Doce Problema escrita por Camila J Pereira


Capítulo 1
Ex - Cowboy


Notas iniciais do capítulo

Repostando a pedidos.
Espero que gostem.



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Edward

Quando abri os olhos pela manhã, pensei que seria um dia como outro qualquer. Um dia pacato, como todos os outros. Não imaginei que o meu dia pudesse terminar de maneira tão inusitada. Afinal de contas, a minha vida era um contínuo vazio. Desde que voltei a cidade, tornei-me como os outros moradores que não tinham salvação em se tratando de sair da rotina pacata que existia neste lugar. Estava recordando como me transformara nestes últimos anos, como estava quieto e tranquilo, isto até entrar na pequena lanchonete da cidade, a Lanchonete Mocha. Acho que meus olhos brilharam ao fitar tão maravilhosa novidade, meu coração disparou já imaginando mil coisas.

Deus sabe o quanto ansiava por algo desse tipo há muito tempo, sentir meu coração acelerar, meu sangue correndo mais rapidamente pelas veias do meu corpo. Aquilo era a euforia que tinha já esquecido. Minha vida não era pacata e tranquila como é agora. Já senti emoções fortes, já viajei bastante e vi muita coisa.

Desde cedo notei que o que chamava mesmo a atenção das garotas locais  era cowboys. E eu era um e dos bons. Meus olhos verdes e o meu sorriso pareciam ser ainda mais ao meu favor. Também diziam que o meu andar vagaroso e indolente, como seu eu não tivesse para onde ir e nada para fazer era um charme a mais. Era uma boa época, me sentia muito mais disposto e relaxado.

As garotas pareciam fascinadas quando colocava meu chapéu. Quase desmaiavam quando me tornei mais ousados nas competições e comecei a ganhar mais escoriações, hematomas e os olhos roxos. Aquelas garotas entravam em delírio e pareciam cada vez mais numerosas e atiradas.

Não era bobo, sabia que aquele passa tempo não era nada seguro. Mas o que podia fazer se me sentia deslumbrado com aquele mundo incomum? Adorava o calor da plateia, me sentia bem com aquela atenção e vibração. E eu tinha talento, isso ninguém poderia negar. Aquela euforia, a adrenalina era a melhor sensação que existia para mim. Não me importava se ficava um pouco machucado, sempre queria montar outra vez.

Comer poeira era comum, fazia parte daquele espetáculo. Mas isso não era nada quando comparado ao carinho que recebia das garotas. Sentia-me renovado com aquilo. Os ferimentos físicos ficavam em segundo plano. Estava viciado em montar e nas garotas, pensei por um momento que me tornaria um grande pervertido, mas eram apenas os hormônios e eu logo me acalmei. Era jovem, curioso, irrequieto e, em certos momentos a paz dessa cidadezinha, em que nasci e me criei, me dava nos nervos.

Em Hope Falls, nada acontecia, era uma cidade esquecida pelo mundo e parecia que os moradores dela também se esqueceram do mundo lá fora. Todos eram muito resignados e pareciam não ter sonhos que os levassem para longe daqui. No fundo, eu sabia que não era tanto Hope Falls que me irritava, já que tinha encontrado um ótimo passa tempo. O que me incomodava muito era a atitude do meu pai Carlisle Cullen. Meu pai acreditava que os meninos deveriam ser tratados com pulso firme, para se tornarem homens de verdade.

Desde menino fui alvo de críticas e castigos físicos por qualquer sinal de fraqueza ou desobediência. Mas Rosalie, Rosie como era conhecida a minha irmã caçula, era mimada e sempre perdoada por tudo. Ela era a menina dos olhos de Carlisle. Era óbvio que quando tivesse um filho, e eu teria em breve, não o trataria desta maneira.

Não tenho e nunca tive ciúmes da minha irmã, e agradeço por isso, pois poderia ter sido pior para mim cultivando este sentimento. Isso não me impede de pensar que ela deveria ter sim tido alguns castigos, não físicos claro. Rosie foi estragada isso era visível. No entanto, eu não deveria ter tido tantos castigos. Fui um bom menino e sempre andei na linha. Era muito comportado para a minha idade e responsável. As atitudes do meu pai despertaram em mim a determinação de deixar a cidade na primeira oportunidade.

Não perdi tempo, logo que terminei o colegial, joguei as malas na minha velha caminhonete Chevy vermelha e fui estudar na Universidade Estadual de Montana. Ganhei uma bolsa, consegui um emprego de meio turno e alguns creditos universitários, com isso pude concluir o curso de Biologia. É claro, nada disso Carlisle aprovava. Ele me queria perto dele para que me ensinasse a cuidar das nossas terras. Queria ser independente, viver em outro lugar, conhecer outras pessoas, fazer algo diferente do que poderia fazer em Hope Falls.

Fui feliz, mas este estado de espírito e a minha independência foi prematuramente interrompida e isso poucos meses depois da minha formatura na universidade. Carlisle sofreu um derrame ficou impossibilitado de trabalhar na fazenda dos Cullen. Ninguém me obrigou, nem mesmo sugeriu, mas eu compreendi que tinha uma obrigação de colaborar financeiramente com meus familiares. Mas mesmo assim ainda tentei viver a minha vida, fui um pouco teimoso. Não retornei para casa para tentar cuidar das terras naquele momento que era muito necessário por causa da seca. Fui audacioso e voltei a me juntar ao circuito de rodeios.

Aqueles rodeios pagavam bem, o cowboy só deveria ter talento. Tinha sorte e talento de sobra, não havia um só cavalo selvagem no mundo que eu não conseguisse montar, na sela ou em pêlo. As coisas selvagens me fascinavam e me atraiam. Talvez por achar que algo dentro de mim era um pouco selvagem também. Sentia aquela inquietação, a rebeldia sufocada durante anos em meu íntimo.

Tinha deixado o meu trabalho em um laboratório, trabalho que gostava muito. Lá aprendia a cada dia, era uma área que me dava bem. Enviava o dinheiro ganho dos torneios, mas ainda sim não conseguia voltar para casa, tinha certo medo. Mesmo longe não deixava nada faltar a minha família, mas mesmo assim Carlisle nunca admitia o meu sucesso. Mas o público reconhecia o meu talento e até saiu uma foto minha na capa de uma revista famosa. Este fato foi ignorado por Carlisle.

Mesmo sendo muito talentoso, receber o cinturão de ouro que me proclamava campeão mundial foi uma surpresa. Mas surpresa mesmo foi receber a notícia do meu pai mais tarde naquele mesmo dia. Ele tinha sofrido um segundo derrame. Nunca tivemos oportunidade de tentarmos um entendimento, e eu nunca saberei se teríamos ficado bem se tivesse retornado antes. Não havia mais ninguém para cuidar da minha irmã caçula e da minha avó Elizabeth. Minha mãe tinha falecido já há muitos anos e as duas estavam sozinhas. Por esse motivo, minha volta a Hope Falls fez-se necessária e eu tive que superar todos os sentimentos negativos.

Voltei, mas um novo homem. Tentava de todas as formas me redimir pelas loucuras vividas anteriormente e me sentia muito mais responsável. Tomei posse do cargo de xerife para cuidar da lei e da ordem, deixando em polvorosa mais uma vez todas as mulheres solteiras da cidade. Algumas até me assustaram com as investidas agressivas. Existiam garotas que nem se incomodavam com o pudor. No entanto, não era mais aquele garoto cheio de hormônios, eu não queria qualquer mulher. Foram oito longos anos desviando as investidas femininas, enquanto esperava pela chegada da garota certa. Não posso negar que fiquem com algumas, mas nada passava disso.

Sempre soube o que queria e o que procurava: alguém que pudesse cortejar até ser conquistado. Até quando teria que aguardar? Sonhava com ela, imaginava-a. Uma garota jovem, alta e magra, de cabelos brilhantes e castanhos e algumas sardas no nariz. Eu a reconheceria no minuto em que a visse, disso tinha plena certeza.

Por esse motivo, quase fui nocauteado ao entrar na Mocha. Estava no meu escritório da delegacia relaxando na cadeira, com as pernas sobre a mesa em completo tédio depois de fazer todo o trabalho administrativo que me cabia, quando recebi o telefonema de Jéssica Stanley. Ela é a garçonete e filha dos donos da Mocha. Ela tinha me ligado para deter uma garota que estava se recusando a pagar a conta. Pelo menos eu teria algo para resolver àquela tarde e de quebra conheceria uma forasteira. Só assim teria contato com algo novo, algo fora desse mundo em que vivo.

Ninguém pode fazer a mínima ideia do que senti quando entrei no estabelecimento já tão conhecido. Estava surpreso, eufórico novamente, sentia todas as minhas terminações nervosas. Estava sensível, atento, receptivo. Entrei para prender uma criminosa e encontrei a minha alma gêmea. A vida não poderia ser tão bondosa comigo.


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