posição. Tive novamente aquela básica vontade de fã de dar um gritinho, mas passou, mas mesmo assim, tinha medo de ter soltado algum gritinho sem perceber.

Continuei olhando, curiosa. Ele estava meio que no corredor ao lado, mas havia um arco na parede que dava para lá, e formava uma pequena passagem. Ele ia andando, e tinha acabado de encontrar com Elrond e os dois conversavam um pouco, quando Gandalf olhou rapidamente para o lado. Assim que percebeu que eu estava lá, olhou novamente, mas eu já tinha me afastado para atrás da parede, e espiava, escondida. Depois de mais alguns minutos olhando, decidi continuar o meu caminho. Elrond vivia lá, Galadriel tinha chegado na noite passada, Gandalf tinha acabado de chegar, e em breve viria Saruman. Maldito seja este nome! Não gostava de Saruman, ainda mais sabendo de tudo o que ele faria. Muito sangue seria derramado por causa daquele infeliz! Maldito Istari! Parte de mim entendia o tal medo que Kryn tinha de Saruman saber alguma coisa importante sobre mim. Eu ainda não compreendo direito as forças que tenho, e Saruman pode usar isso contra mim...Então talvez eu volte para a Terra - Média algum dia...

Fui para uma ponte e fiquei observando a paisagem por um bom tempo. Era realmente lindo, como queria poder mostrar para alguém...Ah...A minha família. Como sentia falta da minha irmã, do meu pai, da minha mãe, dos meus primos, tios, tias...Queria poder ter dado um adeus mais decente à eles...

***

A noite se aproximava. Após o jantar, coloquei o traje que tinha separado e guardei o vestido. Usava calças cor de cobre, um sobre - tudo de um tom de marrom um pouco mais claro que chocolate. O sobre - tudo era fechado até a cintura, e a partir daí, era aberta. A parte do peitoral tinha arabescos dourados e verdes. Por baixo, só usava uma camisa simples de manga comprida. Usava botas que iam até um pouco embaixo do joelho, e tinham um tom de verde musgo. Fiz uma trança embutida. Coloquei um sinto ode prendi a bainha da minha espada. Lá coloquei uma adaga também. Prendi em meu pescoço o cordão com a pedra. O anel decidi deixar guardado na bolsa. Foi aí que fechei a bolsa (dobrando a de volta para o seu tamanho pequeno) e a prendi na perna. Coloquei luvas (daquelas que deixam os dedos de fora). Botei a aljava de flechas e o arco nas minhas costas. Só tinha uma pequena bolsa de fora, que usava para levar certas coisas (como o meu diário e a bola de cristal). Assim, peguei a bola de cristal.

–Kryn? Estou pronta.

–Ótimo. Falta pouquíssimo tempo para o dia de amanhã. Agora preciso que escute com atenção.

–Hm?!

–Primeiro: assim que você chegar ao arco que marca a entrada do Vale, e só um pouco além disso você dará no início da Mata dos Trolls. Um pouco antes disso, terá um cavalo, um cavalo negro de crina com fios pretos e dourados. Segundo, para chegar lá, você terá que ser silenciosa, pois ninguém, absolutamente ninguém, pode saber da sua saída antes que ela seja totalmente realizada. Não conte nada à ninguém, ok?

–Ok, isso é tudo?

–Quase tudo, quando chegar na Mata dos Trolls me chame, que vou lhe dar as exatas instruções necessárias, entendido?

–Sim.

–Isso é tudo por enquanto, boa sorte.

–Obrigada. - falei, e a imagem de Kryn sumiu.

Conferi se não tinha deixado nada no quarto e saí, silenciosamente. Me direcionando à saída, me deparei com uma cena, a cena que tinha visto em meu sonho.

Na sala em que tinha conversado com Galadriel, esta, Gandalf, Elrond e Saruman conversavam. Os quatro tentavam decidir o que fariam comigo...